O CARMA…

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Nestes últimos três dias me dispus a assistir o maior numero de jogos de basquete que me fosse possível assistir, já que a grade das emissoras a cabo ( privilégio negado à maioria da população jovem…) estava prodiga em eventos, desde o Eurobasket, passando pela NBA, e transmitindo as semi finais do masculino paulista e as semi finais do nacional feminino, e ainda de quebra, um confronto entre Brasil e Estados Unidos no street basket.

Testemunhei bons momentos e uma enxurrada de mediocridades, onde nem os jogos internacionais escaparam, a começar pelo street, com transmissão de luxo em flagrante detrimento ao basquetebol de verdade, sempre descartado pela pouca penetração e conseqüente desinteresse comercial, assim dizem as emissoras.

Concentrei então minha atenção aos jogos nacionais, das semi finais masculinas e femininas, não importando qual a denominação dos campeonatos, já que todas as equipes envolvidas eram paulistas.

Ao final do périplo basquetebolistico, constatei pesaroso, e pela enésima vez o quanto de precioso tempo perdi assistindo um mesmo filme sessão após sessão, com uma única exceção, a equipe de Franca.

E porque Franca se destacou no cenário monocórdio e desalentador de que fui espectador? Não venham dizer que pelo fato de todas as equipes agora atuarem na dupla armação, tira de mim uma argumentação arduamente defendida nos últimos cinco anos de blog, e que comentarista nenhum menciona para esclarecimento público, e quando o faz afirma na maior naturalidade-“ Agora estão jogando com dois armadores e sem nenhum pivô de oficio, abrindo o jogo, que desta forma se torna mais rápido e dinâmico, mas carente de rebotes”. E só.

De forma alguma me desejo mencionado, e sim a mudança substancial que a dupla armação vai impondo ao nosso modo de jogar, que deveria ser comentado, explicado e dissecado pelos profissionais que transmitem, comentam e escrevem sobre o grande jogo, mas não o fazem, e sei bem porque.

Porque, como num carma coletivo e profundamente enraizado continuamos a atuar no sistema único de jogo, o mesmo que faz parte do dia a dia, não, ano a ano de nossos jogadores, técnicos, narradores e comentaristas, o prét a porter importado e disseminado por todo o país, e que mesmo com a utilização da dupla armação ainda se impõe absoluto, e claro, mais técnico e objetivo com a inclusão da técnica aprimorada trazida pela mesma, através jogadores especialistas nos fundamentos básicos do drible, da finta e do passe.

Mas não vemos uma evolução técnico tática advinda da dupla armação, onde o perímetro externo deveria pertencer de fato e direito aos armadores, assim como o interno aos três homens altos das equipes, nas quais todos estariam em constantes movimentações e deslocamentos, acumulando trabalho intenso e grandes preocupações defensivas, numa dinâmica imparável, pois ainda vemos nossos melhores armadores perdidos ao lado da linha final após iniciar uma jogada coreográfica no centro da quadra. Dava pena constatar o desperdício de um talento feminino como a Natália, perdida no fundo do garrafão tentando, com seus 1,62 m bloqueios em jogadoras de 1,90m!

E não só ela, mais a maioria de nossos armadores, dentro do sistema único de jogo, irem para o fundo da quadra se esconderem de suas reais funções, quando não se deslocam loucamente em longas corridas pelas “backdoors” que lhe são impostas e cobradas, destinando a armação muitas vezes nas mãos de um…pivô!

Mas, falei antes de uma exceção, a equipe de Franca, a mesma que costuma atuar sem pivô em muitos momentos de suas partidas, priorizando a velocidade e a dinâmica envolvente de jogadores habilidosos e realmente interessados em progredir tecnicamente, a começar por um veterano, Rogério, que mesmo aos 37 anos nos brinda com sua inteligência e atualização técnico tática, motivando seus companheiros mais jovens, todos, liderados por um técnico que se dispuser de um pouco mais da coragem  que já  possui, encontrará caminhos que potencializarão a dupla armação da forma que deve ser utilizada, e não como remendo de um sistema de jogo anacrônico e defasado, e por isso mesmo previsível e de cartas mais do que marcadas.

Nas próximas  semanas publicarei dois artigos com vídeos sobre a dupla armação, com a mesma equipe que treinei e dirigi, e aqui mostrei num artigo bastante discutido, onde a mesma atingiu maturidade, inclusive em confronto internacional. E o farei, não como modelo a ser seguido, e sim como pólo desencadeador de soluções possíveis dentro da dupla armação, sugerindo estudos e pesquisas sobre as reais vantagens na utilização de um modo de atuar referendado pelas maiores potencias da modalidade no mundo, as quais pertencemos num passado não muito distante, e que nos afastamos em função de uma subserviência cultural e econômica, com danos mais do que comprovados.

Finalmente, que a novel escola de treinadores inclua em seu currículo o estudo profundo e pormenorizado, não só da dupla armação, como as situações e os motivos que a viabilizaram através muitas décadas, assim como todos os demais sistemas de jogo, e não se perpetue na teimosia absurda e estúpida de se fixar no sistema único de jogo que pretende padronizar e formatar, em conformidade à política desenvolvida pelas clinicas da CBB por todo o país, numa ação lamentável e comprometedora. Creio firmemente que nossos jovens técnicos mereçam um ensino amplo e generalista, para que eles mesmos desenvolvam suas aptidões e sistemas, enriquecendo nossa cultura esportiva, democrática e de livre pensar, que é o motor da criatividade e do progresso.

Torço honestamente que isto possa ser possível e realizável.

Amém.



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