SCAUTINGS,STATS,DADOS NÃO TÃO VERDADEIROS

A contratação de fulano se justifica pelos seus dados estatísticos,pois lidera nos rebotes,nos arremessos de três,nos tocos…e por aí vai a explanação do empresário na defesa dos interêsses de seu protegido. Sem errar muito vejo nesses dados estatísticos muito da argumentação que justificam contratações de jogadores pelas
equipes brasileiras,e o que é mais constrangedor,baseadas em dados compilados por
empresas especializadas e com aval dos órgãos que gerem o basquetebol entre nos.E
do âmago destes dados emerge uma pergunta fundamental-O que representam de fidedignidade esses dados? Quão verdadeiros são?- Respondo sem mêdo de muito errar
que pouco representam de verdadeiro. Um professor que tive dizia que a estatística
tanto promove, como destroi reputações, dependendo do interêsse de quem a emprega.
Claro que não vamos a tais extremos, mas comparações percentuais não espelham performances técnicas, quando muito expôem os prós e na maioria das vezes omitem os
contras.Se cada equipe só pudesse se utilizar de 5 jogadores, atuando em tempo integral, ainda poderiamos comparar jogadores de uma mesma equipe relacionando-os com os da equipe adversária. No entanto, são 12 jogadores por equipe que se revezam
durante o tempo de duração de uma partida.Esse fator muda tudo, pois como comparar
um jogador que joga, por exemplo,36 minutos,com outro que o faz por 6 minutos? Se
for utilizado tão somente as técnicas estatísticas baseadas em percentuais, o que
joga por menos tempo obterá dados mais altos do que aquele que joga por mais tempo.
Se bem trabalhados,estes dados beneficiarão sempre aqueles que jogam por menos tempo,
pois ficarão menos expostos ao erro, cuja margem de ocorrência aumenta na proporção
direta do maior tempo que permaneça em quadra. E como adequar treinamentos tendo como
base dados percentuais obtidos em condições díspares? Pela desigualdade nos critérios
da análise estatística percentual a adequação torna-se impraticável, e por causa desse óbice é que adotei a análise pelo critério dos coeficiêntes de produção.Na
equipe Infanto-Juvenil do Fluminense de 1975 durante o Campeonato Carioca,desenvolvi
uma coleta de dados técnicos dos jogos utilizando um minigravador de voz, que era
acionado em toda ocorrência da partida por um auxiliar(geralmente um jogador da equipe juvenil),no qual descrevia com detalhes o que havia observado,acionando a pausa logo a seguir.Com essa ação a fita apresentava ao final do jogo uma duração
próxima ao tempo real da partida,e como estava setorizada facilitava em muito a
trancriçao para a ficha de dados.Hoje, com a facilidade do videotape a coleta e
transcrição acontece com maior velocidade e fidedignidade.Muitos erros de súmula podem ser observados com as analises em video, e muitos erros de arbitagem também.
Após a coleta dos dados, eram auferidos pontos positivos ou negativos em todos os fundamentos e ocorrências técnicas acontecidas no jogo,obtendo-se um numero final
que poderia ser positivo ou negativo.Este, então, era dividido pelo tempo de participação do jogador na partida, o que originava o seu coeficiênte técnico.Esse
coeficiênte poderia então ser comparado com os demais, pois refletia a sua produtividade fosse qual fosse seu tempo de participação no jogo.É claro,que foram
empregados pontos positivos ou negativos de acôrdo com uma categoria de base, e que
também os mesmos não tinham o rigor ideal se fossem estudados, discutidos e adotados
por uma comissão de técnicos,os quais apresentariam para cada categoria valores a
serem adotados por todos. Foi uma tentativa pessoal, com critérios pessoais, obtidos pela vivência, observação e prática constantes.Mesmo assim,e de forma absolutamente
experimental, obtive dados bastante consistentes e conclusivos,dando-me a certeza de
que o caminho para uma análise de produtividade técnica não poderia ser muito diferente do que aquela. Projetando para o futuro, vislumbrava a possibilidade de
classificação de jogadores a um toque de botão no computador, pedindo ao mesmo uma
lista, por exemplo, de armadores juvenís com um coeficiênte situado entre x ou y pontos de produtividade, podendo,inclusive,compará-los com as demais categorias.
Teríamos tabelas de pontos por categoria, adotadas em todo o território nacional, e
cujos dados poderiam facilmente transitar pelo mesmo, tendo como base as federações e
como destino final a CBB. As convocações seriam mais justas, pois não só os critérios de observação seriam levados em conta,os coeficiêntes também teriam um peso
a ser considerado. Enfim, seria banida entre nos as análises baseadas em dados percentuais, manipuláveis e tão de agrado daqueles que se utilizam de falsos números
para se promoverem. Lanço a idéia,que utilizei com bons resultados, ponho os mesmos á
disposição de quem se interessar, e desafio a todos a debaterem o problema.

COMO GOSTO E SEMPRE JOGUEI

Lá pelos anos 50 assistí um jogo na quadra descoberta do Grajaú TC que enfrentava a equipe do Sirio e Libanês pelo Campeonato Carioca da 1ªDivisão, onde,pela primeira vez na minha vida tive contato com um movimento tático inesquecível.Ví desenrolar-se perante meus olhos adolecentes uma movimentação em círculos dentro do garrafão grajauense, comandada pelo mítico jogador e técnico Ruy de Freitas,que era conhecida pelos torcedores como”a rodinha”.Um jogador de posse da bola na lateral do garrafão ensaiava um passe enquanto os outros quatro companheiros se movimentavam em forma circular dentro do mesmo, até que um deles pela rapidez se colocava em uma boa posição para o recebimento do passe e consequente bandeja.O inusitado da cena e a simplicidade da execução tornava aquela movimentação única e surpreendente, não por sua eficácia, mas por ser algo que diferia radicalmente das jogadas padronizadas que eram executadas pelas demais equipes.Aquele”algo”diferente me influenciou profundamente, pois abriu meus olhos para a descoberta da existência de um mundo repleto de possibilidades criativas, de um mundo fascinante no campo da tática e da técnica,da verdadeira arte que emanava do basquetebol.Daí para diante um universo de leituras abrangendo não só o jogo,mas toda manifestação cultural,econômica,social
e política que pudesse enriquecer o conhecimento global da manifestação desportiva
somou-se ao estafante,porém prazeiroso,mistér de ensinar, treinar e pesquisar tudo
que se relacionasse com o mesmo.Aos poucos foi se sedimentando a premissa maior em
minha vida de professor e técnico,a de que,apesar dos riscos e insucessos sempre
presentes,inovar, arriscar e ousar deveria pautar meu comportamento para sempre.
Jamais me arrependi daquela decisão, e continuo a praticá-la,mesmo pagando um alto prêço pela coragem de se situar muitas das vezes à margem da mesmice vigente,pela
opção de investir basicamente na formação,negando-se em muitas ocasiões aos convites
de equipes da Primeira Divisão.E foram nas divisões de base que pude desenvolver
sistemas de jogo experimentais, subvertendo em muito as modas vigentes.A principal
mudança foi a redefinição dos alas,que de jogadores fixos nas laterais da quadra,
passaram a atuar como pivôs móveis,situando-se inicialmente na linha de lance-livre,
para em conjunto com o pivô fixo, movimentarem-se em rápidas triangulações dentro do
garrafão. Os dois armadores, trabalhando em todo o perímetro da cesta, tendo como função primordial encontrar brechas para estabelecer superioridade numérica sempre
com o apoio de um dos pivôs móveis e do pivô fixo. As triangulações se tornavam movimentos expontâneos e ocorriam sistemáticamente próximas à cesta,propiciando arremessos de curta e média distâncias, e mantendo um mínimo de dois jogadores
posicionados para o rebote ofensivo,assim como estabeleciam o equilíbrio defensivo de
forma natural. Com a eliminação dos seguidos passes em torno do perímetro da cesta
o drible tornou-se o elemento básico na formulação dos ataques,o que garantia a posse
da bola com mais segurança, pois no Passing Game a bola permanentemente no ar ficava
na posse de quem a alcançasse primeiro. A utilização dos 24 segundos tornou-se mais flexivel com tempo suficiente para arremessos mais precisos e equilibrados. Os ataques,com mais tempo para sua formulação, permitiam uma sintonia mais fina nos
detalhes de execução, o que era inesequível no Passing Game.No entanto,exigia uma
prática intensa e participativa, principalmente nos fundamentos do jogo, na prática
dos verdadeiros corta-luzes, confundidos nos tempos atuais com simples cruzamentos
entre jogadores, que sequer reconhecem o que vem a ser”corta-luzes internos ou
externos”, bloqueios ofensivos ou defensivos. Enfim, a adoção do sistema se fundamentava no maior ou menor conhecimento que cada componente da equipe tinha de
sua individualidade e a de seus pares, fatores determinantes para o entrosamento consciente, tanto nos movimentos táticos previsíveis ou não, como para as inprovisações que adviriam das reações inesperadas dos adversários.Sempre afirmei que
sistemas táticos se constituem em movimentações que devem ser treinadas exaustivamente para não darem certo,e sim que desencadeassem no adversário atitudes,que quanto mais previsíveis forem, melhor terá sido o sistema.Ações de Dá e Segue entre armadores,com progressões firmes e assistidas propiciam uma enorme gama de situações para serem correlacionadas com as ações dos três pivôs na área do garrafão, em seus deslocamentos e movimentação contínua,fazendo com que seus marcadores sempre estivessem em função de reação e nunca de antecipação.Pivôs parados encorajam os defensores ao jogo físico e às interceptações, o que raramente ocorrerá se o atacante se deslocar em direção ao passe já executado.O ponto futuro, ou seja, o encontro do atacante com a bola em deslocamento, é a chave de todo sistema de jogo que pretenda ser eficiente, ao contrário do que se observa de maneira globalizada em nossas equipes, em que os pivôs emulam Shaquile O’Neal sem o fisico e o talento do mesmo. Argentinos,Lituanos, Iuguslavos,Italianos e muitos outros já utilizam seus pivôs em constante movimentação, longe dos parâmetros da NBA,e pelo que consta, na última Olimpíada nenhum dos pivôs destas equipes seguiam tal modelo, e a maioria sequer jogava naquela Liga.E nós, que tinhamos os pivôs mais rápidos e habilidosos do mundo,fomos de encontro ao modelo NBA por puro modismo e subserviência técnica,cultural,politica e profissional.Nossos mais recentes pivôs,Nenê e Baby são um produto dessa tendência sendo, inclusive submetidos a um processo de massificação muscular que levou o Baby a uma suspensão pela FIBA por uso de anabolizantes no Pré-Olímpico. O outro pivô, Varejão,vindo do basquete europeu manteve sua mobilidade e velocidade,e esperamos que não seja, ou não aceite ser submetido ao mesmo processo dos demais. Grande parte da imprensa esportiva americana contesta a não ida dos grandes astros a última Olimpiada, onde os americanos foram destronados de sua empáfia de Campeões do Mundo, que é a denominação que a NBA dá ao seu campeão,
levantando fortes suspeitas se a maioria deles passariam nos exames anti-doping rigorosos que foram feitos durante os Jogos de Atenas. Com as desculpas de falta de segurança não correram aquele perigo a não ser o nosso maratonista agarrado por um irlandês desequilibrado. Enfim,tenho nos ultimos 25 anos empregado soluções técno-táticas que se antagonizavam com a rigidez de um sistema totalmente fora de nossa realidade,mas escudado por um forte lobby pró-NBA, com a cumplicidade de TV’s,alguns jornalistas e administrações técnicas catastróficas para o nosso basquetebol. Ainda existem em nosso país tecnicos comprometidos com as nossas tradições técnicas, mas que pouco podem realizar perante o descompasso em que mergulhamos nesses anos de escuridão e omissão. Assim como, por teimosia e profunda convicção em um posicionamento antagônico ao que se designou “basquete internacional” proponho a discussão ampla e irrestrita entre todos aqueles que se interessam, estudam, pesquisam e trabalham pelo basquetebol em nosso país. Voltemos a nos encontrar, organizemos grupos de discussão e não simpósios, seminários e pseudo cursos que tem como finalidade maior a perpetuação de um modelo absurdo que se instalou em nosso meio.Vamos a luta!

PENSEMOS E FALEMOS À SÉRIO

Dias antes da decisão da Copa do Mundo de Futebol no México em 1970, estavamos eu
e o grande Prof.Alfredo Gomes de Faria em nossa sala do Laboratório de Tecnologia da
Educação,na EEFD da UFRJ na Praia Vermelha, discutindo as consequências que adviriam
com a vitória da Seleção Brasileira, dentro daquele contexto de regime militar. Claro
que não queríamos a derrota do Brasil, mas concordavamos que dalí para diante tudo mudaria para o Desporto e a Educação Física em nosso país. E não deu outra,os militares assumiram a paternidade da vitória e transferiram para a Escola de Educação Física do Exército, alí pertinho, na Urca, praticamente toda a elaboração das políticas desportivas no Brasil. O que ocorreu daí para diante é de conhecimento de todos, mas alguns aspectos sequer ainda foram abordados. Aproveitando o embalo da conquista,pré-instalou-se em nosso país uma corrida pelo domínio das ciências ligadas às atividades físicas, lideradas por alguns médicos com livre trânsito entre os militares.Eramos acessores da Direção da EEFD, e meses adiante fomos informados pela Direção que a Escola seria transferida do Centro de Filosofia e Ciências Humanas para o Centro de Ciências da Saúde, sob o pretexto de que naquele Centro a Educação Física ganharia em status e galgaria um patamar superior no ramo da ciência.Nossa reação,dos
professores e de quatro médicos que pertenciam ao Departamento de Metodologia da
Educação Física foi tão intensa, que o mesmo ficou na Praia Vermelha na Faculdade de
Educação, se negando a ir para a Ilha do Fundão onde se instalou a EEFD já sob a
jurisdição do CCS. As consequências dessa mudança foram catastróficas para a Educação
Física brasileira,pois o exemplo da EEFD, sempre pioneira nas conquistas educacionais
foi acompanhado pela maioria das Escolas no Brasil,tornando a disciplina um apêndice
da área médica.Era o fator básico de que precisavam aqueles que de uma forma avassaladora queriam transformar o”culto ao corpo” num dos mais rentáveis negócios
dos dias de hoje, atividades essas impossiveis de se concretizarem se a Educação
Fisica ficasse no âmbito das escolas primarias e de segundo grau. Que clientela teriam se os jovens encontrassem na escola os ensinamentos que os fizessem conhecedores de seu corpo e se beneficiassem dos principios desportivos em sua educação? Nada disso, esses preceitos, quanto mais ausentes da escola , mais clientes
teriam quando adultos, mais rentáveis se transformariam, sejam pagando do próprio
bolso, sejam beneficiados por políticas governamentais terceirizadas em escolinhas
de tudo que é atividade física. Academias pululam em nosso país,distantes do aspecto
mais fundamental da atividade física, os principios pedagógicos e educacionais que
os beneficiariam pela vida afora. Por outro lado, as pesquisas específicas da Educação Física e dos Desportos foram minimizadas por pesquisas de interesse da área
médica, transformando o que seria um professor de Educação Física em um paramédico
despreparado para a escola e abandonado pelo ministério do setor.Hoje as verbas para
Educação Física são oriundas do Ministerio da Cultura e do COB. Hoje os professores
de Educação Física são alcunhados de Profissionais da Educação Física e são sujeitos
a um Conselho Federal de Educação Física nos moldes dos CRM’s da vida. São profissionais não mais formados em Centros de Ciências Humanas, e sim em Centros de Ciências da Saúde, dissociados dos aspectos humanistas, mas profundamente lançados
ao pragmatismo da área médica. Universidades públicas se dão hoje ao luxo de investirem muito dinheiro na formação de um profissional de Educação Física para que o mesmo se transforme em Personal Trainer de uma minoria abastada. Escolares? Nem pensar, pois não auferem lucros como aquela. O basquetebol está incluido nesse que foi o mais bem urdido golpe dado na comunidade escolar, e não vislumbro nem a longo prazo soluções para atenuar tão monstruoso crime. Se alguma saída houver terá de começar pela volta dos Cursos de Educação Física aos Centros de Formação de Professores, dos quais, jamais deveriam ter saído, e que a liderança desses professores seja,como sempre deveria ter sido exercida pelo Ministerio da Educação, afastando do seio da juventude aqueles aventureiros que ora se locupletam pela omissão de muitos. E que o Conselho Federal dos Profissionais de Educação Física seja restrito àqueles que povoam as academias, as praias e os ringues nesse injusto país. Conselhos não tem abrigo em escolas, entidades com delegação constitucional, responsáveis pela formação integral da juventude brasileira.Sempre disse aos meus alunos da UFRJ que negassem o rótulo de professores de Educação Física, e que se situassem sempre como Professores! Se um pouco desse milagre acontecer, não só o basquetebol, mas todas as outras modalidades poderão ser massificadas, não só para termos atletas de alto nível, como cidadãos preparados para uma vida saudável e equilibrada. É só, por enquanto…

FALEMOS DE ARREMESSOS

No artigo anterior-Conhecendo a arte do arremesso- descrevemos um pouco da técnica dos arremessos, principalmente quanto ao aspecto da precisão direcional exercida pela empunhadura da bola,e o subsequente controle sobre o eixo diametral da mesma no momento do lançamento.Esse é o principal fator para se obter sucesso em um arremesso,fator que se reduz em tempo quando relacionado à distância em que o mesmo é executado.Como os desvios angulares se tornam críticos na proporção direta às distâncias do lançamento,ou seja, quanto maior a distância menores serão os desvios angulares que exequibilizarão o arremesso, torna-se óbvia a necessidade da ação ofensiva ser desenvolvida o mais próximo possível da cesta. No entanto, quanto mais próximo da cesta menor será o tempo para uma pega efetiva da bola, mas o ângulo admissivel de desvio será maior do aquele necessario a um arremesso de três pontos.Conclusão, à curta distância, a pega, pela premência de tempo torna-se instável, mas a latitude de tolerância angular é maior do que no de longa distância,que exige algum tempo para a necessaria firmeza na pega, fator fundamental para um minimo de desvio angular. Por tudo isso, é que encontramos as respostas pelos baixos índices de acerto dos mesmos. Somente aqueles que enquadram suas pegas no menor espaço de tempo possível nas grandes distâncias obterão um alto grau de efetividade em seus lançamentos, são os verdadeiros especialistas dos arremessos de três pontos.Poderemos afirmar então o quanto temos perdido em efetividade nos últimos anos com a verdadeira febre que se abateu entre nós com o advento, quase religioso pelos arremessos de três pontos, e o quase abandono dos esquemas táticos que aproximavam os jogadores para os lançamentos de média e curta distâncias, numa lamentável e contraproducente opção tática.A implantação do Passing Game em tudo contribuiu para o emprego descontrolado do arremesso de três pontos pelas proprias características do sistema, com uma grande quantidade de passes em torno do garrafão,
numa busca incessante de espaço para o arremesso, quase sempre ao término dos 24 segundos regulamentares, obrigando, pela premência de tempo,arremessos desequilibrados e sem firmeza na pega, assim como alterando aquele minimo de concentração necessaria à boa execução dos mesmos. Quando vemos em um contra-ataque,o jogador que progride sozinho com a bola parar na linha dos três pontos, e daí executar o lançamento, concluimos quão precário é o comando exercido sobre esse jogador, e por extensão sobre a equipe do mesmo. Nenhum argumento soa factível perante tais atitudes praticadas comumente por quase todos os jogadores nessas circunstâncias. A reprimenda só aparece quando ocorre o erro, já que no acerto sorrisos amarelos são distribuidos à granel. Duvido que a reprimenda ocorra pela tentativa, convertida ou não. Precisamos urgentemente jogar com maiores margens de acerto nos arremessos, basicamente nos de curta e média distâncias,e fundamentalmente nos lance-livres. Que necessidade de conquista de precisão nos arremessos desenvolve jogadores que só pensam nas enterradas? Que arriscam o seu esforço e de seus companheiros em tentativas absurdas de três pontos? O engraçado nisso tudo é o fato dessa tendência ser equilibrada, pois como todas as equipes praticam o”globalizado” Passing Game,pois jogando idênticamente, as tentativas ficam equânimemente distribuidas, vencendo aquela equipe que errar menos no festival de três pontos em que se transformou o nosso basquete. Mais engraçado ainda é quando vemos esses mesmos jogadores enfrentarem equipes estrangeiras, nem sempre dispostas a facilitarem tais arremessos. Nossas seleções nacionais que o digam…

CONHECENDO A ARTE DO ARREMESSO

Hoje talvez sejamos o país em que os jogadores mais tentam os três pontos no mundo.Oscar e Marcel, sem dúvida nenhuma deixaram uma marca duradoura no seio da juventude praticante do basquetebol em nosso país.O terrivel é constatar que em nenhum momento nos últimos 10 anos algum jogador os tenha igualado em precisão e eficiência no dificil e altamente especializado arremesso de três pontos. Ao contrário dos outros arremessos, a variável mais importante nessa especialidade é o maior ou menor controle que será exercido sobre a direcionalidade do mesmo.Coordenação,força e trajetória de nada valerão se a direção sofrer desvios.É o mesmo que um foguete espacial,com sua descomunal potência e velocidade supersônica ao ser lançado de uma plataforma fixa,ter quebrado o seu pequeno giroscópio, responsável pela direção e controle do mesmo.Em 1950 uma pesquisa publicada por Mortimer provava que da linha do lance-livre um desvio de somente 2 graus no momento do arremesso lançava a bola para fora do aro da cesta.Imaginemos os graus que inviabilizariam uma tentativa da linha dos três pontos.Alguns estudos apontam para menos de 1 grau! Um jogador dotado de muita força,com um lançamento de trajetória alta, e com impulsão acima da média nada logrará de efetivo se não obter o mais alto grau de controle de direção que lhe for possivel. Belo estilo,elegância, estética apurada, ângulação de membros em perfeita simetria, tudo isto de nada concorrerá para uma efetiva eficiência se o controle da diração da bola for pífio.No entanto,em pleno desequilíbrio,ou lançando após alcançar o ponto máximo de elevação estando em queda,de lado, ou até mesmo projetado fora de seu centro de gravidade o arremesso terá boas chances de sucesso se for executado com pleno dominio de sua direcionalidade.Um belo arremesso, sem controle de direção apurado é superado por um de estética inferior se bem direcionado.E como poderemos visualizar esse tão decisivo e preciso fator.Sabemos que pela mecânica do lançamento, quando a mão impulsionadora transfere força à bola, esta é lançada com uma rotação inversa em torno de um eixo definido no momento do arremesso.Agora imaginemos esse eixo que é diametral à bola estando paralelo ao nível do aro e equidistante dos bordos do mesmo durante sua trajetória.O que teríamos senão um perfeito alinhamento eixo-nivel do aro, tanto no paralelismo, quanto na equidistância dos bordos do mesmo,conotando uma direcionalidade com desvio próximo ao zero grau, não importando de qual distância tenha sido feito o arremesso.E qual seria o fator mais importante para o sucesso deste controle senão o tipo de pega que o jogador aplica na bola com sua mão impulsionadora, já que a outra mão somente mantem o equilibrio da mesma.Minha tese de doutoramento é exatamente sobre este controle, e no decorrer dos artigos tentarei discorrer sobre ele.Sugiro que o leitor tente estabelecer as pegas(ou empunhaduras) que conhece com a ação que as mesmas possam vir a exercer sobre o controle do eixo diametral da bola em sua trajetória para a cesta, dentro dos padrões que mencionei linhas atrás, que influencias poderão exercer os dedos na sintonia fina do arremesso,
e quais aqueles que tocam por ultimo na bola.Serão estes os responsáveis pela perfeita direcionalidade, pelo decisivo zero grau de desvio? Como podemos ver,muito
tem sido dito,comentado e analizado com relação ao ato altamente técnico e de precisão inigualável que é o arremesso à cesta, de que distância for,com marcação ou sem,saltado ou não,equilibrado ou desequilibrado,com ou sem projeção do corpo,enfim,
opiniões sem um minimo de conhecimento técnico,e por que não, ciêntifico de uma ação delegada a uns poucos que detêm o dominio micro-muscular e perfeito sentido senso- espacial, que os fazem verdadeiros mestres da arte do arremesso.Nada mais oblitera o desenvolvimento da técnica do arremesso do que essa incontrolável e absurda paixão pelas enterradas, que podem até ser plasticamente bonitas,mas que se constituem na antítese da arte do arremesso, de cuja falta tanto nos ressentimos nos momentos decisivos do jogo. Em uma partida que minha equipe juvenil do Barra da Tijuca realizou contra o Benfica,campeão nacional, no Torneio da Amadora em Portugal,de 1997
meus jogadores ficaram fascinados com o aquecimento da equipe lusa, onde seis jogadores de procedência angolana davam um show de enterradas.Vendo a apreensão demonstrada pela equipe chameio-os e disse enfaticamente-Eles enterram e nos ganhamos! Resultado?Vencemos por boa margem e eles não enterraram uma bola sequer.
O arremesso é uma conjunção de arte e técnica, e como tal deve ser entendida,
pesquisada, convenientemente analisada e comentada, não só por comentaristas especializados, mas principalmente, pelos técnicos responsáveis pelas categorias de base, de onde emergirão as futuras”mãos santas”em nosso país. O resto deveria ser
convenientemente”enterrado”.

TAPETEBOL-UM DESPORTO NACIONAL

Quando retornei às quadras em 1995, o fiz na condição de um dos fundadores do Barra da Tijuca Basquete Clube, onde exercia com o Prof.Paulo Cesar Motta as funções de técnico e coordenador da modalidade.Minha primeira atividade foi a de auxiliar técnico do Paulo Cesar no Torneio Inicio da categoria Infantil.Dias mais tarde o Paulo foi meu auxiliar na categoria Infanto-Juvenil, nada mais natural em um clube que se iniciava com grandes dificuldades financeiras.Quando do término de uma das partidas do infantil um dos técnicos presentes me perguntou porque eu,técnico de prestígio me colocava em função subalterna em uma equipe infantil.Disse a ele que, se bem tinha observado o jogo, deveria lembrar que somente uma vez fiz um comentario sobre a partida,e mesmo assim a pedido do técnico,e que nos pedidos de tempo não interferia em hipotese alguma na ação do mesmo,e que a categoria da equipe era o fator de menor importância.Fazia ver ao interlocutor qual a verdadeira função de um assistente técnico.Debates, sugestões e até divergências técnico-táticas só deveriam ocorrer fora das quadras,e mesmo assim em reuniões estabelecidas e convocadas pelo técnico.Hoje vejo dois e até três assistentes disputando com o técnico a primazia do comando, tumultuando o momento chave em que o mesmo necessita de toda a concentração possivel para exercer sua função.Nos mais de 40 anos em que fui técnico jamais fui assistente, e mesmo em poucas ocasiões tive um, era um luxo a que os técnicos lutadores e idealistas de minha época não poderiam se dar com as verbas ínfimas que possuiamos para a formação das equipes.Porém, de uns tempos para cá tenho observado, principalmente nas seleções brasileiras a imposição de mais um modêlo americano, o batalhão de assistentes técnicos, com especialidades nos fundamentos e com livre trânsito na formulação das estratégias das equipes. Seria até positivo se toda a comissão se pautasse num objetivo comum, ou seja,todos trabalhassem para o bem comum, para a equipe, na busca de um objetivo. Mas o que tem ocorrido difere bastante do objetivo proposto, e o relato recente de um técnico que ao ser perguntado por um jornalista o que representava ter sido durante muitos anos assistente do técnico que havia sido afastado da equipe foi esclarecedor-Ser assistente técnico de seleção é a maior tranquilidade, pois a bomba só estoura na cabeça do técnico- Formidavel,não? Nada de riscos, nada de “queimações”,nada a perder Em se tratando de seleção nacional,se uma equipe de técnicos se une para prepará-la tendo um planejamento discutido por todos e aceito como o objetivo a ser alcançado,a não consecução do mesmo, por uma imposição ética,perante uma decisão superior de afastamento do técnico,teria, obrigatóriamente de ser acompanhado por TODA a comissão numa prova cabal de que a unidade de pensamento, previamente discutida e aceita, representava o alicerce de todo o trabalho. Anos atrás em uma discussão em minha casa alertei a um técnico famoso que ele perderia seu lugar para o assistente se não tomasse algumas providências pessoais.Disse-me que era impossivel e que eu exagerava. Meses depois perdia o cargo para o assistente.Nos ultimos 20 anos,que marcam o início de nossa decadência,esses fatos tornaram-se corriqueiros, afastando cada vez mais a possibilidade de um real e proveitoso intercâmbio de idéias entre a maioria dos técnicos.Praticar o tapetebol parece que encontrou no seio da comunidade dos técnicos um campo fértil, para gáudio de dirigentes que cada vez mais se beneficiam dessass atitudes nada éticas e pouco inteligentes.Uma entrevista aqui, um ponto de vista acolá, uma oportuna intromissão em um pedido de tempo nem sempre sutil,e pronto, a pontinha do tapete já está na mão.Se querem,mais uma vez copiar os americanos, deveriam observar que assistente lá só se manifesta a pedido do técnico,SEMPRE! Assistente assiste o técnico, pois comando não se divide, se conquista com anos de luta e com a vasta experiência adquirida.Nunca fui militarista,mas uma frase grafada em letras garrafais na entrada da AMAN em Resende exprime com perfeição a trajetória de um futuro aspirante-Ide obedecer para depois comandar- A quadra de basquetebol exprime um pouco as artes militares,não só pela luta entre atacantes e defensores, como pelo comando exercido pelo técnico no preparo e desenvolvimento da equipe.O assistente deverá acessorar o técnico com a maior competência possivel, mas somente quando solicitado.Essa é a lei imutável do comando, da responsabilidade assumida integralmente pelo comandante, e não convenientemente dividida quando os ventos não sopram a favor.A divisão do comando sugere uma também divisão perante os resultados alcançados,o que fatalmente levará todo o trabalho ao impasse da ausência de responsabilidades.E é exatamente nesse ponto de ruptura que emerge a figura do assistente salvador,aquele que pertencendo a equipe, mas divergindo oportunisticamente do técnico assume seu posto que foi sempre sua meta alcançar.Esse é um moto contínuo no desporto brasileiro, e somente a quebra dessa rotina suicida poderá reestabelecer o diálogo entre os técnicos rompido a muitos anos.Sem esse diálogo,sem a discussão de suas experiências,e sem um rigoroso código de ética profissional(o dos americanos da NABC e da NCAA são excelentes)em torno de uma associação realmente representativa não chegaremos muito longe na tentativa de soerguer o nosso basquetebol.
Em tempo, uma definição de Tapetebol-a arte de se puxar o tapete dos pés de um adversário, ou pior,de um colega de profissão.

SÓ IMPROVISA QUEM SABE

Em um dos programas da série Historia do Jazz,produzido pelo grande músico e maestro Wilton Marsalis, lançada pelo canal GNT,era perguntado a grandes personalidades da sociedade americana o que entendiam por Jazz.Um dos entrevistados
foi o grande jogador de basquetebol Abdul Karin Jabbar,o maior pontuador da NBA em
todos os tempos.Jabbar reportou-se à grande equipe dos Lakers campeã em 1980, onde
jogava com outro ícone do basquetebol americano, Magic Johnson. Aquela equipe, nas palavras de Jabbar,possuia um sistema básico de jogo, como o tema no jazz,composto
pela melodia e a sustentação rítmica,dentro dos quais os músicos improvisam por
muitos minutos sem fugirem do tema proposto.No caso do jogo, a equipe iniciava o
sistema básico, e os jogadores improvisavam as jogadas em ações individuais de
acordo com as reações do adversário, num verdadeiro carrosél de belas e incisivas
jogadas, sem nunca desmerecerem uns aos outros, ou seja,cada um tirava o máximo de
suas virtudes técnicas e atléticas a cada oportunidade que tinham na partida, e na
maioria das vezes iniciavam ou complementavam ações entre si, sem quebras de
liderança ou estrelismos.Mas para que uma Jam Session seja autêntica e verdadeira
é necessário que todos os componentes da banda,ou equipe,sejam mestres em suas
funções, em seus instrumentos.Esta analogia mais do que perfeita demonstrada por
Marsalis, através o relato de Jabbar,esclarece de forma definitiva o que vem a ser
música bem executada e jogo bem disputado.Dominio do instrumento,da bola,através o
conhecimento dos fundamentos do jogo, aliado ao talento, à sensibilidade e a precisão
dos movimentos conotam o artista, o bom jogador de basquetebol.Mas esse tipo de
jogador, via de regra não se adequa a rigidos esquemas táticos, arma letal de propriedade de muitos técnicos, que não abrem mão do dominio que os mantêm no comando
total de qualquer movimento que os jogadores venham a exercer na quadra,pois o
contrário os exporia perante a fraqueza da maioria de suas ideias acêrca do jogo.
Pouca gente se recorda,mas se músico fosse Togo Renan Soares teria sido indubitavelmente um talento jazzistico.Seus esquemas de jogo primavam pela simplicidade, mas jamais abriu mão da qualidade individual de seus jogadores.Para ele
eram gênios, e na carga brutal de treinamento procurava muito mais destacar as
qualidades técnicas de cada um do que a ação fundamental de seus esquemas.Não me
recordo de ter lido algum dia e em alguma publicação esquemas e jogadas do Kanela,mas
recordo-me perfeitamente de como promovia as qualidades dos jogadores a toda ocasião
que lhe dessem oportunidade.Quando suspenso de jogos,o que era uma constante, ele
escalava o tecnico dos juvenis para substituí-lo,e em algumas ocasiões fui o premiado
da vez,e ao perguntar a ele como queria que eu dirigisse a equipe a resposta era
imediata-Os jogadores são bons, você é bom,faça o que deve ser feito, improvise!
Sempre gostei de jazz, como o nosso chorinho,onde improvisar é sinônimo de perfeição
técnica.Sempre preparei minhas equipes, principalmente as de divisões de formação
dando total e irrestrita preferência aos fundamentos, tanto de ataque, quanto de
defesa, destinando aos sistemas de jogo não mais do que 30% do tempo disponivel para
o treinamento.Muitas e muitas vezes fui criticado pelo quase desprêzo que tinha nessas divisões pelos pedidos de tempo.Preferia ver e observar como os jogadores se
comportavam perante situações de perigo, de descontrole, em um proposital abandono
visando a busca do auto-equilibrio e da reação.Preferia instruir permanentemente os reservas, para quando fossem à luta o fizessem com o conhecimento do que realmente estava ocorrendo na quadra, para ajudarem e não taparem fendas indefensáveis.É claro
que conquistei poucos títulos em divisões de formação(muitos as chamam de divisões
inferiores, o que é um grande erro)mas preparei muitos para as divisões principais
inclusive seleções regionais e brasileiras.Quanto aos sistemas,deixarei para mais
adiante os esclarecimentos do que considero a verdadeira vocação do jogador brasileiro bem preparado nos fundamentos,sua arte de improvisar em torno de um tema
que se bem conhecido e treinado, além de simples e objetivo, o levaria de volta ao
cenario esquecido do basquetebol mundial.Fomos muito grandes em torno de verdadeiros
artistas do improviso, porém dominadores da arte do drible, do passe,do rebote,dos
arremessos,do contra-ataque,da defesa,dos corta-luzes,e principalmente, foram
resultado do trabalho de excepcionais técnicos, tanto na formaçao, como nas equipes
de ponta.Ou resgatamos nossa verdadeira escola, ou ainda vegetaremos por muito tempo
pelo limbo da mediocridade e da subserviência técnica.Acredito que possamos voltar
ao primeiro plano, mas temos que mudar não os mandatários, que são pétreos, e sim os
verdadeiros artífices do jogo, os técnicos.