SENTADO DE FRENTE PARA O COMPUTADOR…

Na ausência do que realmente comentar, frente à pétrea mesmice técnica e  tática que caracteriza o nosso basquetebol, uns poucos, porém importantes tópicos podem ser mencionados, como a entrevista dada pelo técnico Aloizio Ferreira, o Lula, ao blog Bala na Cesta, em 8/1/13, da qual destaco uns parágrafos interessantes para uma analise bem superficial, já que o entrevistado critica ao fim da entrevista o fato de que –  “A tecnologia atual melhorou enormemente muita coisa, mas também viabilizou a possibilidade de qualquer interessado fazer análises profundas apenas sentado a frente do computador, sem ao menos sentir as condições reais do campo de trabalho e dos jogos.” Bem, como além de profundamente interessado no grande jogo, sendo também professor e técnico do mesmo, e de estar, por falta de opção na direção de equipes, sentado à frente de um computador, redigindo e editando o Basquete Brasil, do qual não me afastaria mesmo atendida a opção acima, é que passo às análises das matérias publicadas na semana.

Comecemos por alguns parágrafos da entrevista do técnico Lula:

(…) Temos também a participação dos técnicos da base nestes treinos, para que todos nós tenhamos a mesma filosofia de jogo, respeitando as características de desenvolvimento de cada idade. Outro fator que cuidamos com atenção é a carga de treino de cada atleta, procurando respeitar que a soma total de todos os treinos semanais seja compatível com a capacidade de cada atleta. (…)

Como vemos, uma boa idéia como essa tropeça na imposição da famigerada “filosofia de jogo”, que trocada em miúdos quer dizer que o sistema único, com suas definições de posições e jogadas marcadas têm de ser preservado desde a formação, preterindo o livre jogar e pensar lastreados pelos fundamentos do jogo, que obrigatoriamente deveriam ser os focos abordados na idade de formação, e não filosofias de jogo.

(…) Hoje quem quiser ser campeão do NBB5 certamente terá que evoluir técnica e taticamente em relação ao NBB4. As mesmas estratégias que deram certo na temporada anterior com certeza não serão suficientes para o sucesso nesta. (…)

Como isto é possível se desde o NBB2 nenhuma forma diferente de jogar o grande jogo sequer foi tentada? Porque confundir propositalmente estratégias com técnicas e táticas de jogo que são fatores dispares?

(…) Outra medida importante que a LNB adotou no NBB5, e que abre portas enormes para as análises técnicas e táticas, é que todos os jogos realizados são lançados num arquivo virtual com acesso para todos os técnicos. Isto viabiliza, para todos os treinadores, a oportunidade de estudar seu adversário acessando os jogos da última rodada. (…)

Todos os técnicos, como? Na realidade para a elite diretiva do NBB/ LNB, ou não? Caso esteja enganado, onde está publicado o link de tão importante arquivo, que se realmente público faria evoluir a modalidade em seu todo, e não uma elite fechada, onde? Público mesmo são os jogos que veiculei aqui nesse humilde blog…

(…) Acredito que é uma questão de tempo e teremos uma boa evolução técnica e tática no NBB. Claro que precisamos de outras ações, pois o NBB trabalha com a elite da modalidade, e o trabalho de base é fundamental. Vamos precisar muito que ENTB continue no seu projeto de formação dos técnicos, e que cada entidade do esporte, ministério, COB, Confederação, federações, secretarias estaduais e municipais façam sua parte e se integrem para um trabalho harmonioso. (…)

Eis um bom ponto da abordagem feita pelo técnico Lula, com uma restrição, o papel da ENTB na efetiva formação de técnicos, que em hipótese alguma pode ser pautada em cursos de 4 dias de palestras e prática insuficiente. Pensar, planejar e inserir conhecimentos práticos e teóricos demanda tempo e paciência, além de acompanhamento permanente e persistente. Uma escola não é balcão de apostilas.

(…) Em contrapartida, técnicos brasileiros que formam pólos de desenvolvimento do basquete, ou mudam o perfil de equipes de ponta do basquete brasileiro, como vemos claramente em equipes do NBB, não recebem o mesmo destaque por parte de quem julga. Nós, técnicos brasileiros, temos enormes defeitos e vícios que devemos correr atrás para melhorarmos, mas há um enorme problema na forma que somos analisados. A tecnologia atual melhorou enormemente muita coisa, mas também viabilizou a possibilidade de qualquer interessado fazer análises profundas apenas sentado a frente do computador, sem ao menos sentir as condições reais do campo de trabalho e dos jogos. (…)

Fora a equipe dirigida pelo entrevistado e pela do Paulistano e Minas, que investiram nos jovens, mas mantendo o sistema único de jogo, que perfil técnico tático originou qualquer pólo de desenvolvimento em nosso basquetebol a não ser a adequação de uma bem vinda dupla armação dentro do referido sistema ? Como explicar o altíssimo número de erros de fundamentos nas equipes de elite?

Outro impactante tópico se originou de uma matéria publicada no blog Bala na Cesta de 7/1/13, onde o jogador Fúlvio declarou:

(…) Peço desculpas à torcida de SJC por ter sido expulso de jogo “injustamente”. É muita blindagem para uma arbitragem despreparada. Não pode gesticular, falar, reclamar! E eles fazem o que querem sem consequência por seus atos” (…)

Que outra desculpa poderia ter sido dada pelo jogador, assim como a maioria dos jogadores brasileiros, quando vêem jogo após jogo seus técnicos gesticularem, falarem e reclamarem permanentemente das arbitragens, numa pressão inconcebível e indesculpável em uma divisão de elite. Com exemplos assim, por que não adotá-los ?

Finalmente, uma definição lapidar do momento político por que atravessa o basquetebol na fase pré-eleição em que se encontra, feita pelo professor e técnico José Medalha em carta aberta enviada ao Clipping do Basketball  do jornalista Alcir Magalhães em 9/1/13:

Amigos do basquetebol.
Estamos as vésperas de mais uma eleição para CBB. Conheço bem o processo. Fui ate candidato em 2004 iniciando um movimento chamado MUDA CBB.  Na época tinha o apoio de 04 presidentes considerados independentes, Maués do Pará,  Admilson do Piauí , Carlinhos de Alagoas e Cel. Julião do Ceará.. Com a candidatura mais forte então de outro opositor, Helio Barbosa, tentamos nos unir para promover a mudança tão esperada desde aquela época. Aprendi uma coisa, no atual processo não adianta entrevista, planos, projetos, etc. Os 27 donos dos votos é que decidem. A adesão de Chakmati tem tanto valor quanto a de outro presidente de uma federação menor. Analisando o atual momento tenho certeza de uma coisa, Carlos Nunes será reeleito, para o bem ou para o mal do nosso basquetebol, ou para continuar do jeito que está.

Jose Medalha

Perfeito, simplesmente disse tudo. Então o que se esperar de tal pleito?

 

Ah, ia me esquecendo uma declaração inédita de um técnico da elite, no Globo Esporte de 9/1/13, contratado para elevar sua equipe a novos e vencedores patamares, explanando detalhes de seu planejamento:

(…) No nosso planejamento inicial, quando apontamos os jogos em que podemos vencer, nós não colocamos nem esse jogo contra o Franca, nem o próximo contra o Uberlândia (no sábado, dia 12) na nossa lista. Claro que a gente fica esperançoso em fazer bons jogos, mas é realmente muito complicado vencer adversários desse porte. Essas equipes têm um grupo de trabalho de, pelo menos, quatro anos e o nosso trabalho está começando agora, então é complicado querer algo desse nível – (…)

Mesmo sentado à frente de um computador, dizer mais o que, em qualquer plano ou profundidade ?

Amém.

Fotos – Sites Bala na Cesta e GloboEsporte. Clique nas mesmas para ampliá-las.



8 comentários

  1. ALEXANDRE MIRANDA 12.01.2013

    Professor, eu também pude ler e comentar a respeito deste post do Bala. Novamente gostaria de deixar claro que foi uma entevista muito boa, pois além de questioná-lo também pode permitir que o entrevistado falasse bastante (onde outras informações se sobressairam).

    Com a sua permissão repercurto o comentário lá feito:

    “… algo de muito interessante se desprendeu desta entrevista e que pode se transformar em um outro post: Estrutura de treinamento de base.

    No caso de Franca é algo que parece diferente do senso comum – um clube, geralmente, centraliza o comando das categorias de base e as associa ao adulto. Lá, pelo contrário, tenta-se um cooperativismo, onde fomenta-se uma filosofia em comum, mas metodologias diferenciadas e independência das entidades. Como se dará este processo e como será o produto final ninguém sabe, apenas teremos especulações e pressôes por resultados. Mas com certeza é um caminho interessante, no Brasil são poucos os clubes que conseguem fazer trabalho de base e adulto com a mesma competência e disponibidade (financeira, recursos humanos, aspectos temporais…).

    Acompanhemos este caso, que junto com as escolinhas municipais de esportes podem vir a ser o caminho para o desenvolvimento da modalidade.”

    Pois bem Professor, em sua opinião, como deveria ser um modelo estrutural de categorias de base? Um clube centralizando desde o pré-mini até o adulto? Ou como o de Franca, com entidades independentes, cada qual com sua categoria mas com um objetivo em comum e trabalhando juntas? Talvez o modelo de escolinha de esportes municipais – fornecendo capital humano para os clubes e cidadãos praticantes de basquetebol para a sociedade?

    O que acha Professor? Abraços sinceros…

  2. Basquete Brasil 13.01.2013

    Sim, prezado Alexandre, admito que o modelo desenvolvido em Franca fique próximo do ideal, ainda mais que a participação escolar ainda se encontra muito distante do que deveria representar de basico e estratégico no desenvolvimento da atividade desportiva no seio de nossa juventude. Minha critica não foi dirigida ao modelo, e sim ao fato confesso de que uma filosofia de jogo (entenda-se como o sistema único formatado e padronizado em todo o país)estaria sendo seguida por todos os responsáveis pela direção das equipes, quando a pluralidade deveria ser o objetivo a ser alcançado,e sem a qual, o processo criativo estaria sendo negado no desenvolvimento dos jovens, submetidos ao modelo imposto de cima para baixo, numa inversão proposital de valores.
    Um abraço, Paulo Murilo.

  3. Rodolpho 13.01.2013

    Alguém criado em Franca esteve nas Olimpíadas?

  4. Basquete Brasil 13.01.2013

    Boa pergunta, Rodolpho, muito boa mesmo…
    Um abraço, Paulo Murilo.

  5. Rodolpho 20.01.2013

    Professor,

    Gostaria de registrar aqui, na sua “trincheira”, ótimos e, principalmente, péssimos acontecimentos no jogo de sábado entre Vila Velha e Brasília.

    Não vou – ao menos hoje – realçar a convergência do atual tricampeão do NBB. Os 30 arremessos de 3 pontos e 29 de 2 pontos foram irrelevantes nesse jogo. Muito menos ressaltar a atuação do jogo interno, que poderia ter alguma importância para o fim dessa reprovável convergência, com a chegada do pivô Paulão Prestes, com passagem inclusive pela NBA. É um jogador bem lento e sem recursos técnicos. Será só mais um pegador de sobras.

    Defender o técnico do Vila Velha, justamente criticado nesse artigo, é meu motivo principal de escrever por aqui. Não pelo aspecto técnico, que pode ficar para uma outra hora. E sim pela total falta de respeito, dentro do seu ginásio, diante de sua torcida, pelo ala Guilherme. Após o término do jogo, não fosse a intervenção de outros atletas e dirigentes, chegar às vias de fato com o Daniel parecia ser o objetivo do jogador. Como pode, caro professor, um atleta olímpico, e principal jogador do atual tricampeão nacional, além de presidente do sindicato dos atletas da classe, tomar uma atitude dessas? A que ponto chegamos?

    Gostaria de relatar aqui também a patética apresentação do armador Alex, com 2 faltas técnicas. O atleta conseguiu a proeza de reclamar da arbitragem ANTES do início do jogo, já prevendo seu desequilíbrio emocional para a partida. Os 1/7 de longa distância, além do banho de basket que levou ao tentar defender os alas americanos são de menos. Além de péssima defesa, praticamente expulsou de quadra seu companheiro, Eric Tatu, depois de uma falha na marcação, que foi prontamente substituído e praticamente não voltou mais à quadra, mesmo com Nezinho suspenso.

    Alex também conseguiu algo inédito, ao menos pra mim. Brigou com a mesa, por um erro no relógio, com a bola em jogo.

    Enfim, 5 faltas técnicas foi muito pouco mesmo, pela atitude desrespeitosa desses 2 atletas supracitados.

    Toda raça da equipe capixaba, ainda assim, não foi ofuscada. Um time que geralmente critico, merece todos os méritos pela grande apresentação, numa merecida vitória.

    Dias melhores ao NBB.

    Um grande abraço.

  6. Basquete Brasil 20.01.2013

    Olha Rodolpho, fico triste com o seu relato, mas não surpreso, pois fatos como esses descritos por você já se tornaram rotina na equipe do planalto, e não é de hoje.Só uma pequena dúvida, o que foi dito pelo técnico para despertar tanta ira no jogador candango, porque de graça não foi, ou foi? Mesmo assim, é de se lamentar o ocorrido, mas…
    Agora, não só o Saldanha venceu Brasilia, o CETAF também, o que é muito bom para o basquete capixaba.
    Um abraço, Paulo Murilo.

  7. Rodolpho 21.01.2013

    Professor, não ouvi o que foi dito, mas garanto que foi de graça. O ginásio estava lotado e eu estava no lado oposto aos bancos.

    Como eu disse, o Brasília já estava descontrolado antes da bola ao alto e Guilherme foi o mais exaltado durante todo o jogo. Gostaria de ressaltar também a bela atitude do CETAF, que em momento algum caiu na pilha de reclamar de qualquer marcação. Depois da enésima reclamação injustificável do Guilherme (ao lado do banco adversário) o técnico Daniel entrou na discussão, creio eu que para reclamar do excesso do ala, que realmente já tinha passado há muito dos limites da boa educação. Inclusive essa reclamação gerou um dos poucos erros da arbitragem, que foi a dupla técnica (no ala e no técnico), quando, na verdade, somente Guilherme a merecia.

    Quero ressaltar também o excelente nível da arbitragem, com pouquíssimos erros e muita serenidade, mesmo ao marcar tantas faltas por indisciplina. Jamais perderam o controle do jogo. Infelizmente não sei o nome dos árbitros nem onde posso encontrar.

    O basquete capixaba pode sim se gabar desse feito, mas esqueci de deixar a vergonhosa situação do ginásio, com muitas goteiras (contei mais de 20 escorregões, que influenciaram MUITO o resultado do jogo) e a falha no placar eletrônico, inaceitável numa liga que quer ser de alto nível. Parecia muito com a situação triste que vive atualmente o ginásio do Tijuca.

  8. Basquete Brasil 21.01.2013

    Desculpe, prezado Rodolpho, mas considerando seu relato, se houve discussão entre um jogador e o técnico adversário uma falta técnica para cada um deve ser marcada, pois tais procedimentos não se coadunam com as regras do jogo, estando os juízes corretos na marcação. Quanto ao estado do ginásio, é assunto sério para a liga, claro, se realmente quiser intervir frente a um regulamento aceito por todas as franquias, é o minimo que se pede.
    Um abraço, Paulo Murilo.

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