ACONTECEU EM PORTO RICO.

Aconteceu um torneio em Porto Rico, reunindo o dono da casa, e as seleções da Argentina, do Canadá e a do Brasil. Nenhuma transmissão direta, muito menos em vídeo, sobrando mesmo um esboço de cobertura digital jogada a jogada em um site da FIBA. Talvez se fosse um jogo de voleibol, pudéssemos até imaginar com um mínimo de acerto a produtividade de cada jogador envolvido, mas mesmo assim, no caso, por exemplo, dos bloqueios, toda uma variável de detalhes posicionais e espaciais, seriam omitidos pela ausência do elemento mais importante para uma analise objetiva e isenta, o testemunho visual. E olhem que o voleibol pela ausência de contato físico entre os jogadores, apresenta sob uma analise estatística, uma maior compreensão sobre as ações dos mesmos na quadra, já que posicionais, com nenhuma interferência próxima que possa alterar a execução dos movimentos básicos do jogo, em uma analise estimativa razoavelmente aproximada, mas nunca a ideal, propiciada pela imagem gravada.

No caso do basquetebol, torna-se estéril qualquer análise de produtividade e ação física-técnica, no momento em que estas se produzem sob um embate antagônico permanente, gerando ações agônicas que visam o equilíbrio necessário à consecução das mesmas. As marcações visando uma quantificação estatística, em momento algum enumera tais embates, reservando seu limitativo espaço ao certo ou errado, ao positivo ou negativo, omitindo o fator determinante para o entendimento claro e objetivo da realidade, o testemunho visual.

Logo, a brutal quantidade de opiniões, divergências, convergências, criticas exacerbadas, algumas até ofensivas, postadas em alguns sites de debates, ficaram mais em conta da paixão e da passionalidade de seus participantes, do que a realidade omitida pela ausência do fator que direcionaria tais discussões a um patamar aceitável de opiniões, o registro da realidade televisiva.

Um dos jogadores selecionados como armador, em especial, foi tremendamente criticado, e até ofendido em sua filiação, numa atitude irascível e despropositada, muito além do que seria permissível se visto ao vivo e à cores, numa transmissão que diluiria determinados conceitos técnicos e comportamentais, omitidos pela frieza, quase sempre mal interpretada e analisada de uma tabulação estatística. Não defendo aqui a justeza de sua convocação, e até, em artigos anteriores defendi a nomeação de outros bons armadores que foram esquecidos, mas, em momento algum tais divergências opinativas podem ceder lugar a ofensas e insinuações nada abonadoras. Lastimável que ainda percamos tempo com opiniões apaixonadas e distantes da realidade de um jogo, de um grande jogo, que por ser grande exige também grandes, decisivos, abalizados, analisados e responsáveis posicionamentos técnicos, respeitando o outro grande fator e gerador de progresso, o posicionamento ético e respeitoso, colimadores do processo desportivo e social.

Durante a realização do torneio, não manifestei qualquer analise técnico-tática, exatamente pelos argumentos acima apresentados. Mas, para que não haja dúvida sobre o fato de que não levo à serio qualquer analise baseada em dados estatísticos, ainda mais quando os mesmos seguem a norma da analise percentual, retiro um único dado daquela enxurrada de números e tabulações, o tempo jogado pelos armadores convocados, incluindo mesmo o Leandro, como um dos quatro relacionados. Vejo com bons olhos que a comissão ensejou um torneio preparatório para testar situações em que dois armadores exerciam o comando da equipe, numa combinação de quatro fatores, que se bem equacionada e direcionada, tenderá a suprir a seleção de uma boa estratégia ofensiva, baseada num forte jogo fora do perímetro, assim como um reforço substancial ao sistema defensivo, dois fatores importantíssimos para os embates no Pré-Olímpico, onde as defesas serão muito fortes e decisivas para o fecho da competição. A prova do acerto da comissão, foi a constatação nada estatística, mas presente nos relatos jogadas a jogadas do site da FIBA, onde pudemos atestar o grande numero de passes entre pivôs que culminavam em curtos arremessos, jogadas essas somente possíveis em momentos de dupla armação, obrigando os homens altos a um constante deslocamento pelo perímetro interno, resultando nas conclusões ali mencionadas. Foi uma alvissareira constatação, bastante positiva se for realmente disseminada e incentivada daqui para frente.

A seleção é essa que se encontra em Las Vegas, com bons jogadores, apesar de que alguns, talvez melhores, ficaram por aqui. Mas, com boa vontade, perícia e inteligência no modus operandi da equipe, possamos nos sair um pouco melhor que em etapas pré-olímpicas passadas, apesar de que muito teremos de trabalhar, modificar e evoluir, para merecermos plenamente o patamar olímpico, cuja participação exige um outro tipo de enfoque participativo, o do soerguimento de nossa verdadeira forma de jogar, aquela que tivemos, e que tem sido afastada do nosso cotidiano por mais de vinte anos. Amém.



4 comentários

  1. Henrique 21.08.2007

    Caro Professor Paulo,
    como está ?

    Concordo com o senhor novamente.
    Dificil está de discordar do senhor ultimamente.

    A batalha vai começar.
    Os adversários são dignos de total
    respeito e acredito de total estudo,
    concentração, treinamento mental e
    preocupação.

    Me alivia e me apavora saber que a Seleção jogará com dois armadores natos.

    Me alivia pois enfim chegamos onde o mundo inteiro está nos ultimos anos.

    Me apavora por termos notado somente agora, 4 dias antes do torneio mais importante dos ultimos anos para nós e de forma alguma desprezando o Mundial,
    que agora os cardeais conseguiram entender o recado europeu.

    Será dificil !
    Não estou confiante,
    deveria estar mais, porém a realidade e a preparação não me deixam estar.

    Um abraço para o senhor,
    continuo na torcida,
    Henrique Lima

  2. Basquete Brasil 21.08.2007

    Prezado Henrique,ato contínuo ao seu comentário,já havia publicado um segundo artigo no dia de hoje,baseado numa declaração do técnico da seleção publicada no site UOL de hoje.Creio que está tudo alí exposto sem rezas e velas.É um mea culpa um tanto tardio,mas passivel de algum ganho positivo, que teria sido esmagador se definido com a devida e óbvia antecedência.Mas nunca é tarde para reconhecer o caminho a ser trilhado pois o pior cego é aquele que se nega a ver.Oremos então aos deuses que se dispuserem a nos ouvir.Um abraço,Paulo Murilo.

  3. Clóvis Rafael 21.08.2007

    Professor Paulo Murilo, como está?????

    Gostei do artigo e tenho que dizer-lhe, vc está correto na sua análise e nos seus comentários… As vezes, deixamos a paixão sobressair a razão!!! Mas voltemos ao assunto sobre jogar com dois armadores!!!

    Eu estava vendo um VIDEOBLOG sobre o treino da seleção, o quinteto titular vai ser: Valtinho, Leandrinho, Machado, Splitter e Nenê. Mas gostei das variações, principalmente duas em si!!!

    A primeira foi, colocada em quadra com Valtinho, Huertas, Leandrinho, Marquinhos e Murilo, no treino se mostrou rápido e com jogadas que tanto davam opções externas como belas infiltrações provocadas por Huertas e Leandrinho!!!

    A segunda, um pouco mais pesada, mas com dois armadores puros também… Valtinho, Huertas, Machado, Nenê e JP Batista!!! Nessa ficou evidente a força do garrafão e a qualidade dos pick’n’roll que Nenê e Valtinho conseguem fazer, como também Nenê e Huertas fazem com bastante qualidade!!! Sem perder o bom trabalho no perímetro de Machado e Valtinho!!!

    O que vc acha dessas variações e do quinteto titular???? Sei que quem começa, nem sempre é o que mais fica em quadra, vide Leandrinho no SUNS, joga quase o mesmo tanto que Nash e Amare!!!

    Um forte abraço à vc e ao meu amigo Henrique!!!

  4. Basquete Brasil 21.08.2007

    Prezado Clovis,no final das contas a razão sempre prevalecerá,e com ela o bom senso compensador.Amanhã,com a transmissão televisiva poderemos aquilatar a quantas andam as chances brasileiras,agora que resolveram timidamente investir em um novo enfoque técnico-tático, que aliás não é tão novo assim.Antes tarde do que nunca.Porém,a demora por essa opção ocasionará uma situação híbrida,pois uma equipe acostumada a longo tempo com um sistema,fatalmente retornará ao mesmo no momento que se sentir insegura com o novo.É o tal feijão com arroz definido pelo Rodrigo no Rebote.E aí meu caro,é que a vaquinha pode ir parar no brejo das indecisões,da falta de treinamento prolongado e apurado,na falta de convicções plenamente arraigadas. São nesses momentos que poderemos lamentar a ausência de um comando,que pode errar em muitas coisas,menos nos fundamentos de suas crenças.O impasse dessa comissão ao aderir à dupla armação nas vésperas do grande torneio,deixa no ar a desconfiança de que aprioristicamente propõe uma divisão de responsabilidades com os que defendem as mudanças nos sistemas de jogo,justificando a sua não utilização em nome do atual sistema,amplamente utilizado,mesmo sendo ultrapassado.Desconfio que não terão coragem na adoção integral do novo,utilizando-o para justificar o antigo em que confiam.Mas se coragem tiverem,poderemos ver renascer o nosso verdadeiro basquetebol,com todas as dúvidas e incertezas que sempre cercaram as inovações e as grandes conquistas.Oremos pois.Um abraço,Paulo Murilo.

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