CONVOCATUS EST…

Concordo inteiramente com o posicionamento do Fabio Balassiano em seu artigo de hoje sobre a convocação da seleção brasileira adulta (http://balanacesta.blogspot.com/) que já deveria estar se preparando para a Copa America sem maiores protelações. Esse erro já havia sido cometido quando do Sul Americano que antecedeu o Pré Olímpico, onde um tempo precioso de treinamento foi perdido, em contraste aos rogos da comissão por mais datas e espaço para treinamentos.

E o mais importante e impactante é o fato de ser tratar de uma seleção brasileira, tão carente de autênticos valores, mas que esnoba o mundo com uma seleção B, como se a riqueza de talentos vicejasse aos borbotões entre nós. Realmente, não é qualquer país basqueteiro que se dá ao luxo de formar duas seleções adultas, o que nos deixa pretensa e arrogantemente na dianteira técnica mundial.

E de tão rica e formidável geração, que convoca um menino de 17 anos que sequer atua na efetividade de sua equipe, e esquece, como da outra vez, o melhor reboteiro da liga nacional, além de promover outros jovens a um patamar que, obrigatoriamente seria admissível após os mesmos percorrerem outros e fundamentais patamares de evolução técnica e experiência comprovada na alta competição. Se seleções de base devem ser constituídas por valores e talentos reconhecidos, muito mais uma adulta, que somente poderá ser constituída dos melhores, e somente dos melhores, tenham a idade que tiverem, sejam oriundos de dentro ou fora do país, pois sempre será fundamentado no exemplo dos mesmos, através suas reais condições técnico táticas, que os mais jovens, de clubes ou seleções, se espelharão para o futuro.

Mas em se tratando de um técnico espanhol, que somente aporta no país nos playoffs, sem acompanhar a temporada regular, e que delega a um assistente de pouquíssima experiência e vivência de quadra o ônus convocatório mais decisivo, e que comungam juntos, como a maciça maioria dos técnicos nacionais, de um comprometimento globalizado com o sistema único de jogo, o famigerado “basquete Internacional”, organizam sua lista fundamentada única e exclusivamente sob tal pretexto, que na ótica de todos eles, facilita em muito o treinamento do sistema de jogo, já que de conhecimento de todos, e que infelizmente para nós, também do conhecimento de nossos adversários, tanto os dos torneios de agora, como os da Copa America.

E para dirimir qualquer dúvida sobre o que paira acima de nossas cabeças quanto ao aspecto diretivo de nossas seleções, este mesmo assistente, que como supervisor das seleções de base e comentarista de jogos da NCAA na temporada recém finda, foi arguido pelo narrador em uma das transmissões, se o sistema americano universitário de manter a posse de bola por 35 segundos fosse adotado em nossas divisões de base, não melhoraria em muito o posicionamento defensivo dos jogadores, marca registrada daquelas equipes, sendo premiado com a resposta de que “os 24 segundos estavam de bom tamanho”.

Mas o mais instigante é vê-lo afirmar em uma entrevista dada ao jornalista Henrique Gonçalves do Draft Brasil em 21 deste mês ( http://www.draftbrasil.net/wordpress/?p=1309 )– (…) “Defensivamente é importante ressaltar um conceito que se chama resistência defensiva, que é defender com a mesma intensidade durante os 40 minutos de jogo. Este é um ponto que ainda não conseguimos aprimorar no nosso jogo interno. Defendemos bem em alguns momentos, mas não adianta defendermos bem 70 ou 80% do tempo de jogo. O jogo é longo, temos que melhorar nesta parte, não temos essa concepção bem desenvolvida”.

E como ele acha que essa concepção é desenvolvida? No Mundial em que afirma um sucesso discutível pelo quarto lugar alcançado, sua mais acachapante derrota foi para os norte americanos, os mesmos que a equipe sub 17 irá enfrentar na abertura da Copa America da categoria, e da qual é o supervisor, onde extrapola sua ação na imposição técnico tática da equipe, e que enfrentarão uma realidade advinda do basquete colegial onde a posse de bola é maior ainda, 40 segundos, nos quais todo um esforço defensivo é exaustivamente treinado e empregado, visando exatamente incutir nos jovens jogadores a tal “resistência defensiva” propalada conceitualmente pelo novo papa nacional. Para os americanos, 24 segundos jamais seriam de bom tamanho.

E o Henrique ainda perguntou- Mas, como corrigir ou criar estes conceitos, como por exemplo, a resistência defensiva ou a melhora do jogo coletivo citadas por você?

“Olha, como coordenador das categorias de base da Confederação Brasileira, tento desenvolver nos encontros periódicos com atletas e clinicas que ministro estes conceitos e claro, colocar em prática na quadra. Logo, tudo começa na base.(…) Não temos como fugir da realidade que a base é de extrema importância para  desenvolvermos conceitos de jogo que sejam corretos. O jogo internacional tem usado estes conceitos com clareza e temos que estar próximos de quem faz isso bem.”

Para quem os 24 segundos para as divisões de base estão de bom tamanho, e para quem conceitos de jogo antecedem o pleno e determinante domínio dos fundamentos, ai inclusa a estratégica resistência defensiva, nada poderemos aspirar de eficiente e avançado no preparo de nossos jogadores, que vêm tendo nos últimos 20 anos seu crescimento neuro motor desrespeitado e violentado pelo limite restritor dos 24 segundos, quando seria de impositiva necessidade o aumento desse limite nas categorias de base, função maior e de aconselhamento de um verdadeiro, competente e largamente experiente supervisor.

Os reflexos de todo esse falso e claudicante embasamento ai estão expostos na convocação, onde um tempo restrito e precioso, mais uma vez será perdido, em nome de uma renovação fora de propósito na atual realidade de nosso basquetebol. O momento exige o que temos de melhor para nos representar, independendo de idade e de domicílio, deixando para mais adiante a renovação progressiva e meritória, a começar por novos parâmetros de formação, de conceitos técnicos táticos, e principalmente de pessoal realmente capaz e acima de tudo, coerente.

Amém



7 comentários

  1. Henrique 30.05.2009

    Professor Paulo, como está o senhor ?

    Só uma observação Professor, se o senhor me pertime.

    Eu sou colaborador do Draft Brasil durante os jogos do Minas Tênis em Belo Horizonte, usando da pouquissima experiência que tive ao cursar jornalismo por um pequeno período da minha trajetória acadêmica ! Vou aos jogos que posso também. Não é sempre que tenho como ir na Arena.

    Mas, não sou jornalista, Professor ! Sou Professor de Educação Física mesmo.

    Mas só topei ajudar ao Alfredo, Guilherme e o pessoal do DB, porque acho que eles tentam ajudar realmente nosso basquetebol com independência, noticiando o possível, fazendo críticas construtivas, enfim, dando uma contribuição que acho importante.

    É um trabalho voluntário também ! Espero não estar tirando nenhum jornalista formado, porém, pelo que averiguei, voluntariamente, quase ninguém quer fazer nada, mesmo que, com isso possa estar no meio do jornalismo. O que é uma pena também.

    Como eu vou aos jogos, eu ajudo no que posso a eles e tento me envolver com o jogo que eu gosto tanto de alguma forma.

    Fica só este regitro Professor ! Minha ideia é mesmo seguir no mundo acadêmico e tentar conciliar treinando equipes !
    E sempre que puder, ajudar de alguma forma o basquete !

    Abração para o senhor Professor ! Logo, comento o texto !

  2. Henrique 30.05.2009

    Sobre o texto Profesor, concordo que deveriamos ter chamado uma Seleção ja visando a Copa América.

    Mas a questão é .. será que os atletas da provavel Seleção A estão disponiveis para estes torneios que a Seleção B fará ? Datas, etc ?

    Outra coisa é … é interessante ter atletas mais jovens perto dos tecnicos (principal e auxiliares) a Seleção ?!?!

    São algumas questões que eu acho interessante debater também.

    E qual a validade de ter um grupo treinando e tendo experiencia internacional ?

    Enfim, as questões são muitas Professor. E normalmente, as respostas são poucas !

    Já que foi feito assim, torço para bons treinamentos, bom aprendizado e ensino para os mesmos e claro, que nos representem bem !

    Abraço

  3. Henrique 30.05.2009

    E claro, faltou dizer.

    Achei que tivemos PIVOS DEMAIS convocados.

    Um certo exagero na lista de 20 nomes, temos uns 8 pivos, pelo menos.

    Acho que se formos pensar, 20 nomes = 4 equipes de basquetebol.

    Logo, para mim, não precisariamos mais de 6 pivos para compor estas equipes nos treinamentos e isso no daria total variabilidade de jogo, pois cada um dos 6 pivos, tem caracteristicas diferentes entre eles.

    Porém, acho que não pensaram assim e tiraram vagas importantes de armadores que poderiam melhorar a conduçao do jogo.

    Armadores mesmo, tivemos somente 2 chamados, entre eles o Raul, o mais novo da lista e o Fulvio, já bastante testado e de certa forma, todos conhecemos seu jogo.

  4. Basquete Brasil 31.05.2009

    Prezado Henrique, assim como você também sou um voluntario, só que de meu próprio blog, onde invisto tempo e algum dinheiro. Se mais tivesse disponível, transformaria essa trincheira numa verdadeira escola para treinadores, e olha que não faltariam bons professores para enriquecê-la, já que tenho alguns dos melhores em meu circulo de de amizades.Quem sabe um dia o farei? Quanto à convocação, no momento em que necessitamos do melhor em quadra, renovações sem critérios e de fundo político, sempre cobram altos dividendos. Ontem mesmo a sub-17 emplacou o terceiro lugar no sul americano, ou seja, continuamos a programação da direção anterior da CBB, prova inconteste do continuismo acertado e contratado pelas partes envolvidas no processo continuista.Um abraço, Paulo Murilo.

  5. Henrique 01.06.2009

    Professor, mais uma vez perdemos né ?

    Isso que é o pior.

    Agora não é uma, duas vezes, são várias … e o tempo vai passando.

    Abraço Professor !

  6. Basquete Brasil 01.06.2009

    E vem muito mais por aí caro Henrique. A criminosa e irresponsável padronização técnico tática imposta por supervisores anacrônicos e incompetentes nos tem levado ladeira abaixo, e haja ladeira pela frente, infelizmente.Um abraço, Paulo Murilo.

  7. Nicole 16.05.2011

    Qual o nome das equipes de basquete? Masculina e Feminina.

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