QUE SEMANA…

Foi uma semana desgastante, com uma tonelagem de jogos, na maioria das vezes decepcionantes. Mas antes de falar um pouco dos mesmos, algo tem de ser dito sobre a nossa irrefreável tendência (?) de transformarmos noviços em cardeais da noite para o dia, colocando-os na restrita faixa da genialidade, senão vejamos essa declaração:

(…)“Para mim isso é um motivo de muito orgulho e muita responsabilidade. Apesar da minha idade, me considero um técnico preparado para assumir o cargo porque só trabalhei com bons técnicos no Paulistano e nas seleções que estive. O Paulistano me deu todas as condições de fazer cursos, clínicas e me preparar para esse momento. Isso tudo é fruto de um trabalho”, disse o técnico ao site da CBB(…)

Como vemos, sua escolha ao cargo máximo que um técnico pode almejar, não foi o resultado de anos e anos de prática e reconhecimento majoritário nas mais diversas divisões, e sim pelos argumentos que ele próprio menciona na declaração acima, e o mais emblemático, indicado pelo técnico Magnano e pelo diretor técnico Vanderlei, onde um, estrangeiro contratado para dirigir a seleção olímpica, e outro, recente ex-jogador, numa função que revelou estar lá para aprender (declaração feita em sua posse no cargo), definem e decidem o quem é quem no basquete brasileiro, ante a passividade e silêncio dos demais técnicos , enclausurados em suas zonas de conforto e descompromissados do associativismo básico e fundamental para o soerguimento do grande jogo no país, posicionamento chave, se assumido, e bem ao contrário dos técnicos do país que nos tomou a dianteira  e primazia na America do Sul, onde, em hipótese alguma, um técnico brasileiro poderia agir como o campeão olímpico o faz em terras tupiniquins.

Somente espero que a tendência convergente da equipe que dirige no NBB4( no recente jogo contra Bauru, entre outros tantos, o Paulistano cometeu um 17/26 nos arremessos de dois pontos, e 13/33 nos de três…), não seja transposta à seleção, no que seria mais um capítulo da tragicomédia em que vem sendo transformado o basquete nacional.

E para deixar muitos de nossos técnicos de água na boca, alguns inclusive se sentindo redimidos de seus “conceitos” de jogo, assistimos incrédulos o maior (já que compresso num mata-mata devastador) desfile de bolinhas de três visto e assistido em cadeias nacionais dos irmãos do norte, pela maioria esmagadora das 64 equipes intervenientes no célebre March Madnesss da NCAA. No entanto, classificaram-se para as quartas de finais, o Sweet Sixteen, aquelas equipes que jogaram preferencialmente dentro do perímetro interno, com um, dois e até três homens transitando velozmente junto às cestas, provando de forma definitiva que bolinhas de três, midiáticas, empolgantes e endeusadas, não levam as verdadeiras equipes às finais, pois ainda veremos no Final Four aquelas que salomonicamente transitarão entre o jogo externo e interno, e que de uma forma geral, se aplicarão defensivamente, fora do perímetro. À partir de quinta feira aferiremos a veracidade desse posicionamento.

Finalmente, num jogo que nos foi privado após alguns minutos de iniciado, entre as equipes de Uberlândia e Flamengo, por um de tênis, onde dois estrangeiros se pulverizavam a golpes de tacape, bem a gosto de quem não ama jogos coletivos, mas adora a “gemeção orgástica” de alguns e muitas jogadoras, num desrespeito acintoso e desleal a muitos e muitos pagantes de um canal a cabo, que de forma alguma poderia agir como agiu pelo fato de ter chovido em Indian Wells, e somente retomando o basquete nos minutos finais de uma prorrogação, na qual, e por mais uma vez, ante uma diferença contra de dois pontos, preferiu o jogador Collun de Uberlândia afetuar dois dos três arremessos sucessivos e finais dos três pontos, quando havia tempo suficiente para uma escolha junto à cesta, através uma penetração sua, ou um passe a seus pivôs, levando o jogo para uma segunda prorrogação. Mas não, a “filosofia” implantada que contradiz a conceituação científica e matemática de que arremessos de dois são mais precisos que os de três, tem de ser prioritária junto a um basquete aventureiro e descompromissado com a precisão e a técnica.

Nada pude ver sobre a Liga América porque não tenho a Fox Sports, assim como a Liga Feminina, que desisti por enquanto para não me estressar de raiva.

Mas lá no fundo, ainda guardo uns rasgos de esperanças em dias melhores para o grande jogo, não só entre eles, mas entre elas também…

Amém.

Fotos-Sites UOL, NCAA, CBB. Clique nas mesmas para ampliá-las.



8 comentários

  1. Rodrigo Galego 21.03.2012

    Prof. Paulo..

    Como um assíduo leitor de seu blog, me sinto com muita vontade de escrever sobre este post. Não conheço o Gustavo, também o acho novo para o cargo, mas acredito que ele vem desempenhando um bom papel no NBB com uma equipe que, na mão de outros técnicos brasileiros, estaria em posições inferiores sob o discurso de que o time é “jovem e inexperiente”. Acredito que ele tenha mérito e sinceramente, por ser da mesma faixa etária, foi algo que mexeu bastante comigo no sonho ainda de trilhar esse caminho de me tornar técnico de basquetebol profissional. Confesso a você que o prefiro do que a outros tantos “renomados” por aí, mesmo sem conhecer de perto o trabalho.

    Não me incomoda também ele ser indicação do Rubem e nem o fato do Rubem ser argentino. Penso que o Rubem tem tentado deixar algum legado por aqui além de apenas lutar pela medalha Olímpica. Do pouco que vi de perto seu trabalho, e tive oportunidade de ver (Graças a Deus!), fiquei bem impressionado com suas intenções de fortalecer o basquete brasileiro. Prefiro sinceramente lamentar o outro lado da estrutura pífia dada a organização de campeonatos de base e outros mais que não quero me estender.

    Por fim… eu gosto muito de assistir jogo de tênis. Não vejo problema em ser um jogo individual, não acho forçado os “gemidos osgasmáticos” e sinceramente acho que muito da concentração e do trabalho mental desenvolvido no tênis, se pudéssemos transportar para a formação no basquete, teríamos um trabalho muito mais completo. Entendo o lamento de deixar de ver o jogo de basquete pra ter de ver dois tenistas estrangeiros jogando, já passei essa “raiva” também. Mas não por isso que o tênis seja uma modalidade menor que nosso amado basquete.

    Entendo perfeitamente a crítica ao excesso de chutes de 3 e acho divina a sua luta pra tentar conscientizar os leitores de que devemos ter um trabalho com maior consciência. Apoio muito do que diz por aqui sobre isso. Mas confesso que nesse post do senhor, estas outras observações que colocou, me causaram um certo incomodo e fiz questão de vir me posicionar, pois sei bem como o senhor é um bom admirador das argumentações e dos diálogos criados por aqui em seu blog. Por saber dessa sua capacidade de provocar e debater os temas aqui propostos é que venho dizer que penso um pouco diferente do que aqui foi dito, sem perder um momento sequer da admiração pela sua coragem e trabalho frente a este blog.

    Grande abraço!

  2. Basquete Brasil 21.03.2012

    Que maravilha Rodrigo, você divergir de mim é exatamente o que tento provocar nos leitores, sejam técnicos, jogadores, jornalistas, diretores, torcedores, ou simples interessados no bom e justo debate. Divergir com argumentos, bem pensadas e medidas opiniões, pesquisadas e colocadas indagações, responsáveis idéias, oportunas e factíveis soluções. Enfim Rodrigo, que se discuta neste democrático espaço formas e maneiras para soerguer o grande jogo. Qualquer ação divergente às minhas, tanto no campo teórico, como no prático, é algo que a diferencia e a particulariza ante a mesmice endêmica que nos sufoca e mediocriza, fosso comum que temos o dever de combater através a diversidade profundamente séria e responsável. Das diferentes ações é que alcançaremos a unidade, não de pensamento, e sim do conhecimento profundo das técnicas e dos sistemas,irmãmente compartilhados, originando soluções regionais, nacionais e internacionais. A diversidade é a porta de entrada da criatividade, do livre pensar, na contra mão das implantadas padronizações e formatações.
    Por prezar a liberdade de pensamento, me dou às vezes direito a indignações e revoltas, mas não me penitencio, pois as mesmas de alguma forma refletem meu pensamento e posicionamento frente às mazelas do dia a dia, e que graças aos deuses provocam salutares comentários como os seus, e pelos quais agradeço.
    Um abraço, Paulo Murilo.

  3. Rodrigo Galego 21.03.2012

    Prof. Paulo…

    Exatamente por isso que eu me senti tão a vontade de vir aqui e “dialogar” contigo. Tenho tentado aprender a não me penitenciar tanto também e colocar mais as minhas opiniões. Esse seu trabalho certamente serve como bom exemplo.

    Grande abraço e que continuemos com bons e saudáveis embates.

  4. Basquete Brasil 22.03.2012

    Amém, prezado Rodrigo, amém.
    Paulo Murilo.

  5. Evanildo Junior 23.03.2012

    Boa noite prof. Paulo!

    Acompanhei alguns outros posts juntamente a este sobre o fato de grande parte das equipes brasileiras arremessarem a primeira oportunidade que aparecer (grande parte são tentativas dos 3 pontos) e fiz uma comparação com a equipe do Utah Jazz, a qual venho acompanhando desde o início da atual temporada e obtive a seguinte análise:

    O time de Salt Lake City vem brigando pela 8ª posição de sua conferência, porém, vem jogando com uma boa defesa e na parte ofensiva priorizando pontos no garrafão ou distribuindo a bola para um arremesso de média distância e algumas vezes finalizando com uma tentativa de 3 pontos. Lembrando que o jogo frequente dentro do garrafão proporciona muito contato = falta = lances livres = situação positiva para a conversão do arremesso.

    Cada dia mais me serve de aprendizado fazer análises das equipes, jogadores e treinadores, para que sempre possa encontrar melhores caminhos para meus objetivos. Já venho ensinando meus alunos a sempre procurar melhor opção de jogada e priorizando a cesta fácil.

    Um abraço e tenha uma boa noite professor.

  6. Basquete Brasil 23.03.2012

    Agora, bom dia para você, prezado Evanildo. Sem dúvida alguma a sua opção de estudar equipes como referencial de aprendizagem é correta, e auferirá boas respostas às suas dúvidas e indagações mais para a frente. No momento atual, onde arremessar de três pontos se tornou praxe na maioria das equipes, e não só as adultas, como, e aí se instala o perigo, nas divisões de formação, instruir e ensinar jovens a selecionarem arremessos mais próximos e precisos, é uma das metas que todos os técnicos deveriam adotar com entusiasmo, pois incentivariam a leitura arguta e objetiva do jogo, assim como integraria a todos na busca do coletivismo, marca indelével dos jogos em equipe. por isso, parabenizo-o pelos esforços na adoção desses saudáveis principios em suas equipes. Continue assim.
    Um abraço, Paulo Murilo.

  7. Claudio Carvalhaes 24.03.2012

    Paulo Murilo,

    Não sei se o senhor teve a oportunidade de ver a reprise do jogo do Paulistano, ontem, tarde da noite, pelo Torneio Interligas, em mais uma situação de desrespeito com os amantes de basquete, já que a emissora que detem os direitos de transmissão anuncia o televisionamento do jogo e na hora H, prefere passar reprise de Fórmula 1.
    Mas o que importa é o jogo, e pelo o que foi visto ontem, achei desanimador, e temo que a opção pelos “pombos sem asa” de 3 pontos adotados por sua equipe, e se tornando cada vez mais constante, venha ser a opção utilizada pelo novo técnico da seleção, no Campeonato Sulamericano.
    Ontem, foram assustadores 7/28 nos 3 pontos e 17/36 nos 2 pontos e a diferença de 20 pontos no placar.
    É uma pena, pois a equipe conta no seu garrafão, com o bom jogador Renato Carbonari e um pivo paraguaio de respeito, que para minha surpresa (ou não) foi o segundo jogador que mais arremesou de 3 pontos ontem na sua equipe. Aliás, Paulo, o que o senhor tem a dizer sobre essa aventura de pivôs arremessarem (e muito) de 3 pontos durante os jogos?
    Enfim, acho que, infelizmente, essa opção pelos arremessos de 3 pontos está praticamente enraizada na cultura do basquete brasileiro e nós que condenamos essa atitude e defendemos a escolha pela jogada próximo ao garrafão, estamos nos tornando cada vez mais minoria e sendo engolidos pelo marasmo que vem se tornando o basquete.
    Uma pena.

    Abraços,
    Claudio

  8. Basquete Brasil 25.03.2012

    Sim, prezado Claudio, vi o jogo e concordo inteiramente com seu comentário e preocupação, que se reforça com os dados do jogo de ontem, quando o Paulistano praticamente repetiu os numeros da véspera, 15/34 nos arremessos de dois pontos e 7/26 nos de três na derrota contra o Peñarol, conotando sua preferência por essa forma de jogar. Por lógica e coerência deverá ser essa a orientação na seleção para o Sul Americano, numa opção preocupante e temerária. Mas aguardemos a preparação e a competição para análises mais precisas, apesar de considerar ser esta a escolha do ex noviço, e agora cardeal técnico.
    Um abraço, Paulo Murilo.

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