Tirei alguns dias para ler, somente ler, de tudo um pouco, até bulas de remédio…
Visitei a grande rede, daqui e lá de fora, escrevi mais um capítulo do meu interminável livro, agora com a promessa do meu filho André em publicá-lo, inclusive condicionando o término da página do CBEB (da qual e mesmo desse blog, é seu o projeto gráfico) após entregar a ele, pelo menos meio livro pronto (uma boa chantagem técnico/emocional é isso aí…).
No entanto, e para não perder o tino jornalístico, vi-me diante de duas matérias relevantes, fundamentais mesmo, em sua importância para o grande jogo, a matéria do Guilherme Tadeu do Basketeria (É hora de mudar dentro de quadra), e a entrevista do Magnano publicada no O Globo de 19/9/2012 (vide foto), com alguns trechos veiculados no Lance Livre do Byra Bello.
A matéria do Guilherme confirma e afirma definitivamente o processo de nivelamento técnico tático em que se encontra o basquete nacional, nivelamento este que a longo tempo descrevo como a “mesmice endêmica” que nos confina a uma formatação e padronização imposta e coerciva de cima para baixo, e mais recentemente reforçada através os cursos de nivelamento da ENTB/CBB, numa exposição precisa e conclusiva, onde os por quês de sua manutenção junto aos técnicos de elite se mantêm intocada, tanto no aspecto tático, como no econômico, equalizado pela aceitação corporativa da classe. Trata-se de leitura obrigatória para o correto entendimento da estagnação por que estamos passando a mais de duas décadas, e cuja conseqüência maior desaguou na contratação de técnicos estrangeiros em nossa seleção, começando pelo espanhol Moncho Monsalve , e agora o excelente argentino Ruben Magnano.
Mas algo me deixou profundamente preocupado com a entrevista do argentino, sua já não mais velada tendência gerencial voltada a projetos visando ciclos olímpicos, quando sua função, por si só, reconhecidamente difícil, é de orientar tecnicamente a seleção masculina principal, e participar, como consultor das seleções de base da CBB.
(…)“Qual o lugar em que o menino vai, se quer fazer esporte? É clube ou a escola? Como nós da CBB podemos fazer um trabalho para que mais crianças joguem basquete sistematicamente?”(…)
(…)“O esporte é um braço direto da educação. Pode-se transmitir valores por ele. Falo da formação do garoto. Outra coisa poderia ser a música, a cultura, mas o esporte agrada a todo menino. O que melhor para formar uma pessoa?”(…)
Desculpe coach, mas isso é problema a nível ministerial, pela elaboração de uma política, voltada, não só aos esportes e artes na escola, e sim para educação em geral, condição inadiável para a manutenção e evolução das metas progressistas do povo brasileiro, e sem a qual nada alcançaremos num breve futuro que se avizinha inexoravelmente, e o ciclo olímpico escancarará tal e estratégica situação político educacional, e numa brevidade que pode se revelar irreversível.
(…) “A estrutura interna do basquete argentino é uma das cinco melhores do mundo, fácil, pela quantidade de instituições, pela escola de técnicos, com mais de 30 anos, que capacita profissionais anualmente, pela liga nacional muito forte. Em Córdoba, há mais de 300 clubes jogando mini-basquete, cada qual com 50 crianças. Dali, podem sair jogadores, árbitros até dirigentes, os pais que acompanham seus filhos(…)”
Perfeito coach, mas é uma realidade em seu país, realidade esta que nos mesmos 20/30 anos atrás era de pleno domínio nosso quanto ao grande jogo, do qual nos afastamos, mas nada impede que o retomemos, se quisermos, se nos predispusermos ao soerguimento por que tanto lutamos. Agradecemos a honesta e sincera lembrança, mais sua função nesse país é outra, muito bem paga e até agora melhor executada.
No próximo ano acontecerá a eleição na CBB, e seja qual o vencedor, qual a função a ser delegada ao Magnano, a de técnico ou a de gestor?…
Acredito que tenhamos excelentes nomes para gerir nosso basquete, esquecidos e marginalizados pelas últimas e equivocadas gestões na CBB, mas que poderão, enfim, ser resgatados de um limbo criminoso e irresponsável a que foram relegados nesses mesmos e tenebrosos 20/30 anos de mediocridade, tanto fora, como, e principalmente, dentro das quadras.
Quebrar de vez os grilhões impostos pela mesmice endêmica, não só é obrigação nossa, e sim um verdadeiro ato de sobrevivência no grande jogo, e o bom argentino sabe disso em seu importante papel de técnico da equipe principal masculina do país. É o suficiente…
Amém.
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