GOSTARIA IMENSO ESTAR ERRADO…

A mesmice de sempre, chute de fora, em detrimento ao jogo interior, tão importante a ser treinado em situações reais, que enfrentaremos adiante…

Muito bem, estreamos no Mundial, sovando um Irã fraquíssimo e sofrendo uma perda importante, Raul, contundido em seu joelho, lesão que conforme o grau de gravidade, tem recuperação lenta e trabalhosa. Será uma perda significativa, pois em dupla com o Benite na armação, seria, na minha opinião, a mais equilibrada e arguta dupla na função de articular um jogo interno poderoso e altamente produtivo, sem perda pontuadora dos dois, fatores que decrescem bastante com os demais armadores, exceto no aspecto defensivo,quando o Yago exerce melhor esse fundamento, secundado pelo George, que com sua grande envergadura dificulta em muito o trabalho de armadores habilidosos, mas se perde um pouco nos passes de alta precisão, fator básico para armadores de ponta…

Defendemos bem contra uma equipe muito fraca, veremos contra equipes de verdade…
Jogar, treinar, praticar o jogo interior, pra que?…
Rebote pós arremesso de fora, nossa concepção de jogo interno…

Sem dúvida alguma temos boas escolhas de composição de duplas de armadores, mas teríamos melhores com a presença do Raul, cuja experiência competitiva poderia ser rivalizada por um Huertas, cujo processo de perda físico técnica é evidente. Nas demais posições existem altos e baixos, fruto de erros comuns que teimamos em perpetuar em convocações equivocadas, como um Felício, fora de forma técnica, e estando claramente obeso, assim como o Gui, jogador promissor, porém muito imaturo para competições desta envergadura…

Este é o padrão, sem tirar ou pôr, para o bem ou para o mal, padronizado, globalizado, enfim, profundamente equivocado, melhor, burro…

Tática e estrategicamente falando, muito pode ser entendido lendo uma repetida estatística deste jogo, idêntica a todas aquelas que a precederam, desde que entramos de cabeça no sistema único de jogo, que doentiamente adotamos, de encontro a um “basquete internacional” em um “NBB que você nunca viu”, espelhando aos jovens que se iniciam a autofagia dos arremessos de três, deslocando para baixo a importância dos fundamentos, ferramenta primordial ao praticante do grande jogo…

Vejam os números:

                        Brasil    x     Irã

        (70%) 21/30         2        16/36 (44%)

        (41%) 14/34         3          8/29 (28%)

        (76%) 16/21        LL         3/8   (38%)

                    42             R           29

                    15             E           19

Como pudemos atestar assistindo a partida, e agora lendo as estatísticas, mesmo num jogo para lá de amistoso, dada a fragilidade do adversário, continuamos a bater na tecla da convergência, arremessando mais de 3 pontos do que de 2, desconsiderando propositalmente a brutal defasagem estatística entre as duas maneiras de concluir à cesta, num desperdício físico e técnico consentido por todos os jogadores e técnicos, irmanados na função de soerguimento do basquetebol nacional, através uma insana chutação de três, em demérito do jogo coletivo e do aprimoramento dos fundamentos básicos, onde, nessa partida, erramos por 15 vezes. Por mais uma vez, perdemos a oportunidade de treinar em situação real nosso jogo interior, priorizando arremessos com percentuais mais efetivos, além da otimização de jogadas interiores, onde os seguidos deslocamentos dos alas pivôs poderiam ser exercitados permanentemente, preparando-os para as refregas mais exigentes dos futuros adversários, e não situando-os, como desde sempre, a meros pegadores de rebotes, resultantes da enxurrada de consentidas bolinhas, lançadas irresponsavelmente…

Temos daqui a um pouco, duas partidas importantes para a classificação à próxima etapa, contra a Costa do Marfim e a Espanha, e numa passagem para lá de provável, enfrentar na fase mata-mata a França ou o Canadá, que em hipótese alguma se comportará como no amistoso recente vencido por nossa seleção, vide sua tremenda vitória contra a fortíssima França por 30 pontos neste mundial, onde o jogo interno ditará o vencedor, conforme atestamos nessa importante partida…

Perda de um armador de qualidade, teimosa e persistente opção pelos longos arremessos, pouco interesse na prática diária obrigatória dos fundamentos, mais ainda os da prática defensiva, e acima de tudo, compromisso fechado com um sistema proprietário, e não o prêt à porter da mesmice endêmica que nos aflige à décadas, patrocinado por estrategistas absolutamente convencidos de que este é o penoso caminho que temos de trilhar ao encontro do “basquete internacional”, não bastando os seguidos fracassos que alcançamos nas competições de importância internacional, sem darem conta serem eles os verdadeiros responsáveis pela dolorosa e continuada perda, sem fim até que sejam substituídos por quem realmente entende, compreenda e trabalhe por algo instigante e novo para o grande, grandíssimo jogo, que merece um melhor destino…

Apesar de tudo, torço para estar enganado, e possa assistir um milagre na distante Ásia, reconhecendo porém e constrito que, dificilmente erro quando o assunto envolve o grande jogo, em sua grandeza e complexidade…

Peço aos deuses que me concedam errar.

Amém.

Fotos – Reproduções da TV. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.



2 comentários

  1. ANDRÉ MATTEDI 28.08.2023

    Prezado Prof. Paulo, que bom poder ler seus comentários novamente! Estava sentindo falta! São uma gota de lucidez experimentada num oceano de incompetência gerenciada! Acabei de assistir Brasil e Espanha: 20 pontos! A Espanha renovada! É visível que Felício está fora de forma!

  2. Basquete Brasil 29.08.2023

    Prezado André, obrigado por sua sempre bem vinda audiência. Espero dar continuidade aos comentários neste mundial, assim como renovando o blog a partir de novembro, atualizando-o grafica e textualmente. A trincheira continuará em frente. Abração.
    Paulo Murilo.

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