CORRENDO ATRÁS…

“Meto a bola na frente e corro atrás, o mais veloz que puder…”

Tivemos em nosso país ótimos jogadores e jogadoras que agiam dessa maneira autêntica e descompromissada com certos princípios fundamentais do jogo, onde a destreza em alta velocidade fazia a diferença, principalmente nas finalizações de contra ataques. Mas eram poucos, e que não se notabilizavam pelo domínio pleno dos fundamentos, já que se distanciavam pela velocidade, e não pela habilidade no confronto direto com seus marcadores.

No entanto, não sei por que cargas d’água esse comportamento foi se espraiando por entre os jogadores, cada vez mais velocistas e menos dribladores e fintadores, tornando-os altamente ineficientes e apáticos quando defrontados em ataques coletivos, vulgarmente denominados de 5 x 5. Na recém finda Copa América feminina, pudemos constatar em nossa seleção um grande número de jogadoras com essa característica, principalmente as alas, e as enormes dificuldades que sentiam quando participantes de jogadas coletivas, esquematizadas ou não.

Quando trabalhava intensamente na formação de base, e olha que foram mais de 40 anos, sempre priorizei o máximo contato com a bola, como num namoro lento e prolongado, onde o conhecimento de seus comportamentos físicos e balísticos se faziam presentes no dia a dia dos treinamentos, orientando o intimismo entre os jogadores e seu instrumento de trabalho, paciente e corretivamente, onde mais importante do que colocar a bola à frente e correr atrás era a execução dos cortes, dribles, fintas e mudanças de direção, lentos à princípio, e aumentando a velocidade na medida dos progressos quanto ao controle consciente da mágica e volúvel esfera laranja.

Mas confesso que sempre foi um trabalho penoso, demorado e detalhista, tanto para mim, como para os jogadores, exigidos ao máximo na fundamentação básica do jogo, mas premiados com enormes progressos técnicos, tornando-os aptos ao domínio tático, pós requisito daquele, e que se inviabilizaria se ao contrário, exatamente como vemos ocorrer hoje em dia, graças ao pragmatismo dos estrategistas, para os quais meter a bola na frente e correr atrás em tudo veio e vem facilitando o descompromisso com o efetivo ensino e desenvolvimento dos fundamentos.

Logo, não é tão difícil assim entender e compreender essa correria endêmica que vem caracterizando nosso jogo, e a conseqüente dificuldade nos ataques armados e de cunho coletivista, onde as habilidades em tudo e por tudo deveriam superar a velocidade pura e simples, produto do descuido, alheamento e despreparo quase absoluto daqueles que deveriam estudar, pesquisar, ensinar e prover os jovens iniciantes no conhecimento, prática e aferição constantes dos fundamentos, base inalienável do grande jogo.

Mas convenhamos, é bem mais fácil e prático incentivar “meter a bola na frente e correr atrás”, que se não surtir efeito será perfeitamente substituído pelas pranchetas mágicas e suas fantásticas soluções, noves fora os dribles, os passes, as fintas, os bloqueios, a defesa contrária, etc, etc…. Mas talvez queiramos demais…

Amém.



2 comentários

  1. David Barros 04.10.2009

    Byra Bello vive dizendo da preciptação do ataque dos Brasileiros, seja na Seleção e nos clubes no caso do 5×5 quando não é uma situação de contra ataque, no 5×5 tem que se trabalhar mais a bola, bate sistematicamente nessa tecla Byra Bello.

  2. Basquete Brasil 04.10.2009

    O Prof.Ubirajara Bello foi um armador por longos anos,e claro, como organizador de jogo e estudioso de sistemas não poderia deixar de priorizar os ataques organizados e coletivistas.Logo, seu posicionamento é coerente com seus princípios e opiniões.
    Um abraço prezado David. Paulo Murilo.

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