A MESMICE ENDÊMICA…

Inicio de jogo, e em quatro ataques sucessivos da equipe de Brasília algo me grudou na tela, pois ali se esboçava um autêntico sistema de dois armadores e três pivôs móveis, com movimentação interna de grande intensidade, permitindo aos armadores uma seleção de passes que culminavam em arremessos de curta e média distâncias eficientes e precisos, todos executados pelos pivôs de ofício, Lucas Tischer e Cipriano, e os de ocasião, Guilherme e Artur. Não atoa foi o Alex o recordista de assistências na rodada.

E tão rápido como foi estabelecida essa forma de atacar, foi a mudança para o sistema tradicional, que mesmo assim continuou a servir o Tischer com bolas bem aproveitadas por ele.

E mais rápida ainda o abandono das jogadas armadas, substituídas pelos contra ataques e o esquecimento do jogo com os pivôs até o fim da partida, numa resolução tática que cobrou um alto preço a toda a equipe e espelhado no resultado final negativo, frustrando minha expectativa de ver algo de novo solidificado em nossas quadras, como essa fugaz volta ao jogo interior.

Do outro lado uma equipe francana decididamente atuando sob dupla armação, por todo o tempo, priorizando a velocidade e o jogo de penetrações e arremessos de três pontos, que nem mesmo a enxurrada de bolas de três do Nezinho conseguiu reverter um resultado, até certo ponto justo, ante tais e enigmáticas opções candangas.

E no tocante ao Nezinho, verdadeiramente absurda sua liberdade de ações em arremessos longos, com os pés praticamente no solo, e com uma angulação de tiro baixa e tensa, facilmente bloqueável, claro, se marcado de perto, fator este, que se bem aplicado, facilitaria  uma vitoria mais elástica, sem necessidade de um tempo extra.

Enfim, se a equipe brasiliense somente se utilizou de um sistema de ataque que a derrotou no NBB2, mesmo sendo a campeã em seu final, como um teste prático para futura utilização, provou a eficiência do mesmo, e a plausibilidade de sua utilização, mesmo por parte de jogadores conhecidos por suas predominâncias individuais e pouco afeitos ao coletivo puro e simples. Com três pivôs experientes, como Tischer,  Alirio, e Cipriano, além de Guilherme e ocasionalmente Alex e Artur, estarão  perfeitamente equipados para mudar sua estrutura tática, que se situaria num patamar mais eficiente se pudessem contar com mais um armador de qualidade em sua formação definitiva.

Para um inicio de liga, um jogo entre essas duas equipes que tênuamente ensaiam mudanças importantes em suas formas de jogar, contrasta com a mais absoluta mesmice das demais, em suas frenéticas buscas de melhores jogadores nas posições 1, 2, 3, 4 e 5, como exige o figurino prét a porter implantado entre nós a longos e penosos anos, além, mais do que claro, da continuidade da hemorragia dos arremessos de três, mesmo com o acréscimo de 50 cm na distância para sua execução, o que aumentou na mesma proporção a preguiça dos defensores em ir lá para evitá-los, numa estúpida negativa em trocá-los pelos de dois, somada a omissão de técnicos perante tal escolha de seus comandados, e o aberto incentivo da mídia televisiva no apoio aos mesmos.

Infelizmente, as mudanças técnico táticas ainda demorarão muito a acontecer em nosso basquete, refém de um corporativismo absolutamente seguro de seu poder impositivo e coercitivo, principalmente contra toda tentativa de radicais inovações, que possam expor sua fragilidade formativa e executiva. Essa é a lei.

Amém.



2 comentários

  1. Davi Silva 18.11.2010

    Parabéns pelo blog professor, muito boa análise, ou o basquete brasileiro muda ou não vai para frente,

    Grande Abraço.

    Em Niterói tá rolando uma copa de basquetebol de praia,

    http://b3street.blogspot.com/

  2. Basquete Brasil 19.11.2010

    E não vai mesmo dessa forma, prezado Davi. Mudanças são possiveis,urgentes até, mas o corporativismo dos que decidem se nega trilhar novos caminhos. A mesmice garante empregos e permanência no mercado para todos os envolvidos no processo, e ai daqueles que tentarem subverter a ordem estabelecida.
    Essa é a nossa triste realidade. Sairemos dela? Sinceramente, duvido.
    Um abraço, Paulo Murilo.

Deixe seu comentário