O VETERANO ( E ÓTIMO ) TRIO…

E há quem afirme seriamente que a equipe de Franca pratica um basquete para consumo interno, que seu técnico não dá instruções nos pedidos de tempo, e que Limeira apresenta algo inovador no cenário técnico do basquete brasileiro, além da verdadeira seleção de valores que contratou para esta temporada. Garantiam inclusive, que com as contusões do pivô David e do Guilherme Luz estaria a equipe francana inferiorizada, e possivelmente derrotada no torneio final do campeonato. Li e guardei todas estas opiniões publicadas e comentadas nos vários blogs e mídia voltados à modalidade, e sinceramente, não os levei à serio, pois os caminhos e descaminhos do grande jogo passam pelo conhecimento profundo do que podemos conceituar o que seja uma grande equipe, de como é formada, treinada e preparada para enfrentar situações limites, como foi exemplificado magistralmente neste primeiro jogo da decisão na cidade de Limeira.

Franca venceu um jogo, com duas prorrogações, mantendo o trio formado pelo Helio, o Rogério e o Marcio na quadra por todo o tempo, o Drudi e o Matheus por quase todo o tempo, com passagens rápidas do Felipe ( que atingiu muito rápido seu limite de faltas ), André e do Cauê, numa prova contundente de resistência física e psicológica, ante um poderio devastador de rebotes do adversário, se utilizando em muitas situações do tapa com uma das mãos a fim de conseguirem uns poucos centímetros a mais nos rebotes ofensivos, e uma dedicação emocionante nos bloqueios de proteção nos defensivos, e na culminância do processo defensivo, uma aula de marcação mista e zonal que anulou o único armador adversário, o eficiente Nezinho, na maior parte do tempo de jogo.

Iniciou Franca com um único armador, acompanhando a tendência proposta por Limeira, que sempre opta pelo sistema único e tradicional para escalar uma taboa forte e muito alta. Cedo porém, fez entrar o segundo armador, Matheus, para daí por diante mandar taticamente no jogo, com a trinca de veteranos brilhando intensamente, com seu jogo sóbrio e profundamente compromissado com a equipe.

Tenho apreciado os pedidos de tempo do técnico de Franca pela forma direta, olho no olho, como aborda e inquire seus jogadores, cobrando, exigindo e incentivando, principalmente o aspecto defensivo, numa prova contundente do que observar sobre o que foi treinado e combinado previamente.

Já o técnico de Limeira, que apesar de contar com um plantel mais bem abastecido que o de Franca, ainda se prende a jogadas combinadas na hora e teimosamente desenhadas na inseparável prancheta, como se a mesma, por si só tivesse o poder de catalisar a equipe em torno de uma proposta basicamente coreográfica, e fora da realidade física do jogo.

A vitoria de Franca neste primeiro jogo fora de casa vem provar mais uma vez, o quanto agrega em eficiência a utilização da dupla armação, ainda mais quando é exercida por uma dupla de técnica refinada, e mesmo quando 9 anos os separam nas idades. Helio e Matheus, sem dúvida nenhuma formam hoje a melhor dupla de armadores brasileiros, onde o amadurecimento e frieza do Helio se fundem com a determinação e voluntariedade do Matheus, abastecendo seus três homens altos (não muito…) em constantes e velozes deslocamentos no perímetro interno, praticando todos eles o basquetebol de outros e heróicos tempos, com muita coragem e competência, e não esse macarrônico e anacrônico basquetebol de sistema único, e profundamente emburrecedor, tanto para jogadores, como, e constrangedoramente, para técnicos.

Não basta ter um plantel de 12 jogadores equiparados tecnicamente, se os mesmos ficam situados em determinadas posições, as de 1 a 5, como são hoje definidos e setorizados, para enfrentar uma outra que praticamente tem jogadores que atuam na posição 12.345, ou seja, fazendo um pouco de cada em determinadas passagens do jogo, num rodízio estonteante e desestabilizador de qualquer tipo de defesa que se anteponha aos mesmos.

E mesmo não podendo contar com um rodízio reparador em sua equipe, Franca, com sua dupla armação e três pivôs móveis, demonstrou sua superioridade técnico tática contra o sistema de armação única, que apesar de profundamente estabelecido no país, começa a ser questionado quando enfrenta equipes bem treinadas na dupla armação, fator técnico muito bem vindo no processo de soerguimento do grande jogo entre nós, assim como pelo notório acréscimo de poder defensivo pela mesma razão. E pensar que foi o técnico francano um dos monopolizadores do sistema único entre nós, inclusive na seleção brasileira.

Parabenizo Franca por sua grande coragem e determinação, e espero que o grande desgaste do jogo de hoje não cobre em excesso os devidos juros, que sem duvidas serão contabilizados no jogo desta segunda feira, ainda em Limeira. Mesmo assim deverá ser um grande jogo.

Amém.



Deixe seu comentário