OS GREGOS DE LÁ, E O GREGO DAQUÍ.

“Estou maravilhado!” “Quem poderia imaginar tal equipe?” “Uma aula de basquete que deveria ser gravada para ensinar aos jovens como se joga!” “Estou emocionado pelo que vejo, nunca poderia imaginar…” “Fantástica partida dessa surpreendente equipe grega!” Todas, opiniões dos comentaristas surprêsos pelo que testemunhavam. Mas, quem estava jogando contra os fantásticos americanos, era simplesmente a campeã européia, que decidiu o campeonato com os espanhois, também finalistas neste mundial. Para quem somente têm olhos e mentes para o galático espetáculo da NBA, realmente deve soar extranho uma final em que o idioma inglês esteja ausente. Mas esquecem as palavras do Mike Krzyzewski, publicadas em rodapé por aqui, onde afirmava” que muito estava aprendendo neste mundial, e que estava surprêso com a qualidade de jogadores e equipes presentes na competição”. E mais surprêso ainda deve ter ficado, quando se viu prisioneiro de uma estratégia militar, logo ele que se formou em WestPoint, que recriou em macro escala a odisséia das Termópilas. Nesta batalha, onde 300 espartanos atrazaram o avanço de mais de 50 mil persas, fazendo-os convergirem para aquela estreita passagem, como num gargalo, onde poderiam se antepor à poderosa massa atacante. E o fizeram
até a morte do último soldado, dando tempo para que o exército principal se organizasse para a definitiva defesa do país. E combateram sob o lema de “jamais pergutarem quantos eram os inimigos, e sim onde se encontravam”. A equipe grega, repetiu as Termópilas, atraindo sequencialmente a pujança fisica e atlética dos poderosos americanos, trazendo-os para o âmago de sua fortíssima defesa por zona, onde suas reconhecidas habilidades no jogo de um contra um se diluiriam ante dois, e até três defensores dispostos a barrarem seus caminhos. Mas para isso, ou seja, atraí-los, se valeram de ações diversivas, colocando-se quando fora do perímetro defensivo em uma aparente, porém enérgica defesa individual, dando a falsa idéia de que uma finta os levaria soltos para a cesta. Nestes momentos, a defesa se transmutava em uma zona feroz, bloqueando os afoitos atacantes. A armadilha deu certo em grande parte das tentativas americanas, forçando-os ao jogo fora do perímetro, onde sua eficiência pontual era bem menor que a de choque embaixo da cesta. O gargalo das Termópilas foi recriado, e os americanos se embrenharam por ele e se machucaram. No ataque, mais uma lição de estratégia militar( como é importante se conhecer o raciocínio dos técnicos adversários, que no caso do Mr.K se baseia em disciplina e distribuição de forças, não fosse ele cria do mítico Bob Knight, ambos egressos do meio militar), quando os gregos, sabedores da total impossibilidade dos americanos optarem por uma defesa por zona, por não saberem e nem aceitarem seu uso, teriam de se submeter a uma agressiva defesa individual, e por isso necessitariam obter, e mesmo criar espaços para evoluirem, em consonância com a utilização total do tempo disponivel para cada ataque a que tinham direito. E como fazê-lo? Baseando-se nas vitoriosas escaramuças defensivas a que sujeitavam os ágeis, porém imaturos americanos, colocando-os em dúvida quanto às suas reais qualificações, se espalharam na quadra de ataque, utilizando-se de somente um pivô muito forte,
mas de grande mobilidade (um deles com cerca de 145 kg!), e com grande destreza nos dribles e nos passes sempre incisivos, criaram as duas mais impactantes possibilidades de cesta.A primeira quando após profundas penetrações a bola era retornada em velocidade para os arremessos equilibradíssimos de 3 pontos.A segunda, quando os ágeis e rápidos pivôs se lançavam de encontro aos passes, dinamizando suas ações, sempre um tempo adiante de seus marcadores. E nessas idas e vindas da bola, num vendaval de dribles e passes extremamente rápidos, foram se distanciando dos americanos, desgastados pela determinante vontade defensiva daqueles valentes espartanos. O risco calculado de jogarem integralmente cada 24 segundos a que tinham direito, e de arriscarem as faltas pessoais no embate corpo a corpo que travaram duramente e por todo o tempo da partida, deram aos gregos a única vantagem que poderiam alcançar para a vitória, a força hercúlea de sua cultura milenar que se fez presente em sua determinação e espírito conjunto de sacrifício, ante um grupo brilhante de atletas, porém reféns de um posicionamento de falsa hegemonia, produto de uma também discutível liderança mundial. As palavras de Carmelo Anthony antes da partida definem bem esse posicionamento-
“Viemos para cá com a mentalidade de vencer os jogos e a medalha de ouro”. Mas o cerebral técnico Panagiotis Yannakis encerra a discussão e as eventuais dúvidas afirmando-“Você pode sair do banco com uma mente clara e dar o melhor de seu talento, e foi o que fizeram nossos jogadores hoje”. Enquanto isso, o nosso grego melhor que um presente respondendo a uma pergunta se pensava em sair da CBB, feita pelo colunista Luciano Silva do Databasket,afirmou- “Se a maioria dos clubes e presidentes de federações pedissem ele convocaria uma nova eleição. Tudo pelo bem do basquete nacional”. Mas como dono das chaves dos cofres seria um ato de pura retórica, pois os votos são mais do que conhecidos, manipulados e garantidos. Sua cultura grega e milenar se perdeu nos meandros da esperteza nacional, na contramão de seus brilhantes e éticos conterrâneos. Pobre do basquetebol brasileiro, que até para dirigí-lo tem o grego errado.



2 comentários

  1. Alexandre Rocha 03.09.2006

    Uma vez sendo provavel a ida da seleção brasileira para a repescagem mundial qual seria a estrategia adequada para sair deste tipo de defesa?

  2. Basquete Brasil 03.09.2006

    Prezado Alexandre,uma equipe que domine com precisão os fundamentos do jogo,
    principalmente o drible,o passe e os corta-luzes,se qualifica para enfrentar qualquer tipo de marcação, o que convenhamos,não é o nosso caso.E o terrivel é que essa deficiência vem desde
    a formação de base.Ao superarmos tal deficiência, formaremos melhores jogadores.Um abraço,Paulo Murilo

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