(IN)DECISÕES & CONTESTAÇÕES…

Depois de uma sexta repleta de basquete, na Europa, aqui no NBB, e um quarto final de NBA, fui dormir com a vista e a mente mais cansadas que o corpo, mas nem um pouco surpreso, ou mesmo confiante de que algo venha a ser mudado, já que os modelos vindos de fora se coadunam com o que é macaqueado pela maioria esmagadora de nossas equipes, de nossos técnicos, com raríssimas exceções.

Uma delas, a equipe de Franca, que mesmo sendo para lá de veterana, e de teimosamente não se basear exclusivamente em “pivô referência”, mas atuando com dois mais rápidos, e que jogam de frente para a cesta, e que se utiliza permanentemente da dupla armação, todos em permanente movimento, com uma distribuição de pontos homogênea e eficaz, pode mesmo não vencer a competição, mas é de longe aquela equipe que melhor se comporta, exatamente como, uma equipe. Se abrir mão das dobras defensivas nos momentos críticos do jogo, e com isso manter anteposição permanente aos arremessos de três de seus adversários, contestando-os firmemente, obrigando-os às penetrações na busca dos dois pontos, terá fortes chances no final.

E foi a ausência de contestação aos 6/15 arremessos de três do Marcelo(32 pontos no jogo), que quase roubaram sua justa vitória, contra uma equipe que teve em seu melhor pontuador 46,3% dos pontos conseguidos, provando no final das contas, que a homogeneidade de uma equipe é fator mais convincente que uma mantida pela força inconteste de um só jogador.

Mas outro elucidativo fator numérico salta aos olhos, as quantidades de lances livres tentados por ambas as equipes, 25 para o Flamengo (dos quais perdeu 10), e apenas seis para Franca (com um não convertido), mostrando quão falho foi o setor defensivo da equipe carioca, assaltada que foi por 19/40 finalizações de 2 , e 10/25 de 3 ( um exagero desnecessário), tendo a seu favor 12/31 de 2, e 10/28 de 3.

Enfim, venceu a equipe mais equalizada em todos os seus setores, que a manter tal comportamento poderá fechar a série lá mesmo em Franca, a não ser que ocorra uma mudança importante na estratégia de jogo do Flamengo, a começar pela mais forte ainda utilização de seus pivôs e de seu inteligente americano, com seus DPJ’s  rápidos e altamente eficientes.

Em Brasília, duas outras dominâncias, e ambas pela mais completa ausência de contestação aos arremessos de três, como se os mesmos compusessem um duelo para ver quem “termina na frente”, ainda mais nas mãos de dois bons arremessadores, altos e ousados, O Guilherme(36 pontos, com 3/7 de 3, 10/15 de 2 e 7/7 de LL), e o Marcos(32 pontos, com 4/6 de 3, 5/6 de 2, e 10/10 de LL), num jogo com 4 pontos de vantagem para os candangos, e que apresentou ao final um número que está se tornando corriqueiro em nosso basquete, 16/48 nas tentativas de 3(37,2%).

Agora, imaginem esse número se trocado por tentativas de dois pontos, cujos acertos são em media, de 50% ou mais, para avaliarmos os nefastos resultados dessa sangria que impuseram ao nosso basquete, que para alguns comentaristas -“não podem existir equipes vencedoras sem chutes de três”. Contesto, e já provei que estão equivocados, por se tratar simplesmente de um exercício aritmético, de contar nos dedos, quando arremessar de perto é bem mais eficiente que de longe, ou do meio da rua ( vide o concurso nos intervalos dos jogos, inoculando nos jovens essa distorção do grande jogo…)., a não ser como uma ação complementar, e nas mãos de especialistas, e não como comportamento prioritário de jogo.

Saindo um pouco dessas válidas contestações, que tal jogadores que na bola decisiva erram nos fundamentos de passe, drible, colocação, e em muitos casos negligenciando instruções recebidas, não obtendo qualquer comentário de analistas contumazes em enaltecer os “gatilhaços de três, os “fantásticos tocos” e as “enterradas monumentais”, como exemplos a serem seguidos pelos jovens iniciantes, e que simplesmente esquecem, ou não sabem, ou mesmo se negam a reconhecer que- “se cercado por dois ou mais jogadores no ato de driblar (no caso eram três), basta passar a bola para um dos dois companheiros soltos, e vencer a partida”. Tão simples, e tão ignorado, e olha que era um americano…

Amém.

PS- Fotos LNB

AS DECISÕES DO ARGENTINO…

E o Flamengo aos poucos vai mudando sua forma de jogar, numa hora decisiva do campeonato, onde erros contumazes cobram altos juros, e sem alternativas de correção. Num mata –mata  feroz como os que estão acontecendo, vence aqueles que conseguem diminuir seus erros mais notórios de ataque, já que defensivamente todas as equipes se constituem num erro só, nivelando por baixo tão importante e fundamental elemento do jogo.

Deixando um pouco de lado a sangria dos arremessos de três, e investindo nos de média e curta distâncias, a equipe da Gávea se impôs ao Bauru, apresentando um jogo interior mais intenso, que atingiu a boa marca de 25/45 (55%) nos dois pontos, 7/17 ( 41%) nos três e 11/15 (73%) nos Lances livres, contra os 19/30 (63%) de dois, 10/26 (38.4%) de três e 11/19 (57.8%) nos Lance livres do Bauru, que agindo ao inverso do Flamengo, viu suas chances de continuar na disputa se perder sem contestações. A fórmula de jogar de 2 em 2 se saiu muito melhor do que o tiroteio indiscriminado de três, pois diminuiu substancialmente o número de bolas perdidas pela inquestionável imprecisão dos longos arremessos, se comparados pelos de curta e medias distâncias.

Mas nada desse processo de mudança seria factível, se alguns jogadores chaves não dessem sua cota de colaboração necessária ao sucesso de tais mudanças, principalmente aqueles que se estabeleceram como paradigmas dos longos arremessos, como o Marcelo, o Helio, o Jefferson e o Duda. Desses ,  os dois primeiros realmente se adaptaram, ou pareceram se adaptar à nova conceituação da equipe, ao passo que os outros dois não, daí suas prolongadas estadias na reserva da equipe, que de tal modo os influenciaram negativamente, que ao entrar no jogo no segundo quarto, a primeira atitude tomada pelo Duda foi a de arremessar…de três, acertando, mas colocando em cheque as determinações do técnico, que um pouco mais adiante o retirou, não mais voltando ao jogo, numa ação correlata imposta ao Jefferson, tido até aquele momento como titular absoluto. Ou seja, o técnico argentino esperou até o momento das grandes decisões, para determinar o rumo ofensivo que sempre pretendeu dar a equipe, não o fazendo antes no intuito de dar a todos os jogadores as oportunidades de se enquadrarem às propostas que ia pacientemente incutindo no comportamento técnico tático de todos, e cujas respostas não poderiam sofrer mais protelações numa fase eliminatória da competição. Foi um jogada de quem conhece o grande jogo, e que sabe se arriscar e ousar, mesmo cercado de algumas personalidades teimosas e individualistas. Fica devendo ainda uma interferência mais concreta no sistema defensivo, bastante melhorado, mas ainda insuficiente ante adversários que atuam sob o sistema único, principalmente no perimetro externo.

Mas o mais enfático progresso motivado pela mudança, ou opção do jogo interno, ocorreu entre os homens altos da equipe, que passaram a participar mais e efetivamente das manobras ofensivas, encorpando o sentido coletivista e participativo de todos no processo tático, fatores que conotaram um potencial formidável a uma equipe que se tornará difícil de ser superada se aqueles jogadores ainda ausentes da proposta do hermano, resolverem optar pelo enquadramento ainda timidamente aceito pelos demais.

No entanto, numa rodada tão importante como essa, onde definições se fizeram presentes, ainda pudemos testemunhar resultados simplesmente inacreditáveis, como o de uma equipe repleta de grandes jogadores, como a do Pinheiros, perder para uma outra que simplesmente arremessou 11/34 bolas de três, e 12/32 de dois, numa convergência negativa que fere princípios clássicos do jogo, e que são a prova inconteste da mais total e comezinha ausência defensiva, por mais primaria que fosse. E mais, também colaborando com uma cota de 8/26 arremessos de três e 14/34 de dois, também pouco contestados pela equipe de Joinville, constituindo-se numa partida onde uma uniformidade foi regiamente alcançada, a da quase total ausência defensiva de ambas as equipes, perdendo aquela que praticamente eliminou o “quase”… E não precisava ter assistido o jogo, pois tais números explicam e esclarecem tudo.

Neste domingo os dois últimos semi finalistas serão conhecidos, que juntos às equipes de Franca e Flamengo poderão se constituir no mais ferrenho final de um NBB, com muita emoção e luta, mais ainda muito pobre em sistemas ofensivos de jogo, e ausência quase completa dos defensivos, infelizmente, e às vésperas de um pré olímpico fundamental.

Amém.

PS-Foto LNB.