MINHA CASA…(FINAL)

Queridos amigos, sentado estava apreciando talvez o último por de sol de minha varanda, na companhia do filho João David, quando dois varredores de rua, uniformizados de uma forma que nunca vi aqui no bairro, se puseram a ceifar, cortar, limpar e varrer somente a frente de minha casa, como numa maquiagem que custei a perceber, preparando a cena para as visitas dos interessados no leilão que se avizinha.
Espulsei-os, num misto de perplexidade e revolta, pois se não bastasse o meu estado de espírito arrasado e fragilizado, ainda vêm tripudiar friamente por cima de minha perda.
Olha caros amigos, a sensação é amarga e dolorosa, e não sei se vou resistir quando tudo isto terminar.
E o João, com sua costumeira objetividade me coloca perante a realidade, de que acordos jamais virão ante um preparo esmerado do cenário de terça feira. Tenho de reconhecer suas razões, bem acima de minhas tênues esperanças e crença que algo de positivo possa acontecer.
Minha gata linda de rua, que só aparece nos fins de tarde, e que somente a mim  ela se deixa aproximar e tocar, vem ronronar suas despedidas, depois de mais de dez anos de pequenos momentos de ternura, assim como meu enorme e manso Boris, olha-me profundamente como perguntando- E todos nós, para onde vamos?
E pela primeira vez em minha vida não soube responder, pois cortar raizes e referenciais são experiências por que nunca passei, e não sei se saberei, apesar de toda a minha educação e vivência, enfrentar de fato, e mais ainda pelo peso dos anos.
Me preocupam os filhos, dois no exterior trabalhando e estudando, autonomamente, e outro aqui abrindo mão de seu sonho de se especializar em sua amada música para ao meu lado ficar.
Não creio ter o direito de travar suas vidas, logo eu que a tenho vivido intensa e honestamente, mas o sobressalto de que eu possa fraquejar perante eles é assustador.
Tenho de ter coragem, esquecer que estou perdendo tudo de material que alcancei nestes mais de 50 anos de trabalho brutal e exaustivo, e que, de alguma forma terei de recomeçar, para continuar a viver com dignidade e orgulho.
Aqueles que ora se apossam de minha casa, numa articulação criminosa e insensível, por ser injusta e cruel, o fazem como meio de vida, especuladores que são, onde advogados, juízes, desembargadores e políticos, se misturam numa almagama podre e de interesses escusos, criminosos que são. A eles meu desprezo e profunda indignação, e só sinto que continuem, sem freios aviltando uma sociedade que merecia representantes de melhor estirpe, de melhor caráter.
Os nomes? Não importam, bastando acessar, se interessados houverem numa história de horror e iniquidade, o TJ/RJ Processo 1984.203.000075-8, e todos os seus sucedâneos apensados,  para verem e aquilatarem como um homem de bem é destruído no cerne de sua existência, covarde e pusilanimemente.
Mas ainda me restam resquícios de agradecimento a muitos que me ajudaram, me incentivaram e oraram para que eu me sentisse melhor e mais reconfortado. A todos minha eterna gratidão.
Um dia, quem sabe, tornaremos a nos encontrar, e talvez sorriremos e recordaremos dias felizes que se foram e, quem sabe, tornarão a voltar.
Mas agora preciso me voltar à solidão do meu canto preferido, implorando ser capaz de chorar, para não implodir de dor e saudades.
Amém.P1010185-1



7 comentários

  1. Francisco de Lima Ribeiro 01.11.2009

    Belo por do sol, a nossa vida é sempre feita de alegrias e tristezas, más sempre buscamos dentro do nosso íntimo o caminho da Felicidade.

  2. Basquete Brasil 01.11.2009

    Sim Francisco, é um belo por de sol, emoldurando um tenue fiapo de esperança em dias melhores. Vou em frente. Um abração e obrigado.
    Paulo.

  3. Reny Simão 02.11.2009

    É isso mesmo professor, gostei deste seu comentário,

  4. Reny Simão 02.11.2009

    É isso mesmo, professor,’Dias melhores virão’. Tenho acompanhado o seu problema, de longe e sem palavras, mas com ansiedade e muita torcida para um desfecho feliz.
    Não nos conhecemos pessoalmente, mas a leitura de suas crônicas foi suficiente para eu respeitá-lo e admirá-lo como pessoa, talvez até pela nossa forma semelhante de pensar em quase tudo que o senhor nos apresenta. Dentro de minhas limitações (sou engenheiro mecânico e professor aposentado) coloco-me à disposição do prezado.

    Um grande abraço e boa sorte

  5. Basquete Brasil 02.11.2009

    Prezado Reny, pelos deuses, Sr.não, pois o considero um colega professor a quem respeito muito.Seus comentários sempre lúcidos e precisos valorizaram em muito os artigos publicados, concordando ou discordando, onde a coerência sempre se fez presente.
    Sem dúvida passo por um momento muito ruim, pois injusto e absurdo, mas tenho contado com o apoio de muitos leitores, com a ajuda de amigos que vieram em meu socorro, e por pessoas, como você, que pela proximidade acadêmica bem compreende as extensões de uma vida.
    Se for merecedor sairei dessa borrasca, com certeza bem machucado e ferido, mas pronto a recomeçar, com mais lentidão pelos já sentidos anos vividos, mas embasado solidamente pela intensa experiência de uma vida voltada ao ensino, à educação, e à cultura de nosso povo.
    Obrigado de coração pelo seu apoio, e não vejo a hora de nos conhecermos pessoalmente. Teremos muito assunto a desfiar. Um abraço, Paulo.

  6. Do_sul 04.11.2009

    Que injusta essa situação. Enquanto o senhor perde o sua casa conquistada com o suor do trabalho honesto, Sergios nayas, políticos e afins nesse nosso país Bebem champagne. Que falta de bom senso isso tudo. Falta de respeito pelo sua idade até mesmo eu diria professor. Eu se fosse o professor viria a público, recorreria a mídia para expor a sua situação. Isso não é possível… procure ajuda com algum amigo da mídia professor, algum veículo de denúncia polêmico.

    um abraço e Fique com Deus.

  7. Basquete Brasil 04.11.2009

    Ontem Prezado DoSul, foi um dia que jamais esquecerei enquanto viver, quando experimentei a pior sensação que jamais senti. Ver de pé, um leiloeiro apregoar sua casa, a um preço vil, de uma forma injusta e criminosa,é apavorante. Não houve lances, pois a técnica mafiosa é aguardar a segunda praça para o arremate pela metade do preço.
    Mantive o périplo pelos bancos, atrás de capital a juros não estorsivos, e continuarei amanhã e depois, pois pelo menos me deram a chance de um acordo, pressionados que estão por um Recurso Especial, onde o desembargador exige respostas do juiz e da parte autora que simplesmente não podem responder, mas que infelizmente não tem poder de paralizar o leilão de pronto. Como o prazo dado pelo desembargador termina dia 15, e a segunda praça é no dia 19, a parte autora propos o dia 10 para um acordo, que se aceito extinguirá o processo, evitando uma situação insustentável perante um orgão superior por parte daqueles que me processam.
    Tenho de levantar uma quantia aburdamente alta, mas tenho de fazê-lo, já que é a última chance de não perder a casa, mesmo sabendo que a mafia vai escapar da autuação, e ainda levando meu dinheiro.
    Continuo lutando pelo que me é legitimo, e dentro de regras unilaterais e covardes. Tenho de correr de encontro a essa pequena brecha para salvar o único patrimonio que possuo, e vou morrer, se preciso, tentando.
    Obrigado pelo seu apoio. Reze por mim. Paulo.

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