FORMAÇÃO X FORMATAÇÃO…

“Descobrimos novos talentos nos brasileiros de base e também nos clubes, jogando em categorias mais avançadas, mas ainda com idade para estar no Sub-15. Também recebemos indicações de técnicos e queremos observar. Precisamos ficar atentos a esses talentos. Os meninos devem saber que estão sendo observados, porque o processo de convocação é longo e segue pelos próximos anos. Os que não foram chamados dessa vez ainda podem vir a ser. É um trabalho de longo prazo e a Comissão Técnica continuará avaliando os atletas — explicou Germano”.

Para essa segunda fase de treinos, o técnico pretende trabalhar conteúdos táticos de jogo e observar a atuação dos jogadores em amistosos. Com a proximidade do campeonato, o grupo precisa atuar em conjunto e pegar ritmo de jogo.

—“Começamos no dia 10, treinando em dois períodos e, na segunda semana, já quero marcar um amistoso. Na primeira fase, trabalhamos conceitos técnicos de jogo coletivo. Agora, partimos para um patamar mais elaborado, de leitura de jogo e consciência tática. Também vamos disputar dois amistosos na Colômbia antes do início da competição. Os adversários ainda serão definidos. Em no máximo dez dias após a apresentação, quero ter definido o time que irá representar o Brasil. Vamos encontrar dificuldades lá, então é preciso analisar os atletas em vários aspectos na hora de montar o time — finalizou.”

Estes são trechos de uma matéria escrita pelo jornalista Frederico Batalha no Databasket de ontem, 01/09/2009, sobre a convocação da Seleção Sub 15 masculina que irá disputar o Sul Americano na Colômbia.

Como vemos com todas as letras, nossos jovens de 14/15 anos, categoria básica para o desenvolvimento e soerguimento do basquetebol entre nós, treinou na primeira fase de preparação “conceitos técnicos de jogo coletivo”, e para a segunda fase treinarão “conteúdos táticos, leitura e consciência tática de jogo”, que são princípios técnicos de conclusão de qualquer planejamento de preparação de equipes, jamais seu início, ainda mais, muitíssimo mais, em se tratando de adolescentes em processo de formação biopsicomecânica e maturação neuromuscular. Ou seja, a faixa etária onde o ensino dos fundamentos do jogo se faz absolutamente prioritário, e não a macaqueação de jogadas coreografadas por técnicos que somente enxergam o jogo através as pranchetas, incluindo e induzindo jovens em movimentações pseudamente padronizadas, sem que os mesmos dominem a fundamentação básica do ato, simplesmente o ato de bem praticar o grande jogo, aprendendo a amá-lo, pela descoberta crescente de suas habilidades, e desenvolvendo a arte de dominar seus movimentos básicos. E se assim fosse, e que vem sendo sistematicamente negado em nome de uma padronização técnico tática criminosa, teríamos mais à frente jovens plenos de competências no domínio do jogo, prontos, ai sim, para serem incluídos em sistemas ofensivos e defensivos montados especificamente no sentido de realçar e explorar suas potencialidades adquiridas pelo trabalho intenso, e não, serem encaixados em sistemas antecedentes àquelas exigências fundamentais.

E como vemos mais ainda, a nova(?) CBB, dá continuidade a esse trabalho de sapa e na contra mão de todos os princípios didático pedagógicos aceitos no mundo do desporto sério, responsável e competente, tornando realidade todos aqueles temores de que nada mudaria na direção e orientação técnica de nossas seleções de base, entregues ao destino amplamente descrito acima, através depoimentos daquele que deveria cuidar de sua formação e não de sua formatação a uma padronização absurda e profundamente equivocada.

Serão mais algumas e preciosas gerações a se defrontarem com a omissão e negativa de se verem preparadas e orientadas nos fundamentos, por um pessoal que rigorosamente nada entende do grande jogo em seu âmago, a não ser uma caneta hidrocor, uma prancheta e um cérebro do tamanho de sua arrogância.

Até os deuses, tão magnânimos e pacientes, se sentem desanimados ante tanta… Ora, quem se importa.

Amém



13 comentários

  1. Walter Carvalho 02.09.2009

    Professor Paulo Murilo,

    Quase que cai da cadeira ao ler a entrevista do “ëxpert” em formacao de base do Brasil.

    …conteúdos táticos de jogo e observar a atuação dos jogadores em amistosos. Com a proximidade do campeonato, o grupo precisa atuar em conjunto e pegar ritmo de jogo…

    E A PRATICA DE FUNDAMENTOS NADA?????? Os jogadores irao se formar em jogadas xyzd20/210….

    O pior e que nos temos que aturar isso! e Nos e que estamos errados??? Sera que eles nao tem visao ou nocao do crime que estao cometendo????? Acredito que a resposta e NAO, pois a entrevista demonstra nitida falta de pedagogia e de um melhor entendimento dos objetivos primarios para tal faixa etaria…

    E uma vergonha! outra coisa professor, isto tudo nos importa – pois o grande jogo que amamos e dedicamos uma vida esta sendo assassinado por curiosos do esporte… Estou respirando fundo para tentar me acalmar – pois tudo isso e muito ridiculo! e INSANO!

    Porem mostra que cada direcao e administracao tem os servicos de profissionais congruente ao nivel dos eu conhecimento, planejamento ou falta do mesmo e visao…

    Infelizmente nao estamos progredindo – entra ano sai ano continua esta pouca vergonha!

    Ate breve e seja o que DEUS quizer.

  2. Basquete Brasil 02.09.2009

    E isso é só o começo, ou recomeço, ou mais ainda, a continuidade de um dominio técnico de fundamentação política, perpetrado por um grupo que se auto intitulou conhecedor absoluto do basquete de nossa terra, e que tem como objetivo primordial a submissão altamente rentável a um modelo exógeno de basquetebol pragmático e voltado ao lucro pessoal apenso a interesses grupais.
    Por isso associações de técnicos são desestimuladas e preteridas ad perpetuam, pois seriam um entrave àqueles objetivos, ao terem em suas organizações pessoas qualificadas e comprometidas com a educação e a cultura de um povo órfão e abandonado nestas questões “humanisticas”, e que lutariam, bem sei, pelo resgate do trabalho de base, da ética e do mérito.
    Sinto muito reconhecer tais evidências, mas ai estão sem desmentidos daqueles que poderiam fazê-los. Uma lástima.
    Um abraço Walter, continuamos na luta, inglória,bem sei. Paulo.

  3. Henrique Lima 02.09.2009

    Professores Paulo Murilo e Walter Carvalho, tudo bom ?

    A grande melhora que temos na base são as convocações de atletas até do Roraima para serem avaliados.

    Porém, sem fundamentos, não adianta, nada mudará. A não ser claro, que o resto do mundo ande para trás como nós. Aí sim, teríamos chance.

    Porém, como estão anos luz na frente na pesquisa, política e incentivo esportivo nas escolas e clubes e também capacitação e troca de conhecimento entre os treinadores de base, temos a certeza que o show de horrores na base será o mesmo de ontem.

    No amanhã, vamos perder na base, vamos inventar as desculpas de sempre e jamais entender o por que de tantas derrotas.

    Uma pena, estamos jogando mais uma geração fora. Ainda é tempo de melhorar, porém para o Brasil, parece que isso é sempre muito, muito distante, logo, impossivel.

    Abraços !

  4. Ricardo/MS 02.09.2009

    Excelente análise prof. Paulo Murilo, infelizmente estamos andando na contra-mão do basquete mundial.
    Abraço!

  5. Basquete Brasil 02.09.2009

    Prezado Henrique,se você acompanhar as transmissões pela Band Sports, vai constatar que as desculpas já estão na ordem do dia, pois comentam na emissora a maioria dos técnicos das seleções de base da CBB, onde a rasgação de seda ao supervisor técico da mesma chega a ser constrangedora.O negócio é segurar os empregos e as posições alcançadas pelos QIs elevados, não importando muito o resultado de seus esforços.
    Bola que segue, murcha ou não. Um abraço, Paulo Murilo.

  6. Basquete Brasil 02.09.2009

    Obrigado Ricardo, só sinto serem análises tristes e desistimulantes, perante o muito que poderiamos realizar de concreto sob o comando de quem de direito e mérito. Mas tal dia há de chegar, tenho certeza disso. Um abraço, Paulo Murilo.

  7. Henrique Lima 03.09.2009

    Professor Paulo, hoje quem comenta na BandSports será o Professor Adriano Geraldes, ex tecnico do Univates/Bira!

    Hoje não perco a transmissão lá, porque deveremos ter comentários diferentes do pessoal “de sempre” né ?

    Abraçao !

  8. Basquete Brasil 03.09.2009

    Obrigado pela informação Henrique, estarei lá prestigiando a transmissão da Band. Um abraço, Paulo Murilo.

  9. Fernando 11.09.2009

    Prof. Paulo, mais uma vez um abraço, na convocação anterior do sub 15, foram chamados 45 garotos divididos em dois grupos,estes foram avaliados em seus fundamentos, preparo fisico, e outros quesitos importantes para o trabalho em grupo (conceitos tecnicos de jogo coletivo); estes garotos receberam treinamento e orientação para melhor se prepararem tecnica, taticamente e ate fisicamente.
    Destes 18 foram reconvocados, e esta sendo dada a oportunidade a mais seis garotos não testados anteriormente. Conheço alguns garotos que estão indo, e acredito ser um grupo muito interessante no aspecto fisico (com muitos garotos altos e fortes) e de estilos diferentes, o que trara a comissão tecnica a chance de montar uma equipe cheia de alternativas.
    Logico, sou torcedor, e espero que aconteça o melhor, e estes garotos e comissão tecnica marquem uma mudança.

  10. Basquete Brasil 12.09.2009

    Prezado Fernando, o teor do artigo publicado se concentra no aspecto formativo e fundamental, numa faixa etária onde conceitos de equipe, de táticas e sistemas têm de ceder lugar à formação pura e simples dos jovens, numa idade onde o aprendizado dos fundamentos os tornarão aptos, mais adiante, a executarem tais conceitos.Simples assim, mas tão minimizados. Um abraço, Paulo Murilo.

  11. […] -FORMAÇÃO X FORMATAÇÃO…(2/9/09) […]

  12. silvio adriano 23.02.2010

    ae quero muito ter uma oportunidae de mostrar meu talento tenho 16 anos e tenho 1,96 de altura

  13. Basquete Brasil 23.02.2010

    Prezado Silvio, infelizmente não sei de onde você é originário, pois o Flamengo no Rio de Janeiro ainda tem vagas para testar e receber talentos como você. Comunique-se com o clube e tente sua aprovação. Particularmrnte não gosto e nem aprovo esse tipo de escolha, hoje conhecida como “peneira”, mas é a realidade desses novos tempos.Desculpe se não posso ajudá-lo mais efetivamente. Um abraço,
    Paulo Murilo.

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