TEMOS UM TIME?…

Mesmo duplamente contestado, a ordem é chutar…

Iniciemos com uma simples tabela de tempos de atuação:

  • Mais de 20 min – Yago (28:50); Caboclo (27:36); Tim (25:28); Gui (23:23); George (23:12); Leo (21:40)
  • Menos de 20min- Huertas (15:42}; Lucas (13:24); Felicio (11:43)
  • Menos de 10min- Benite (8:32)
  • Quinteto inicial – Yago, George, Tim, Caboclo, Leo.
  • Quinteto final   – Yago, George, Tim (substituído pelo Lucas com a quinta falta), Leo (substituído pelo Gui com a quinta falta), Caboclo.

       Quintetos inicial e terminal conotam a estrutura de uma equipe quanto aos jogadores que a compõem, reforçada por quatro ou cinco jogadores de apoio direto, com dois outros de reserva técnica…

O vicio eterno, no ataque solitario dentro do perímetro, e a passividade da equipe fora dele…

Neste jogo, pela periculosidade inerente a uma competição de tiro curto, o entra e sai desvairado cedeu um pouco de espaço a manutenção em quadra por 20 minutos ou mais, de um grupo de jogadores mais qualificado, porém nem sempre juntos, o que não vinha ocorrendo nesta seleção até este jogo contra a Costa do Marfim. No entanto, foi uma ação técnico tática que minimizou em muito a colaboração de jogadores tidos como básicos, como o Huertas e o Felício, e o Benite, que atuou menos de 10 minutos…

O jogo interno fundamental tem de ser priorizado, principalmente quando a contestação aos longos arremessos os tornem ineficientes…

Por conta desta sutil diferença comportamental, a equipe apresentou uma razoável estabilidade, tanto defensiva, como ofensiva, oscilando bem menos se compararmos com jogos anteriores…

Some-se a esta razoável estabilidade, o fator ausente na partida anterior contra a Espanha, as bolinhas resolveram cair (12/30 43,8%)  contra os 7/23 (30,4%) da equipe africana, que pelo seu lado arremessou 17/42 (40,5%) nos 2 pontos, contra 12/30 (40%) dos brasileiros. Nos lances livres equilíbrio quase total 23/25 contra 22/25.Erramos 13 vezes e os africanos 12, resultado sofrível nos fundamentos…

Concluindo, ao mantermos o razoável equilíbrio técnico tático no transcorrer da partida, saímos vencedores de um jogo muito importante para a classificação a próxima etapa eliminatória, onde a definição de time se torna de transcendental importância, pois a equaliza estrategicamente aos demais concorrentes no aspecto competitividade, apesar da inferioridade técnico fundamental presente, se confrontada com as seleções de ponta concorrentes ao galardão máximo do basquetebol mundial…

Poderemos melhorar o suficiente para enfrentá-las com alguma chance? Sim, chances às temos, porém diretamente ligadas a maior ou menor compreensão que a comissão técnica terá na correta leitura dos jogos que se sucederão, com passagem somente de ida, como por uma sutil e tênue sensibilidade do que venha a ser aquele “momento decisivo” de uma partida definitiva, onde nenhuma fração de erro técnico ou tático pode ser admitido, sabedores que somos de que absolutamente nenhuma jogada vencedora ou perdedora se repete, mas sim desencadeia no oponente reações que, quanto mais previsíveis forem, mais efetivas serão estas jogadas, fator este somente alcançado pela criatividade e improvisação consciente, frutos de uma correta leitura de situações de jogo…

                                   Brasil 89    x  77    Costa do Marfim

                        (40%)  12/30        2         17/42   (40.5%)

                        (43.8%)14/32       3           7/23   (30.4%)

                        (92%)   23/25      LL         22/25  (88%)

                                      43          R             35

                                      13          E             12

Uma delas, e talvez a mais importante é a de substituir o excesso de arremessos de três por outros de dois, mais trabalhados perto da cesta, não só pela maior efetividade dos mesmos, otimizando os ataques, e que mesmo de 2 em 2 pontos poderá alcançar placares bem mais eficientes do que a enorme perda de tentativas nos de longa distância…

Numa situação desta envergadura, exigir draconicamente obediência a  jogadas e comportamentos técnicos pré estabelecidos, se torna um erro grave, que deveria ser substituído por ações pontuais de caráter individual e coletivo, situações estas que ao fugirem do padrão conhecido e perpetuado pela equipe, fere decisivamente as condutas antagônicas do adversário ao estabelecer as estratégias de confronto. Em outras palavras, mudar, e se possível, radicalmente seu modus operandi, já possível ao determinar o cast de jogadores fundamentais, alcançado na partida contra a Costa do Marfim, com titulares e imediatos substitutos, atuando o máximo de tempo possível, pois o cansaço e a fadiga tem de ser superados numa competição tão curta e altamente exigente, valendo uma vaga olímpica…

Ficam algumas dúvidas, por exemplo, um Benite, pouco acionado em sua função  primordial de armador e finalizador, e de um Lucas que precisa diversificar suas funções em quadra, e não concentrar seus esforços em se situar como um gatilho da equipe…

Enfim, a seleção pode obter sua classificação diversificando sua atuação ofensiva e dedicando-se mais nas situações defensivas, principalmente no domínio dos rebotes, defensivos e  ofensivos, definido no palavrório popular como “indo em todas”…     Não se trata de uma fórmula vencedora, e sim uma tentativa de inovar um carcomido sistema de jogo, imutável, repetitivo, cuja mesmice endêmica, lamentável e terrivelmente se cristalizou no âmago de nosso basquetebol…

Venceremos? Se não mudarmos, certamente não. Mudando? Talvez…

Sobre esta temática os deuses se negam diplomaticamente a opinar…

Amém.

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A TEIMOSIA PADRONIZADA E GLOBALIZADA, ATÉ QUANDO?…

A insana busca pelo moto contínuo tático, impossível meta, em contraponto à liberdade criativa e improvisadora de jogadores talentosos , mas privados dos fundamentos mais básicos do jogo.

Infeliz e tristemente não errei, os equívocos se repetiram, o bom senso inexistiu, a mesmice imperou, solene, trágica, a derrota foi consequente, que venha o próximo jogo…

Mais uma vez os números atestam a dura realidade:

                                      Brasil   78   x    96    Espanha

                       (61%)   19/31            2            22/48    (58%)

                       (27%)     9/33            3            10/24    (42%)

                       (81%)   13/16           LL           22/30    (73%)

                                        37            R             36

                                        16            E               8

O desenho básico da seleção, quatro abertos e um solitário na briga, realmente primário…
A chutação inerente a uma equipe incapaz no jogo interno…

Pela enésima vez convergimos, arremessando mais de 3 do que 2 pontos, enquanto os espanhóis o faziam na proporção de 2 para 1, logo, mais eficientes e objetivos, maciçamente presentes dentro do perímetro, forçando faltas, arremessando o dobro de lances livres do que nossa seleção, que falhando seguidamente na marcação não conseguia equilibrar a pontuação, mesmo atacando com razoável êxito nos dois quartos iniciais. Do terceiro em diante cederam ao maior poder técnico individual de jogadores com sólida formação nos fundamentos básicos do jogo, driblando, fintando, passando, defendendo, reboteando e arremessando melhor que nossos jogadores, fatores estes marcantes nas competições de alto nível, pois influem decisivamente quando a maioria das equipes atuam no sistema único, que pretensamente as igualam e equilibram, mas que definem e limitam aquelas mais capazes nos fundamentos, este sim, o fator realmente decisivo e vencedor……

No jogo interno e externo, a eficiência de jogadores bem fundamentados…

Enquanto negligenciarmos a formação de base, aspecto prioritário aos espanhóis, não só no basquetebol, como nos demais desportos, atestando  com sobras a grande e firme evolução dos mesmos no vasto e amplo universo do desporto mundial, incluso em seus sistemas educacionais, antítese de nossa triste realidade de povo, propositalmente mal educado, neste imenso, desigual e injusto país…

No entanto, além dos aspectos técnicos acima apontados, alguns outros de caráter tático e diretivo devem ser abordados::

Numa competição mundial, onde a elite se defronta, meias palavras, meios esforços, meias economias tem de ser evitadas, pois, em se tratando de quem segue, e de quem fica pelo caminho, todo o esforço possível tem de ser despendido para um resultado vencedor. Logo, na direção de uma equipe, cuja escalação inicial se encaixa equilibradamente ante um sistema defensivo  forte, uma rotação excessiva quebra o equilíbrio tão duramente alcançado, tanto fora ou dentro do perímetro, propiciando ao adversário oportunidades de respostas positivas, até aquele momento difíceis de obter, sendo obsequiado com a auto falência motivada pelo entra e sai exibicionista de praticamente toda a equipe nos quartos iniciais.  Nenhuma produtividade coletiva resiste a tal comportamento, mutilado em minutagens  desnecessárias…

Contra equipes com especialistas de verdade nos longos arremessos, defesas zonais se tornam fatais, ainda mais quando o adversário é o campeão mundial…

Insistir coercivamente a cada tempo pedido ou usufruído, e ao lado da quadra por todo o tempo de jogo, que a equipe siga estritamente suas jogadas, repetidas, manipulando os jogadores por todo o tempo de jogo, exatamente por adotar e seguir um estrito e limitado sistema tático, no qual a criatividade e o improviso se tornam monitorados por todo o tempo. Do outro lado, a equipe espanhola que adota o mesmo sistema, porém com jogadores mais completos nos fundamentos, e  por isso mais eficientes nos dribles, nas fintas e nos passes dentro do perímetro, concluindo curtos e médios arremessos mais precisos que seus também eficientes três pontos, e acima de tudo, exercendo os princípios defensivos com absoluta precisão. Aliás, em nenhum dos tempos pedidos ou usufruídos por nossa comissão técnica, nada era ouvido sobre marcação individual, sequer coletiva, nada…

Priorizar o jogo externo não nos levará ao encontro do soerguimento que tanto almejamos…

Então, não foi tão inesperada a derrota por 18 pontos, número inquestionável sob qualquer critério que se possa recorrer. Como afiancei anteriormente, dificilmente meus mais de meio século junto ao grande jogo me permite prever óbvios resultados, ainda mais quando sempre utilizei  sistemas de jogo proprietários, antítese desse que utilizam, padronizado e globalizado de três décadas para cá, em seleções da base a adulta, com os resultados que bem conhecemos…

Continuarei na torcida para que superemos a Costa do Marfim nesta quarta feira, e mais adiante, no mata a mata um Canadá ou Letônia, sendo o primeiro que tanto conhecemos em enfrentamentos recentes…

Que ao menos um dos deuses, mais informal e tolerante, nos proteja.

Amém.

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GOSTARIA IMENSO ESTAR ERRADO…

A mesmice de sempre, chute de fora, em detrimento ao jogo interior, tão importante a ser treinado em situações reais, que enfrentaremos adiante…

Muito bem, estreamos no Mundial, sovando um Irã fraquíssimo e sofrendo uma perda importante, Raul, contundido em seu joelho, lesão que conforme o grau de gravidade, tem recuperação lenta e trabalhosa. Será uma perda significativa, pois em dupla com o Benite na armação, seria, na minha opinião, a mais equilibrada e arguta dupla na função de articular um jogo interno poderoso e altamente produtivo, sem perda pontuadora dos dois, fatores que decrescem bastante com os demais armadores, exceto no aspecto defensivo,quando o Yago exerce melhor esse fundamento, secundado pelo George, que com sua grande envergadura dificulta em muito o trabalho de armadores habilidosos, mas se perde um pouco nos passes de alta precisão, fator básico para armadores de ponta…

Defendemos bem contra uma equipe muito fraca, veremos contra equipes de verdade…
Jogar, treinar, praticar o jogo interior, pra que?…
Rebote pós arremesso de fora, nossa concepção de jogo interno…

Sem dúvida alguma temos boas escolhas de composição de duplas de armadores, mas teríamos melhores com a presença do Raul, cuja experiência competitiva poderia ser rivalizada por um Huertas, cujo processo de perda físico técnica é evidente. Nas demais posições existem altos e baixos, fruto de erros comuns que teimamos em perpetuar em convocações equivocadas, como um Felício, fora de forma técnica, e estando claramente obeso, assim como o Gui, jogador promissor, porém muito imaturo para competições desta envergadura…

Este é o padrão, sem tirar ou pôr, para o bem ou para o mal, padronizado, globalizado, enfim, profundamente equivocado, melhor, burro…

Tática e estrategicamente falando, muito pode ser entendido lendo uma repetida estatística deste jogo, idêntica a todas aquelas que a precederam, desde que entramos de cabeça no sistema único de jogo, que doentiamente adotamos, de encontro a um “basquete internacional” em um “NBB que você nunca viu”, espelhando aos jovens que se iniciam a autofagia dos arremessos de três, deslocando para baixo a importância dos fundamentos, ferramenta primordial ao praticante do grande jogo…

Vejam os números:

                        Brasil    x     Irã

        (70%) 21/30         2        16/36 (44%)

        (41%) 14/34         3          8/29 (28%)

        (76%) 16/21        LL         3/8   (38%)

                    42             R           29

                    15             E           19

Como pudemos atestar assistindo a partida, e agora lendo as estatísticas, mesmo num jogo para lá de amistoso, dada a fragilidade do adversário, continuamos a bater na tecla da convergência, arremessando mais de 3 pontos do que de 2, desconsiderando propositalmente a brutal defasagem estatística entre as duas maneiras de concluir à cesta, num desperdício físico e técnico consentido por todos os jogadores e técnicos, irmanados na função de soerguimento do basquetebol nacional, através uma insana chutação de três, em demérito do jogo coletivo e do aprimoramento dos fundamentos básicos, onde, nessa partida, erramos por 15 vezes. Por mais uma vez, perdemos a oportunidade de treinar em situação real nosso jogo interior, priorizando arremessos com percentuais mais efetivos, além da otimização de jogadas interiores, onde os seguidos deslocamentos dos alas pivôs poderiam ser exercitados permanentemente, preparando-os para as refregas mais exigentes dos futuros adversários, e não situando-os, como desde sempre, a meros pegadores de rebotes, resultantes da enxurrada de consentidas bolinhas, lançadas irresponsavelmente…

Temos daqui a um pouco, duas partidas importantes para a classificação à próxima etapa, contra a Costa do Marfim e a Espanha, e numa passagem para lá de provável, enfrentar na fase mata-mata a França ou o Canadá, que em hipótese alguma se comportará como no amistoso recente vencido por nossa seleção, vide sua tremenda vitória contra a fortíssima França por 30 pontos neste mundial, onde o jogo interno ditará o vencedor, conforme atestamos nessa importante partida…

Perda de um armador de qualidade, teimosa e persistente opção pelos longos arremessos, pouco interesse na prática diária obrigatória dos fundamentos, mais ainda os da prática defensiva, e acima de tudo, compromisso fechado com um sistema proprietário, e não o prêt à porter da mesmice endêmica que nos aflige à décadas, patrocinado por estrategistas absolutamente convencidos de que este é o penoso caminho que temos de trilhar ao encontro do “basquete internacional”, não bastando os seguidos fracassos que alcançamos nas competições de importância internacional, sem darem conta serem eles os verdadeiros responsáveis pela dolorosa e continuada perda, sem fim até que sejam substituídos por quem realmente entende, compreenda e trabalhe por algo instigante e novo para o grande, grandíssimo jogo, que merece um melhor destino…

Apesar de tudo, torço para estar enganado, e possa assistir um milagre na distante Ásia, reconhecendo porém e constrito que, dificilmente erro quando o assunto envolve o grande jogo, em sua grandeza e complexidade…

Peço aos deuses que me concedam errar.

Amém.

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O ÓTIMO E OPORTUNO NARRADOR CHINÊS…

Foi muito trabalhoso encontrar imagens dos jogos na China, mas conseguimos em parte, com os melhores momentos do jogo contra a Itália, e o jogo completo contra a Sérvia, e com ótimos bônus, pois nos livramos da gritaria apoplética de nossos narradores, e comentários ufanistas da turma que teima em apresentar um jogo que somente eles vêem, ante a simplicidade comedida de um chinês tradicional…

Num cenário em que “estando livre , chuta”, numa equipe em que praticamente “todos” se consideram especialistas, pouco ou nada sobra para ações coletivistas…
E os italianos não ficam atrás nessa escolha, com uma diferença, tem especialistas pontuais e melhores…

Porém, nada mudou, a não ser a definição para a nossa seleção do que venha a ser atuar em dupla armação, e mais, definir um jogo consistente dentro do perímetro, falha que vem se mantendo por demasiado tempo, afogada pelo tsunami dos arremessos de três, cada vez mais presentes nas competições de que participamos a um longo e tenebroso tempo, e que deveríamos exorcizar de vez para realmente melhorarmos…

Dupla armação bem definida, com três homens altos, esguios e rápidos, faltando somente o fator sistêmico que os façam jogar como uma verdadeira equipe, e não um bando…
O jogo interno, eficiente e repetido dos sérvios, onde a chutação de três é um fator complementar, nunca prioritário…

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As transmissões chinesas não postaram as estatísticas de fim de jogo, as quais não consegui acessar em nenhum blog especializado, mas que me deixaram convicto de que a chutação nunca foi tão presente como agora, e que cada vez mais abandonamos a prioridade do jogo interno, abre te sésamo no enfrentamento das grandes equipes estrangeiras, exatamente pelo poderio das mesmas nesta zona da quadra, onde rebotes importantes e estratégicos deixam de ser conquistados pela aridez presencial de nossos gigantes naquele precioso terreno, tanto atacando, como contra atacando, sim turma, rebote ofensivo é contra ataque, ou não?…

Uma tentativa solitária do Yago ante uma defesa monstruosa, e sem apoio dos demais integrantes da equipe, postados que estão para o arremesso de três…
É até covardia, pois isso não é basquetebol adulto, parecendo mais infantil, carecendo dos fundamentos básicos para jogá-lo dignmente…
Dois dos cinco armadores da seleção, cada um com uma característica pessoal de jogo, porém armadores de raiz, faltando somente quem os direcione de encontro ao coletivo, à cumplicidade, à criatividade, ao improviso consciente…

Mas o que fazer se a turma de fora autoriza e incentiva a queimar tudo “estando livre”, seguindo orientações fundamentadas em um sistema padronizado e formatado desde sempre, não, desde que um determinado grupo corporativo assumiu o destino técnico, tático e formativo do grande jogo neste imenso, desigual e injusto país. Dificilmente sairemos desse nó górdio que nos asfixia, lenta e gradualmente a cada competição internacional, fruto direto da nossa claudicante formação de base, inócua e equivocada, tendo como espelho uma divisão adulta mais equivocada ainda, assim como sua liderança, a tal onde as pranchetas falam…

Sábado agora a seleção inicia sua trajetória no mundial, desajustada em sua concepção de jogo no perímetro externo, e mais desajustada ainda no interno, e já nem mais toco no aspecto defensivo, onde estabeleceu-se o principio de que se falharmos atrás, compensamos lá na frente, pois não se tornou mistério para ninguém que possuímos os melhores arremessadores de três do planeta, todos pretensos especialistas, dos armadores aos pivôs, passando pelos alas, e quem sabe o mordomo também, mas para defender…

Prevejo sérios problemas, pois na amostragem pública nestes amistosos, nem tão amistosos assim, fica razoavelmente fácil estabelecer pontos defensivos visando uma efetiva contestação às bolinhas, chegada mais forte e radical nos armadores que se isolam, se perdendo em dribles desnecessários, onde uma dupla armação bem esquematizada jamais deixaria tais assédios acontecerem, e uma inteligente e óbvia ação no enfrentamento defensivo frontal dos pivôs, sempre isolados quando acionados, tendo como movimento básico os passes para fora do perímetro para os lançamentos da turma completamente aberta em seus locais preferenciais ou induzidos para a matança redentora…

Ora, trata-se de uma atitude cujo primarismo espanta até mesmo quem não conhece bem o grande jogo, pois rouba do mesmo a possibilidade do jogo coletivo, não aquele de intermináveis passes mais um, no intuito de obtenção de espaço para arremessos, quase sempre sem posicionamento efetivo para os possíveis rebotes, mas sim aquele em que a movimentação sincronizada, ou mesmo assíncrona de todos os atacantes, fora e dentro do perímetro, obrigando a movimentação permanente dos defensores, propicie lançamentos de curta e média distâncias, mais efetivos percentualmente, assim como obtenção de espaços suficientes para passes curtos em cruzamentos, corta luzes e bloqueios próximos a cesta, permitindo  pontuação de 2 em 2, e muitas vezes de 1 em 1, pelas largas possibilidades dos defensores cometerem muito mais faltas pessoais, do que tentando contestar longos arremessos ou se antepondo a um solitário atacante dentro de sua cozinha, reservando como atitude complementar as bolas de três, pelas mãos de seus poucos especialistas, e não uma equipe inteira…

Enfim, atuar num sistema 2-3 de ataque não se trata de escalar jogadores nesta formação, e sim ensiná-los, treiná-los e prepará-los para se ajustarem dinâmica e pontualmente no campo ofensivo, numa constante e envolvente movimentação, permanentemente ligada ao comportamento do adversário, numa leitura de jogo eficiente, cujas situações jamais se repetem, pois sistemas ofensivos eficientes não são aqueles que dão certo em sua movimentação básica, e sim quando provocam reações, que quanto mais previsíveis forem melhor se situará o sistema, o bom sistema, o qual em hipótese alguma poderá se submeter a “criações” de prancheta, espelho refletivo de estrategistas que se repetem ad infinitum  no seu estratificado discurso mercadológico, que se perde ante o realismo da fraqueza de jogadores no pleno domínio dos fundamentos básicos, sem os quais sistema algum obterá pleno sucesso, apesar de serem talentosos e fisicamente capazes…

Temos cinco bons armadores, que deveriam agir em sincronia e ajuda permanente fora do perímetro, alas bem altos e velozes, podendo trafegar com desenvoltura dentro do perímetro, em apoio aos também bons pivôs que possuímos, mas que infelizmente atuam como vasos não comunicantes, ocupando todos áreas predeterminadas, como os corner players por exemplo, quando poderiam estar jogando sem a bola, do lado ou em oposição a mesma na quadra, deslocando defensores, que por estarem em movimento podem ser superados mais facilmente, até mesmo aqueles que marcam o pivô frontalmente, mas com todos focados na cesta, indo de encontro a ela, e não se perdendo em passes de contorno, ou em dribles exibicionistas sem objetivo algum…

Bem sei que tais comportamentos são difíceis de obter, mas que deveriam ser perseguidos estoicamente por toda comissão técnica que entendesse profundamente do grande jogo, o que acredito seriamente não ser o caso das atuais que se responsabilizam pelas seleções nacionais, todas elas, que se encontram sob o domínio de uma sistemática técnico tática, onde o preparo físico “ciêntífico” se sobrepõe ao preparo fundamental e técnico, quando apresentamos equipes que correm desabaladamente, saltam a estratosfera, e trombam como carretas de 40 toneladas, porém falhando no manejo de sua ferramenta de trabalho, a bola…

Precisamos ensinar, treinar e formar equipes com jogadores de verdade, fundamentalmente capazes, taticamente preparados e acima de tudo, sabedores dos caminhos e descaminhos que sempre encontrarão dentro de uma quadra, seja de treino, seja de jogo. Para tanto precisamos urgentemente preparar melhores professores, técnicos, e por que não dirigentes, que ao menos gostem de basquetebol, e não o que podem alcançar política e economicamente com ele…

Vou torcer para que façamos um bom mundial, honesta e sinceramente, mas jamais me iludindo com caras e bocas ao lado da quadra e pranchetas que falam…

Em tempo – Não toquei em sistema defensivo para não me situar na mesmice modal que nos aflige. Creio que já escrevi muito sobre ela, está tudo aqui neste humilde blog.

Amém.

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“O BASQUETEBOL QUE VOCÊ NUNCA VIU”…

Caros amigos, eis-me de volta após um breve recesso, no qual estive tratando de reformular um repaginado Basquete Brasil-(paulomurilo.com), pioneiro da marca, em ação constante e ininterruptamente postado ao longo dos últimos 18 anos, na firme disposição de outros tantos anos de luta nessa humilde trincheira, democrático e ético espaço a serviço do grande, grandíssimo jogo…

Em novembro próximo inauguraremos o novo formato do blog, onde o espaço didático-pedagógico estará ampliado em texto e imagem, assim como contará com a colaboração de professores e técnicos capacitados nos campos desportivos e acadêmicos, compondo uma equipe de qualidade comprovada nos mesmos…

Enquanto isso, iremos postando os artigos técnicos, que desde sempre contaram com a audiência de todos aqueles que amam o grande jogo, de verdade.     

A seleção masculina, que se prepara para o Mundial, venceu um torneio preparatório na Austrália, vencendo o Sudão do Sul, a Venezuela, e os donos da casa, partida a que pude assistir, num horário nada convidativo, 4:30 da madrugada desta quarta feira, mas que, pelo caráter de seriedade como foi disputada, merece uma análise precisa e responsável, fatores que levo na mais alta consideração, ainda mais quando se tratando da seleção principal do país…

Como de praxe, cinco abertos…

De saída vamos aos números finais da partida:

                                    Brasil  90  x   86   Austrália

                  (51%)  17/33               2              21/39  (53%)

                  (45%)  16/35               3                9/34  (26%)

                  (72%)    8/11               LL             17/24  (70%)

                                   36              R               45

                                     9              E                 9

Como vemos, ambas as equipes convergiram nos arremessos, com a brasileira arremessando mais de 3 pontos do que de 2, num medíocre cenário de 25/69 (52%) nos 2 pontos, e 38/72 (36.2%) nos 3 pontos por sobre defesas pouco contestadoras, e um jogo interno morno, pois, no caso brasileiro 8/12 jogadores tentaram os 3 pontos, 9/12 os de 2, e 6/12 os lances livres, com percentagens muito abaixo do correto para equipes desse nível, corroborando o princípio de que praticamente quase toda a equipe é autorizada a chutar de 3, indistintamente, seja em que posição atuar cada jogador, numa tácita e absoluta certeza por parte da comissão técnica de que essa é a norma básica para a equipe, não fossem os integrantes da mesma os maiores incentivadores dessa tendência em suas próprias equipes nas competições nacionais. Nossas últimas seleções refletem esses princípios emanados de um grupo que, no comando das mesmas, convocam, treinam e incentivam jogadores na consecução desse projeto absurdo e arriscado, pois se apega caninamente a uma certeza de que somente venceremos se jogarmos fora do perímetro, com cinco abertos, promovendo penetrações que finalizam em passes de dentro para fora do mesmo, a fim de que os arremessos externos possam ser realizados permanentemente, e eventualmente acionando pivôs que estiverem mais próximos à cesta, aliviando um pouco sua função utilitária de apanhadores de rebotes das bolinhas mal endereçadas por convenientemente contestadas…

Chute de três contestado…
Chute de três livre…

Que serão, quando a bola subir no mundial, com o objetivo primordial de toda equipe que nos enfrentar, contestar energicamente a chutação de fora, obrigando as penetrações,onde armadores de baixa estatura enfrentarão sérios problemas, se não forem apoiados permanentemente, daí a dupla armação, que vem sendo utilizada nos últimos jogos, numa evolução técnico tático de imensurável valor…

No entanto, falta-nos aprimorar, reverter mesmo o jogo interno, com a participação presencial de no mínimo dois pivôs, diria mesmo alas pivôs, em contínuo deslocamento interior, provocando o deslocamento, também permanente, dos defensores na área pintada, propiciando arremessos curtos e médios com porcentagem bem mais elevadas que as notórias bolinhas…

Jogo interno mais frequente, o que nos falta…
É uma comissão que abraçou o “chega e chuta” com fervor…

Claro que atuar com três alas pivôs seria exigir demais de uma turma que somente professa a máxima do ”estando livre, chuta”, independendo de como e quando, no que se tornou hábito nas inacreditáveis peladas a que temos assistido, rotuladas do “basquetebol que você nunca viu””, que garanto ser a mais pura verdade, frente ao basquetebol que jogavamos com excelência num ontem não tão distante assim, sepultado e esquecido por um colonizado corporativismo, movido a Q.I.s politicos e retrógrados…

Vejo com desconfiança nossa participação neste mundial, e mesmo numa classificação olímpica, pois teimamos em nos manter escravos de uma mesmice endêmica que nos esmaga, tolhendo os sonhos dos parcos talentos que também teimam em existir, neste deserto de idéias, criatividade e improvisação responsável, cedendo espaço vital a irresponsabilidade planejada do “jogo aberto”, da “chutação irracional” , e a minimização do ensino e exigência dos fundamentos básicos do grande jogo na base…

Quem sabe os deuses se apiedem de nós.

Amém.

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