A ARQUITETÔNICA ILUSÃO.

Estou indo conhecer a arena de 15000 pessoas e 260 milhões de reais construída perto aqui de casa. Levo comigo uma estranha sensação de vazio, imaginando o que poderia ter sido construído nas escolas do estado com tamanha verba. Bem próximo dali, em Curicica, um valente professor inicia jovens da comunidade no atletismo, num arremedo de pista e caixa de saltos na praça em frente da escola onde leciona. Seu trabalho rendeu na semana passada uma vitória no Campeonato Mundial Juvenil de uma sua atleta nos 200 metros rasos na longínqua Europa. Um pouco mais adiante, no Mato Alto, outro abnegado inicia jovens carentes no Badminton, numa quadra construída com enormes sacrifícios, inclusive pessoais. Num passeio preliminar pelas escolas públicas da região não encontramos instalações esportivas com um mínimo de conforto, espaço e material necessário à pratica desportiva. Locais cobertos e piscinas, então nem pensar. No entanto, constrói-se arenas megalômanas para já serem entregues à iniciativa particular para explorá-las econômica e comercialmente. Muito em breve estarão sendo usadas para cultos religiosos, desfiles de misses, concertos pop’s, feiras e congressos, e um ou outro espetáculo esportivo, isso se não forem abandonadas simplesmente. Mas no fundo foi essa a destinação inicial de tais locais, o enriquecimento de empreiteiras e a exploração dos mesmos pela iniciativa particular. O que poderíamos fazer com 260 milhões no equipamento de áreas desportivas escolares seria inimaginável, mas utópico dentro da realidade nacional. “Temos agora uma arena de primeiro mundo”, deliciam-se os deslumbrados perante monumentos arquitetônicos e irreais, que os remetem a uma superioridade material ante outras nações, orgulhando-os de “serem brasileiros”. Deveriam, isto sim, voltarem seus olhos para uma juventude carente e escravizada a um destino, onde a luta inglória para se educarem se choca com a indiferença daqueles que conotam o concreto e as ferragens maquiadas em pinturas de gosto duvidoso, com os verdadeiros preceitos de nacionalidade e patriotismo. Não é atoa que muitos poucos atletas cariocas representam as seleções nas diversas modalidades, e mesmo esses poucos sequer treinavam no estado.

Saio daqui um pouco para a arena, levo uma pequena câmera para ilustrar um espetáculo falso e anacrônico, fruto da insensibilidade brutal de nossos dirigentes, mas pleno em sucesso comercial e econômico para uma minoria abastada, vaidosa e profundamente desleal para com a juventude abandonada deste imenso e desigual país.

Peço humildemente aos deuses, que olhem um pouco por todos nós. Amém.



6 comentários

  1. Henrique 24.07.2007

    Belo texto Professor.

    Este vai ser mais um templo de nossa
    condição de Primeiro Mundo que a
    Nave Mãe Globo tenta impor guela abaixo para os brasileiros.

    Quando na verdade,sabemos que não é bem assim que funciona o país.

    Abraço para o senhor !E boa visita
    ao templo do dinheiro.

  2. felipe 24.07.2007

    É professor, ontem mesmo estava conversando com meu pai e comentei: quero ver como eles vão aproveitar essa belíssima arena.

    Um PAN que decuplicou o seu orçamento (por que será né?!?!), deveria ser o maior evento esportivo do UNIVERSO.

    Abraço

  3. Clovis 25.07.2007

    Boa noite Professor,

    É triste saber que no final das contas, esse belo e gigantesco ginásio será mais um elefante branco dos governos federais, estaduais e municipais… Quando muito, como vc bem lembrou, será usado por terceiros para uso próprio!!!

    Mas espero, que isso naum se torne realidade, e que seja o palco da Ginástica Artística e do nosso querido Basquetebol!!!

    Um forte abraço e bom jogo…

  4. Basquete Brasil 26.07.2007

    Obrigado Clovis,e faço meu seus votos de que naquele local o desporto prevaleça. Um abraço,Paulo Murilo

  5. Basquete Brasil 27.07.2007

    Prezado Henrique,como você já deve ter lido”visitei”a grande arena e expus minha opinião triste e sincera.Quem sabe um dia teremos outros 260 milhões para apaniguar nossa sede de educação, quem sabe…
    Um abraço,Paulo Murilo

  6. Basquete Brasil 27.07.2007

    Prezado Felipe,só quadruplicou? Só?
    E o ônus que nos legaram,quem pagará?
    A turma megalomaníaca do COB?O Pseudo-Ministério dos Esportes?A prefeitura do Rio? Ou serão os sacrificados e esquecidos cidadãos desta cidade abandonada? Creio que sabemos a resposta. Um abraço,
    Paulo Murilo.

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