O OUTRO JOGO…

Terminado o massacre, tenho em mim a certeza de que vi outro jogo, não aquele transmitido e comentado pela TV, maravilhoso espetáculo, a prova inconteste do grande momento que vive o basquete nacional, a mega expressão do jogo bem jogado (?).

“E agora, vejam que espetáculo, a entrada do 6º jogador em quadra, a torcida”, que ato contínuo entoa um coro “homenageando” os juízes, prontamente justificada como “ardente participação”, e mais adiante lança objeto em quadra, determinando uma falta técnica em sua equipe.

“Vejam o espetáculo de duelo entre os armadores, os armadores do Brasil!”. E tome de bola de três, penetrações suicidas, disparadas incontroláveis, e principalmente erros, muitos erros. Pelo visto, temo, e muito, pela armação brasileira em Londres, a não ser que o argentino apare asas em profusão…

Na realidade, foi uma das maiores peladas que testemunhei nos últimos tempos, onde ninguém em quadra atuou em equipe, em nenhum momento, tendo inclusive um exemplo de auto escalação, quando um dos cardeais se insurgiu contra sua substituição ouvindo um “calma, você volta logo…”, e voltou mesmo, rapidinho…

Mais ainda – “Depois do grande sucesso no vôlei, agora temos um juiz antenado no jogo, para vivermos as emoções de dentro da quadra”. E o que vimos de “muito didático” senão reclamações de jogadores, aulas desnecessárias de regras, perfeitamente dispensáveis numa liga superior, a não ser que lá estejam sem merecimento, será? Mas os mais, muito mais de 5seg previstos para as cobranças de lances livres nunca foram coibidos pelos antenados juízes. Triste, muito triste.

No entanto, justiça seja feita, quando num tempo pedido pelo técnico do Bauru, este discorreu sobre o posicionamento nos rebotes de forma precisa e rara entre seus pares, permanentemente ligados ao ataque. Pena que sua equipe e seu armador ensandecido se perdessem vitimas de uma ciranda descontrolada pelo excesso de velocidade, que os expuseram a uma sequência de erros inimagináveis.

Foi um rachão caprichado, mas nunca sequer parecido com um jogo de uma liga superior, onde o bom senso técnico tático deveria prevalecer por todo o tempo de sua duração, e não o tétrico exemplo de como não jogar o grande jogo, como deveria ser jogado. Espero que na segunda partida possamos ver armadores armando e assistindo, alas fintando e arremessando coerentemente, pivôs sendo devidamente abastecidos, e não ali colocados para simplesmente pegar alguns rebotes e aproveitar algumas sobras, e que todos, rigorosamente todos defendam suas cestas, com técnica e determinação, para no fim de tudo saírem da quadra após atuarem num grande jogo, e não em mais um dos rachões de suas vidas.

No outro jogo, um Flamengo que a cada dia que passa mais desaprende a defender, um Jackson anulado por um Day determinado, e uma equipe vencedora cujo técnico não pediu um tempo sequer, indicio de uma equipe superiormente bem treinada, ou um acerto inter pares para      que não se atrapalhassem mutuamente?  Torço pela primeira hipótese, que como toda hipótese…

Mais do que nunca, se avizinha nosso grande problema para Londres, uma armação de qualidade e de grande confiabilidade, que pelo visto nestes playoffs muito trabalho vai dar ao excelente argentino. Uma dupla armação de verdade, e não adaptada ao sistema único, deveria ser seriamente levada em conta pelo técnico da seleção, pois o ajudaria na montagem de uma defesa mais sólida, e em dupla os armadores se ajudariam no sistema ofensivo, diluindo com sua proximidade aqueles erros que constatamos na armação simples. Seria uma escolha sensata.

Amém.

Foto Galeria (Reproduções da TV, clique nas mesmas para ampliá-las):

1 – Ação padrão – arremessos de três sem rebotes colocados.

2 – Opção sistemática pelo arremesso de três em vez do mais seguro de dois.

3 – Armadores que jogam e deixam jogar…

4 – Unusual explanação sobre posicionamento nos rebotes.

5 – Antenado e “didático”…

6 – Lance livre – Ilegal média de 9seg para concretizá-lo…



14 comentários

  1. Douglas 07.05.2012

    Olá, professor.

    Realmente essa marcação que os armadores executam sobre seus adversários de mesma posição é algo inaceitável. Eu não sei se é por cansaço, acordo de cavalheiros, ou sei lá o que, mas essa marcação flutuante dos armadores quando seus adversários estão com a bola é algo que acontece o tempo todo. E o pior de tudo, mesmo com essa liberdade toda, a leitura de jogo é mínima, não há indicação de posicionamento da equipe no ataque por parte deles (vide os 5 abertos e a bola de três na situação do “pagar pra ver”), mal conseguem indicar as tais movimentações marcadas.

    Mais um detalhe: nunca vi nenhum tempo técnico que, sequer, tentou corrigir essa postura, o máximo que vejo é um pedido para pressionar a saída de bola, mas logo a pressão é desmontada e a liberdade é praticada. Ou seja, acontece com sapiência e conivência dos técnicos. Parece que o correto e treinado é ter essa postura.

    Abraços, professor.

  2. Régis Marlo - Campo Grande-MS 07.05.2012

    Boa tarde Professor Paulo Murilo! Queria lhe pedir permissão pra lhe chamar de “Professor” porque a partir de abril de 2012 comecei a ler o seu blog e já me considero um aluno neste Blog que na realidade funciona como uma Instituição de Ensino pra minha sorte, já que é difícil adquirir conhecimentos válidos de Basquetebol. A genialidade de seus textos me faz alcançar novas perspectivas do “Grande jogo”. Eu sou amante e praticante deste esporte. Porém, infelizmente sou peladeiro, talvez se tivesse tido a oportunidade de ter aprendido os fundamentos, especialmente os que se referem a posição de armador (tenho 1,89 m de altura), teria mais bagagens, mas exigir isto na cidade natal com 40 mil habitantes na época (Mariana/MG – Berça da civilização mineira) parece pedir demais.
    Abraço e obrigado

  3. Basquete Brasil 07.05.2012

    É Douglas, a coisa está feia mesmo. Tudo isso relatado por você nada mais é do que o resultado de anos e anos de formatações e padronizações patrocinadas por uma geração de técnicos alinhados com os sistemas adotados pela NBA, e que agora, mesmo frente às grandes mudanças técnico táticas por que passa aquela grande liga, mantêm o compromisso com a mesmice que implantaram e se esmeram em perpetuar. Enquanto mantivermos essa ditadura, muito pouco evoluiremos no grande jogo.
    Um abraço, Paulo Murilo.

  4. Basquete Brasil 07.05.2012

    Prezado Regis, fico muito feliz em tê-lo como aluno, o que muito me honra. Espero que as navegadas que vier a fazer no blog (são mais de 920 artigos)o ajudem a entender um pouco melhor o grande jogo, e também a melhorar o seu jogo, mesmo que em forma de lazer. Espero vê-lo mais vezes aqui nos comentários, participando ativamente no soerguimento do basquete em nosso país. Um abraço, Paulo Murilo.

  5. Marcel Pereira 08.05.2012

    Professor,
    O que acho mais intrigante é que os treinadores dizem ter um leque de combinações de jogadas ensaiadas, mas tudo indica que nos treinos não são ensaiados os movimentos mais básicos, o posicionamento conjunto na defesa é cheio de buracos, cada qual está tentando fazer o seu papel individual na jogada ensaiada específica.
    Me intriga tbem qto tempo se perde nos tempos com a explicação da jogada seguinte. O time faz a jogada transmitida (qdo faz, pqe na maioria das vezes não faz) e as jogadas subsequentes até o próximo tempo.
    Qto a Brasília x Bauru, concordo com todos seus argumentos, mas certamente tem sido o jogo menos pior dos play offs até aqui.
    Flamengo x Uberlândia e São José x Franca foram shows de horrores. Pinheiros e Joinville começou sendo a série de um time só, que joga no limite das suas limitações tecnicas mas conseguiu se impor sobre um elenco individualmente muito melhor que o seu.
    Abs.
    Marcel Pereira

  6. Basquete Brasil 08.05.2012

    Prezado Marcel, sempre tive em mente que o maior dos sonhos de nossos técnicos é o de que pudessem pedir um tempo a cada ataque possivel, a fim de imporem suas influências táticas às equipes que dirigem da forma mais ampla e absoluta possivel, como um mentor centralizador das ações e comportamentos de seus jogadores. Daí acontecer o que você bem relatou em seu comentário. Esquecem porém, que cada jogada é única e irrepetível, sendo uma quimera querer torná-la continua e eterna. Como todos professam um mesmo sistema de jogo, tal premissa se tornou universal, e cujos resultados ai eatão escancarados à vista de todos. O grande jogo merece algo melhor, algo que o faça realmente evoluir da mediocre mesmice em que se encontra.O grande jogo precisa urgentemente se livrar das algemas dos rachòes disfarçados em preparação de equipes.
    Um abraço, Paulo Murilo.

  7. Douglas 08.05.2012

    Olá, professor.

    Mesmo com essa influência do jogo norte-americano, não costumo ver por lá esse espaço todo sendo dado aos armadores. Sim, ele até existe, mas dentro de um sistema abraçado por todos os jogadores. Por exemplo, quando uma equipe joga contra um Dwight Howard, toda a defesa trabalha de forma flutuada para executar dobras nele (ou até mesmo dificultar a chegada da bola em sua mão), já que sua presença no garrafão é forte e, até mesmo, o ponto considerado mais forte do sistema ofensivo do Magic (o segundo seria o chute de 3, que vem por conta da liberdade gerada pela flutuação). Aqui não, beira a preguiça defensiva mesmo. Não importa se o garrafão adversário é forte no ataque, ou fraco, a defesa flutuada é praticada e mutuamente. Como eu disse, parece um acordo de cavalheiros (“Não me marque, que eu não te marco, assim não nos atrapalhamos.”).

    Concordo que temos uma dependência tremenda do modelo norte-americano, critico isso todos os dias, mas não vejo essa falha defensiva como um produto dessa dependência.

    Abraços, professor.

  8. Basquete Brasil 08.05.2012

    Douglas, se conceituarmos que a toda evolução técnico tática ofensiva emerge uma sucedânea defensiva, numa ciranda evolutiva, podemos concluir que se isso não vem ocorrendo no nosso basquete é por força de uma acomodação unilateral, motivada pela permanência do status ofensivo sem uma contestação defensiva. Por isso, concordo que seja um acerto, não entre cavalheiros, mas sim entre pessoas altamente interessadas na continuidade do que ai está, afinal, atende a todos e mantêm empregos.
    Um abraço, Paulo Murilo.

  9. Ricardo 08.05.2012

    Isso aqui:

    “calma, você volta logo…”, e voltou mesmo, rapidinho…

    Foi realmente patetico!

    O cara não tem nenhuma moral………vai ver os jogadores também decidiram no começo do campeonato não jogar, por isso a campanha pifia do time no primeiro turno…..

    E o pior é que ainda serão campeoes de novo!

  10. Caio 08.05.2012

    Professor, vi isso e tive que colocar aqui.(clique no espaço abaixo)

    http://www.fpb.com.br/_dynamics/campeonatos/jogos_A1_stat.asp?pag_name=000026046U.htm&title=362

    Imagina como deve ter sido o jogo…

  11. Basquete Brasil 09.05.2012

    Muito mais, prezado Ricardo, foi constrangedor. Esse é o nosso basquete de elite. Mas vai melhorar com o tempo, o tempo onde vigorará a meritocracia. Um abraço, Paulo Murilo.

  12. Basquete Brasil 09.05.2012

    13/42 de arremessos de três e 14/22 de dois em um jogo da FPB? Inacreditável! Sequer imagino um jogo como esse. Lamentável.
    Um abraço Caio, Paulo Murilo.

  13. Daniel 13.05.2012

    Professor infelizmente ninguém vai entender que com dupla armação terá um equilíbrio defensivo melhor situações no ataque como triangulo com diferentes jogadas!! O jogador não sabe o que é backdoor não sabe jogar sem bola, pergunta qualquer jogador desses o que é posição de tripla ameaça ninguém sabe, infelizmente.

  14. Basquete Brasil 14.05.2012

    É uma triste realidade esta, prezado Daniel. No entanto, jamais deveremos abdicar da luta, da indignação, da esperança em dias melhores, e do firme propósito em não desistir nunca, enquanto existir possibilidade, mesmo que diminuta, de que o soerguimento do grande jogo possa se tornar realidade. Um Abraço, Paulo Murilo.

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