ORANGOTANGO ANCIÃO (OU QUEM SABE, UMA INSTIGANTE VIAJADA SOBRE QUEM JAMAIS PREGOU UM PREGO SEM ESTOPA POR ESSE MUNDO AFORA)…
(…)De qualquer forma, a aproximação da NBA já vale como um baita reconhecimento ao trabalho da liga nacional. Serve como um gesto de aprovação ao trabalho feito até aqui, que pegou um esporte no buraco e o transformou num produto que atraiu o interesse estrangeiro, contando antes com aporte do ministério do Esporte e de uma patrocinadora estatal. No que vai resultar esse envolvimento, ninguém sabe ainda. “Ficam me perguntando o que esperar disso? Digo que não sei”, afirma Cássio Roque, o presidente da LNB. “Só sei que estamos ao lado da companhia certa.”(…)
Esse é o último parágrafo do excelente artigo do Giancarlo Gianpietro no seu blog Vinte Um, e que deixa no ar um mundo de expectativas quando o presidente da LNB afirma quando perguntado sobre a parceria com a NBA – “Digo que não sei”(…) “Só sei que estamos ao lado da companhia certa.”
Muito bem, se o presidente signatário de tão impactante parceria, feita pela primeira vez no mundo pela mega liga americana, diz que não sabe no que vai dar, quem então saberá, eu, você leitor, quem?…
Macaco velho, digo, orangotango ancião que sou das idas e vindas do grande jogo em nossa terra, sinto atrás da orelha, não uma pulga se instalando, mais sim um baita e trombudo elefante, que me deixa muito, muito curioso, e mais ainda, preocupado…
Curioso, pelo simples fato do porque da mega liga se associar a nossa, quando mercados asiáticos e orientais, e mesmo europeus, economicamente promissores e fortes, não receberam (ou dispensaram…) tal primazia, centrando para um mercado insipiente no mundo da modalidade, porém, precioso quando o foco de interesse maior da grande e hegemônica nação, representada por uma de suas fortes e poderosas ligas desportivas, decide massificar sua presença no país, incutindo e sedimentando seus programas e sofisticada organização junto aos jovens, trazendo-os para sua esfera de forte influência esportiva, social, e por que não, politica também, pois afinal de contas, obter a simpatia e aprovação do segmento jovem de uma nação, que virá a ser neste século a líder na produção de petróleo e proprietária da maior reserva de água do planeta (riqueza esta que será, em prazo não muito distante, disputada no tapa…), sem dúvida alguma se constituirá num excelente investimento, e rentabilíssimo negócio a longo prazo, como consta em sua longa tradição comercial globalizada, tendo o esporte como um importante elo nessa escalada hegemônica…
Preocupado, pelo fato de que constarão no processo educacional de nossos jovens, influências técnicas, sociais e políticas sobre tais riquezas, cabendo futuramente aos mesmos a condução do país de encontro à sua independência e total autonomia, ou subserviência gestora, perante o realismo de sua deficiente formação educacional e cultural, para alcançar a garantia de que atingirão as metas de seu desenvolvimento, ou não, onde o sempre marginalizado desporto muito pouco contribuirá nessa formação, ou não…
Torna-se importante que as futuras gerações pudessem ser também inspiradas por ícones desportivos, artísticos e culturais, nacionais de preferência, com seus exemplos de luta e perseverança, envolvidas sob o manto de uma politica nacional de educação, de desporto, de artes, que muito auxiliaria aqueles que investissem pesadamente neste precioso nicho, no intuito de liderá-lo e orientá-lo em suas conquistas ou coercitivas entregas, e nada mais oportuno do que inteligentes tentativas, através influências exógenas venham a ocorrer, como uma liga majoritária do basquetebol mundial, cuja penetração e aceitação vem se tornando fortemente presente em nossas fronteiras, principalmente no segmento mais jovem, bastando somente investir, organizar e influenciá-lo in loco, para colher mais adiante o produto de seu planejado, ousado e bem pensado investimento…
Honestamente, não acredito em benemerências e ajudas para o progresso do grande jogo entre nós, advindas de uma liga que divulga abertamente seu interesse comercial voltado ao lucro, aos bons negócios, que tem às suas costas uma gigantesca base escolar, universitária e comercial alimentando e sustentando-a, em oposição à nossa realidade, extremamente distante daquele modelo, quando outros mercados ofereceriam à mesma, vantagens também rentáveis, a não ser que, num prazo razoável e de paciente espera, outros e estratégicos ganhos venham a beneficiar, não só os seus interesses desportivo/comerciais, como os de seu país num todo econômico, político e cultural, emoldurando uma inteligente, oportunista e estratégica parceria de quem sabe realmente o que quer atingir, e como conseguí-lo…
Mas, se por um outro lado, a mega liga aqui aportar, para simplesmente doar sua expertise no domínio e vasta experiência no grande jogo, visando seu desenvolvimento técnico, gerando sua popularização e decorrentes receitas parcimoniosamente divididas entre as partes parceiras, em equânime comando, acredito que sob tais circunstâncias a viajada seria muito maior, ou alguém duvidaria?…
Por tudo isso, teço sérias desconfianças sobre a mesma, sem objetivos explícitados, às claras, desprovida de amplos, abertos, e democráticos debates, principalmente quando propostas deste porte se restringe decisoriamente a uns poucos, dentro de um cenário limitado bem aquém de nossas reais necessidades, e por que não, exigências, afinal, vultosas verbas públicas também estarão sobre a mesa para serem administradas, por quem, e com que objetivos?…
E muito mais me preocupa, a constatação da ainda presente continuidade histórica de nossa colonizada genuflexão atávica a interesses de nações que, desde sempre, investiram pesado em nossa reconhecida tradição de povo receptivo e afável, talvez receptivo e afável um pouco demais. Afinal, o próprio presidente da Liga afirma nada saber, mas sente estar na companhia certa, será?…
Amém.
Foto – Internet.