REPAGINANDO UM SISTEMA…
Segundo jogo entre Pinheiros e Limeira que assisto enfastiado pela desproporção entre as equipes, onde a equipe do interior demonstra ser incomensuravelmente melhor que sua oponente, e em todos os aspectos técnicos e individuais. Mas de repente, após uma série de erros de seu armador, o técnico da equipe da capital pede um tempo para desancá-lo de dedo em riste, culminando o absurdo ao mandá-lo “tomar no…”, com o testemunho abismado e envergonhado de todos aqueles que, em rede nacional e a cores assistiram tal crime. E um pouco antes o narrador esclarecia aos telespectadores que os pedidos de tempo, a pedido do técnico, não deveriam ser transmitidos, pois suas “instruções” tinham caráter sigiloso. Pelo que vimos e ouvimos o caráter era outro, o da agressão verbal pura e simples, e o pior, partindo do líder da equipe, seu condutor, técnico e educador, aquele que deveria desde sempre dar o exemplo maior, o da liderança educada e equilibrada. Não agüentei mais e fui ver na sala um vídeo que meus filhos assistiam, Coach Carter. Valeu, e como, a troca.
Hoje, no entanto, fui redimido daquele espetáculo dantesco com uma belíssima apresentação da equipe de Franca no terceiro jogo contra o Paulistano, no ginásio deste. Foram quatro quartos empolgantes, onde os jogadores francanos deram uma aula de como atacar em dupla armação (desde o início desta vez) e no vertiginoso rodízio de praticamente três pivôs móveis transpassando o garrafão em todos os sentidos, e em todas as direções. Marcio, Rogério e Drudi foram magníficos atacando e defendendo, mesmo profundamente inferiorizados nos rebotes em ambos os lados da quadra.
Helio e Matheus jogaram como a muito não se via uma dupla de armadores, verdadeiros armadores, atuar em perfeita sincronia fora do perímetro, conectando-se com seus três homens altos(Não muito…) em passes incisivos, de fora e de dentro do perímetro interno, penetrações rápidas em conclusões mais rápidas ainda, ou imprimindo grande velocidade na volta da bola para os arremessos de três certeiros, por equilibrados e com tempo hábil para os necessários ajustes na precisão, do Marcio e do Rogério. Drudi, que mesmo vindo em algumas ocasiões para fora do perímetro auxiliar em corta-luzes, revertia velozmente em direção à cesta, num vai e vem inteligente e produtivo, onde as confiáveis finalizações de dois pontos dispensavam as aventuras de três, muito utilizadas por alguns de nossos pivôs, mascarados de especialistas naquele exclusivo tipo de arremesso.
Defensivamente foram igualmente brilhantes, pois a experiência amealhada ao longo dos anos de utilização do sistema único de jogo, os fizeram capazes de antecederem a destinação dos passes, habilitando-os às interceptações e aos comportamentos altamente previsíveis de seus oponentes, principalmente aqueles que ainda se utilizam da armação única, com um ou outro ala adaptado às funções e habilidades de um verdadeiro armador. Mesmo não possuindo jogadores com a mesma capacidade reboteadora dos seus oponentes, souberam compensar tal deficiência com imaginação e ações antecipadoras.
Enfim, pude testemunhar uma pequena grande revolução de costumes, ao ver uma equipe de veteranos mesclada de ótimos jogadores jovens, subverter um sistema de jogo enraizado no nosso cotidiano, transformando-o em algo promissor na arte de jogar o grande jogo. E o mais emblemático nisso tudo, é o de vermos um dos mais ferrenhos defensores do sistema, que o utilizou durante muitos anos, inclusive em seleções nacionais, ser o responsável por tão ansiada mudança~. O técnico de Franca está realmente de parabéns.
Para o quarto jogo, se mantiver o esquema vencedor de hoje, vencerá a serie, pois mesmo que a equipe paulistana retorne à quadra com outra e decisiva disposição, ainda não possui a quilometragem dos jogadores de Franca, renovados técnica e taticamente, e em grande forma atlética, mesmo desfalcados em altura se comparados às demais equipes que disputam o campeonato.
Será um jogo a ser conferido, analisado e discutido, principalmente pelo fator técnico da dupla armação, e da utilização dos três homens altos em funções de pivôs móveis. E que torne a ser um grande jogo, honesto, brigado com disciplina e respeito.
Amém.