NÚMEROS PARA NÃO SEREM ESQUECIDOS…

Publico hoje, na íntegra e observando o design original da FPB, as estatísticas do jogo final de playoff classificatório às semifinais do campeonato paulista, entre as equipes de São José e Franca, vencida pela primeira por 82 x 81.

E o faço para comprovar com a maior fidedignidade possível um jogo que não vi, pois não foi transmitido (lastimável omissão…), e que não deveria opinar em qualquer aspecto, pois a realidade de um jogo difere profundamente dos números do mesmo, onde causalidades ditam normas comportamentais e técnicas, fatores que confrontam na maioria dos casos a frieza objetiva deles, os números…

Mas algo de fundamental pode e deve ser mencionado, algo tão inusitado e aterrador que não pode ser omitido, mesmo perante a ausência das imagens do jogo, pois transcende o admissível, ferindo o bom senso de um jogo oriundo e sedimentado no coletivismo, e acima de tudo, na inteligência.

Leiam com atenção as tabelas, linha por linha, número por número, e se perguntem ao final se algo do que leram os elevam a um razoável grau de entendimento frente a valores tão anacrônicos em uma liga maior do nosso basquetebol?

Como uma equipe pode arremessar 12/38 bolas de três (saldo positivo de 36 pontos), mesmo número de tentativas de dois de seu adversário (22/38, com saldo positivo de 44 pontos), tendo arremessado 14/28 de dois pontos, ultrapassando uma convergência em 10 tentativas? Como, senão pelo fato de uma opção defensiva de seu adversário negando contestações às mesmas? Mas com que objetivo final, ainda mais atuando ofensivamente dentro do perímetro onde seus homens altos, Teichmman, Lucas e Léo converteram 54 pontos dos 81 conquistados? Inacreditável que uma equipe com tal poder ofensivo dentro, no âmago defensivo de São José, permita concomitantemente 38 arremessos de três de seu oponente, e o mais trágico, perder o jogo e a classificação?

Creio que hoje atingimos o ápice da negação do grande jogo, apequenando-o da forma mais absurda e primária possível, e não venham conclamando emoções transcendentais, luta e heroísmo, pois quando num jogo de liga maior, decisivo num playoff classificatório, disputado no pretenso campeonato mais forte e representativo do país, 54 arremessos de três são perpetrados, onde só uma das equipes dispara 38 bolinhas, que se contestadas fossem não ultrapassariam das 15-20 tentativas, numa projeção razoável, contabilizando dez a mais do que suas próprias tentativas de dois pontos, algo de profundamente errado e abominável está sendo estabelecido como norma a ser seguida por nossos jovens, que perante tais exemplos paulatinamente se desligarão de maiores preocupações com dribles, fintas, passes e defesa, frente a fria realidade de uma não estancada hemorragia de longos arremessos, que nos levará a uma fatal anemia técnico tática, a um já fragilizado basquete desde à sua formação de base.

Seria de fundamental importância que esse jogo fosse veiculado pela emissora, ou por um link da liga, para que servisse de exemplo, de caminho a não ser percorrido da forma mais absoluta possível, pois em caso contrario estaremos estabelecendo a antítese do jogo como deve ser jogado, que é muito, mas muito distante mesmo desses “conceitos modernos de basquete” que tanto apregoam, sem sequer saber do que se tratam, levando para dentro das quadras espetáculos “vencedores” como este, que deve ser dissociado da emotividade das torcidas, e visto perante a frieza de sua mórbida realidade técnica, e porque não, tática também. Lamentável e constrangedor.

Amém.

 

Gráficos – Federação Paulista de Basquetebol.

 

Equipe: A.E. SÃO JOSÉ/UNIMED/VINAC
PONTOS
3 PONTOS
2 PONTOS
L. LIVRE
REB.
JOGADOR
TEMPO
PT
PP
C/T
%
C/T
%
C/T
%
RA
RD
TRB
AS
BR
TO
BP
FA
EF
04
Laws 39:27 14 30 1 / 4 25 4 / 7 57 3 / 4 75 2 1 3 4 0 0 1 2 13
05
Gabriel 00:04 0 0 0 / 0 0 0 / 0 0 0 / 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
06
Chandler 00:04 0 0 0 / 0 0 0 / 0 0 0 / 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
07
Chico 11:02 1 8 0 / 2 0 0 / 0 0 1 / 2 50 0 1 1 0 0 0 0 2 -1
09
Luis Felipe 19:03 0 17 0 / 3 0 0 / 4 0 0 / 0 0 0 3 3 0 1 1 0 0 -2
10
Jefferson 23:26 5 17 1 / 5 20 1 / 1 100 0 / 0 0 0 4 4 3 1 1 1 3 9
11
Fúlvio 28:45 11 32 2 / 8 25 1 / 2 50 3 / 4 75 1 1 2 10 2 0 1 4 16
12
Érick 09:25 1 5 0 / 1 0 0 / 0 0 1 / 2 50 0 0 0 0 0 0 0 1 -1
15
Deivisson 05:49 0 2 0 / 0 0 0 / 1 0 0 / 0 0 0 1 1 0 0 0 0 1 0
19
Álvaro 32:18 27 55 7 / 14 50 1 / 4 25 4 / 5 80 2 5 7 0 0 0 3 4 20
20
Ícaro 00:23 0 0 0 / 0 0 0 / 0 0 0 / 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0
21
Murilo 30:14 23 28 1 / 1 100 7 / 9 78 6 / 7 86 3 4 7 1 0 0 2 3 26
TOTAL
82 194 12/38 32 14/28 50 18/24 75 8 20 28 18 4 2 8 21 81
Técnico: Régis Marreli Reservas: 2 pt (2%) Desqualificados:
VIVO/FRANCA BASQUETE
PONTOS
3 PONTOS
2 PONTOS
L. LIVRE
REB.
JOGADOR
TEMPO
PT
PP
C/T
%
C/T
%
C/T
%
RA
RD
TRB
AS
BR
TO
BP
FA
EF
04
Cauê 12:12 0 2 0 / 0 0 0 / 1 0 0 / 0 0 0 0 0 1 0 0 0 2 0
05
Zezão 00:00 0 0 0 / 0 0 0 / 0 0 0 / 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
07
Jhonatan 40:00 6 19 0 / 3 0 2 / 4 50 2 / 2 100 1 4 5 7 0 0 2 4 11
08
Figueroa 29:46 12 15 2 / 3 67 2 / 2 100 2 / 2 100 0 3 3 3 0 2 1 3 18
09
Socas 26:26 9 16 1 / 2 50 3 / 5 60 0 / 0 0 0 7 7 3 1 0 2 2 15
13
Teichmann 36:30 22 30 2 / 3 67 7 / 9 78 2 / 3 67 0 5 5 4 0 1 6 3 22
14
Dudu 00:00 0 0 0 / 0 0 0 / 0 0 0 / 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
17
Lucas 27:02 18 32 0 / 0 0 6 / 12 50 6 / 8 75 0 2 2 3 0 0 2 4 13
23
Léo 18:42 14 27 2 / 4 50 2 / 5 40 4 / 5 80 1 3 4 1 0 1 1 2 13
28
Ivanovic 05:52 0 0 0 / 0 0 0 / 0 0 0 / 0 0 0 2 2 0 0 0 0 0 2
32
Zanini 00:00 0 0 0 / 0 0 0 / 0 0 0 / 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
55
Antonio 03:30 0 0 0 / 0 0 0 / 0 0 0 / 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0
TOTAL
81 141 7/15 47 22/38 58 16/20 80 2 26 28 22 1 4 14 21 96
Técnico: Aluísio Ferreira – Lula
Reservas: 23 pt (28%)
Desqualificados:


6 comentários

  1. Douglas Gaiga 23.10.2012

    Olá, professor.

    Pois é… Não consigo dar outro adjetivo a esses números que não seja TENEBROSOS. Também não vi o jogo, mas pelos números fica claro que foi um “bumba-meu-boi” daqueles, digno dos mais refinados rachões de final de semana. Inicialmente nota-se que, ou os técnicos não confiam em seus bancos, e futebolísticamente, utilizam quase que exclusivamente sua equipe “titular”, ou simplesmente esqueceram que foram escalados mais de 7 jogadores para a partida em suas equipes. Lula Ferreira então, teve 5 de seus 7 atletas jogando menos de meio quarto (Ivanovic jogou 52 segundos a mais que isso e o coloco nesse bolo também, já que 1 minuto a mais, ou a menos, tratando-se de uso do jogador, é quase nada em 40 minutos possíveis). Os conceitos de “basquete moderno” apregoados por esses tais técnicos de elite, formados por workshops de 4 dias, falam muito do revezamento dos atletas, afim de manter um nível padrão técnico-tático (pelo o que os números que vemos na maioria das partidas jogadas por aqui demonstram, esse padrão trata-se de chutar de 3 até o ombro doer).

    E os destaques que foram mencionados pela mídia? Calvo, especialista dos 3 pontos, teve 50% em sua melhor característica, sendo um 7/14 que lembra números vindos daqueles campeonatos de 3 pontos festivos, onde a habilidade de conduzir a bola sem dribrá-la também é muito vista. De 2 pontos, pífios 25%. Um jogador de 2,03m, magro e bem ágil no pouco que pude observar, se limita a bolinhas tresloucadas. Onde será que esse rapaz se formou na Espanha? Ou será que foi contaminado pela nossa ditadura das bolinhas? O outro destaque: Fúlvio. O armador que chutou 2/8 de 3 pontos. Falar o que? Aquele que deveria extinguir o fogo, joga gasolina na labareda. Dizem que é um ótimo driblador, habilidoso e rápido, com mudanças de direção que deixam seus marcadores no chão. Pois se limitou a jogar a bola pro alto, já que arremessou apenas 4 lances livres. Pelo visto, sequer tentou partir em direção a cesta.

    Vou me limitar a essa superficial análise, entrando em acordo com a superficialidade dos números expostos. Será que é tão difícil fazerem algum tipo de parceria com instituições de ensino superior, encontrando estudantes de estatística para fazerem estágios não-remunerados, afim de testarem na prática o que é aprendido e consolidarem seus conhecimentos, assim gerando números melhores? Acredito que ninguém na FPB pensou nisso, afinal estão muito ocupados fazendo campanha eleitoral para sua chapa na CBB, ao invés de cuidarem daquilo que lhes é responsabilidade: o coitado do basquete!

    Abraços, professor.

  2. Ricardo 23.10.2012

    Caro Professor,

    Realmente não sei o que é mais assustador: um time arremessar 38 bolas de 3 pontos, ou permitir-se que um único jogador converta 7/14! Assisto assiduamente às partidas do São Jose, e confesso que há momentos do jogo em que me enerva a artilharia desenfreada desencadeada pela falta de mobilidade para se executarem jogadas mais inteligentes. E isso porque temos supostamente a melhor dupla armador-pivo do Brasil! Fora vários alas altos e leves que poderiam tranquilamente desequilibrar a lógica das partidas.

    Aproveito o espaço para levar a público a recente “crise de bastidores” desencadeada na equipe do São José, que “coincidentemente” ocorre no final do mandato PSDBista e vitória PTista nas eleições municipais. Espero que o nobre esporte seja preservado, a despeito das disputas pelas fartas tetas das verbas municipais. Disputas que se alastram como cancer na disputa fisiologista pelo aparelhamento da máquina pública brasileira, em todas as esferas. Torço para que o basquete, mesmo que sob a batuta do esquema “pão e circo” sobreviva, ainda que com todos os defeitos por nós já mencionados

  3. Basquete Brasil 23.10.2012

    Prezado Douglas, como você acompanha já de algum tempo jogos em nosso país, deve ter percebido que a mesmice técnico tática se cristalizou, independendo se na base ou na elite, e que foi um tanto postergada quando do preparo da seleção com vistas ao pré olímpico de Mar del Plata, e mesmo lá resquicios da febre dos três foi manifestado, deixando o técnico argentino perante um sério dilema em confronto com sua forma de agir e pensar o grande jogo. Como por aqui a destinação das divisões de elite é que pautam os comportamentos técnicos das divisões de base, quando deveria ser exatamente o contrário, um seleto e restrito grupo de técnicos vêm impondo esse modo de agir e pensar, ao omitirem qualquer tentativa para refrear tal sindrome em seus jogadores, confessando abertamente sua cumplicidade na forma de agirem dentro da quadra, num clarissimo recado de que é dessa forma que devemos jogar, e ponto final. Ao tentar quebrar essa tendenciosa e terrivel realidade, quando da direção do Saldanha da Gama no NBB2, vi-me ao final daquela pequena participação expurgado do sistema, pois em hipotese alguma poderia me insurgir contra o mesmo, causando desequilibrios e dúvidas sobre algo implantado e sedimentado, daí meu coercitivo afastamento do NBB, mesmo provando ser qualificado em alto nivel para disputá-lo.Só não contavam com minha teimosia em manter um blog ativo, critico e persistente, de onde, como jornalista, professor e técnico que lá esteve com sucesso, exerço o sagrado e democrático direito de participar do processo de soerguimento do grande jogo, mesmo na contra mão de um corporativismo não tão valente assim ante um septuagenário que pensa bem diferente dele. Mas como a vida tem de seguir em frente, continuo a batalha dessa humilde trincheira, que também pertence a todos aqueles que como eu, pensam de outra forma.
    Um abraço, Paulo Murilo.

  4. Basquete Brasil 23.10.2012

    O mais assustador, prezado Ricardo, é assistir técnicos ao lado de uma quadra coexistindo deliberadamente com tal hemorragia, sem mover um músculo, mas torcendo para que as bolinhas caiam, e caiam, e caiam. Mas meus deuses, por 38 vezes? E ver do outro lado um outro torcendo para que não caiam, não caiam, não caiam, assistindo sua equipe sequer contestar com um mísero gesto de anteposição à saraivada de petardos ao seu encontro, pois ambos sabem que a troca será feita, de comum acordo, num conluio de compadres, vencendo quem acertar a última bolinha. Vê-se tal comportamento da base ao adulto, como uma epidemia incontrolável, alastrando-se sem vacinas, sem freios, impunemente. Mas algo me diz que mudanças advirão, pois não podemos continuar nessa assustadora e destrutiva trilha direcionada ao nada.
    Um abraço, Paulo Murilo.

  5. Marcos Gordinho 23.10.2012

    Caro professor. É lastimável essa obcessão por chutes do perímetro no Brasil, certa vez quando tinha 15 ou 16 anos um técnico destacou em uma conversa conosco que bolas de 3 são um recurso ou um desespero. Da forma como aconteçe no Brasil com a defesa zona acomodando atletas desde as categorias de base qualquer jogador de arremesso pífio se sente encorajado a mandar ver do perímetro quando não sabe ser eficiente nem na distância do lançe livre. Lembro que na final da NBB passada as 3 primeiras finalizações foram do perímetro realizadas pelos pivôs das equipes, livres e com zero aproveitamento. Se fala na carência de um produto bom para os espectadores e falemos sério, assistir um monte de mão de pau chutando de longe é muito pior que ver brutamontes se digladiando embaixo da cesta, pelo menos a segunda visão remete a disputas de MMA entre gigantes, coisa que brasileiro adora. Agora nos diga professor, o que fazer para mudar isto? Sugiro alguma regra que forçe a saída de uma marcação Zona para uma individual. Pode parecer simplista, mas em alguns torneios de street onde as regras da CUFA obrigam marcação individual, mesmo jogando em um nível amador pode-se observar belas jogadas e a inibição de chutes longos que facilmente são contestados simplesmente porque o defensor têm que se manter próximo para que sua equipe não sofra uma falta por irregularidade. Mas devo estar sendo pequeno nesta minha forma de pensar. Então professor que fazer?

  6. Basquete Brasil 24.10.2012

    O que fazer, prezado Marcos. o que fazer? Sugiro que você acesse na coluna Categorias desse blog o ítem Multimidia. Bem, percorra os artigos e escolha um dos jogos que ali se encontram, jogos da equipe do Saldanha da Gama que dirigi no NBB2, e que mostram como jogar sem a ditadura dos arremessos de três, mostram como jogar com os homens altos participando efetivamente do jogo, como uma equipe, e determinam parâmetros opostos ao comportamento da armação do jogo implantada entre nós, com uma dupla, eficaz e criativa armação, em tudo e diametralmente em oposição ao que executamos coercitivamente em todas as equipes do país, desde a formação de base, até a elite, enfim, uma forma diferenciada de jogar o grande jogo.Mas para que resultados como esses sejam alcançados, se torna necessária toda uma didática específica, todo um vasto e apurado conhecimento do jogo, alcançado em muitos e muitos anos de estudo, pesquisa e prática constante, na contra mão do que vemos hodiernamente, quando todo um processo se torna escravo de um sistema único de jogo, formatado e padronizado por um corporativismo totalmente voltado à sua imposição em todas as suas etapas, da formação de base à elite.
    Assista a um ou varios jogos, que talvez encontre as respostas ao seu pertinente questionamento – Então professor que fazer?
    Um abraço, Paulo Murilo.

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