O RECADO…

Quando todo um universo de analistas, narradores, jornalistas, blogueiros e seus sempre presentes comentaristas, anônimos ou não, aguardava ansioso a nova formação base da seleção, com pelo menos o Hettsheimeir efetivado, face à sua brilhante participação contra os argentinos, e quem sabe, a escalação do Benite na segunda armação, dando efetivamente início a tão aguardada renovação, não só técnica, como tática também, eis que o técnico Magnano manda um recado contundente a seus críticos (nos quais me incluo em alguns aspectos de estratégias de convocação e formação de equipe), mantendo sua inamovível base, a que restou após a não ida dos jogadores NBA ao Pré Olímpico. Assim, Huertas, Guilherme, Spliter, Marcos e Alex, iniciaram os três primeiros quartos, e só sendo substituídos ao final dos mesmos, vencidos por 77 a 49.

Dessa forma, e com a artilharia um tanto a contragosto aprovada, o bom técnico argentino qualificou aqueles jogadores que se mantiveram fiéis à seleção, inclusive seu sexto homem de confiança, o Marcelo Machado, nitidamente contido nos arremessos, onde e ironicamente brilhou o até aquele momento discreto Spliter, como para demonstrar que o surpreendente Hettsheimeir continuaria na sua reserva, pelo menos enquanto for mantido o sistema único de jogo, agora acrescido da movimentação de bola típica do passing game, numa costura definidora de um coletivismo ainda não muito aceito, ou compreendido, pelos experientes cardeais. Mas como desta vez, e com a absurda passividade defensiva dos portorriquenhos (gerando inclusive revolta entre eles mesmos…), as bolinhas caíram aos magotes (16/25), ficou adiada sine-die a utilização de um segundo pivô, e quem sabe, uma dupla armação para alimentá-los no jogo interior, conceito tático que terá de ser levado em alta conta no caso de uma classificação olímpica, onde as exigências reboteiras, de jogo interior, de armação segura e dinâmica, e de efetiva consistência defensiva se farão prioritárias, perante seleções de qualidade muito superior das que participaram deste Pré Olímpico.

Consumada a classificação, pois uma derrota para os dominicanos se tornou improvável ante a personalização da equipe em seu todo, muitas modificações (jamais adaptações…)terão de ser feitas pelo Magnano para a campanha olímpica, a começar pelo inevitável reforço do banco, onde Caio, Nezinho e Rafael Luz ainda não estão a altura de uma competição daquele nível, e mesmo o Augusto e o Hettsheimeir, terão de evoluir muito nos fundamentos básicos do jogo, para competir com sucesso na mesma. Como a adesão interesseira, e por isso mesmo nefasta, da dupla que se negou a competir no Pré, deveria ser obrigatoriamente negada, a constituição final da equipe, mantido o sexteto básico de confiança do técnico, e os dois jovens pivôs, ficarão em aberto quatro vagas, que ao serem preenchidas por pelo menos mais dois armadores, um ala e o Varejão, dariam oportunidade aos jogadores que mais se destacarem no próximo NBB, aumentando e valorizando sua importância para o futuro do basquetebol nacional e sua seleção.

No entanto, um importante fator se fará presente se confirmada a classificação olímpica, a necessidade urgente de serem estudadas, treinadas e postas em prática novas formas de jogar basquetebol, fugindo da mesmice técnico tática a que nos apegamos covardemente nos últimos vinte anos, a fim de que evoluamos pela diversidade, pelo livre pensar e vivenciar essa modalidade impar e emocionante de jogo, extremamente rica em conceitos sadios de vida e de amor ao esporte, e a seleção poderia dar partida a essa revolução em Londres, pois somente inovando e ousando é que conseguiremos soerguer o grande jogo entre nós.

Mas antes, torçamos no sábado pela confirmação de uma classificação a principio tão improvável, como brilhante.

Amém.

FOTO- Divulgação FIBA Americas.



4 comentários

  1. Henrique Lima 10.09.2011

    “… Mas antes, torçamos no sábado pela confirmação de uma classificação a principio tão improvável, como brilhante.”

    Professor, bastou jogar dois torneios de forma mais séria, compenetrada, sem indisciplinas graves, que melhoraramos muito.

    Mundial 2010 e P.O. agora. Para não dizer a passagem do Moncho que ajudou para colocar a semente do trabalho inteligente, da defesa e claro, do jogo coletivo, que é o nome da modalidade, mas os caras esquecem disso sabe-se lá como …

    Estou na torcida hoje e muito nervoso desde ja !

    Acho que o grande dia chegou !

    Um forte abraço e vamos torcer !

  2. Giancarlo 10.09.2011

    Olá, professor, a velha pergunta (feita no ano passado em relação ao Scola nas oitavas): qual seria a melhor estratégia para segurar o Horford? Seria algo na linha do que o Walter sugeriu no início do torneio, a de tentar cortar sua linha de passe? Tanto para o Guilherme como para o Marcus seria difícil segurá-lo sem ajuda, por seu tamanho, velocidade e capacidade atlética maiores.

    Talvez puxando algum defensor de perímetro para fazer a dobra enquanto ele tenta o drible rumo ao aro? Só temo que isso abra a quadra para os chutadores deles, que foram muito bem contra nós no primeiro jogo, mas deram uma boa esfriada no restante do torneio.

    Por outro lado, o fato de termos perdido para eles no último jogo pode ter apontado ao Magnano o que mais deu errado, para daí sairem os ajustes, não?

    Um abraço, todos na expectativa.

    Giancarlo.

  3. Basquete Brasil 10.09.2011

    Henrique, leio seu comentário e uma imensa tristeza se apodera de mim, já que o mesmo reflete a opinião da maioria esmagadora de todos aqueles que comentam nos inúmeros blogs voltados ao grande jogo no país, a necessidade da vinda de um didático Moncho, e um competente Magnano para que um trabalho movido pela seriedade fosse implantado na seleção, e por menção e desejo do proprio argentino, estendido na formação de base, e mesmo na preparação dos futuros técnicos brasileiros. E por que fiquei triste? Pelo fato de que existem profissionais tão capacitados como os dois excelentes técnicos citados, aqui mesmo, em terras tupiniquins, mas afastados e esquecidos mesquinha e covardemente por uma nefasta corriola que se apossou do nosso basquete de vinte anos para cá, e avalisada por técnicos que se autodeterminam de ponta, que jamais moveram uma palha sequer para que um processo associativo fosse implantado no seio da classe, fazendo surgir um arremedo de corporativismo voltado à proteção de um restrito mercado de trabalho, de auto ajuda mantida pelo deslavado Q.I. e pela politica da manutenção do que criaram e lutam por manter, pois nesse meio em que “uma mão lava a outra”, não pode existir abertura democratica que o ponha em risco de divisão de poder e mercado. Houvesse em nosso país uma associação de técnicos independente, forte, justa e democratica, que implementasse verdadeiras e sérias escolas de técnicos, bibliografias, mídias diversas, cursos e seminários, ética enfim, como já existiram em um passado não tão distante assim, não haveria necessidade de importações de técnicos para dirigirem nossas seleções, e sim para aqui virem disseminar seus conhecimentos, como se fazem nas grandes nações que praticam e amam o grande jogo. Quando todos que emitem opiniões nos meios de comunicação concordam que seriedade e dedicação no preparo técnico de uma seleção só foi possivel com a vinda de um estrangeiro, esquecem que ao generalizar tal conceito, atingem em cheio muitos sérios e competentes técnicos nacionais, veteranos e jovens, que infelizmente são mantidos à margem do processo decisório por um outro e restrito colegiado ou comitê, onde o ingresso é restrito pelos altos interesses politicos e economicos em jogo.
    De forma alguma faço restrições aos técnicos estrangeiros, somente lamento que os coloquem como os únicos capazes de gerar seriedade e competência em nosso basquete, o que em absoluto condiz com a verdade daqueles que, marginalizados, estudam e trabalham com igual competência e seriedade em todo o país, mas segregados por não terem voz junto aos que decidem.
    Faço coro com sua ansiedade, e torço para saiamos de Mar del Plata classificados, mesmo sabendo que tal conquista muito pouco irá somar para que saiamos desse oceano de interesses e vaidades que nos impuzeram desde sempre.
    Um abraço Henrique. Paulo Murilo.

  4. Basquete Brasil 10.09.2011

    Giancarlo, quando perdemos para eles na classificação, o Magnano somente se utilizou do sistema único de jogo, assim como os proprios dominicanos o fizeram, mas agregando o forte jogo de pivôs. Com a experiência positiva do Hettsheimeir conta os argentinos e a boa participação do Spliter contra os costarriquenhos, ele teve a certeza de que já poderia contar com um forte jogo ofensivo interno que, semelhante ao dominicano, contrabalançaria o poderio deste, assim como reforçaria muito o miolo defensivo, exatamente como agiu seu adversario de hoje em sua única derrota. Some-se a essas similitudes técnico táticas com a perda do melhor armador dominicano, para deduzirmos uma estratégia de jogo decorrente, ou seja, jogarmos com os dois pivôs citados, eficientes no ataque interior e mais eficientes ainda no fechamento dos caminhos da forte dupla dominicana, escalarmos dois armadores de oficio, num setor em que eles perderam seu melhor especialista, e um ala definidor e bom marcador, para teoricamente nos situarmos em boa vantagem, aina mais pela real possibilidade de uma retração defensiva dos dominicanos face ao nosso poderoso jogo interno, abrindo espaços para a tão amada artilharia de plantão lançar suas bolinhas com mais liberdade e equilibrio, pela impossibilidade de evitá-las, mas que podem ser coerentemente filtradas.
    Se o forte deles é o jogo interno e o poderoso posicionamento nos rebotes, façamos e nos situemos da mesma forma, e quem se der melhor que tenha seu embarque para Londres garantido.
    Um abraço, Paulo.

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