O XERIFE…

Jogo empatado a vinte segundos de seu final, último ataque para a equipe do Pinheiros, tempo pedido, o técnico pouco fala, pois o que se vê é um jogador argentino distribuir instruções, seguido pelo selecionável cestinha brasileiro, e calados se mantiveram os técnicos, o principal e o reserva, digo, assistente, e lá se foram para a decisão planejada e discutida, quando…

Calado tinha convenientemente ficado o americano durante os discursos, e calado ao receber a bola agiu como sempre o faz, no impulso estritamente individualista, e nesse caso em particular, absolutamente aventureiro, sua marca pessoal.

Até aquele momento havia convertido 26 pontos, nenhum dos quais produtos de arremessos de três (tentou por três vezes e errou), se depara num 1×1 com seu conterrâneo, pela lateral, terreno de sua preferência, com tempo mais do que suficiente para uma firme e pensada penetração em busca de um único ponto necessário para a vitória de sua equipe, onde poderia, pela grande habilidade de que é possuidor, conseguir marcar os dois pontos através um DPJ, ou uma bandeja, e quem sabe mais um por falta recebida, ou simplesmente cobrar dois lances livres, nos quais possui grande eficiência, após ser parado, com toda a certeza de que o seria,  por uma falta pessoal. Três possibilidades óbvias e ao alcance de suas virtudes de grande e eficiente finalizador em curtas, e por isso mais precisas distâncias, como deveria se comportar um jogador responsável, de alta categoria e linhagem, inserido numa equipe de alta competição.

Mas não, calado ficou durante a caótica e indesculpável balburdia em portunhol no tempo pedido, mas não corretamente utilizado por nenhum dos técnicos na língua que fosse, guardando para si a decisão mais incorreta naquela situação, mas sabendo que se falhasse uma prorrogação já estaria garantida, logo, sair como herói soava bem naquela altura, além, muito além de sedimentar seu status de verdadeiro xerife,  longamente estabelecido na equipe, e bem acima de quem pretensamente pensa comandá-lo.

E a “bolinha” lá de fora arranhou o aro, mas caiu, para júbilo de todos aqueles que o viram como o inconteste herói, como aquele que culminou a jogada jamais planejada pelo comando, ou por seus companheiros, e sim de sua própria, arriscada e aventureira lavra, onde o “dar errado” se perdeu nos abraços e afagos de todos, num clímax que bem representa o micro cosmo do nosso basquete, aquele no qual a “sorte” define destinos e rentáveis continuísmos, muito mais vantajosos do que a simplória e desnudada competência meritória, penduricalho de um basquete basicamente movido e mantido pelos vivíssimos e inteligentes (por que não?) xerifes de plantão.

Quanto ao jogo? Ora, o que importa frente a um glorioso final como aquele. Ou deveria importar? Creio que o sorriso e o olhar matreiro do formidável Shamell ao final do jogo, durante a entrevista respondida em português, depois de ser abordado caipiramente em inglês, explicitou em estéreo e à cores, o que representa para ele jogar o grande jogo nesse caótico país, uma independente, personalíssima, e muito bem paga farra sem fim.

Enquanto isso, o estelar Flamengo…

Amém.

Foto-Divulgação LNB.

AMBIENTE DE RACHÃO…

Alô Paulo, tirou férias do blog? Não, estive acometido de uma crise renal, e você sabe quão doloroso um cálculo pode se tornar. Mas aos poucos a saúde vai se restabelecendo, a ponto de tomar coragem para assistir um massacre em forma de jogo, como o Brasília e São José.

Massacre, como? De tudo que possamos conceituar como algo parecido a uma partida de uma liga superior, a começar pelos primários erros nos fundamentos, terminando com a mais completa demonstração de desprezo tático, principalmente aqueles emanados pelos técnicos, jamais seguidos pelos jogadores, todos eles, de ambas as equipes, como num tácito acordo comportamental, preocupante e corrosivo.

Nos fundamentos, nada mais chocante do que a visão equivocada da pancada como forma e opção de defesa, visão essa rompida pelas sucessivas falhas individuais e coletivas durante toda uma partida com 52 arremessos de três, 26 para cada equipe, e 48 faltas (25/23) pessoais, provando mais uma vez a incapacidade defensiva fora do perímetro de nossos jogadores, e sua agressiva volúpia dentro do mesmo, somado a 20 erros (9/11) de passes, andadas e perdas de bola.

Mesmo atuando permanentemente com dois armadores na quadra, a equipe do São José o fazia no sistema único, onde um armador principal era o responsável por todas as ações ofensivas, no caso o jovem Fischer, talentoso e promissor, mas que adquiriu o erro mais comprometedor para um armador, o de atacar dando as costas para seu marcador, obliterando dessa forma grande parte de sua visão periférica, além de se tornar vitima de dobras seguidas e muitas vezes fatais, situações estas que seriam minoradas se recebesse apoio próximo e constante do outro armador na quadra, claro, se posicionado como tal, e não como um ala aberto tradicional, decorrência do sistema único empregue por sua equipe.

Além do mais, sua ambição pontuadora evita um maior apoio a seus pivôs, principalmente o Murilo, que esquecido no perímetro ofensivo interno, veio para o externo para tentativas de três (3/5), quando deveria ter sido mais explorado em sua verdadeira posição, principalmente no decisivo quarto final.

No entanto, ironicamente, no último lateral cobrado por um Guilherme que deveria ser o receptor e não o autor do mesmo, o erro mais primário num passe foi cometido, o de fazê-lo paralelo à linha final, propiciando a interceptação por parte do Fischer, que a partir daí definiu a partida com uma bandeja e um arremesso de lance livre, numa compensação a alguns e sérios erros cometidos por ele no transcurso do jogo.

No aspecto tático, o caos organizacional foi a tônica do jogo, onde o “chegar e chutar” foi explorado ao máximo por ambas as equipes, ocasionando uma espiral de erros assustadora, preocupando pelo fato de ainda não conseguirmos evoluir para sistemas de jogo que primem pela amplitude criativa, dissociada da mesmice endêmica a que nos mantemos atados às vésperas do encontro olímpico em junho na cidade de Londres.

Não podemos mais nos manter nesse “ambiente de rachão”, pois o preço a ser pago poderá vir a comprometer seria e irremediavelmente nossa atuação olímpica, após 16 anos de ausência motivada exatamente por isso, jogar o grande jogo como se pequeno e insignificante fosse. Temos a obrigação de evoluir, ao preço que for.

Amém.

FAZENDO PENSAR…

  • ike 08.01.2012 (2 weeks ago) ·

Blah, Blah, Blah.
Ah… DUPLA ARMAÇÃO!!

Sério? só isso q tu tens a dizer sobre Basquete… que triste.

De vez enquando recebo comentários como o acima, sobre o artigo A Dupla (E Eficiente) Armação do Uberlândia, e claro, convenientemente respondido, mas que desperta em mim uma imensa curiosidade sobre a extensão do conhecimento da dupla armação por parte de todos aqueles que acompanham o grande jogo, sejam jogadores, técnicos, dirigentes, cronistas, torcedores.

Numa abordagem inicial podemos afirmar com bastante acerto que, sob o domínio formatado e padronizado quase absoluto do sistema único de jogo, falar em dupla armação se torna uma pregação num deserto de idéias e uma peregrinação numa abrasiva e inóspita terra de ninguém, apesar de ser um sistema de jogo a longo tempo conhecido (?).

Curiosamente, em 1/8/2010, o Blog DraftBrasil, em um de seus fóruns discutiu a dupla armação- Um pouco de táticas e umas reflexões, antecipando em dois anos o que hoje se discute timidamente sobre o assunto, e o fez se baseando na experiência diferenciada da equipe do Saldanha da Gama no NBB2, e o mais emblemático e profético, sugerindo sua utilização em equipes da NBA!

No ano passado, a equipe do Dallas se sagrou campeã da grande liga jogando declaradamente sob dupla armação e pivôs móveis, e nessa temporada mais equipes ensaiam jogar dessa forma, numa clara e instigante mudança de rumos táticos, na esteira do pedido do Coach K após o último Mundial, onde, subvertendo o sistema NBA, venceu a competição em dupla armação e alas pivôs de grande mobilidade, quando pediu aos técnicos universitários do seu país que investissem nessa forma de jogar, a fim de se aproximarem do basquete FIBA.

Por aqui, ainda jogamos no sistema único, com algumas equipes se utilizando de dois armadores, com um deles substituindo um dos alas, mantendo a sistematização usual, e somente a equipe de Uberlândia ousando ainda timidamente uma autêntica dupla armação e uma trinca de homens altos se deslocando permanentemente dentro do perímetro, mais ainda valorizando, como as demais equipes, os arremessos de três, em vez dos mais seguros e eficientes arremessos de dois pontos.

Mas algo animador deve ser enfatizado, e vem da própria LNB através seu blog Território LNB, ao publicarem várias seleções das rodadas do NBB4 e das finais da LDO na formação de dois armadores e três pivôs, numa iniciativa louvável de ver o grande jogo um pouco além do sistema único (diagramas acima).

No entanto, a viciosa fragilidade defensiva do perímetro externo, indús quase que automaticamente aos longos arremessos, independendo se jogarem com um, dois ou mais armadores, numa demonstração tácita de que entre nós a “bolinha”ainda reinará absoluta por um longo tempo, a não ser que…

A não ser que caiamos na realidade de que se não mudarmos drasticamente nossa formação de base, em todos os sentidos, de forma absoluta, não chegaremos a 2016 minimamente preparados para uma competição do calibre de uma Olimpíada, e em nossa terra, de nada valendo se nossos “craques” complementares em equipes de fora formem uma seleção meia bomba, e o mais importante, que nossos técnicos (ou estrategistas)de elite evoluam da mesmice endêmica que nos estrangula técnica e taticamente.desde sempre.

Amém.

PS-Clique nas diagramas para ampliá-los.

NOSSO EQUIVOCADO BASQUETE…

Estou sem internet praticamente a dois dias, e mesmo não sei se a terei de volta neste sábado. A NET cobra caro na mesma proporção de seus falhos serviços na região em que moro, Taquara, o que me leva à decisão de mudar de provedor logo que for possível.

Mas, mesmo que a tivesse 100%, a cada rodada do NBB fenece em mim a curiosidade de testemunhar algo de novo, instigante, por sobre essa mesmice endêmica e massacrante que nos pune, pelo simples fato de amarmos o grande jogo, a não ser por raros e esporádicos exemplos de atitudes evolutivas tática e tecnicamente, como a equipe de Uberlândia em seus recentes jogos, o que ainda é muito pouco, quase nada, num cenário pré-olímpico de 15 equipes.

Um ou dois armadores, um, dois ou três pivôs, cinco abertos, um pivosão, nada representam sob a égide de “punhos, cabeças, polegares, camisas, especiais, para cima ou para baixo”, em imposições de fora para dentro da quadra, através coreografias rabiscadas em pranchetas cada vez mais “estrelas” de um sistema único, pétreo, inamovível e canhestro, pois nada muda taticamente, a não ser o reescalonamento dos (pseudos…)especialistas de 1 a 5 nas posições estratificadas do mesmo, onde os pivôs continuam a jogar fora do perímetro, inclusive entrando no time dos arremessadores de três, o armador após o passe inicial se esconde por trás das defesas, e os alas, inabilidosos nos fundamentos básicos do jogo se alçam em penetrações cometendo erros inacreditáveis, como nesse Pinheiros x São José onde foram 17, além dos 18/50 (36%) arremessos de três, contrastando aos 36/79 (45,5%) nos de dois, sendo que nos dois últimos pedidos de tempo das equipes, seus técnicos as orientaram diretamente aos arremessos de três, num jogo equilibrado até aquele momento, quando um Marcos, zerado na partida, liquida a fatura com dois arremessos de dois e um lance livre, irônico, não?

Honestamente, me preocupa a seleção para Londres, pois a cada dia que passa mais se aplicam nossos jogadores do NBB no jogo de três, pois defender fora do perímetro, exigência do Magnano, é solenemente desprezada por nossos craques, como se fosse uma questão lógica, afinal de contas na NBA ocorre o mesmo, a não ser pelo fato de que a linha de três de lá é bem mais distante que a da FIBA, além das dimensões da quadra serem maiores também. No entanto, duvido que sob o comando do Coach K, os estrelados da grande liga não anteponham os arremessos de três adversários, como no último mundial.

Enfim, de mesmice em mesmice vai caminhando tropegamente nosso basquete de elite, e o pior, o da pré elite também, pois na recém finda LDO (ou LDB?), além de tudo o que descrevemos, outro aspecto restritivo foi incluído, a velocidade descontrolada das equipes, quando, e por conta da mesma, os erros de fundamentos atingiram cifras realmente absurdas, comprometendo no cerne um trabalho de renovação que tinha tudo para dar certo, a não ser pelas “filosofias” implantadas… Mas isso é outra história.

Amém.

Foto – Divulgação LNB.

O EMOTIVO RACHÃO…

Não foi propriamente um jogo, e sim um pungente rachão, onde sistemas de jogo inexistiram, defesas idem, e o pior, um número absurdo de erros (29) divididos irmãmente pelas duas equipes.

Foi duro de assistir, como está sendo duro de comentar, pois se de um lado vimos um Tijuca desconjuntado, com cada jogador querendo vencer o jogo sozinho, alguns declaradamente fora de forma física, outros superando limitações técnicas, e uns poucos assumindo suas qualificações de jogadores de uma liga superior, como o Casé, o André, o Bahia, o Colonese e o Diego, por outro, uma equipe declaradamente tensionada, física e emocionalmente, parecendo um elástico estendido ao seu máximo, bem próximo de sua total ruptura.

E em alguns essa ruptura está bem próxima, como no caso do Marcio, que após alguns minutos de atuação, desaba seu corpo totalmente crispado no solo, onde com a ajuda de um assistente tenta alongar músculos tensos e cansados, ou a pior das tensões, a mental, onde um Probst se descoordena tecnicamente, um Drudi se fixa teimosamente no seu delimitado espaço para os curtos arremessos, e dois americanos buscam um GPS para se colocarem taticamente numa quadra onde se joga um jogo incompreensível para eles, afinal, Franca tem 18 jogadas de ataque, que o diga o sérvio recém contratado, que ainda deve estar estudando as cinco primeiras…

Então, de um lado uma equipe jogando aleatoriamente, e cujo arremedo de uma jogada planejada tinha somente um ponto de partida, as penetrações de um habilidoso André (vide foto), para finalizações, ou assistências a um dos pivôs. No mais, briga intensa nos rebotes, onde foram muito bem, 11 lances livres perdidos, e mais nada.

Do outro lado, um Helio fulgurante, ajudando técnica e taticamente seu técnico pai, claramente cansado com a situação decadente de sua equipe, cujos motivos somente ele poderá contornar, não fosse o decano e mais experiente dos técnicos da liga.

Mas algo deve ser mencionado com muita atenção, a atuação de um dos mais subestimados jogadores que conheço, o Casé (foto), que foi o artífice da vitoria de sua equipe, com uma atuação irretocável na segunda prorrogação, quando defendeu, reboteou e pontuou de forma realmente magistral, tendo sido o  único que prestigiou publicamente o demissionário e competente técnico Miguel Palmier, que cometeu um único erro ao subir para a liga superior, o de  manter a grande maioria de uma equipe vencedora na Copa Brasil, mas insuficiente tecnicamente no patamar de cima, onde condicionamentos técnicos, táticos e físicos delineiam sua trajetória na mesma, e onde ter um plantel se torna mais importante do que uma equipe básica.  Uma liga superior não perdoa grupos fechados e capitanias hereditárias de jogadores, sendo simples e objetivamente o lugar para os melhores, ou no caso da LNB, deveria ser…

Enfim, foi um jogo para ser esquecido, e os dois técnicos, o contratado e laureado Miguel Ângelo da Luz, e o decano Helio Rubens, terão um imenso trabalho para reencaminhar suas fraturadas equipes de encontro a um destino vencedor. Torço para que sim, a ambos.

Amém.

Fotos – Divulgação LNB. Clique nas mesmas para ampliá-las.

ARTIGO 900 – O RETRATO DE UMA TRISTE REALIDADE…

Quero dedicar esse artigo, o de número 900, a todos aqueles que trabalham pelo grande jogo neste imenso e injusto país, mas que apesar de toda sorte de obstáculos e incompreensões, continuam a lutar e perseverar dentro, e muitas vezes além de suas possibilidades profissionais e econômicas, pelo soerguimento da grande paixão de suas vidas, o basquetebol.

O email que recebi do Prof. Jalber Rodrigues da cidade de Cataguases em Minas Gerais, ilustra com propriedade a verdadeira situação do basquete feminino no país, servindo de parâmetro a uma profunda reflexão sobre o esporte de base no limiar de uma Olimpíada que será aqui realizada em 2016.

 

Jalber Rodrigues
basquetebol-kta.blogspot.com/
jalber.rodrigues@gmail.com
189.83.17.232

Enviado em 06/01/2012 (2 days ago) as 10:51 pm (2 days ago)

Professor,estou um pouco afastado dos comentários, mas não da leitura. Por anos acompanho a luta incansável pelo soerguimento do basquete no Brasil através de excelentes artigos publicados aqui no blog. No masculino as coisas são difíceis… imagine como é no feminino…fazer base no feminino ainda nem se fale… trabalhamos muito duro, muito mesmo para fazer o mínimo… as meninas não tem expectativa nenhuma… porque e para que se dedicar ao basquete? como fazer com que as meninas trabalhem forte? Como competir com as baladas, com a internet e com a desconfiança dos pais de que “jogar bola não leva a nada”? Não conseguimos nem vincular a educação ao esporte? As críticas são sempre duras e mais pesadas… mas corretas… porém ferem a quem se doa ao máximo e não consegue respaldo, apoio, credibilidade… se o basquete feminino de São Paulo está nessas condições imagine o resto do Brasil? imagine no interior de Minas? Precisamos de ajuda professor!! Precisamos de ajuda! Queremos ter excelentes meninas praticando o fino do basquete… mas precisamos de ajuda professor! Sugestões?!
Desculpe o desabafo e abraço professor!

O que mais podemos acrescentar, meus deuses. Como e de que forma poderemos ajudar perante um quadro tão cruel como esse? Como?

Amém.

OBS-Clique na foto para ampliá-la.

A DUPLA (E EFICIENTE) ARMACÃO DO UBERLÂNDIA…

Dificuldades no trânsito, mesmo num sábado, mais dificuldades ainda para estacionar o carro próximo ao Tijuca, e pronto, chego ao ginásio no início do quarto final do jogo entre Flamengo e Uberlândia. No placar, 59×59, antevendo um final duro e emocionante.

Encontro meu filho, preocupado com minha demora, e pergunto como estava vendo o jogo, basqueteiro que é. “Pai, que baita time esse do Uberlândia, jogando em dupla armação, com um Valtinho cadenciando o jogo, dois pivôs leves e muito rápidos em constante movimento, e um Robert Day preciso, constante, e anulando o Marcelo de forma contundente.”

Com esse relatório, se inicia o quarto decisivo, mas não antes de cumprimentar o Paulo Sampaio, técnico campeão da LDO, o José Geraldo, com quem trabalhei no Barra da Tijuca por muito tempo, tendo sido o primeiro técnico do meu filho André, ali presente, um surpreendente Meneses, grande diretor de basquete do Botafogo nos anos sessenta, a quem não via de longa data, o Cicero Tortelli, campeão mundial em 63 e presidente da AVBRJ, e o Marcio Andrade, técnico dos bons, todos presentes na famosa “curva do pipoqueiro” daquele mítico ginásio ( pareço até os comentaristas da ESPN e Band).

Foi um quarto perfeito do Uberlândia, marcando com precisão e força, principalmente na contestação dos arremessos de três rubro-negros, e cadenciando o jogo com um perfeito trabalho de dupla armação com o Collum e o Valter, acionando os pivôs Cipolini e Gruber, e um instigante Day se deslocando aleatoriamente pelos perímetros, pontuando com presteza e defendendo com maestria.

A equipe mineira se impôs jogando muito rápido quando precisou, e cadenciada por principio, arremessando 8/16 nos três pontos, 25/40 nos dois, errando somente dois lances livres (15/17), além de conseguir oito rebotes a mais que seu adversário, que para um jogo desse nível é muita coisa.

No intervalo entre os jogos, no bar do TTC, escuto do Marcio Andrade o comentário de que o sistema de dupla armação e pivôs móveis tinha sido a constante do jogo mineiro, e que cada vez mais esse sistema estava se revelando surpreendente e altamente eficiente, e que minha persistente insistência sobre o mesmo estava se tornando numa oportuna realidade. Fiquei feliz com o comentário, pois representa uma diferente opção de jogo, frente ao sistema único presente de forma absoluta entre nós nos últimos vinte anos. Um outro senhor vem me parabenizar pelo artigo Os Americanos que publiquei aqui no blog, pois levantou uma vasta discussão sobre a massiva presença desses jogadores, ocupando vagas que poderiam ser preenchidas com jovens promissores nacionais, tão pouco considerados pela maioria das equipes da LNB. Mais ainda feliz fiquei por constatar a forma espontânea das manifestações sobre os artigos aqui publicados, demonstrando que pouco a pouco idéias, discussões e sugestões vão alcançando significativa penetração no mundo do basquete brasileiro, abrindo oportunidades de evolução e busca de um efetivo soerguimento do grande jogo entre nós, torcedores incondicionais que somos desde sempre.

Ao voltar para à quadra, para o segundo jogo, me encontro com o velho amigo Ary Vidal, lembrando a ele o nosso Seminário em Abril (que vai ser amplamente divulgado, tendo como título – 50 anos de Educação Física e Desportos) comemorativo ao cinqüentenário de nossa formatura na ENEFD/UB (atual EEFD/UFRJ), sendo sua presença “tão importante, como obrigatória”. Sorrindo responde – “Estaremos todos lá”.

Mais tarde um pouco, comento o jogo entre Tijuca e Franca, um assunto que merece reflexão e paciente análise, depois de duas prorrogações. Estou cansado.

Amém.

Foto- Fernando Azevedo

LARRY, O TRANSGRESSOR…

-“Noite de gala do Larry, o mito. Fantástica exibição para deixar o Magnano ligado para Londres. A CBB deveria estar mexendo os páusinhos no Ministério da Justiça para naturalizá-lo…”

A mídia se assanha ante a divina performance do americano “mais brasileiro do pedaço”, mesmo já tendo conhecimento da negativa do MJ sobre o assunto, e não se conforma, ainda mais quando sutil e politicamente o presidente da CBB “deposita” nas mágicas e isentas mãos do argentino (afinal ele é…argentino) a suprema decisão sobre as convocações dos magos da NBA que se negaram ir ao Pré Olímpico de Mar Del Plata. Caramba, já imaginaram os quatro da grande liga, mais o Huertas e a turma européia?  Medalha na certa!!

Como desprezos antigos não cunham medalhas, que se danem princípios, ética, superados nacionalismos, decrépitos patriotismos, pois o que conta (inclusive nos bolsos…) é medalha, e estamos conversados.

Mas, voltemos a Bauru na noite de ontem, quando vimos duas equipes trocarem figurinhas por três longos quartos (inclusive o Larry), com uma hemorragia de arremessos de três, 20 erros de fundamentos (o paraguaio “anda” demais e adora chutar para além do perímetro, onde é encontrado para bloqueios o jogo inteiro…), inexistência defensiva externa, e consentida internamente, como num jogo de compadres, até que, no quarto final o Larry resolveu jogar “à vera”como deveriam ambas as equipes o fazer desde o começo, principalmente no cumprimento do ritual defensivo, quando, ai sim, pudemos constatar qual equipe pode ser considerada superior a outra, pois, como num passe de mágica, com a subida da defesa para fora do perímetro externo, contestando os arremessos de três, e dobrando por cima do fraco armador, Bauru impôs uma diferença de 20 pontos (32×12), dando números finais ao jogo, evidenciando sua supremacia.

Então, o Larry não foi tão mítico assim, pois se poupou para um quarto final, o que duvido aconteceria em sua equipe universitária americana, onde defender é caso de honra, e quase sempre por 35seg de posse de bola dos adversários, provando mais do que nunca que está perfeitamente sintonizado com o basquete tupiniquim no que ele tem de mais simplório, sua pungente limitação técnico tática, onde pivôs são esquecidos, provocando nos mesmos reivindicações aos longos arremessos (se todos chutam, por que eu não?…), armadores focam mais a pontuação do que a assistência, e alas, indefinidos tática e estrategicamente desde a formação, centram seu poder de fogo nos arremessos de três e não na capacitação às fintas e ao drible incisivo ao perímetro interno, como os bons alas devem atuar.

Sem dúvida o Larry é um bom jogador para a realidade do sistema único com sua mesmice endêmica, mas, um excelente artista quando emerge do usual rame-rame que vivencia, ao saltar por cima das amarras, deixando fluir sua criatividade , poderosa presença ofensiva, e defensiva também, para num único quarto definir e decidir um jogo previsível e caduco.

Mas daí colocarmos em sua improvável convocação o nosso destino olímpico, vai uma enorme diferença, pois nos situa no perigoso bordo de sermos incapazes de formar bons armadores, no que até pode parecer real, se teimarmos nesse limitadíssimo sistema único, monitorado, formatado e padronizado, em vez de algo inusitado, flexível, criativo, corajoso e acima de tudo responsável, para que nossos jovens se vejam perante o novo, o absolutamente novo, como na explosão criativa do Larry no quarto final do jogo de ontem, quando ao romper com a mediocridade fez luzir algo que nos é permanentemente negado, a arte de jogar e amar o grande jogo.

Foi uma grande demonstração de fundamentos do jogo, simples assim, fundamentos.

Amém.

Foto-O pivô Agba do Baurú. Sergio Domingues DHP Foto