A MESSIÂNICA PREVISÃO…

Em mais uma excelente entrevista do Fabio Balassiano do Rebote, com o já nomeado técnico da seleção masculina Mocho Monsalve, podemos pinçar alguns detalhes, não só importantes, como esclarecedores. “Há problemas claros no jogo de cinco contra cinco, na defesa e na condução de bola. É preciso ter mais equilíbrio e cadência”, bem no espírito europeu de jogar, antítese do estilo nosso de atuar, principalmente por parte dos jogadores mais experimentados e rodados , com sérias deficiências nos fundamentos de ataque, e principalmente de defesa. “O primeiro ponto que vou enfatizar é a defesa. Defesa forte impulsiona um jogo de transição de qualidade e um contra-ataque bem feito. É preciso criar um jogo mais eficiente para os pivôs também (…). Quanto aos fundamentos, este será um grande problema, porque terei pouco tempo, infelizmente. Mas temos como minimizar isso”.

Eis ai o grande obstáculo a ser enfrentado por um técnico que confessa-“Nunca treinei uma equipe de ponta”. O que é preocupante, não pelo fato de ser de ponta, e sim por não ter tido essa oportunidade em seu país de origem, com todo o conhecimento e domínio que a vivência ambiental propicia visando experiências, tentativas, erros e acertos, muito ao contrario do que irá enfrentar do outro lado do Atlântico, liderando jogadores com uma formação diametralmente oposta aos seus mais puros e estabelecidos conceitos de jogo, de técnicas e táticas, de comportamentos e atitudes dentro e fora das quadras. E principalmente destituídos dos princípios que embasam suas certezas e conceitos, os fundamentos do jogo.

Para minimizar essa deficiência, com o pouco tempo de treinamento e preparo, somente uma atitude técnica poderá tomar, a maximização do passing game, tendo inclusive dado uma sutil pista ao mencionar – “Outro fator que quero que os atletas entendam é o do “um passe a mais”, que possibilita um arremesso mais seguro e que, inclusive, o Marcelinho Machado conhece.Muitos alegam que ele é um chutador voraz, mas quando jogou comigo ele se adequou ao estilo”. Isso mesmo, um passe, e outro e mais outro até o arremesso seguro, eliminando quase por completo o drible e as fintas com bola, que são os fundamentos mais carentes entre a quase totalidade dos jogadores tidos, e ditos de ponta. Ou seja, estabelecendo a manutenção do estilo universal e globalizado de jogo, com a extirpação radical do drible em função do jogo de passes “mais um”, garantindo e estabelecendo a cadência e o controle das ações em quadra.

Mas, um óbice dos mais herméticos nosso Mocho terá de enfrentar com a carência de tempo para o treinamento dos fundamentos, o fato determinante de enfatizar a defesa, que como estamos fartos de mencionar, lembrar, destacar, e por que não, enfatizar também, depende única e exclusivamente de treinamento fundamental, posicional, repetitivo e de longa duração, principalmente no aspecto de seu emprego coletivista. Fica então a pergunta, será que 35 treinos e 4 jogos de preparação serão suficientes para minimizar tais deficiências, substituiondo-as por um sistema confiável e seguro? Ainda mais quando ao fim da entrevista assegura- “Não tenho dúvida de que conseguiremos a vaga olímpica. Depois saberemos se vamos brigar por medalhas. Prefiro ir passo a passo, até porque sou ótimo com palavras, mas estou aí para ser julgado pelos meus resultados dentro da quadra, não?

Espero honestamente que também seja ótimo no preparo e nos sistemas que pretende empregar, e não somente ótimo com as palavras.

Finalmente, usando uma prerrogativa de quem é ótimo com palavras, deixa no ar uma interrogação quanto ao relacionamento que manterá com os jogadores, passando ao largo da insurgência dos mesmos contra a antiga comissão técnica de graves e profundas conseqüências comportamentais, numa curta afirmativa menciona Pat Riley : “quem quer participar do circulo, que esteja dentro. Quem não quer, que saia e tudo bem”. Ou seja, já propõe o circulo fechado, o nosso bem conhecido grupo fechado, que tantos problemas nos tem causado nos últimos anos sob os auspícios e liderança de conhecidos cardeais.

E a grande pergunta do Fabio se fez presente – “Muita gente gostaria de ver o Brasil jogando com três pivôs. Isso é possível?”

“Claro que sim ! O Varejão e o Murilo têm capacidade para fazer a posição 3. Hoje, no mundo, times jogam com dois armadores , três alas baixos, três pivôs. Nada é impossível, desde que haja treinamento e construção de espaços”.

Que engraçado, tenho solitariamente defendido esse conceito que sempre empreguei em todas as equipes que dirigi, masculinas e femininas, de base e adultas, em colégios, clubes e seleções, já tendo publicado exaustivamente dezenas de artigos com o assunto, para vir um estrangeiro tornar factível e exeqüível tão óbvio e decisivo princípio técnico-tático, confirmando o que defendo, e que já vejo timidamente ainda, surgir no âmago de algumas equipes, de ainda poucos técnicos, mas que após tais declarações deverá se espraiar pelo país, pois afinal de contas é o técnico da seleção brasileira que assim o diz, desabrochando de forma primaveril aquele sentimento reconfortante de espírito colonizado, aquele que ainda não nos livramos finalmente. O povo tem razão ao afirmar que “santo de casa não faz milagres”. Que venha então o nosso redentor com suas ”novas e inéditas” idéias, se antepondo às nossas retrógradas e carcomidas imagens do grande jogo.

Amém.

WWW. "VAI SE ….". EDU

O jogo estava duro, disputado e imprevisível, quando num minuto determinante do terceiro quarto um bom jogador argentino da equipe de S.Bernardo converte dois arremessos sem qualquer oposição defensiva. O técnico de Assis pede um tempo, e mesmo sabedor , por consentimento, da existência de um microfone em sua lapela, profere um discurso que vai da “p… daquele argentino”, até um “vai se f…”, dirigido ao seu jogador destacado para a marcação do habilidoso portenho, num destempero condenável pela forma e pelo desrespeito, não só a um de seus comandados, como ao telespectador sintonizado na transmissão. E tudo isso contando com o beneplácito do comentarista da ESPN Brasil, para o qual o desabafo era natural e até necessário naquela circunstância de jogo, palavrões e ofensas inclusas.

Coincidentemente, à partir daquela descarga biliosa a equipe de Assis não mais se encontrou na quadra, num momento em que a intervenção mais determinante por parte de seu comandante teria sido o da procura da calma e da introspecção coletiva, na busca de soluções práticas, e não cobranças e agressões gratuitas e despropositadas bradadas em um microfone em rede nacional. E o narrador televisivo ainda se sai com a didática explicação de que aquela reação se justificava, pois “estava sendo jogada a sobrevivência da equipe, a última chance do ano…”, como se esses fatores comuns a qualquer competição desportiva, justificassem os atos cometidos e discursados. É realmente doloroso que pensem dessa forma distorcida e irreal.

Ao final do jogo, o técnico vencedor ao afagar um jogador adversário comenta coloquialmente que o mesmo tinha jogado “pra c….”, e numa ação rápida tenta encobrir com a mão o microfone em sua também autorizada lapela, sabedor no entanto que o dano já havia sido transmitido em rede nacional.

Dois profissionais, dois professores, que ainda não entenderam serem possuidores de um poder quintuplicado de influência e poder de formação opinativa, principalmente entre os mais jovens, quando têm conectadas suas reações, truculências e atitudes coercitivas a um sistema televisivo e radiofônico de altíssima sensibilidade, que não deixam tais comportamentos se perderem em seus mais ínfimos pormenores, nos mais crus dos detalhes, e na mais absoluta imposição unilateral, aquela que destina ao ouvinte tão somente a constatação do quanto ainda teremos de evoluir para galgarmos os degraus da desportividade, da educação e da cultura.

Preocupa-me o fato inconteste de que esses comportamentos vêm sendo impostos gradativamente, numa aceitação não muito velada por parte de alguns técnicos em concluio com emissoras de televisão, focando e difundindo a idéia de que se trata de um comportamento comum e natural, e que deve ser aceito como tal. Protesto veementemente contra essa pretensa realidade, que somente espessará a já densa cortina de estupidez e baixo nível em que se encontra o basquetebol em nosso país. Pensem bem, avaliem sua importância, e julguem com isenção seus atos, atitudes e influências a toda uma geração de jovens que nunca deveriam se defrontar com um “vai se f…”, toda vez que cometerem um erro técnico, uma falha humana, uma ausência de experiência, fatores inerentes a quem pratica o jogo, e que mereceriam um “vamos conversar”, simples e óbvio para quem se predispôs a orientar,treinar e educar através do esporte.

Amém.

O CONJUNTO DA OBRA…

Uma entrevista imperdível a concedida pelo grego melhor que um presente ao jornalista Fabio Balassiano do REBOTE. Depois de lê-la, podemos avaliar com a mais absoluta precisão os porquês da debacle do basquetebol brasileiro nas duas últimas décadas. Raia ao cinismo mais deslavado, à incúria de quem não está nem aí para o desporto, suas finalidades, sua real missão. O que realmente importa é a viagem a Europa para assistir um sorteio, claro, entre afazeres turísticos mais importantes. É a afirmativa jocosa e debochada de sua última declaração ao jovem jornalista – “(…) Estamos trabalhando duro para atingir nossos objetivos. Vou continuar por muito tempo ainda à frente da CBB”.

Respondendo à pergunta antecedente, de como avalia sua gestão, e como encara as críticas, se sai com essa pérola – “Críticas são sempre bem-vindas, desde que construtivas. Acho que julgar a minha gestão só por uma classificação olímpica no masculino é errado. Devo ser julgado pelo meu modelo de administração, pelos resultados nas categorias de base, pelo conjunto da obra”.

Meus deuses, o cara é assombroso, pois sua retórica raia ao absurdo, ao inenarrável, senão vejamos : Comecemos pelo modelo de administração, onde, nessa mesma entrevista deixa escapar, propositalmente ou não, a influencia de cima para baixo de suas opiniões abalizadas sobre a futura proposta técnico-tática a ser adotada pela seleção brasileira que disputará o Pré-Olimpico na sua amada Grecia, determinando-a à revelia do técnico espanhol escolhido para liderá-la – “Será sempre a nossa concepção de jogo, mas com valores europeus. Ninguém vai mudar a nossa maneira de jogar, com chutes de três, transição e velocidade. Ele poderá adaptar isso a uma maneira mais européia, com mais consistência, cuidado com a bola nas mãos, cinco contra cinco…”

Se assim vai ser, para que convocar um técnico que pertence a uma escola antítese desse posicionamento? “ Ele conhece todos os nossos jogadores e poderá implantar a sua filosofia de jogo. É um disciplinador, mas muito aberto ao dialogo”. Que modelo de administração é esse que um presidente de confederação dá as cartas sobre o comportamento técnico-tático de uma seleção? E o que é pior, contradizendo os princípios arraigados da escola européia que preconiza o jogo cadenciado, defensivo e profundamente coletivista? Onde quer chegar o insigne doutor em administração esportiva, onde? Parece, que pelo longo tempo que prediz ficar à frente da CBB, estamos ver nascer o verdadeiro mentor técnico de nossas seleções, fato que enfim revela o porque da manutenção e priorização dos conceitos emanados por um grupo de técnicos que em clinicas sucessivas tentam impor um modelo de jogo fracassado e perdedor, desde as categorias de base, pelo país afora.

E são essas clinicas que o nosso grego melhor que um presente tanto prestigia e incentiva, que formam os alicerces do preparo futuro de nossas seleções de base, que o contradizendo , não vence mais nada internacionalmente, perdendo inclusive para Uruguai e Venezuela, já que para a Argentina se tornou lugar comum. Então, como pretende ser julgado ante tais resultados técnicos, e atuação administrativa? E se avaliarmos a divulgação de todos esses resultados, pelo triste, capenga e pessimamente informado site da entidade, além de um serviço, diria desserviço, de estatística pretensamente sofisticado, e que deve ser bem caro, e que não avalia absolutamente nada em termos técnicos, ai mesmo que seu modelo de administração afunda de vez. “Criticas são bem-vindas, desde que construtivas”. E desde quando as aceitou, ou sequer parou para ouvi-las? Eu mesmo fui convidado por ele em Brasilia para uma conversa sobre basquetebol, e até hoje aguardo o retorno telefônico ?. E quantos outros bem intencionados e competentes basqueteiros foram parar na geladeira de sua insensibilidade não só administrativa, como técnica? Quantos ?

E para culminar e retratar uma administração sinistra e diabólica, que tal escalar a seleção que nos representará no Pré , quando afirma com todas as letras, EM PORTUGUÊS CLARO, como titulou sagazmente o Balassiano sua excelente matéria, ao responder se não seria mais prudente o Moncho vir ao Brasil o quanto antes , para conhecer a nossa estrutura, ver como andam os treinamentos, ver os jogos? “Ele virá, mas não temos pressa. Os jogadores da seleção, com exceção do Marcelinho, atuam fora do Brasil. Ele não precisa vir para cá, portanto. Tem de ficar na Europa mesmo, analisando nossos atletas e os adversários”.

Logo, pessoal das equipes que disputam nosso glorioso nacional, o badalado e bem disputado paulista, ponham as barbas de molho, e treinem com afinco visando, possível e longinquamente, Londres 2012, já que para já as cartas estão na mesa, olvidadas e jogadas para baixo do tapete as tristes manifestações de traição explicita e subversão da ordem dentro de uma equipe nacional, que inclusive já foram mencionadas e criticadas pelo Moncho, e prontamente desmentidas pelo técnico que o antecedeu, numa cabal demonstração de ainda se encontrar afinado com os princípios superiores de administração conjunta, implantação de um sistema absurdo de jogo, e divulgação do mesmo nas clinicas de lavagem cerebral, constituindo a mais terrível herança que uma liderança nos tenha imposto nas duas últimas décadas, num verdadeiro e apocalíptico conjunto da obra, a tal que o helênico presidente quer ser lembrado e julgado, mas cujos veredictos só serão conhecidos numa data de vaga lembrança. Afinal, é dele mesmo o conceito que vale- “Estamos trabalhando duro para atingir nossos objetivos. Vou continuar por muito tempo ainda à frente da CBB”. O saudoso Caixa d’Água já tem seu herdeiro.

Amém.

DEBATES – DEFESA INDIVIDUAL…

O assunto a ser debatido à partir de agora é a defesa individual, o tal fundamento que muitos definem como o grande tabu entre nós. E inicio tomando com o base o artigo que publiquei em 19/02/2005, DEFENDER É PARA QUEM SABE…

Espero bons debates, boas idéias e melhores estratégias de treinamento.

“Prezados telespectadores, afirmo que 70% de uma defesa é fundamentada na vontade de defender por parte dos jogadores”. “Querer defender” é a chave do sucesso! Fico curioso em saber o que representam os 30% restantes, mas as explicações não são dadas no restante dos comentários. E ai fico imaginando como ser possível se ter a posse e o domínio de 70% de um conhecimento qualquer.Não seriam 20, ou 25, quem sabe 30%? E olhe que conhecer 30% de um assunto com alguma importância social,política ou técnica,pode ser considerado um excelente feito,imaginem 70%!! Só um iluminado conseguiria tal marca,e em se tratando de uma habilidade psicomotora nem se fala, beira à genialidade pura. Todo jogador almeja defender bem, e procura honestamente se esforçar para consegui-lo,mas nem sempre querer é poder,pois precisa ser ensinado, treinado,aferido, e novamente treinado, ano após ano, em sua formação básica, orientando sua querencia ao conhecimento das macro habilidades necessárias na movimentação defensiva. Mas aponte-nos quem, em um país que preza tão somente os cestinhas,os enterradores de bolas, e de jogos,e os bloqueadores de arremessos,quem são aqueles que teimam em ensinar a verdadeira arte de defender?Muito poucos, talvez os conte nos dedos de uma das mãos,se tanto! Macro habilidades? O que significam? Comecemos explicando o que vem a ser micro habilidades, também definidas
como “sintonia fina”, que são aquelas imperceptíveis ações musculares que direcionam,
controlam e equilibram a bola durante os ajustes necessários a um bom arremesso. Tomemos um manche de vídeo game em um jogo de pilotagem como um razoável exemplo de ação da micro musculatura. Ao movê-lo, como em um jato supersônico real, pouco ou quase nenhuma movimentação do mesmo é notada. No entanto, todo um controle direcional
de grande complexidade, dada a elevada velocidade,é exercido pela ação da micro musculatura de braços,mãos e dedos,com um elevado desgaste físico-mental proporcional ao tempo em que a atividade é exercida. Pilotos de jatos supersônicos sofrem intensamente esse desgaste provocado pela alta concentração mental e ação continua da micro musculatura,que são elementos que agem conjuntamente. Treinar arremessos após atividades estafantes são incentivadas por técnicos como uma forma de aumentar a resistência dessa musculatura, o que é contestado por muitos técnicos. A macro musculatura é responsável por pequenos,porém bem visíveis movimentos que antecedem a ação das grandes massas musculares,principalmente em movimentos de grande intensidade,de grande explosão. A macro musculatura dita, controla e desencadeia a movimentação que será exercida pelas grandes massas musculares, e por isso deve ser treinada com afinco, atenção e muita repetição.A ação defensiva efetiva deve ter como treinamento básico o pleno conhecimento,e conseqüente controle, sobre as ações e limites da macro musculatura.Como o defensor sempre reage a uma ação do atacante, quanto menor for a distância entre estas duas ações,mais eficaz será a atitude defensiva. Os muito bem treinados conseguem, em algumas situações,a antecipação à ação ofensiva, constituindo-se no ideal a ser alcançado.Nenhum treinamento defensivo se compara ao “shadow”, ou movimentação em sombra, quando o pugilista se defronta com sua sombra projetada em uma parede, ou perante um espelho,ou da forma mais sofisticada,que é,de olhos cerrados travar um combate fictício com um adversário somente visível por ele mesmo, em situações às mais eficazes que sua mente possa produzir.O defensor de basquetebol tem que agir em treinamento como um pugilista atento,sagaz e eventualmente antecipativo às ações do atacante. Sua macro musculatura se manifestará em ações negaciadas, unidirecionais, e até antecipativas, antes que as massas musculares desencadeiem as ações de efetivo bloqueio e deslocamentos pelo terreno de jogo. Para ser considerado um bom defensor, o atleta necessitará de um longo e trabalhoso conhecimento sobre suas ações corporais conjugadas com seu poder de concentração mental,e somente treinamentos específicos o farão adquirir tais habilidades, e fundamentais conhecimentos.Por isso afirmo com grande conhecimento de causa, por ter preparado muitos talentosos jogadores,necessários a bons e eficientes sistemas defensivos, que defender não é para quem quer,é para quem sabe,conhecimento este que deveria se constituir ao longo da carreira de um jogador em um percentual o mais próximo que lhe for possível dos 70% da ação,reservando-se os restantes 30% à vontade de defender.Creio que o comentarista se enganou e trocou os valores,mas isso acontece…

A bola está com vocês. Ao trabalho !

WWW.P.Q.P.EDU

Nos jogos em Franca e Assis, para gáudio do narrador da ESPN Brasil, três dos técnicos envolvidos nas partidas permitiram que microfones de lapela fossem fixados, para que os telespectadores tivessem em suas casas, além da imagem, os discursos técnico –táticos, como se estivessem dentro da quadra junto aos mesmos. E ai começaram as emoções anunciadas freneticamente pelo narrador, e acredito, pela ausência de comentários, com a não concordância do espetáculo lastimável apresentado, por parte do comentarista, que sendo um respeitável professor, ex-técnico e jogador brilhante, não poderia estar de acordo com tão constrangedora situação.

Foram dois jogos, nos quais esses três técnicos abusaram dos palavrões (alguns deles jocosamente mencionados pelo narrador, como se engraçados fossem…), das pressões absurdas nas arbitragens, nos esgares atônitos, no palavreado chulo e na maioria das vezes irônicos, inclusive com seus próprios jogadores, nas chamadas bruscas e sem sentido quanto ao comportamento técnico das equipes, em instruções ininteligíveis e muitas vezes dignas de um Champolion, e o pior, muito pior, as coreografias grotescas, ridículas e pretensiosas ao lado, e muitas vezes dentro da quadra de jogo, numa demonstração da mais absoluta falta de um sentido real e equilibrado de comando, interagindo mais como um animador de colônia de férias, do que um técnico na acepção da palavra.

E de repente, um clímax se faz presente num dos festivos e nada amigáveis pedidos de tempo, quando no meio de uma peroração raivosa um de nossos técnico-artistas, já que em cadeia nacional, ao vivo e à cores, esbraveja por sua prancheta- Quero a prancheta !! – E a dita, quando lhe é entregue é brindada com um simplório X grafado com energia, e nada mais, um enigmático X, aposto por quem nada tinha a falar naquele momento, principalmente através sua preciosa e mágica prancheta. E seus jogadores retornam à quadra sob a égide de um simples X em suas mentes. Claro que o desenrolar da jogada subseqüente teve a mesma transparência do X proposto, ou seja, nada.

E como premio maior da segunda noite, os agora bem informados e atuantes telespectadores, testemunhas participativas de um jogo dito e anunciado como basquetebol, foram agraciados com um retumbante P.Q.P. enunciado sílaba após sílaba, tal qual um tenor operístico trovejando da ribalta, através o técnico que à partir de fevereiro importará 50 jovens de diversos estados do país, para intronizá-los nos segredos do grande jogo, como se fosse o único ungido com os conhecimentos que deveriam ser de todos aqueles técnicos responsáveis pelos mesmos, mas que infelizmente vêem peneirados seus jogadores com o beneplácito da CBB, P.Q.P. à parte.

E nesses momentos, introspecto meus pensamentos, minhas convicções, algumas verdades que apreendi com o passar do tempo, inexorável, mas verdadeiro, validando alguns conceitos, vivências, e invalidando outros tantos, passando a limpo a arte de viver e conviver. Ainda me vejo sentado no banco, apreciando o resultado de uma boa preparação, vendo os jovens jogadores evoluírem em acertos e alguns desacertos , dando aos mesmos um tempo para se reencontrarem, para fazerem jus ao preparo criterioso que tiveram nos exaustivos e esclarecedores treinamentos, nos quais aprenderam a ler o jogo, a encontrarem soluções compatíveis aos seus níveis evolutivos, ao uso da inteligência, da perspicácia, do livre arbítrio, dos pedidos de tempo olho no olho, e não grafando Xis em uma absurda prancheta, assim como ainda me vejo, para espanto incrédulo de muitos assistentes nada falar em pedidos de tempo de adversários, mantendo-me afastado daquele momento em que nada poderia acrescentar do que havíamos treinado, propiciando aos jogadores um momento único e privado, o momento em que a introspecção se faz presente, mesmo no seio de um grupo.

Mas isto parecerá absurdo a esse novo modelo de técnico, performático, estrelado, paparicado por uma mídia embevecida pelo nada, pelo espetáculo perpetrado à margem de nossas quadras, como se eles fossem as estrelas do espetáculo, e não seus jogadores atuando de escadas para suas performances ridículas e constrangedoras, emolduradas por um sonoro e bombástico P.Q.P.!!!!

Que os deuses ajudem nossos jovens, nosso basquetebol.

Amém.

CORTEZ DEL BALONCESTO…

E eis que um estrangeiro, um grego, que não entende, não gosta e abomina toda e qualquer interferência , mesmo bem-intencionada, em seus planos mafiosos e ligados a interesses financeiros jamais auditados, mesmo se tratando de fundos públicos, repito, que não entende nem gosta de basquetebol, perpetra e executa um dos maiores crimes cometidos contra o esporte nacional, naquela modalidade duas vezes campeã mundial e três vezes medalhista olímpica, todas estas conquistas sob o comando de um técnico nacional. Agora, riscada essa gloriosa tradição, nomeia um técnico espanhol para comandar e levar a equipe brasileira às Olimpiadas, treinando três ou quatro semanas, claro, dentro dos claros nas agendas profissionais dos jogadores que atuam no exterior, para os quais a garantia de seus contratos regiamente pagos faz soar tão falso o “sonho de defender a camiseta brasileira”, quanto ao repentino amor e orgulho de um espanhol que nunca nos venceu quando tínhamos vergonha na cara. Isso mesmo, o Sr.Moncho nunca nos venceu na quadra, como jogador e como técnico, mas que segundo o comentarista da ESPN Brasil, que o conhece como jogador, mas pouco sabe dele como técnico, “é um apaixonado pelo Brasil, e excelente pessoa…”, como se isto bastasse para implantar um jogo de “defesa/rebote/transição e contra-ataque”, ( como todos sabemos,o Brasil nunca atuou dessa forma…), e um controle maior na “concentração” durante os jogos. E tudo isso em 35 treinos e 5 jogos amistosos como declarou. Vá ser otimista assim…na Catalunha! Mas pelos euros que irá ganhar, não custa nada pré-justificar seu otimismo, pois, o que tem a perder?

Mas vergonha mesmo, aquela de fazer corar quaisquer profissionais (como se consideram…) ligados ao grande jogo, como os técnicos, é a constatação do fracasso de suas funções, sociais e técnicas, pela omissão associativa, trocada pelo êxito fugaz de uma vitória, ou de um contrato aconchavado. É o preço que estarão, de agora em diante, pagando pela empáfia, pela arrogância, pelo desprezo aos que se iniciam na profissão, pelo descaso formativo, quando jogadores em um dia, se transformam em lideres de primeiras divisões no outro, sem um mínimo de estágio probatório nas divisões de base, a grande universidade do saber e do entender basquetebol, todos se negando, quando prestigiados por grandes equipes, federações e seleções nacionais, à pregação e à organização associativa que viesse a beneficiar a profissão como um todo, e não como instrumento de suas ambições.

Aí estão os resultados de suas “ausências”, parcamente esquecidas ou insinuadas quando de posse de microfones e câmeras em grandes campeonatos internacionais, defendendo o indefensável, empunhando bandeiras e estandartes que não os sensibilizam, mas oportunizam suas imagens. Agora todos vocês, todos nós, estaremos a reboque de uma nova “filosofia”( Meus deuses, que horror…), introduzida pelo milenar colonizador( Há aqueles que preferiam um duo-centenário anglo-saxão…), dada à inexistência de mentes inteligentes, capazes e competentes entre nós, conforme decisão unilateral de um grego melhor que um presente, ante o silêncio e a esterilidade de nossos “coachs”.

Me recuso a aceitá-lo, por conhecê-lo, por ter participado de clínicas espanholas quando de meu doutoramento com tese experimental em basquetebol em Lisboa, por não me considerar inferior em conhecimentos e liderança, dito por mim ao grego dois meses atrás em Brasília, após ouvir dele que “Paulo,você é um professor respeitado no basquetebol, e sabemos que não tem interesse em seleção brasileira,e… interrompi-o rapidamente, e o que disse publiquei no artigo – http://www.paulomurilo.blogspot.com/2007/12/um-cafe-duas-horas-de.html-publicado em 9/12/2007, cujo desenrolar de seu convite bem demonstrou o apreço que tem pelo técnico, pelo profissional brasileiro. Nós, todos os técnicos deste país deveríamos estar profundamente envergonhados pelo desprestígio, pela recusa, pelo desprezo a seus conhecimentos e capacidades, e o quanto ainda nos custará em humilhações se não nos unirmos em associações regionais e futuramente numa associação nacional, idêntica ou melhor do que aquela que qualifica, garante e prestigia o Sr.Moncho Gonçalves, e que transformou em 20 anos a medíocre Espanha em campeã mundial.

Entrementes, não faltarão aqueles oportunistas, praticantes assíduos do tapetebol, que nomeados ou não, escudarão o Cortez del baloncesto, assistindo-o humildemente em seu périplo tupiniquim, constituindo uma nova comissão técnica afinada e uníssona (já vimos esse filme…), pronta a ascendê-lo e suscedê-lo , para a gloria do basquete nacional. Só fico em dúvida quanto ao lapitopi caipira. Aceitará o mesmo nosso valente e corajoso Cortez?

Amém.

YES,TAMBÉM TEMOS UM AMERICANO…

Assisti hoje pela ESPN Brasil um bom jogo de basquetebol, entre a equipe do Minas Tênis e a do Penarol de Sunshalles, válido pela Liga das Américas, realizado naquela cidade argentina. E quando digo que foi um bom jogo, me reporto ao fato de que ambas as equipes atuaram rigorosamente dentro do padrão portenho de jogar, ou seja, desenvolvendo o jogo cadenciado e coletivista. Das equipes brasileiras atuais, a do Minas é a que mais se aproxima dessa forma de atuar, já que a de Franca retoma em grande estilo a nossa forma de jogar em velocidade controlada e técnica, sob o comando de dois armadores de qualidade, estilo esquecido de muito pelas demais equipes nacionais.

A equipe mineira também atua com dois armadores, e promove uma movimentação permanente de seus homens altos dentro do perímetro, abrindo espaços e se colocando bem para os arremessos e os rebotes próximos à cesta ofensiva. É uma equipe que vem privilegiando o treinamento prolongado e paciente, dotando seus jogadores de um bom arsenal de situações de ataque e boa defesa.

No entanto, ainda peca ao adotar um vício colonizado, que se espraiou pela maioria das equipes nacionais, de contar com jogadores americanos, como se a ausência dos mesmos descaracterizasse o conceito de equipe. E o pior, contratando jogadores de 14ª e até mais opções no quadro de preferências dos mesmos para atuarem pelas ligas internacionais. Os jogadores americanos que aportam em nosso país, com uma ou duas exceções, não são melhores que os nossos jogadores, sempre minimizados quando os pagamentos são em dólares. Esse jogador americano contratado pelo Minas é terrivelmente fraco, e incrível, no fator que sempre dominaram, os fundamentos. Não fosse ele, e a equipe do Minas teria vencido por boa margem, pois seus erros ofensivos e até defensivos quase pôs a perder o esforço maior de seus companheiros, latinos. Por muito menos, e logo ali do lado, bons jogadores argentinos e uruguaios, e muitos brasileiros esquecidos, poderiam ser contratados com evidentes vantagens, não só econômicas, como técnicas, além da maior comunicabilidade na apreciação e entendimento das orientações dos técnicos.

Mas esses mesmos técnicos parecem hipnotizados pela presença de americanos, pela oportunidade de transmitir instruções bilíngües, e que nem de longe se tocam do ridículo que as mesmas representam quando enunciadas num “ingrês” caipira e risível, e o pior, escalando os ditos craques no aeroporto, às vezes sem um único treino. E como vêm de um basquetebol oposto ao que praticamos, de saída já dicotomizam o sistema de jogo pretendido por algumas de nossas equipes, criando no seio das mesmas impasses difíceis e até impossíveis de correção. Já não é novidade assistirmos os historicamente disciplinados e obedientes jogadores ianques, discutirem e até contestarem técnicos brasileiros, em inglês, portunhol ou checheno, provando o quanto de precária liderança ainda subsiste no comando de nossas equipes.

Mesmo na equipe argentina a insurgência já se faz notar, quando o bom jogador Battle, que ostenta o salário de 30 mil dólares, quando a média salarial dos argentinos não ultrapassa os 5 mil dólares, foi acintosamente contestado por um companheiro seu de equipe, exigindo do mesmo mais empenho e dedicação, E isso na presença de seu grande público e ao vivo e á cores pela TV. Precisamos rever esse conceito de qualidade, pretensa qualidade diria melhor, pois mesmo um jogador de 30 mil dólares, é infinitamente ultrapassado pelos altos salários pagos nas 13 ligas que antecedem à sua opção sul-americana, e no país que ostenta o atual título olímpico, numa realidade oposta a de nossas equipes, por mais tradicionais que sejam. Ter na equipe um americano como prova de prestígio e alta qualidade é um engodo que somente beneficia uma pequena, porém rentável indústria de empresários, na contra-mão de nossas verdadeiras e urgentes necessidades.

Vamos aguardar a evolução dessas duas equipes, Minas e Franca, torcendo para que criem em torno de si uma aceitação técnico-tática fundamentada na dupla armação e na utilização de três homens atuando permanentemente dentro do perímetro, e que nos impressione positivamente ao testemunharmos com alegria a ação altamente positiva da marcação permanente do pivô pela frente exercida pela equipe mineira, motivo maior da anulação parcial, porém decisiva, do pivô Batlle, aquele dos 30 mil dólares, exercida pelo Maozão, que talvez não receba 1/10 avos daquela quantia, mas que provou não ser o físico avantajado o item mais decisivo à uma boa e eficiente marcação. É por aí minha gente, é por aí que renasceremos para o grande jogo.

Amém.

HUMILHANTE OMISSÃO…

Esse cara realmente é demais, um mestre na arte sutil de não dizer nada com nada, dentro da maior seriedade, e até acredito, ser fiador de suas próprias abstrações. Numa entrevista ao Bruno Doro do portal UOL, afirma – “Não tem por que ficar falando em nomes agora. Ele será apresentado no dia 22 e vai começar a trabalhar logo em seguida”, ao ser perguntado sobre o nome do novo técnico da seleção brasileira. Mas ao final da matéria declara que o time só ficará junto por um mês, antes do Pré-Olímpico Mundial, na Grécia, entre 14 e 20 de julho.

Ora, se o novo técnico estrangeiro somente trabalhará com a equipe no mês de junho,o que fará de janeiro até lá? Observará jogadores que poderão integrar uma equipe que todos, inclusive ele, já sabem de cor, e que dificilmente serão substituídos, já que essa turma européia em nada difere da maioria esmagadora dos técnicos, daqui e lá de fora, na manutenção e obtenção de nomes consagrados, mesmo fora de forma? Ou, o que duvido muito, estabelecerá uma nova política convocatória, premiando e apoiando aqueles jogadores que realmente se encontrarem no ápice da forma, independendo se tenham ou não um nome estelar? Acredito, se bem conheço a turma lá de fora, e o grego melhor que um presente também conhece, que a máxima “seguro morreu de velho” será o bordão dessa seleção, quando muito para dividir e justificar um bem possível fracasso no Pré. Logo, cardeais, delfin, e seus súditos prestimosos formarão a esquadra de combate brasileira, com talvez duas insignificantes ausências, a daquele jogador que se negou a entrar num jogo da seleção, e daquele outro que não soube guardar o segredo mafioso de seus pares que se insurgiram contra a comissão técnica numa reunião de secreta traição.

E de tão seguro em sua decisão, afirma – “Não tem motivo nenhum para ele não aceitar nossa proposta. Todos sabem que o plantel do Brasil é um dos mais fortes do mundo e pode ir para as Olimpíadas. Apenas 12 seleções vão para os Jogos e ele não vai treinar sua seleção, então será uma honra treinar o Brasil no Pré-Olímpico.” Pelo visto, e segundo sua própria afirmação, não deve ter sido muito fácil convencer o mago estrangeiro, mas nada que um bom talão de cheques não resolva, afinal, a dotação da CBB advinda do COB, é de mais de 1 milhão de reais, a quinta maior dentre todas as modalidades, mesmo sem ainda ter se classificado para os Jogos. Prestígio junto ao poder discricionário é isso aí. E ainda duvidam de sua permanência por ainda um longo tempo na CBB. A Federação do Rio de Janeiro que o diga, dizimada que foi sua opositora direção, agora dentro “dos conformes” cebebianos.

Mas nosso candente grego ainda confessa – “Foi uma decisão difícil. Eu defendo tudo o que é do Brasil (Meus deuses, seu helenismo ainda influi…). Os técnicos brasileiros são bons, mas a seleção precisava de alguém com experiência internacional e que não tenha mais nada na cabeça neste período.” Um técnico estrangeiro que não tenha mais nada na cabeça neste período? Brilhante, simplesmente formidável, e ainda por cima muitíssimo bem pago em nome desse instigante vazio.

Engraçado esse nosso presidente, que respondendo a uma pergunta do técnico Walter Carvalho, que é membro da FIBA , trabalhando a muitos anos no exterior, do por que não aproveitamento seu em alguma seleção nacional, ouviu ser exatamente esse o motivo de seu não aproveitamento, estar radicado no exterior! Incoerência é isto aí, com todas as letras. E o Roese que é assistente técnico em universidade americana, o Evaldo Poli, radicado na Europa, tendo sido inclusive presidente da Associação de Técnicos de Portugal? E quantos mais outros existirão, todos brasileiros, todos muito bons? Mas não, o bode expiatório tem de ser estrangeiro, pois ficará mais fácil justificar um possível fracasso, e a peso de muitos euros. Proteção ao produto nacional ? Não, sairia barato demais, e ainda mais em reais. Vitoria ou fiasco em euros é mais rentável, é o investimento na experiência internacional, aquela que não garante a classificação, mas conota competência e superioridade à gentalha tupiniquim, que ainda bate palmas condescendente. Sentimento colonizado age dessa forma, pois duvido, e afirmo com a mais absoluta certeza, de que se existisse entre nós técnicos um poder associativo e unitário, grego nenhum no mundo nos esfregaria na cara tanta pusilanimidade, tanta falta de patriotismo e caráter. Nossa sem-vergonhice merece um grego de tais dimensões, assim como merece a dor pungente de ver e constatar o quanto de humilhação teremos de digerir pela desunião e pela omissão. Que os deuses nos protejam para, quem sabe, Londres 2012.

Amém.

O ANO QUE SE ANUNCIA…

O ano se inicia sem grandes novidades, aliás, nenhuma novidade, prenunciando a mesmice administrativa, assim como a técnica clonada e cristalizada na quase totalidade das equipes brasileiras, em todos os níveis e categorias. E o jogo inicial para mim, Flamengo e Lageado, abrindo o Campeonato Nacional, corroborou o já esperado estado de clonagem explícita aceita por todas as equipes, num espetáculo sem surpresas e esperanças de algo inovador, de algo inspirador. O que se viu foram duas equipes atuando de forma idêntica, pachorrenta e repetitiva, vencendo obviamente aquela que possuía os melhores jogadores nas posições de 1 a 5, conforme os padrões já conhecidos e aceitos como dogma.

No entanto, assistindo o jogo Franca e Araraquara pela série classificatória do Campeonato Paulista, pudemos constatar que a equipe francana continua a utilizar o agora bem mais entrosado sistema de jogo que a fez se diferenciar das demais equipes brasileiras nos campeonatos do ano passado, com a utilização eficaz de dois armadores fora do perímetro, dois alas e um pivô se revezando no perímetro interno, não guardando posicionamentos fixos, objetivando abrir espaços propícios às penetrações, e efetivos e bem equilibrados arremessos de três pontos executados por especialistas nos mesmos, sem abrir mão dos de média e curtas distâncias. Defensivamente continua a empregar a tática antecipativa, como eméritos conhecedores do sistema pétreo e único utilizado por seus adversários, não fosse ela mesma, a equipe francana, utilizadora do mesmo por longos anos, qualificando-a as interceptações por pleno conhecimento de causa, numa engenharia reversa e inteligentemente bem tramada e melhor executada.

Por outro lado, o comentarista técnico da ESPN Brasil, não se cansou de mencionar ser a equipe de Franca “aquela que foge dos esquemas tradicionais, naturais, ao contrário do resto do mundo”, e que “trabalha do fundo para cima, e que as demais trabalham de cima para o fundo”, enfocando o regime de passes e deslocamentos que a diferenciam das demais. Segundo ele, esse tipo de sistema técnico-tático” privilegia a individualidade e não o coletivismo”, se constituindo num fator restritivo na elaboração estrutural da equipe.

Acredito firmemente ser a tentativa da equipe de Franca muitíssimo válida dentro da atual realidade do basquetebol brasileiro, que já esboça essa nova tendência, haja vista a equipe do Minas Tênis, seguidora do mesmo princípio, e que já acumula ótimos resultados alcançados nas últimas competições de que participou. Essas duas equipes poderão desencadear novas concepções técnico-táticas, bastando que as desenvolvam sem medos e arrependimentos, adequando-as a seus jogadores, que só terão a lucrar tecnicamente, pois serão obrigados a uma melhora nos fundamentos do jogo, sem os quais inviabilizarão tão ansiados progressos.

No ano em que disputaremos uma tênue classificação olímpica, ensaiamos ainda que timidamente, algo de realmente novo (se recordarmos os últimos e tenebrosos 20 anos…), algo salutar e que promete resgatar o gosto do drible, da finta e do arremesso eficiente e estatisticamente mais efetivo, o de dois pontos, por todos aqueles jogadores, veteranos ou não, no pleno reconhecimento de que ainda muito podem aprender e apreender com a pratica dos fundamentos, que foram expurgados e esquecidos em nome de falsos “especialistas” nos três pontos, não poupando nem determinados pivôs na aventura além do perímetro.

Que me perdoe o formidável jogador, hoje comentarista, mas precisamos tentar algo de diferente, exclusivo, brilhante e autêntico, algo que ele mesmo nos brindava em sua época de craque maior, diferente dos demais, exclusivo e letal. E não será um técnico estrangeiro e especializado no sistema único de jogo, aquele que nos tirará da mesmice e do marasmo técnico-tático que nos afundou no poço em que nos encontramos, e sim um dos nossos com coragem, discernimento, conhecimento e extremo bom senso para inovar e esgrimir com o futuro, sem medos nem preconceitos. Temos bons técnicos entre nós, ótimos técnicos, mas que precisam ser incentivados a romper com essa atroz realidade, exatamente para ser diferente do resto do mundo, como o fomos no passado.

Amém.

DEBATES – REBOTES

Discutamos agora um fundamento que é bastante preterido entre nós, e que deverá ser esmiuçado diligentemente, pois seu ensino, difícil ensino aliás, é preterido sistematicamente por apresentar limitações didáticas e estudos pertinentes ao mesmo, como um “patinho feio” dentre os demais fundamentos. O rebote é tão subestimado entre nós, que o tri-campeão da Liga Nacional, o Probst, jamais é lembrado para as seleções nacionais, nem para treinar, sempre preterido por nomes e legendas que atuam fora do país. Na semana passada ele foi o maior reboteiro em um torneio internacional na Holanda, disputando os jogos pelo clube de Assis. Assim como nos arremessos longos, o reboteiro deve possuir um alto grau de controle e percepção posicional na relação tempo-espaço, constituindo-se numa habilidade não muito comum à maioria dos jogadores, e por isso mesmo, passível de aproveitamento integral e decisivo para qualquer equipe, que possa contar com tal habilidade, seleção brasileira inclusive.

Inicio o debate republicando o artigo O QUE TODO JOGADOR DEVERIA SABER 8/10, publicado em junho de 2006 aqui no blog

O QUE TODO JOGADOR DEVERIA SABER 8/10.

Que três são as condições para um bom rebote:colocação,domínio tempo-espaço e transposição de velocidade horizontal em vertical.Os dois primeiros pontos são básicos nos rebotes diretamente embaixo das cestas,e o terceiro ponto,quando são executados em deslocamento.Colocação é a alma de todo e qualquer rebote,seja defensivo ou ofensivo.Em ambos uma conduta se torna transcendental,a de que toda e qualquer movimentação na busca do melhor posicionamento deve ser realizada em contato,ou o mais próximo possível,do corpo do oponente,atitude que afasta em grande parte a possibilidade de obstrução defensiva.Mesmo estando de costas para o defensor,o giro em torno e em contato com seu corpo possibilita a ocupação de espaços vitais,numa ação antecipativa de grande vantagem.Se essa técnica for empregada por atacantes e defensores,levará vantagem posicional aquele que mais se aproximar do oponente nas ações de mudança de direção ou giro em torno do mesmo.E todas estas ações sendo realizadas sem a perda da visão da bola,por um segundo sequer.Trava-se uma luta de movimentos rápidos e inteligentes,em espaços mínimos,mas determinados.Com a conquista do espaço pretendido pela antevisão direcional do ressalto da bola de encontro ao aro da cesta,ou mesmo da tabela,uma exigência altamente técnica vem a seguir,o domínio tempo-espaço.Trata-se de uma maior ou menor percepção da trajetória estabelecida pela bola após os ressaltos acima descritos.São fatores diferenciados de jogador para jogador,onde alguns calculam com grande dose de precisão o tempo necessário para a captura da bola,saltando e conseguindo-a no ponto mais alto do ressalto.Outros se antecipam àquele ponto,conquistando-a sem saltar em seu máximo.O conhecimento antecipado dessas qualidades entre os oponentes caracterizam e definem estratégias de ação,que se bem direcionadas auferem grandes vantagens em um jogo.Uma forma efetiva de treinamento de rebotes somente necessita de um tosco tampão de madeira para o aro,e uma ou duas cadeiras.Se postando atrás das cadeiras alinhadas lado a lado,o técnico lança a bola na cesta,que por estar tampada oferecerá uma infinidade de trajetórias,ao mesmo tempo em que o jogador finta ou gira em torno das mesmas posicionando-se para o rebote. Mais adiante,o mesmo exercício realizado em duplas,trincas,quadras e quintetos,levará a todos a um salutar e evolutivo aprendizado dos rebotes.No entanto,um terceiro fator deverá ser incluído no preparo,a transposição de velocidade horizontal em vertical,principalmente para os alas que se lançam para os rebotes vindo de posições afastadas da cesta,e que em muitas oportunidades cometem faltas pessoais nas projeções ao corpo dos oponentes.Transformar a velocidade horizontal de que vêm possuídos em velocidade vertical,na qual as projeções referidas transformam-se em faltas pessoais,exige treinamentos especiais.Dois exercícios,por serem acessíveis a qualquer equipe,podem ser praticados.O primeiro,é a corrida de encontro a uma parede,que deverá estar protegida por um colchonete de baixo custo,próxima a qual o jogador deverá,num movimento seqüencial estancar e saltar, numa progressão que deverá se iniciar aos 90cm,progredindo aos 80,70,até o limite de 50cm.da mesma. O segundo, idêntico ao primeiro,substituído-se a parede por uma rede de voleibol,onde a transposição poderá ser realizada a menos de 50cm,no qual o jogador poderá atingir e desenvolver ao máximo tal habilidade.Um jogador treinado nas fintas e giros em contato com o corpo do oponente,capaz de otimizar seus saltos e evitar projeções horizontais,é um jogador que realmente domina a arte dos rebotes,ofensivos e defensivos,tornando-se realmente efetivo para sua equipe.E se seu técnico negligenciar tal treinamento,munindo-se de um pequeno tampão de madeira,duas cadeiras,um colchonete,e mesmo uma corda atada entre dois postes,e contando com um colega que lance a bola a cesta,todo e qualquer jogador poderá melhorar muito sua qualificação reboteira.Não custa nada tentar, quando muito como um exercício de inteligência e imaginação.Mãos à obra.

Vamos pessoal, estão com a palavra! Esse fundamento merece toda a sua atenção.