O ALTO PRÊÇO DA…

Ao final do desastre de hoje, o técnico da equipe brasileira se sai com essa: “O nosso banco reagiu muito bem, e marcou como devia, mas naquele ritmo não agüentaria até o final…”. Leu a bola de cristal errada, além de esquecer que aquela seria a única oportunidade de vencer dentro de um panorama técnico eivado de equívocos e intervenções erradas. Naqueles momentos, onde as reservas Natalia, Mamá, Karla, Chuca e Francilene, com seus físicos enxutos, velozes, elásticos, pressionavam as adversárias de forma avassaladora, reequilibrando uma partida que até aquele momento, por força da nossa lentidão defensiva, inadequação física, se comparada às longilíneas e velozes bielorussas, apontava nítida vantagem das mesmas ao levarem de vencida nossas jogadoras nos rebotes e na conquista de espaços vitais aos arremessos, tanto fora, como, e principalmente, dentro do perímetro. Era notória a incapacidade de nossas robustas pivôs nas disputas corpo a corpo pela ausência de velocidade, e pela teimosa insistência de fazerem um jogo interior de passes no ataque partindo de posições fixas, facilitando as rápidas interceptações das defensoras.

Naqueles momentos em que o quinteto reserva estabeleceu o equilíbrio e conseqüente avanço no placar, sendo um jogo, cuja vitoria estaria decidindo a classificação olímpica, nenhuma desculpa de cansaço poderia sequer entrar em cogitação ante o desequilíbrio e as reações negativas das adversárias, num a situação em que uma boa margem de pontos deveria ser buscada até o ultimo alento, margem esta que caberia, se fosse o caso e necessidade, ser mantida ou ampliada, ai sim, pelas titulares. Foi o ponto nevrálgico muito bem apontado pela Hortência em seus pertinentes comentários na SPORTV.

Mas o técnico não viu, ou pressentiu a situação dessa forma, amarrado a um principio que vem sendo estabelecido por uma turma de pseudo-pesquisadores, de que um rodízio deve ser permanentemente estabelecido entre as jogadoras, para que a performance seja mantida constante. É uma tese estúpida, ignorante e totalmente contrária ao principio estratégico de que num determinado ponto, de uma disputa com forças iguais e armas semelhantes, sai vencedor aquela facção que se dispuser ao sacrifício, à exaustão física e à doação incondicional. Se aquele quinteto tivesse continuado na quadra, na única chance que tivemos dentro de um jogo desigual, surpreendendo um adversário superior fisicamente, sem duvida alguma estaríamos classificados agora, e teríamos, como bem apontou a grande Hortência, todo o tempo do mundo para descansar, com o passaporte carimbado.

E para dar um maior tempero a tão lastimável derrota, vem a estrela da equipe repetir seu colega da equipe masculina no Pré de Las Vegas, simplesmente se recusando a entrar em quadra por divergir do técnico, o mesmo que a levou para sua equipe em São Paulo a fim de vencer o campeonato nacional, o que ocorreu, reforçando sua posição de retorno à seleção brasileira, não mais como assistente, posição que declinou por se achar merecedor da posição principal. Ao tomar tal atitude, subtraiu seus conhecimentos ao grupo, à equipe nacional, onde ser técnico principal ou assistente não diferem em importância na transmissão dos mesmos, numa atitude personalista, oposta ao discurso atual de que o cerne de seu trabalho é baseado nos interesses do grupo e para o grupo.

Creio que agora ele deverá compreender que o comando transcende ao grupo quando decisões devam ser tomadas, e que no caso da rebelde jogadora deverá ser exemplar e definitiva, e que alguns princípios que considera fundamentais na sua concepção de grupo, não só podem como devem ser mudados na razão direta de uma situação técnico-tática, na qual um determinado segmento da equipe, não importando qual, se titular ou reserva, se coloca e se qualifica como insubstituível naquele estratégico momento onde o interesse maior do grupo, da equipe, é a vitoria possível e alcançável, mesmo que o preço a ser pago seja o desconforto de algumas pela reserva, ou a exaustão muscular e mental das que combatem a boa luta.

Falhou o arrogante técnico, e que sirva de lição para os dois jogos que faltam, onde deve dar preferência àquelas jogadoras que estão realmente em forma, capazes de se doarem e se sacrificarem, aspectos que devem ser reconhecidos por todas as demais componentes da equipe, reconhecimento este que não as desmerecem e diminuem seus valores. O momento, sendo de decisão à curtíssimo prazo, é daquelas que se encontram melhor na competição, e não das que se acham, por terem mais tempo , donas das posições. Cometeu o técnico o mesmo erro que seu antecessor na partida contra a Austrália no Mundial de São Paulo, o mesmo técnico de quem ao divergir resignou de sua posição de assistente. Mundo pequeno esse, não?

Continuo afirmando que com menos uns 10 kg ou mais, nossas pivôs possam rivalizar com as das demais equipes internacionais, e que o jogo com duas armadoras rápidas e competentes faz o jeito e a cara do nosso basquetebol. E que, em hipótese alguma seja permitido que talentos como a Francilene seja submetida à sanha marombeira de um segmento de pseudo-cientistas ávidos em demonstrarem seus conhecimentos caipiras de preparo basquetebolistico. Que fiquem com seus testes de ocasião, cujo motivação maior é a de apresentarem papers em revistas cientificas, engordando seus currículos acadêmicos, pois de pesquisa voltada às técnicas do grande jogo pouco ou nada sabem, se já não bastassem as volumosas dobras cutâneas de nossas pivôs.

Amém.



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