TÉCNICOS E TÉCNICOS II

Mesmo seriamente desfalcada de seus dois pivôs mais técnicos e experientes, Franca ofereceu resistência à equipe do Paulistano até os derradeiros 3 minutos da partida, demonstrando quão acertada tem sido sua opção de jogar permanentemente com dois armadores em quadra.Com essa atitude, seu sistema defensivo se tornou mais rápido e efetivo no perímetro, e exercendo a flutuação lateralizada, mesmo quando em zona,obrigava a equipe do Paulistano aos passes longos e em elipse, facilitando as recuperações lineares de seus defensores. Em algumas ocasiões essas recuperações eram tão efetivas, que os atacantes da equipe paulistana passavam da linha lateral, na ânsia de dominar a bola, após um longo e curvo passe. Sem dúvida nenhuma, a equipe de Franca, se estivesse completa, equilibraria a conquista dos rebotes, quando poderia, inclusive, vencer a partida. Sua tentativa de mudar um pouco o panorama técnico-tático do nosso basquete, torna-se elogiável, dentro da triste realidade com que nos defrontamos, testemunhando uma atitude estratificada por um único sistema de jogo, adotado pelas demais equipes.

Quanto aos técnicos, dois comportamentos de ambos, demonstram o quanto ainda teremos de evoluir para atingirmos patamares mais elevados no âmbito das relações humanas. Por parte do técnico de Franca, uma agressão verbal ao técnico oponente, quase provocou uma situação de conflito, o que seria lamentável em se tratando de dois professores e líderes de suas respectivas equipes. Pelo outro lado, em um pedido de tempo a três minutos do final, e sob a inclemente presença dos microfones e câmeras, saiu-se o técnico paulistano e da Seleção Brasileira, com uma lapidar frase –“Faz a p….. do chifre duplo c….!” . Com uma audiência de muitos jovens espalhados por esse enorme país, exemplos como estes, advindos de um centro mais evoluído tecnicamente, com certeza darão a eles péssimos exemplos comportamentais, os quais, com a repetida freqüência com que são externados, passarão a ser tornar naturais e difundidos, o que seria uma péssima influência, daqueles que deveriam, por formação, darem exemplos de desportividade e refinada educação.

Outrossim, os comentaristas cada vez mais se tornam ambíguos em suas análises, e tomemos um triste exemplo no jogo de hoje.Quando a equipe do Paulistano retornou para o segundo tempo, repetindo a escalação do começo do jogo, mereceu o seguinte comentário:“Não concordo com essa atitude do técnico, pois o Leandro, que terminou o segundo quarto com ótima atuação, deveria ter sido mantido como prêmio, e não retirado do jogo”. Logo a seguir, menciona o fato de que o técnico do Paulistano teria agido dessa forma por conhecer melhor seu jogador, e que a substituição é um direito dele. Ora, se essa é a realidade do jogo, melhor seria se tivesse ficado calado, e não lançando através seus esclarecedores comentários, um posicionamento de como agiria se estivesse no lugar do técnico paulistano. Afinal, sua função é a de comentar “o que vê, o que está sendo jogado”, e não o que faria se lá estivesse. Este é o maior erro cometido por alguns de nossos comentaristas, os quais ainda não se desligaram das ânsias e desejos de atuarem ao lado das quadras, e não fora das mesmas. São situações bem parecidas daqueles técnicos que há bem pouco tempo atuavam como jogadores, e que exigem de seus comandados atitudes e ações que “eles” tomariam se dentro das quadras estivessem. Trata-se do pior comportamento possível na prática do comentário e da técnica, entraves poderosos ao bom exercício profissional.

Como vemos, ainda teremos de evoluir muito para alcançarmos os níveis das nações mais desenvolvidas desportivamente, a começar pela qualificação dos técnicos, hoje promovidos por um sistema de apadrinhamento e marketing, pertencentes a um clube fechado e envoltos em interesses de políticas municipais, estaduais, e até nacionais para os mais abastados. No momento que a meritocracia for replantada entre nós, muito das mazelas que hoje testemunhamos deixarão de existir, pois passaremos a um estágio fundamentado no estudo, na pesquisa e na experiência acumulada, fatores estes fundamentais para a valorização profissional, e não, como hoje, representados e “autorizados” por um Cref fajuto da vida, que só tem como função o recolhimento pontual dos dízimos, daqueles que iludidamente se deixam convencer de que tal“obrigação” os tornam técnicos qualificados de basquetebol. Puro engodo, puro e criminoso engano. Urge uma formação melhor e mais responsavelmente qualificada, pois em caso contrário continuaremos a incorrer no erro da incompetência institucionalizada, que é a origem da nossa derrocada técnico-tática. Infelizmente essa é a nossa triste realidade.



8 comentários

  1. Idevan Gonçalves 20.01.2007

    Caro professor, parabéns por seguir na batalha pela (r)evolução do nosso basquete. Com relação aos técnicos, parece que sempre os mesmos dirigem as equipes de ponta (cada vez mais parecido com o futebol), já não bastasse o sistema único de jogo.

  2. Basquete Brasil 21.01.2007

    Prezado Idevan,perdoe-me discordar num ponto.São equipes que se acham de ponta,e que para consumo interno se bastam.É o mercado ideal para a panela que se apossou do mesmo.Se defrontadas ao mercado externo deixam cair suas falsas pretenções.E a panela naufraga junto.Ser de ponta é outro negócio,outra postura,outras e mais exigentes qualificações.Vai ser muito difícil retomarmos o rumo certo,pois a panela é forjada no aço do protecionismo e da politica desenfreada.Mas não é impossivel, creio eu.Um abraço,Paulo Murilo.

  3. Marco Antonio Lippert 22.01.2007

    Prezado Professor Paulo Murilo! Como estou sempre aprendendo, felizmente tive a oportunidade de conhecer seu blog e os artigos publicados através de e-mails recebidos do meu amigo Miguel Angelo da Luz, excelente técnico que tenho como exemplo. Concordo com suas palavras e sou mais um que discorda do sistema de jogo empregado aqui, onde o individualismo e as bolas de 3 pontos parecem, as vezes, serem mais importantes do que o coletivo, mas… enfim, como militar e instrutor de Basquete da Escola de Educaçao Física do Exército tentei passar essa idéia aos alunos, nem sempre foi fácil justamente pelo que se vê na TV e nas peladas que participamos, onde as brigas e discussoes sao frutos deste individualismo exacerbado por que passamos em nossas vidas de atletas. Certamente continuarei nesta briga e explorando este enorme túnel que se chama conhecimento. Abraço. Marco Antonio Lippert

  4. Leandro Machado 22.01.2007

    Não sei o q esse tecnicos pensam achando q xingando vão conseguir arrumar o time, e culpam os atletas por cometerem erros q eles não cometeriam se fossem bem treinados. Para um time se manter bem no jogo, acho eu, eh essencial q o tecnico tenha total controle emocional e saiba lidar com o psicológico dos jogadores, obeservem Pat Riley, um dos maiores tecnicos da NBA, como ele se comporta em quadra, calmo sereno o tempo todo e sabe como incentivar os jogadores. Dominio das relaçoes humanas tem que ser uma das muitas qualidades de um bom tecnico.

  5. Basquete Brasil 23.01.2007

    Prezado Marco Antonio,fico feliz pelo interesse manifestado por você sobre meu pequeno blog.Realmente,o problema do individualismo exarcebado vem se tornando cronico e retarda o progresso da modalidade.Sua responsabilidade é grande,pela função que exerce na EEFE,de grandes e efetivas realizações.Mas tenho a certeza de que saberá contornar com sabedoria esses obstáculos, tão comuns em nossa função de educadores.Conte comigo para discutir qualquer dúvida que porventura possa vir a ocorrer.Será um prazer discutí-la com você.Um abraço,Paulo Murilo.

  6. Basquete Brasil 23.01.2007

    Leandro,convecionou-se no país que palavras de baixo calão transmitidas pela Tv transformaram-se em rotina aceita pela sociedade.Honestamente, discordo veementemente.A televisão deveria ser a transmissora de cultura e educação, e os técnicos,de princípio, sendo professores e educadores,deveriam primar por aqueles objetivos.Se não o fazem cometem um severíssimo crime, que deveriam ser punidos com rigor.Infelizmente não é o que ocorre,para o descrédito cada vez maior daqueles que deveriam liderar a juventude. Paulo Murilo.

  7. Anonymous 14.02.2007

    Porfº Paulo Murilo, fui seu aluno na UFRJ, entre 94 e 98 não me recordo bem, na Praia Vermelha.
    Meu maior lamento foi não ter sugado, ou muito pouco do conhecimento absurdo que o senhor tem a respeito do nosso basquetebol.
    Leio sempre seu blog, seus comentários, continue. Com certeza muitos estão aprendendo sempre mais.
    Me chamo Alan Glauco, sou professor e treinador de basquetebol. Hoje estou casado há 13 anos e minha filhota com 12 já começa a se dedicar.
    O mais interessante de manifestar é que esse ano começo do zero um trabalho de feminino com duas turmas, escolinha e pré-mirim. Vou em frente.
    O ambiente do masculino não me convém, não me traz a paz necessária para desenvovler algo que acredito.
    MERITOCRACIA por aqui parece não existir.
    Um abração
    fique com Deus do seu ex-aluno, admirador e leitor

    Alan Glauco

    alanglauco@ibest.com.br

  8. Basquete Brasil 16.02.2007

    Prezado Alan,bem me recordo de você e de seu entusiasmo pelo basquete.Agradeço suas amáveis palavras, e não se contenha em sugar mais e mais conhecimentos,não só de mim que sei tão pouco, como de muitos outros excelentes técnicos que possuimos nesse país.Não desista nunca de seus sonhos, pois são o combustível do soerguimento do grande jogo entre nós.Um abração,e escreva sempre que assim o desejar,Paulo Murilo

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