IMPLICAÇÕES…

Num bom artigo publicado na Coluna do Chianetto do blog DraftBrasil em 5 de maio – Moncho e as implicações políticas – o autor nos coloca ante algumas indagações, que ao contrário do que afirma, tem suscitado vários comentários em blogs voltados ao basquetebol, mas, e nesse aspecto o autor tem razão, muito pouco ou quase nada na imprensa tradicional, quanto ao fator político envolvendo a contratação de um técnico estrangeiro para a seleção masculina que tentará a classificação olímpica no Pré que se avizinha em julho na Grécia.

No entanto, apesar de muito bem defendida a sua tese de que tal contratação foi uma decisão acertada pelo grego melhor que um presente, e que serviria de ponte entre o mesmo e seu desafeto político Oscar, numa aproximação bem vinda ao esporte nacional, esqueceu-se de que uma NLB foi expurgada do cenário nacional, exatamente pelas ações políticas emanadas pela CBB, ciosa em não admitir dividir as chaves do cofre com um grupo de jogadores imbuídos no progresso da modalidade, mas verdes na arte da manipulação político-econômica mantenedora da situação mafiosa que se estabeleceu firmemente naquela que deveria ser a casa do basquetebol, e não o feudo de uns poucos dirigentes e seus apaniguados federativos, garantidores do butim magnanimamente distribuído, em troca de seus estratégicos e decisivos votos.

Duvido que o experiente técnico espanhol, macaco mais do que velho nas artimanhas madrileñas, castelãnas, catalãns, sevilãnas e galegas, venha se meter em campo minado que não conhece e domina , numa terra estranha, ainda mais servindo de ponte entre duas emblemáticas figuras do basquete nacional, recentes gladiadores numa arena de conceitos tão ou mais díspares, quanto seus posicionamentos em prol de um basquete moderno e de participação internacional. Duvido não, tenho certeza.

Mais adiante, o autor menciona – “O esporte da atualidade, que a partir das Olimpíadas de 1992 entrou na era do Marketing, vive de imagem positiva para se sustentar e ter mídia espontânea nos meios de comunicação, sendo esse o produto que os patrocinadores compram. Esses ídolos não precisam ser unanimidade dentro do mundo do basquete, mas sim a cara que vai abrir portas do mercado de patrocínios(…).”

Creio que um detalhe foi esquecido, a qualidade do que é comprado, sua durabilidade, sua excelência técnica, suas garantias de criação e manutenção. Ou seja, sua origem qualitativa e quantitativa, seu ISO 9 mil e tantos, que no caso do esporte se reporta à formação dos jovens atletas, sua orientação através técnicos e professores qualificados, permanentemente avaliados e especializados, desenvolvendo um projeto com objetivos precisos e compatíveis com a nossa realidade, dentro de padrões administrativos passiveis de auditoria permanente, cristalina, pois vultosas verbas estarão em jogo, e não à disposição de aventureiros do bem comum, vicio que nos derrota antes de qualquer competição, e que está sempre presente nos sombrios porões da lúgubre realidade nacional. Poucas são as modalidades que auferem tais requisitos em nosso país, como o vôlei, que mesmo assim ainda se debate com resquícios de tempos passados, mas que mantém seus patrocínios pela qualidade de seu trabalho, principalmente na formação, num interrogativo contraste com seu outrora rival no gosto do público, o basquetebol.

E na realidade da seguinte relação, a saber : Leandro, Spliter, J.Batista, Murilo, Alex, Valter, Huertas, Marcelo, Varejão, Nenê, Caio, Guilherme, Paulão, Baby, os prováveis, e talvez únicos de uma equipe do nacional, Helio e Duda, anunciados pelo próprio Moncho, e com a conveniente presença do Marcus e do Nezinho em equipes da Super Copa, o que torna factível as suas não convocações, inclusive pelos acontecimentos ocorridos no último Pré-Olímpico, livrando o técnico de uma incômoda e indesejada participação nos imbróglios tupiniquins, que jogadores que aqui militam terão oportunidades na próxima convocação de cartas mais do que marcadas? A independência do Mocho se estenderá aos jogadores da lista acima, todos jogando no exterior, com os dois que aqui atuam, como uma deferência educada ao grande clube que prestigiou o nacional, estrategicamente livre dos dois problemas disciplinares pelo antagonismo que separam CBB e ABCB, idêntico ao entrevero CBB x NLB, de infeliz desfecho. Se o técnico espanhol fizer jus ao prestígio que ostenta em sua pátria, não meterá a mão numa cumbuca de gargalo estreito que lhe oferecem, honrando os genes que carrega de seus antepassados colonizadores.

Acredito que a nossa esperança política ainda terá de maturar a idéia de que, enquanto não ocorrer uma substancial e decisiva mudança nos padrões comportamentais dos dirigentes clubísticos, comprometidos com a eleição de presidentes federativos, tão ou mais comprometidos com a eleição de uma diretoria competente e capaz para a CBB, não obteremos sucesso junto a patrocinadores , que jamais arriscarão seus valores em mãos de políticos profissionais, e ainda mais pelo enorme interesse do COB em manter o basquete no patamar que ostenta de ex-segundo esporte nacional.

E acima de todas estas possibilidades paira a esperança maior de que o poder público estenda as mãos à educação, às escolas, aos professores, cerne do conhecimento, e reserva intelectual de qualquer país que se considere sério e progressista, onde o esporte faz parte indissociável da formação do cidadão, direito constitucional, direito da juventude brasileira.

Amém.



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