OS TRÊS(MAIS DO QUE) PREVISTOS FATÔRES…

Num espaço de 48hs, a imensa maioria dos comentários nos blogs da modalidade passaram do velado e cuidadoso otimismo com a seleção, para a maciça reprovação pela derrota de hoje frente aos dominicanos, como algo que havia se tornado improvável a partir da derrota dos mesmos frente ao Canadá, vencido por nós.

Mas mesmo vencendo as duas partidas iniciais, contra a Venezuela e o Canadá, a equipe brasileira apresentou sérias deficiências técnico táticas, que se avolumariam na medida em que adversários mais consistentes a enfrentasse, o que para a grande maioria torcedora não seria o caso da República Dominicana, esquecendo que aquela boa equipe apresentava em tese, três setores bem mais estruturados do que a nossa seleção, o poderio nos rebotes, o fortíssimo jogo interior decorrente, e uma dupla , eficiente e pontuadora armação.

A dupla armação dominicana, atuante em todos os setores fora do perímetro, praticamente empurrava seus potentes e altos alas para bem dentro do perímetro, conjugando seus esforços ao pivô atuante naquele momento, de um total de três de boa qualidade, ante um posicionamento defensivo interior brasileiro, claudicante e inferiorizado na dinâmica , força de combate e anteposição dos curtos e médios arremessos com que se confrontavam.

Essa mesma força e dinâmica dominicana também e poderosamente se fazia presente em seu próprio garrafão, tornando estéreis a maioria das tentativas de nossos pivôs, sempre em menor número naquele estratégico setor do jogo. Se estivéssemos estruturados para atuar em dupla armação, igualando a supremacia dominicana nesse setor, certamente o Huertas não cometeria as 10 perdas de bola que protagonizou, exatamente por se encontrar solitário e extremamente pressionado na missão de organizar todas as ações de sua equipe, aspecto que ficou mais gritante, quando ao fim do segundo quarto o Rafael Luz o substituiu, frio e sob intensa pressão perdeu a bola em sua primeira tentativa de ataque.

E exatamente pelas dificuldades de armação, luta defensiva e ofensiva no interior dos garrafões, e pelas mínimas tentativas de corte em direção a cesta por parte de nossos alas, que por enraizado hábito preferiram, por mais e teimosamente vez, investir na artilharia de três, onde apresentaram os seguintes números: -Marcelo Machado,2/5 – Alex, 0/4 – Guilherme, 0/5 – Marcos, 3/6, ou seja, dos 5/22 arremessos de três da equipe, esses jogadores concluíram 20, quando teria bastado a metade dos 15 perdidos, se transformados em arremessos de dois pontos para vencermos o jogo, fora os 4/9 lances livres do Spliter.

Foi um jogo para tirarmos algumas conclusões, e porque não, ensinamentos. Concluamos que nos faltaram pivôs mais atléticos e velozes para enfrentarmos de forma antecipativa , bloqueadora, e contestadora os curtos arremessos e rebotes dominicanos, assim como uma efetiva e necessária ajuda na armação da equipe, não permitindo o confronto solitário do Huertas com os velozes e grudentos armadores  rivais, com suas dobras eficientes. Um segundo armador se fazia necessário, mas não foi lançado, (ou talvez não tenha sido uma forma de jogar devidamente treinada) em nenhum momento do jogo. O Marcelo Machado, o Alex e o Marcos não têm o domínio da bilateralidade nos dribles, tornando-os fáceis de serem marcados nas tentativas de penetração, e sem a calma necessária para a leitura eficiente do jogo, optam pelos longos arremessos, as conhecidas “bolinhas”, que definitivamente hoje, não caíram, e cairão menos ainda quando se defrontarem com defesas contestadoras e eficientes (e mais do que nunca atentas) fora do perímetro, aspecto esse que conota a nossa maior falha desde sempre, sendo produto direto de uma formação de base para lá de deficiente, senão irresponsável.

Bem, a equipe ainda ostenta razoáveis possibilidades de classificação, mas para tal deverá se reestruturar, senão radicalmente, pelo menos se adaptando a uma forma mais incisiva de jogar, como se utilizando de dois pivôs, uma dupla armação e um ala de velocidade, pois temos, além do Spliter, um Augusto que preenche essa necessidade de velocidade e força, com o Rafael para a rotação. Temos quatro armadores na equipe, e pelo menos dois alas velozes e pontuadores, posicionamentos estes que levariam a equipe para mais junto da cesta, reforçando os rebotes ofensivos, assim como preencheriam nosso espaço defensivo, minorando bastante a deficiência de marcação dos pivôs que por certo, enfrentaremos daqui para diante.

O Magnano terá que se desdobrar para incutir nessa turma artilheira, o sentido da precisão mais eficiente e segura dos arremessos de dois pontos, em vez da hemorragia vertida a cada jogo pelas ‘bolinhas” pseudo salvadoras.

Torço de coração para que consigam.

Amém.

Fotos-FIBA AMERICAS



13 comentários

  1. walter neto 03.09.2011

    Ola Professor Paulo Murilo,

    Tudo bem? Correto o seu comentario sobre o jogo da selecao contra a Rep. Dominicana. Observei que durante os 2 jogos o Brasil continua apresentando os mesmos erros, ou seja:
    1. Selecao de arremessos especialmente em momentos criticos do jogo – jogadores brasileiros utilizam os arremessos de 3 pontos de forma descontrolada e possuem um baixo aproveitamento da linha de tres e mesmo assim continuam arremessando
    2. A formacao da euipe brasileira tem que ser modificada pois o Alex e o Huertas nao podem ser os jogadores encarregados de penetrar a cesta pois sao muito baixos – os nossos alas tem que jogar de uma forma vertical ou seja tem que penetrar mais a cesta e isto nao acontece durante o jogo o que torna o brasil muito previsivel e sem opcoes de ataque pois nossos pivos ainda nao sabem jogar de costas para a cesta e as nossas jogadas de ataque so os colocam em posicao para recebimento do passe em pick and roll na lateral
    3. Eu ja estava antecipando que o Huertas iria cair de producao pois e humanamente impossivel ele manter durante uma competicao fisica e forte como um pre-olimpico a performance acima de 70% – razao pela qual o brasil perdeu o jogo e ele cometeu mais de 10 erros de fundamentos – o Brasil nao tem um armador substituto para o Huertas.
    4. A marcacao por tras voltou a ser um erro que foi muito bem explorado pelos Dominicanos – o mesmo aconteceu contra o Canada – os nossos alas deixam os alas e pivos adversarios driblando de costas para a cesta ate chegarem dentro do garrafao e depois os deixam girar para a cesta – eu penso que a marcacao desses jogadores tem que ser mais apertada e negando a linha do passe – pois depois que este recebem a bola – fica muito dificil marca-los pois nossos jogadores sao fracos e nao sao pesados comos os adversarios
    5. Gostaria de ver o Brasil – mudando mais a pegada defensiva – ora marcando por zona e ora individual e acho tbem que o Brasil dfeveria utuilizar defesa combinada – ou seja triangle and 2 or box and one. Ontem estas defesas combinadas poderiam ser utilizadas para marcar os 3 pontos do ala e do armador Dominicanco como tambem iria favorecer uma marcacao dobrada toda vez que o pivo dominicano tpegasse na bola e tentasse penetrar a cesta. Infelizmente o Brasil joga da mesma forma o jogo inteiro e tudo e muito previsivel.
    Professor, continuaremos torcendo porem muita coisa tem que mudar para o Brasil poder alcancar o objetivo e se classificar para a Olimpiada.
    Seja o que Deus quizer.
    Ate breve

  2. Basquete Brasil 03.09.2011

    Creio que estamos sintonizados em nossos comentários, Walter, e acredito que muitos outros técnicos também pensem da mesma forma. Pena que nossos dirigentes(?) não encherguem o óbvio. de que de nada adianta a política do Q.I. na formação de comissões técnicas, desde à base, até as divisões adultas, com mais óbvios ainda resultados, face ao continuismo da mesmice que foi coercitivamente implantada em nossa maneira de jogar o grande jogo. Exatamente por isso é que o Magnano trouxe o Duró para seu lado, com quem conversa declaradamente em separado sobre as situações táticas do jogo, deixando na berlinda a dupla de “aprendizes” nacionais afastada das decisões em quadra. Mas, conversando ou não, o fato inconteste é que a seleção continua professando o sistema único, acrescido de uma forma mais agressiva no modo de defesa, mas muito longe ainda do coletivismo ofensivo tão badalado à priori. Somemos a esse panorama o péssimo critério político técnico nas convocações, para termos escancarados os reais motivos de tanta precariedade técnico tática dessa equipe. Podemos nos classificar? Sim ainda podemos, mas ao prêço de muita vontade, abdicação de egos, humildade, e acima de tudo, uma mexida bem funda na maneira de jogar e atuar, não só por parte da equipe, mas de seu comandante também.
    E plagiando o Berquó, segue o baile.
    Um abraço Walter. Paulo.

  3. fabiano maltempi 03.09.2011

    professor um abraço, acompanho esse espaço há muitos anos, e hj decidi comentar. No comentario anterior, o senhor ainda narrou sobre a bola de 2, as quais o huertas, com maestria converteu contra o mediano time canadense, tentativa esta que nos tirou do sério no jogo contra o time caribenho……na minha opnião, temos bons pivos, nba e espanha, mas no falta alas de boa qualidade e precisão do arremesso,

  4. ALEXANDRE MIRANDA 03.09.2011

    Pois então professor, é notável o quão abaixo do nível estamos em questões técnicas de algumas outras equipes. Eu vejo a mecânica de nossos jogadores e nesta observação é possível verificar o real motivo de estarmos aquém do nível internacional! A falha nos dribles e manejo (perdendo-se bolas), de visão periférica (permitindo roubos de bolas), de arremessos (vide Alex, Giovanoni, Marquinhos – e estes são nossos alas, encarregados de pontuar com qualidade, mas diante de marcação em cima deixa suas fragilidades mecânicas evidentes) e mesmo deslocamentos laterais e antecipação espacial.
    Acredito que este seja o máximo de nossos atletas, se ao menos houvesse tempo de melhorar estas técnicas…mas que nada, os clubes devem preferir treinar os elementos que já foram fixados e a seleção não haveria tempo hábil. Nem ao menos deveriamos cruxificar estes rapazes, esta é nossa realidade.

    Fortes abraços professor…ótimas colocações, as do senhor, parabéns!!!

  5. fabiano maltempi 03.09.2011

    professor, o primeiro esporte que pratiquei na escola, 1984, eu tinha onze anos de idade, foi o basquete,na 5a SÉRIE, tinhamos um otimo professor, passamos o ano todo treinando, nos ensinava fundamentos e o conceito minimo sobre o grande jogo, naquela epoca, passava jogos na televisão, tinhamos oscar, marcel, israel, gerson etc….., e outros grandes jogadores, na minha cidade, tinhamos baskete masculino e feminino.
    no outro ano, 1986, mudou o prof. aqueles fundamentos, foram sendo esquecidos, em 1987, passamos a jogar voley, os clubes que apoiavam esse esporte, cessaram e resumidamente, outras escolas que apoiavam esse esporte, diversificaram, futsal e voley (principalmente), e hj poucas apoiam o grande jogo, fora o interesse dos profissionais em educação física sobre o jogo, isso tudo demonstra a situação desse esporte hoje, por que digo que moro no estado de são paulo, em outros estados então, acho que é um esporte esquecido, as confederações que deveriam massificar essa arte, não o fazem, são inoquoas, infelizmente, hoje esse é um esporte que não esta mais n gosto popular, tanto é, que a tv aberta, não o exibe, baixa audiencia, antigamente vc via na tv, decisão do campeonato paulista, rede globo e tv bandeirantes transmitindo, tempos depois a tv cultura, hj só a tv fechada, isso tudo demonstra de forma melancolica como se encontra esse esporte no brasil, não deveria ser, a media de altura do brasileiro cresceu muito, deveriamos pulveriza-lo no pais, pois materia prima temos, precisamos de profissionais capacitados para massifica-la novamente, infeslismente, narro esse comentário, mas quem sabe um dia, esse cenário mude, que deus nos abençoe, para vermos isso.

  6. Luiz Felipe Willcox 03.09.2011

    Caro Paulo Murilo,

    Lembrei demais de seus comentários sobre marcação antecipada dos pivôs durante o 4o quarto desse jogo. É realmente flagrante a deficiência de fundamentos dos jogadores brasileiros. Quanto à classificação, torcerei como sempre, mas temo que fique complicada. O jogo-chave é contra Porto Rico, pois acho que a Argentina vencerá invicta o torneio. Acho que não ganharemos e terminaremos em 4o lugar, encerrando frente aos donos da casa. Ao menos será mais uma chance de vermos um senhor time de basquetebol em ação, jogando coletivamente e esbanjando domínio dos fundamentos do jogo.

    Aproveitando o comentário do Fabiano acima, a nossa querida UFRJ é um retrato do estado do basquete por essas plagas. Trabalhando há 15 anos do Fundão, fui acompanhando a degradação das tabelas de basquete das quadras externas da EEFD, enquanto a ilha vai se modernizando. Hoje, não há sequer uma tabela com aro…

    Abraços!

  7. Basquete Brasil 04.09.2011

    Prezado Fabiano, sem dúvida alguma o nosso querido basquetebol atravessa um já longo período de descrédito e acentuado desinteresse de tirá-lo de tal situação, por parte daqueles que poderiam resgatá-lo, mas não o fazem propositalmente. Ser o segundo esporte no gosto do povo brasileiro machucou a muitos por longo tempo, e agora que até o MMA já se dispôe a ocupar tal posição, prevendo grande lucratividade politica e econômica, abrindo luta com os estabelecidos volei e esportes radicais, não seria o grande jogo incentivado a uma retomada indesejável para todos eles.Somemos a essa realidade à perpetuação continuista dos dirigentes federativos que elegem os confederativos, para compreendermos quão dificil vai ser a retomada do progresso da modalidade. Resta-nos a unidade dos técnicos, que possibilitaria um progresso técnico acentuado, mas que é negado por eles próprios pela inexistência associativa que os tornariam fortes e coesos. Enfim, temos de manter as esperanças em dias melhores, e continuarmos a trabalhar com afinco e muita dedicação.
    Um abraço. Paulo Murilo.

  8. Basquete Brasil 04.09.2011

    Esse é o grande óbice que nos limita técnicamente, o precário ensino dos fundamentos do jogo, desde a formação. Concordo com você Alexandre, e por conta dessa realidade é que venho escrevendo e publicando artigos sobre os fundamentos desde o inicio deste humilde blog, e se continuo nessa linha é por acreditar que uma nova geração de professores e técnicos venha resgatar o ensino dos mesmos, lastreando novas concepções e formas de jogar o grande jogo.
    Um abraço, e muito obrigado pelo incentivo. Paulo Murilo.

  9. Basquete Brasil 04.09.2011

    Prezado Luis Felipe, fui um dos assessores da direção da ENEFD quando da construção das instalações no Fundão, e bem lembro da onda de esperança que nos assaltou pela visão daquelas maravilhosas instalações, para o futuro da Educação Fisica e os Desportos no país. Hoje aposentado, recebo com tristeza essa sua colocação sobre as quadras externas que vi serem construidas e posteriormente utilizadas por toda a comunidade acadêmica e do entorno do campus. Creio que tudo isso reflete com precisão o momento involutivo por que passam os desportos e a ed.fisica escolar, fruto de um divisionismo perpetrado na transferencia da EEFD do CFCH para o CCM, dando inicio à politica do culto ao corpo e aos Cref’s da vida, onde não existe o mais remoto interesse na educação fisica escolar no processo educativo dos jovens, já que futuros utentes das grandes holdings de academias, que já estão se voltando para as classes C e D do país. Grandes negocios jamais vão se interessar por quadras, ginasios e pistas que não as deles proprios. Fiquei triste com seu relato. Mas vida que segue.
    Um abraço, Paulo Murilo.

  10. helio demoner 04.09.2011

    POIS É PAULINHO, CONCORDO CONTIGO, MAS ACHO QUE ESTA FALTANDO VELOCIDADE, QUE FOI SEMPRE UMA CARACTERÍSTICA DE NOSSO BASQUETE, TANTO NA DEFESA COMO NO ATAQUE. AGORA, SOBRE OS ARREMÊSSOS, CONHEÇO UM PREFESSÔR ESPECIALIZADO QUE PODERIA MUITO AJUDAR A QUEM ESTIVESSE INTERESSADO. UM GRNDE ABRAÇO. HD E LAYSA.

  11. Basquete Brasil 04.09.2011

    Também conheço esse professor, que inclusive reside ai nessa maravilhosa Vitória, estou certo Hélio? Infelizmente, assim como eu, setentão, sempre perderemos para os jovens “gênios”do nosso basquebol as oportunidades de trabalho na elite. Concordo com você quanto à perda de velocidade em nossas ações, mas nâo esqueça, que para ela se exequibilizar, o dominio dos rebotes tem de ser ponto prioritário, o que nâo vem sendo nosso caso. Realmente, a situação está complicada para a seleção, e temo muito pela sua classificação.
    Um abração para você e para a Laysa. Paulo.

  12. Ricardo Piloto 05.09.2011

    Professor Paulo Murilo, a Argentina, que vem sobrando nesse Pré-olimpico, joga com a dupla armação? A meu ver apenas Prigioni é um armador nato.

  13. Basquete Brasil 05.09.2011

    Sempre jogou com dois, Ricardo, pois na definição de posições, um base(armador)pouco difere de um escolta(definido como armador 2), e essa diferença se situa no potencial definidor do escolta em relação ao armador. Se você situar lado a lado o Prigioni, o Sanchez, o Ginobili, o Delfino e o Quinteros, concluirá que todos eles são armadores de alta qualidade, sendo que alguns são mais definidores e especialistas em arremessos do que os outros.E já ouve situações de jogo em que três deles atuavam juntos, aumentando em muito o potencial técnico no manejo de bola da equipe.
    Sim, Ricardo, os argentinos sempre jogam em dupla armação, mesmo que muitos analistas teimem no não reconhecimento dessa sutil habilidade dos hermanos, no afã de rotularem jogadores a seu bel prazer.
    Observe com atenção o comportamento desses cinco jogadores, e tente estabelecer suas qualificações nas armações de jogadas da excelente equipe argentina. Tais inovações é que os tornaram campeões olimpicos, fator técnico este que o Coach K adaptou no último mundial, e ele mesmo confessou isso. Só nosotros é que negamos tão primaria evidência, e que nem mesmo o Magnano pode ou não quiz mudar, por que? Só ele tem a resposta…
    Um abraço. Paulo Murilo.

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