ONDE O GALO CANTA…

Jogos pela Liga das Américas, NBB e final do paulista masculino, onde a presença da dupla, e às vezes tripla armação já se tornou lugar comum, assim como o domínio dos grandes e pesados pivôs decresce em importância na mesma proporção, dando lugar a uma forma de jogar mais dinâmica e veloz, e com um substancial reforço das defesas, graças ao incremento técnico dos fundamentos.

Pena que o sistema de jogo continue praticamente o mesmo, onde a estrutura sedimentada nos últimos 20 anos se mantêm inalterada, tanto por parte dos jogadores, como, e principalmente, por parte dos técnicos, tanto os veteranos, como surpreendentemente os mais novos. E o pior, com a plena aceitação de ambos os seguimentos, já que princípios arraigados desde a formação, que continuam a serem disseminados pelas clinicas técnicas (?) da CBB, a serem continuadas pela nova administração que veio para “mudar” conceitos superados.

E de tão sedimentado está o sistema único entre nós, com suas codificações, jogadas, sinais e movimentações padronizadas, que de pronto, e profundamente lamentável, dois aspectos devem ser apontados como responsáveis pela não evolução técnico tática que poderia ser adotada  com a implementação estudada e inteligente da dupla armação, a saber:

– A participação coercitiva dos técnicos em sua maioria, no controle de fora da quadra em praticamente todos os movimentos de seus jogadores, durante toda a partida, desde a formação de base, até as divisões superiores, manietando a criatividade e a espontaneidade, fatores fundamentais para a formação de bons praticantes e melhores equipes, que ao prescindirem da leitura direta do jogo, já que monitorados “all the time”, perdem a maior e mais importante qualificação de um jogador, a livre iniciativa pautada pelo respeito e pleno conhecimento de seus companheiros e de seus adversários, base indiscutível das grandes equipes.

O matraquear sistemático, cansativo e irritante de instruções, orientações, exigências, criticas e sinais, muitos sinais, embota o raciocínio lógico e sensato da maioria dos jogadores em momentos de tomadas de decisões, a grande escola que deve ser cursada ante os  embates dentro da quadra, e não pretensamente decodificadas de fora para dentro da mesma, e que tanta falta nos fazem quando em seleções nacionais. Tal comportamento de um técnico o faz, ou pensa fazer do mesmo o centro decisório de todas as ações técnico táticas de um jogo, ações estas somente possíveis pela existência de um único sistema de jogo, de similitudes universais, tornando o ato de jogar numa sequência de alta previsibilidade, antítese do ato criativo, da ação inesperada e decisiva. Por esta razão a dupla armação, por estar sendo adaptada ao sistema único, e não inovando-o, não evolui para sistemas inéditos e de maior impacto.

– Claro que novas concepções técnico táticas baseadas na dupla armação e na utilização de três homens altos interagindo entre si dentro do perímetro e com os armadores fora do mesmo, exigiria uma mudança radical nos conceitos estratificados hoje existentes, inclusive nos comportamentos e liderança da maioria quase absoluta de nossos técnicos, os quais poderiam ser requalificados através uma escola de treinadores aberta às novas tecnologias e conceitos técnicos, através estudo sério e pesquisas de campo, fatores inexeqüíveis pela continuidade do que está estabelecido sólida e ciclópicamente entre nós, com manutenção mais do que garantida pela composição  organizativa da escola de treinadores, cujo nascedouro unilateral testemunhamos com pesar de técnico e educador.

Portanto, a se manter o atual e imutável status técnico tático, estupidamente aceito e defendido pela maioria dos técnicos, entorpecidos pela mesmice garantidora de suas posições e empregos, a dupla armação encerrará seu ciclo evolutivo como panacéia de ocasião na melhora técnica dos fundamentos das equipes, e não como uma evolução desencadeadora de novos e formidáveis sistemas de jogo, que aguardam um mínimo de coragem para serem implementados e desenvolvidos, principalmente nas divisões de base. Ouvir o galo cantar é uma coisa, localizar o galinheiro é outra…

Necessitamos com urgência voltar a formar jogadores que saibam jogar e pensar o grande jogo, e não continuarem a ser tutelados e manipulados pelas falsas estrelas ao redor das quadras.

Amém.



8 comentários

  1. Basquete no Corredor Esportivo do Moneró 25.01.2010

    Irrita mesmo, os técnicos falando o tempo todo, a ESPN Brasil botou um microfone e pegou tudo na final do Paulista, mas os jogadores tem que se pegar no velho ditado

    o que entra por um ouvido sai pelo outro.

  2. Basquete Brasil 25.01.2010

    Engraçado prezado editor(gostaria imenso de tratá-lo pelo nome), jamais vemos microfones dirigidos a técnicos na NCAA, na NBA, no Eurobasket, muito menos os de lapela. Fico imaginando a possibilidade dos técnicos terem som de retorno aos comentaristas e narradores da midia, para respondê-los de imediato. Criticas de mão única antes de tudo são covardes, pois unilaterais. Por isso não aceito comentários apócrifos neste blog em hipótese alguma. Debates entre anônimos são antidemocráticos e profundamente covardes. Quanto ao fato dos jogadores pouco caso fazerem das instruções de fora das quadras, soa falso, pois são cúmplices da mesmice técnico tática que nivela e estabelece suas ações com a de seus técnicos.Precisamos restabelecer a liberdade de pensamento e ações de nossos jogadores, lutando contra padronizações e formatações criminosas e coercitivas. Quem sabe um dia alcancemos tão ansiada evolução. Um abraço, Paulo Murilo.

  3. Basquete no Corredor Esportivo do Moneró 26.01.2010

    Em clubes onde a estrela maior é o técnico, pode até sair se bem a nível nacional mas internacionalmente pode ser que não,

    num país onde o basquete e os fundamentos( a técnica ) só se aprende nas escolinhas é sinal de ser um esporte quase elitista, pode até sair se bem a nível nacional mas internacionalmente pode ser que não,

    a massificação do futebol no Brasil e do basquete na Sérvia é um exemplo, quando estes já chegam aos clubes não precisam ficar aprendendo como manusear a bola, eles já fazem coisas com ela que nem escolinha ensina,

    mais o basquete brasileiro a estrela maior é o técnico, ele não é parte de uma constelação e o basquete é praticado pela elite, esta quando estoura sua idade na sua escolina e não sendo aproveitado no adulto pois não chegou ali pelo seu talento mais pela escasses deles, este quando vai jogar numa raríssima quadra pública só de basquete e fica do lá de um que ainda não sabe jogar direito fica de cara feia pois se acha o tal, mais ele não é o dono da quadra como quase era em seu clube de panelinhas, se quiser ele que se mude, não o que está aprendendo deixamos isso claro em aonde jogamos,

    o basquete no brasil está todo errado, jogadores, treinadores, dirigentes, comentaristas e os blogueiros, a maioria formaram os ingredientes da mesma panela da comida que queimou durantes os últimos anos.

    http://wikimapia.org/1407462/pt/Quadra-de-Basquete-do-Corredor-Esportivo-do-Moner%C3%B3

    http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=11368320823488839763

    http://wikimapia.org/1407462/pt/Quadra-de-Basquete-do-Corredor-Esportivo-do-Moner%C3%B3

  4. Basquete Brasil 26.01.2010

    Razões e contra razões, num bom debate prejudicado pelo anonimato inexplicável. Não darei mais seguimento a ele, uma pena.
    Paulo Murilo.

  5. walter carvalho 30.01.2010

    Ola Professor,

    Infelizmente tudo esta relacionado a nossa cultura e ao nivel de educacao e profissionalismo de nossos tecnicos. Ainda me recordo que nos EUA – na Universidade do Alabama – onde trabalhei como assistente tecnico por 7 anos – nos eramos instruidos a nunca utilizar palavroes durante os treinamentos, jogos e reunioes com jogadores -por razoes obvias.

    Em relacao a entrevistas – nos (jogadores e tecnicos) tinhamos horarios marcados e pre-determinados para “press-conference” e nunca durante o jogo.

    No Brasil O comportamento e a conduta nao-profissional da maioria dos tecnicos brasileiros que usam palavroes para se comunicarem com os jogadores e para corrigir erros, ou exigir obediencia tatica durante a competiticao nunca e questionada.

    Fico pensando se em momentos criticos, estes tecnicos nao tem o comportamento profissional e a calma necessaria para dirigir e lidar com as frustracoes em momentos criticos da competicao, como e que estes esperam que os seus comandados venham reagir com calma e precisao durante momentos criticos e decisivos da competicao?

    Em relacao a busca de tecnicos estrangeiros – porque esta nao e feita para tecnicos Brasileiros militando no exterior? Sera que nos nao temos nada a somar???

    Ate breve.

    Walter

  6. Basquete Brasil 30.01.2010

    Walter, somos egressos de um outro tempo, onde respeito e educação eram levados mais a sério. Hoje, fast food, globalização e outros penduricalhos ditam as regras comportamentais e sociais.Tenho dois de meus filhos vivendo e trabalhando no exterior, e o último embarca amanhã para a Viena. Sobro eu em terrae brasillis, com meus padrões e comportamentos fora do tempo.Mas não me arrependo de nada nesta vida, a qual ainda teimo em criticar e me indignar.Técnicos como você não podem competir com o personagem que retratei no artigo de hoje, DEBUTANDO…, pois diferenciados em absolutamente tudo, a começar pelo conhecimento do grande jogo. Mas quem sabe, dia virá em que a razão e o bom senso prevalecerão, pena que provavelmente não verei tal transformação. Vida que segue Walter. Um abração, Paulo.

  7. David Eduardo Pelosini 02.02.2010

    Dois estudiosos do basquete falando sobre postura profissional com maestria. Fico contente quando ouço comentários como esse, pois como um jovem técnico me sinto um peixe fora d”água, literalmente.
    EDUCAÇÃO senhores~. Como um Educador sem educação pode dirigir, ensinar, transmitir algo sóbrio e inteligente a alguém ou um grupo de pessoas como um time de Basquete?
    Sem dúvidas o palavrão é muito feio na boca de treinadores alucinados de pré-mini a Adulto. Que exemplo pode-se dar desta forma?
    O Basquete é um esporte dinâmico e eletrizante que vence quem sabe o que fazer nos momentos cruciais da partida, e exatamente nesses momentos parece que os lunaticos aparecem a tona!!!
    Que ironia, obrigado pelos comentários, educação e postura são, sim fundamentais para um técnico. E desculpe por não escrever tão bem como vcs, mas chegarei lá!!!

  8. Basquete Brasil 03.02.2010

    E vai chegar com certeza prezado David. Sim, somos velhos técnicos discutindo e trocando idéias sobre nossa paixão em comum, o basquete e todas as suas implicações técnico táticas e educacionais.Faz com que nos sintamos bem e em paz com nossas consciências. Um abraço.
    Paulo Murilo.

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