UMA BOA PERSPECTIVA…

Aos poucos, devagarzinho, quebrando resistências, convencendo os céticos (e como os há entre nós…), conquistando adeptos, provando ser possível, e por que não, desejável, vemos aceita a possibilidade de jogarmos com dois armadores puros, numa formação básica, por algumas de nossas equipes de ponta. Infelizmente, e por razões de uma globalização técnico-tática, que nos foi imposta por uma geração de técnicos comprometida com os ditames técnicos advindos da NBA, a utilização de dois armadores ainda se enquadra no sistema de jogo padrão, onde a utilização de um único armador é a regra geral, que agora vem sendo adaptada substituindo-se um dos alas por outro armador de formação. Sistemas de jogo, onde a utilização plena de dois armadores atuando permanentemente fora do perímetro, integrados e ajudando-se mutuamente, tanto ofensiva, como defensivamente, inexistem em nossas equipes, escravizadas e habituadas ao sistema padrão.

Mas aos poucos algumas soluções vão surgindo, principalmente através o cada vez mais evidente entrosamento de algumas duplas, como o Helio e o Mateus em Franca, o Valter e o Ratto em Brasilia, o Fred e o Helio no Flamengo, alguns exemplos de que a formula da dupla armação de uma equipe pode ser tornar viável e bastante efetiva.

Sempre a defendi, por usá-la à exaustão em minhas equipes, adaptando soluções técnico-táticas específicas às características individuais de cada jogador daquelas posições, sempre complementados por três homens altos atuando permanentemente dentro do perímetro, em sintonia com os de fora, numa progressiva busca pelos melhores posicionamentos na recepção dos passes, nas ajudas às penetrações, na escolha dos melhores arremessos, no posicionamento multíplice nos rebotes, na ajuda permanente na defesa, e na busca incessante por novas e eficientes soluções técnico-táticas, por parte deles, os jogadores, que estão no campo da luta, enfrentando suas dúvidas e desafios ante adversários em constante mutação posicional, onde cada movimento ou jogada jamais é repetida, jamais guarda qualquer semelhança com às que a antecedem, seja na defesa, seja no ataque, tornando a experiência de jogar basquete numa perene e extraordinária descoberta de suas possibilidades individuais em concordância com as coletivas, compondo a essência desse único e apaixonante grande jogo.

O jogo dessa noite, entre o Flamengo e o Boca Juniors, espelhou um pouco a realidade exposta acima, na qual, dois excelentes armadores ditaram o ritmo e a correta direção que a partida teria de tomar em busca de uma vitoria inconteste e de promissora importância para o nosso basquetebol. Espero que nossos técnicos estudem a fundo possibilidades de jogo que aperfeiçoem o emprego da dupla armação, principalmente com a adoção de novos sistemas, que fujam do padrão que nos foi imposto ( e ainda continua a sê-lo através as clinicas oferecidas e aceitas pelas federações alinhadas com a CBB, numa atitude centralizadora e unilateral, emanada pelo mesmo grupo que nos tem empurrado o sistema padrão goela abaixo nos últimos vinte anos de obscurantismo e retrocesso atroz.).

Torço para que a equipe do Flamengo repita a bela atuação desta noite, quando muito, para provar que, com um pouco de audácia e vontade de mudar, a distância que nos separa da excelente organização argentina pode ser reduzida, mesmo por uma pouca, porém progressiva tomada de novos rumos, em busca de um tempo perdido, que já se prolonga em demasia. Assim espero.

Amém.



4 comentários

  1. Idevan G. 09.04.2008

    Caro professor, acredito que o Paulo Chupeta tenha sido o primeiro (ou um dos primeiros ao menos) a sair da ranhetice monocódica do armador único quando venceu o carioca do Oscar. Acredito que, enfim, ele encontrou a dupla de armadores ideal. Individualmente não os acho superiores ao Ratto e ao Valtinho, porém fazem uma dupla mais harmoniosa. O Hélio e o Fred parecem se completar e a autoridade do técnico tanto se faz presente que o “popstar” Marcelinho ficou longe de ser o responsável pela melhor vitória da equipe no ano possivelmente. Nada como uma vitória coletiva, não precisamos de heróis solitários. Espero que isso se repita hoje.

  2. Basquete Brasil 11.04.2008

    Prezado Idevan, será que ele encontrou mesmo a dupla ideal?Pelo que vimos no jogo decisivo fica a dúvida,e que dúvida… Um abraço,
    Paulo Murilo.

  3. Idevan G. 11.04.2008

    Caro professor, de fato, achava até porque o Paulo Chupeta nunca deixou de tentar achar a dupla de armadores para o time desde os idos da final carioca citada no meu comentário anterior. Porém, a mudança nessa final também me surpreendeu. Temo que a vitória esconda as deficiências dessa variação tática.
    Em tempo: nos três jogos achei a arbitragem um tanto “caseira”, mas venceram os melhores em cada partida.

  4. Basquete Brasil 11.04.2008

    Prezado Idevan,a não ser que seja uma tirada da mais alta “estratégia”,fica no ar o gostinho de ajuste entre compadres,nenhuma novidade para todos nós.Faz parte do cenário nacional do “quem tem padrinho,não morre pagão…”. Um abraço,Paulo Murilo.

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