OS DESAFIOS DO MONCHO…

Quando o armador Huertas foi substituído pela primeira vez a 34seg. da metade do terceiro quarto, o técnico espanhol sinalizou sua predisposição de mantê-lo por muito ou todo o tempo de jogo quando a disputa for para valer, já que se convenceu de que o excelente armador não tem um substituto de seu quilate na equipe, e que praticamente todo o seu embasamento técnico-tático depende diretamente da produção daquele jogador, calejado nos embates físicos contra os duros e insistentes marcadores europeus, ao contrário do Fulvio, que se perde bastante quando assediado daquela forma, mas que é capaz de armar com eficiência quando a equipe adversária cai em uma marcação zonal, que foi o que ocorreu no jogo de hoje. Que a turma que preconiza a impossibilidade de um jogador “no basquete moderno” atuar por um longo tempo, se situe perante a crua realidade de que no caso de nossa seleção, não só ele, o Huertas, como o Spliter terão de se manter em quadra pelo maior espaço de tempo possível, se quisermos levar de vencida gregos, alemães e o outro adversário nas semi-finais. E que não esqueçam, que essa possibilidade é possível e viável no basquetebol FIBA, com quatro quartos de 10min.,e não quatro de 12, como na NBA.

E no caso do Spliter, a dificuldade será bem maior, pois os adversários, sem duvida nenhuma, concentrarão seu poder de fogo ofensivo em cima do excelente pivô, a fim de forçá-lo a faltas no menor tempo possível. E é nesse ponto, que uma outra sutil pista foi deixada no jogo de hoje pelo inteligente Moncho, já que pela primeira vez, e por pouco, porém esclarecedor tempo, pudemos ver a dupla Spliter/Probst dominarem as tabelas e se protegerem mutuamente das faltas pessoais, já que ambos, muito rápidos e ágeis completaram seu pequeno recital num rebote em dupla e uma finalização em bandeja do Probst após um passe quadra a quadra do Spliter, lembrando os bons tempos da dupla Israel e Gerson. Os demais pivôs poderão complementar a dupla, mas com um aproveitamento bem menor, já que mais lentos que aqueles.

O outro problema que exigirá do Moncho uma enorme e paciente catequização, é sobre a atuação dos alas, pois os dedos acostumados aos sensíveis gatilhos da linha de três, como os do Alex, Marcelo, Duda e Tavernari, se inflamam ao menor toque com na bola, estando marcados ou não, no frêmito incontrolado de um arremesso consagrador. E é nesse pormenor que o Moncho mergulha de cabeça na exigência daquele ”passe a mais”, quando o tiro passa a ser o produto do maior posicionamento equilibrado possível, mas que fere profundamente hábitos adquiridos em muitos anos de liderança e conivência clubística. Se conseguir refrear tais impulsos, naqueles decisivos momentos em que a balança penderá para o lado da equipe mais centrada e controlada em campo, quando arremessos deverão ser desferidos com a possibilidade real de retomadas em caso de falhas, ai sim, poderemos aumentar em muito nossas chances ante equipes mais rodadas e experientes. Creio ser este o mais complexo desafio a ser enfrentado pelo espanhol, além do outro tão ou mais complexo, fazer com que esses mesmos alas se posicionem razoavelmente bem defensivamente, já que, mesmo exercendo a marcação dos pivôs por trás, nosso miolo de garrafão tem se portado a contento nos embates embaixo das cestas.

Finalmente, o grande óbice, a grande pedra no sapato do técnico espanhol, como assessorar com qualidade as ações do Huertas, que tem se portado muito bem no comando, execução e finalização do sistema cadenciado, que aos poucos vai sendo aceito e incorporado pela equipe, senão rever um posicionamento que se predispôs a adotar logo em sua chegada ao Brasil, a de atuar com dois armadores e três homens altos e rápidos, que poderia se tornar um excelente fator- surpresa em determinados e cruciais momentos em partidas decisivas. Mas para tanto, torna-se necessário uma predisposição do Fulvio em assumir-se integralmente, e não timidamente como vem agindo nos últimos jogos. Os três homens altos e rápidos ele já tem, faltando somente um outro habilidoso armador. Daí eu ter lastimado muito a não convocação de um terceiro e técnico armador, o que configuraria e exequibilizaria o projeto inicial do Moncho. Infelizmente, sua ausência em quadras nacionais, o fez refém de “opiniões abalizadas” de quem o deveria assessorar, o que não foi feito com o devido conhecimento de causa, por quem não entende e domina os sutis detalhes do grande jogo, aqueles detalhes que se espraiam muito além dos ínfimos limites de uma prancheta e de um lapitopi caipira, além de outros interesses cebebianos.

É possível classificar? Se o Moncho equacionar a contento as notórias limitações que lhes impõe uma seleção mal convocada e heterogênea, talvez sim, pois em sua luta desigual possam os deuses unir e tornar humildes, mesmo um pouquinho, tantos egos conhecidos, e convenientemente calados ante a liderança do senhor ibérico. Se manterão o recato, é o que veremos quando a bola subir de verdade. Oremos então.

Amém.



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