A MESSIÂNICA PREVISÃO…
Em mais uma excelente entrevista do Fabio Balassiano do Rebote, com o já nomeado técnico da seleção masculina Mocho Monsalve, podemos pinçar alguns detalhes, não só importantes, como esclarecedores. “Há problemas claros no jogo de cinco contra cinco, na defesa e na condução de bola. É preciso ter mais equilíbrio e cadência”, bem no espírito europeu de jogar, antítese do estilo nosso de atuar, principalmente por parte dos jogadores mais experimentados e rodados , com sérias deficiências nos fundamentos de ataque, e principalmente de defesa. “O primeiro ponto que vou enfatizar é a defesa. Defesa forte impulsiona um jogo de transição de qualidade e um contra-ataque bem feito. É preciso criar um jogo mais eficiente para os pivôs também (…). Quanto aos fundamentos, este será um grande problema, porque terei pouco tempo, infelizmente. Mas temos como minimizar isso”.
Eis ai o grande obstáculo a ser enfrentado por um técnico que confessa-“Nunca treinei uma equipe de ponta”. O que é preocupante, não pelo fato de ser de ponta, e sim por não ter tido essa oportunidade em seu país de origem, com todo o conhecimento e domínio que a vivência ambiental propicia visando experiências, tentativas, erros e acertos, muito ao contrario do que irá enfrentar do outro lado do Atlântico, liderando jogadores com uma formação diametralmente oposta aos seus mais puros e estabelecidos conceitos de jogo, de técnicas e táticas, de comportamentos e atitudes dentro e fora das quadras. E principalmente destituídos dos princípios que embasam suas certezas e conceitos, os fundamentos do jogo.
Para minimizar essa deficiência, com o pouco tempo de treinamento e preparo, somente uma atitude técnica poderá tomar, a maximização do passing game, tendo inclusive dado uma sutil pista ao mencionar – “Outro fator que quero que os atletas entendam é o do “um passe a mais”, que possibilita um arremesso mais seguro e que, inclusive, o Marcelinho Machado conhece.Muitos alegam que ele é um chutador voraz, mas quando jogou comigo ele se adequou ao estilo”. Isso mesmo, um passe, e outro e mais outro até o arremesso seguro, eliminando quase por completo o drible e as fintas com bola, que são os fundamentos mais carentes entre a quase totalidade dos jogadores tidos, e ditos de ponta. Ou seja, estabelecendo a manutenção do estilo universal e globalizado de jogo, com a extirpação radical do drible em função do jogo de passes “mais um”, garantindo e estabelecendo a cadência e o controle das ações em quadra.
Mas, um óbice dos mais herméticos nosso Mocho terá de enfrentar com a carência de tempo para o treinamento dos fundamentos, o fato determinante de enfatizar a defesa, que como estamos fartos de mencionar, lembrar, destacar, e por que não, enfatizar também, depende única e exclusivamente de treinamento fundamental, posicional, repetitivo e de longa duração, principalmente no aspecto de seu emprego coletivista. Fica então a pergunta, será que 35 treinos e 4 jogos de preparação serão suficientes para minimizar tais deficiências, substituiondo-as por um sistema confiável e seguro? Ainda mais quando ao fim da entrevista assegura- “Não tenho dúvida de que conseguiremos a vaga olímpica. Depois saberemos se vamos brigar por medalhas. Prefiro ir passo a passo, até porque sou ótimo com palavras, mas estou aí para ser julgado pelos meus resultados dentro da quadra, não?
Espero honestamente que também seja ótimo no preparo e nos sistemas que pretende empregar, e não somente ótimo com as palavras.
Finalmente, usando uma prerrogativa de quem é ótimo com palavras, deixa no ar uma interrogação quanto ao relacionamento que manterá com os jogadores, passando ao largo da insurgência dos mesmos contra a antiga comissão técnica de graves e profundas conseqüências comportamentais, numa curta afirmativa menciona Pat Riley : “quem quer participar do circulo, que esteja dentro. Quem não quer, que saia e tudo bem”. Ou seja, já propõe o circulo fechado, o nosso bem conhecido grupo fechado, que tantos problemas nos tem causado nos últimos anos sob os auspícios e liderança de conhecidos cardeais.
E a grande pergunta do Fabio se fez presente – “Muita gente gostaria de ver o Brasil jogando com três pivôs. Isso é possível?”
“Claro que sim ! O Varejão e o Murilo têm capacidade para fazer a posição 3. Hoje, no mundo, times jogam com dois armadores , três alas baixos, três pivôs. Nada é impossível, desde que haja treinamento e construção de espaços”.
Que engraçado, tenho solitariamente defendido esse conceito que sempre empreguei em todas as equipes que dirigi, masculinas e femininas, de base e adultas, em colégios, clubes e seleções, já tendo publicado exaustivamente dezenas de artigos com o assunto, para vir um estrangeiro tornar factível e exeqüível tão óbvio e decisivo princípio técnico-tático, confirmando o que defendo, e que já vejo timidamente ainda, surgir no âmago de algumas equipes, de ainda poucos técnicos, mas que após tais declarações deverá se espraiar pelo país, pois afinal de contas é o técnico da seleção brasileira que assim o diz, desabrochando de forma primaveril aquele sentimento reconfortante de espírito colonizado, aquele que ainda não nos livramos finalmente. O povo tem razão ao afirmar que “santo de casa não faz milagres”. Que venha então o nosso redentor com suas ”novas e inéditas” idéias, se antepondo às nossas retrógradas e carcomidas imagens do grande jogo.
Amém.