FUNDAMENTOS (SEMPRE ELES…)…
Foi um final emblemático. A equipe de Brasília, após uma reação eficiente e brilhante, tirando uma vantagem apreciável da equipe argentina do Regatas Corrientes no placar, e que mesmo desfalcada de seus dois jogadores americanos conseguia manter o controle do jogo, conseguiu o impossível, perder um jogo ganho por retirar dos dois armadores que sempre foram mantidos em quadra a tarefa de comandar a equipe nos momentos decisivos. Foram duas ações ofensivas, a segundos do final, que desmontaram todo o esforço despendido pela equipe até aquele momento, jogando fora uma vitoria importantíssima, ainda mais em um jogo em seus próprios domínios,
A primeira jogada, que deveria ter como condutor mestre um dos dois armadores em quadra, teve um desenrolar lastimável, pois o pivosão de Brasilia, que adora arremessar de três pontos, vem até fora do perímetro, para um possível corta-luz, abandonando o posicionamento próximo à cesta, crucial naquele momento do jogo, mas recebe um passe, e de costas para a cesta, toma uma atitude de quem se preparava para um passe ou um drible, mas mantendo a bola dominada na altura do peito, com as mãos paralelas ao solo, e os cotovelos afastado do corpo, num posicionamento totalmente errado à luz dos mais comezinhos princípios dos fundamentos (sempre eles…) do jogo. Ato continuo, pela brecha escancarada entre o braço e o corpo, esgueirou-se a mão do marcador argentino, que num sutil toque de baixo para cima tira a bola do controle do fortíssimo e pesado pivô, originando um contra ataque que deixa sua equipe a um ponto da equipe da casa.
A segunda jogada, logo a seguir, coloca o bom ala de Brasília do lado direito da quadra, e que de posse da bola inicia uma penetração por dentro do garrafão driblando com sua insegura mão esquerda, fluindo para uma armadilha tripla montada pelos argentinos, que somente ampararam a bola perdida pela incúria de quem não tem fundamentos ( sempre eles…) sólidos no drible. Outro contra-ataque argentino e fim de jogo.
E em nenhuma das duas jogadas finais que decidiram a partida, quaisquer dos dois ótimos armadores em quadra tiveram a bola em suas mãos, para exercerem o mais solido de seus fundamentos, o drible, a posse de bola que poderia decidir o destino do jogo.
Ironicamente, seu técnico, que sempre propugnou a utilização de um único armador, inclusive em sua longa passagem pela seleção brasileira, tem mantido a formação com dois armadores nessa sua nova equipe, com resultados animadores e eficientes, mas que assistiu a derrota da equipe protagonizada pela ausência de ambos no momento decisivo, cassados que foram por dois jogadores que falharam na execução básica dos fundamentos (sempre, e sempre eles…), anulando seus esforços e sacrifícios no desenrolar de um jogo em que tiveram a enorme oportunidade de vencerem em casa uma semi-final sul-americana.
Fica então a grande pergunta, aquela que a maioria dos técnicos, jornalistas e entendedores do grande jogo, se negam a fazer – devem os jogadores adultos, mesmo em idade mais avançada, treinarem, e por que não, aprenderem princípios e formas baseadas nos fundamentos do jogo? A maioria sequer considera a possibilidade, dando absoluta preferência aos movimentos táticos e as jogadas pré-estabelecidas, esquecendo o preceito básico de que sem o pleno conhecimento e domínio dos fundamentos, nada do que treinarem surtirá efeitos decisivos naqueles momentos em que o “saber fazer” definirá o rumo de qualquer jogo.
E como colaboração desinteressada àqueles dois jogadores que falharam bisonhamente, aqui vão duas orientações de quem por muitos e muitos anos preparou jovens e adultos no mister de jogar basquetebol, a não tentarem ganhar jogos no impulso e no instinto, pois só improvisa quem sabe e domina a tarefa que se predispôs a realizar.
Sempre que dominar a bola, esteja de frente, de lado ou de costas para a cesta, mantenha-a SEMPRE abaixo da cintura, preferencialmente abaixo dos joelhos, pois dessa forma seu marcador, se quiser tentar roubá-la, terá de sair de seu equilíbrio estável pela projeção do corpo em direção à mesma, tornando-se, inclusive, suscetível a um corte ou uma finta veloz e de difícil, senão impossível, recuperação.
No ato de progressão à cesta, principalmente sob pressão e de encontro ao âmago da defesa contrária, e se tiver mesmo que fazê-lo, faça-o driblando com sua mão mais precisa, que se não for nenhuma das duas, passe a bola para quem tem a devida competência de executar a ação com mais eficiência que você, pois afinal, o reconhecimento dessa, que poderá ser uma corrigível deficiência através treinamento árduo, somente beneficiará a equipe da qual você faz parte, cujo sucesso dependerá de atitudes de auto-reconhecimento e renuncia, de todos em função dos que dominam os fundamentos. No momento decisivo a precisão é que define um jogo.
Enfim, por mais uma vez, a deficiência no conhecimento e domínio dos fundamentos “entregam” um jogo praticamente ganho, repetindo situações às dezenas que testemunhamos ano após ano, inclusive em jogos de nossas seleções nacionais. O que nos falta para corrigirmos essa, que na minha humilde opinião, é a mais nefasta e constrangedora deficiência? O que nos falta? Respondam, luminares do basquete nacional.
Amém.
Prof. Paulo Murilo, eu acompanho o seu trabalho à um bom tempo, não todos os dias, mas possivelmente 1x por semana, ou um pouco mais. Eu gosto de suas criticas, e “fundamentos” do basquete brasileiro, eu sei que não é de sua indole, nem do seu gosto, tirar dúvidas e etc.. mas eu tenho fatos curiosos e perguntas, que eu gostaria de acompanhamento técnico para proporcionar um melhor resultado na equipe em que jogo.
Eu acho que o sr. não terá interesse em responder-me diretamente, mas existem casos especiais que eu acho muito curiosos, e gostaria do seu ponto de vista técnico, caso o sr. esteja interessado, pode me mandar um e-mail, ou responder por aqui mesmo, que eu estarei atento para ver se consigo sua opinião;
Grato, Erico.
Prezado Erico,creio que você esteja enganado sobre a minha indole de não tirar dúvidas de meus leitores.No transcorrer dos 406 artigos aqui publicados,nunca deixei um leitor sem resposta,a não ser aquelas ofensivas e com a utilização de palavras de duplo sentido.Sou professor a mais de 45 anos,sempre pronto ao diálogo e troca de idéias,mesmo que discordantes de mim.Escreva e pergunte quando quiser,que na medida de meus parcos conhecimentos tentarei responder a contento.Será um grande prazer para mim,e creio para os demais leitores do blog.Um abraço,Paulo Murilo.