RESCALDO DE UMA FESTA…

Um bom artigo do Fabio Balassiano no seu Bala na Cesta de ontem, faz um balanço do que foi o NBB5, sua importância, suas conquistas, e sua dimensão no cenário desportivo brasileiro, assim como, análises das equipes, jogadores e técnicos que se destacaram na competição.

Pouco a acrescentar, mas algo a ser lembrado sempre, e muitas vezes esquecido, acredito que por sua juventude, alinhada a da maioria de seus colegas blogueiros, o fator técnico tático calcado na longa experimentação e aplicação prática de gerações anteriores de técnicos que muito acrescentaram ao desenvolvimento do basquetebol em nosso país, como numa bibliografia quase sempre negligenciada, e algumas vezes inexistente por não mencionada por utentes de seus ensinamentos, roteiros e vivências reais, como se a realidade técnica e tática atual independesse do que já foi feito, como se existisse a partir do momento em que analistas e técnicos descobriram o grande jogo em suas vidas.

E quando rememoram feitos passados e reutilizados no presente, privilegiam o que vem de fora, das esferas americanas, européias, argentinas, esquecendo que aqui mesmo, berço de um bicampeonato mundial e três medalhas olímpicas, muitos técnicos inovaram em seu árduo mister de fazer acontecer um jogo quase sempre desprestigiado e negligenciado pela mais completa ausência de uma política desportiva nacional, voltada à formação e a divulgação do grande jogo.

Agora mesmo, está acontecendo uma pequena revolução na forma de jogar e atuar no âmago da LNB, com algumas de suas franquias reorientando seus sistemas de jogo, suas táticas, mas ainda pecando muito no ensino de suas técnicas do jogo individual e coletivo, como a utilização inteligente da dupla armação, do jogo interior através a utilização de pivôs móveis, ágeis, atléticos e muito velozes interagindo com seus armadores dentro do perímetro, tentando defender o perímetro externo com mais assiduidade e combatividade calcada no treinamento especifico e correto em fazê-lo, ensaiando ainda timidamente uma defesa frontal dos pivôs adversários, sugerindo ainda que muito distante, a troca consciente dos arriscados, inconseqüentes e imprecisos arremessos de três pelos de dois pontos, equilibrados, precisos e decisivos num sério jogo de basquetebol, numa projeção do que poderá vir a acontecer de progresso em nossa maneira de ver, sentir, ler, pesquisar e estudar fórmulas mais práticas de jogo, levando-o ao processo mais difícil, mas não impossível de ser atingido, sua simplificação, sua síntese técnico tática, somente alcançada por quem e por aqueles que realmente conhecem o grande jogo.

Mas essas conquistas não estão nascendo agora, como na vitória do Flamengo no NBB5, ou como na ascensão de uma jovem equipe como a de Franca, como no ainda inseguro, porém promissor Bauru, ou mesmo pelos oscilantes Uberlândia, São José e Paulistano, que são as equipes prestes a se desvincularem do sistema único, a partir do momento em que se descobrirem capazes de tão grande e icônico salto, rumo a uma realmente nova forma de jogar.

Como tudo na vida tem um princípio, uma raiz, uma razão de ser e acontecer, seguindo o inexorável ritmo da evolução, do aprimoramento e da sedimentação, novos ares terão de ser profundamente inspirados, alimentando o conhecimento, a história, respeitando o antecedente, a origem, as raízes.

Desde sempre respeitei e reverenciei os clássicos e míticos mestres que me inspiraram, orientaram e ensinaram o caminho das pedras, do estudo, da pesquisa, do conhecimento enfim, aos quais permanentemente menciono e retransmito suas heranças, suas lembranças, suas vidas.

Ao me retirar da Arena no sábado, sem antes não deixar de cumprimentar o Domenici da LNB, caminhei sozinho até meu carro, deixando para trás o burburinho, a festa e as comemorações de mais um campeão do NBB, mas convicto de ter cumprido a humilde missão de, na teoria e na prática, ter mostrado com ações e fatos ser possível inovar sobre algo tão antigo como o basquetebol, com pinceladas sutis sobre uma dupla armação, um jogo mais dinâmico dentro do perímetro, sobre uma defesa linha da bola com flutuação lateralizada, permitindo uma eficiente defesa frontal ao pivô adversário, sobre o mais absoluto distanciamento  das arbitragens, sobre o comedido e calmo comportamento ao lado de uma quadra, sobre o convencimento de que dois arremessos de dois pontos geram mais eficiência e precisão do que um midiático de três, sobre a enganosa perda de  tempo praticando enterradas e não arremessos DPJ, os que ganham jogos, e finalmente reconhecer nos que me antecederam o cerne imorredouro que guindou o basquete ao patamar que hoje ostenta, o grande, grandíssimo jogo.

E lá fora da grande Arena, me entristeci, não por lá não estar comemorando, não, e sim por me ser vetada a possibilidade de poder participar do jogo de minha vida, que segue, dessa humilde trincheira, reverenciando os que merecem, de verdade.

Amém.

OLYMPUS DIGITAL CAMERAOLYMPUS DIGITAL CAMERAFotos – Teoria defensiva da Linha da Bola com flutuação lateralizada e Pratica dos Fundamentos do jogo (Equipe do Saldanha da Gama – NBB2)Clique nas mesmas duas vezes para ampliá-las.



2 comentários

  1. Henrique Lima 04.06.2013

    Professor Paulo,

    como vai o senhor ?

    Assisti a final do torneio e não gostei do jogo.

    Achei duas equipes perdidas, Uberlândia muito mais,
    excesso de arremessos de fora (Flamengo sabe Deus como,
    fez 6/26 de tres e 22/29 de dois e não forçou mais o jogo interno, algo que não compreendo).

    Uberlândia tão pouco defendeu bem o garrafão, onde tomou um baile do time rubro negro nas poucas tentativas que o Flamengo fez internamente.

    Admito que assisti bem menos do que gostaria desta temporada porém no que consegui assistir, vi movimentos pequenos e isolados rumo à algo melhor.

    Flamengo campeão nacional teve 34% das tentativas de três pontos no volume total ofensivo. Eu ainda acho muito.

    Uberlândia quase 39% dos seus chutes foram de três pontos durante toda temporada. O que é uma absurdo.

    E por aí vai …

    Se as mudanças estão vindo são tímidas e na hora dos grandes jogos, voltamos aos chutes de três.

    É fácil jogar contra Suzano e fazer qualquer coisa.
    E no caso de vários no Nacional é fácil falar o discurso da mudança.

    A prática, eu realmente acho que estamos andando em passos lentos demais.

    Um abração Professor !

  2. Basquete Brasil 05.06.2013

    Estou muito bem de saúde Henrique, tentando produzir algo de valor para o nosso basquetebol, como a Oficina do mês passado aqui em casa, e que pretendo estabelecer com frequência regular a partir de julho, quando na última semana de cada mês, de sexta até domingo, receberei até três técnicos que se interessem em mergulhar comigo no mundo do grande jogo, que foi um sucesso nesta primeira oportunidade com os dois técnicos de São Paulo. Ultimo a construção de um mini ginásio, modificando e adaptando o estúdio de dança de minha filha, que se encontra desativado, oferecendo um bom espaço para as atividades práticas, já que as teóricas encontram um bom espaço estabelecido. Quem sabe você possa estar numa delas?
    Concordo com você sobre o jogo, mas optei em comentar o pouco que vi de novo(?)que em se tratando de basquete brasileiro já é muito, ainda mais em uma decisão de campeonato. Sem dúvida alguma teremos de penar por um longo tempo, até que mudanças realmente relevantes soergam o nosso combalido sistema único de jogo, pois como se encontra, pouco teremos de progresso pela frente.
    Um abraço Henrique, Paulo.

Deixe seu comentário