Se um jogador corre em alta velocidade driblando uma bola, olhando para ela (e não a vendo em visão angular), sem alternar ritmos e pequenas negaças, ou mesmo mudando de direção com troca de mãos, sem a cabeça erguida e olhos visionados perifericamente quando em estreita presença adversária, semi pressionado, perdendo ou mesmo tropeçando na mesma, poderemos dizer com propriedade, que ele não domina o drible, o mesmo ocorrendo quando executa passes paralelos à linha final, ou o faz sem uma finta antecedente, que não conhece bem as técnicas do passe, ou quando troca de mãos num corte sob pressão, sem concomitantemente executar um passo atrás, estabelecendo a distância mínima necessária para ultrapassar a marcação, sua inabilidade nas fintas, ou que, num rebote, ofensivo ou defensivo, visa prioritariamente a bola, em vez do posicionamento antagônico, e mais, quando em posicionamento e deslocamento defensivo frente a um habilidoso atacante, permite situar seu centro de gravidade na borda, ou fora da área ocupada e delimitada por seus pés na quadra, concluiremos enfaticamente que, de fundamentos ele pouco sabe, ou mesmo entende, pois pouco ou nunca foi ensinado a dominá-los com alguma propriedade.
Podemos ir um pouco mais longe quanto aos arremessos, onde empunhaduras, controles direcionais, domínio do eixo diametral, e pleno conhecimento dos ângulos de incidência e reflexão em impactos nas tabelas, cedem o mais absoluto espaço à estética, à beleza gestual, ao “estilo”, às majestosas enterradas, ou à volúpia descabida dos longos, temerosos e altamente imprecisos arremessos de três, quando, na contramão de toda essa maquiagem, desequilíbrios e variações limites do centro de gravidade podem ser altamente compensados pelo pleno conhecimento da arte de arremessar uma bola à cesta, bastando para tal o mais pleno ainda conhecimento das técnicas inerentes ao mesmo, e as maneiras mais efetivas e eficientes de ensiná-los, tanto quanto os demais fundamentos do grande jogo.
Somemos a todo este conhecimento dos fundamentos individuais, às variáveis inerentes aos fundamentos coletivos, onde a verdadeira base de uma equipe é forjada por igual, quanto ao domínio técnico do ferramental de todos os seus componentes, os fundamentos, é que poderemos aquilatar o potencial da mesma para desenvolver e dominar sistemas de jogo, ofensivos e defensivos, que sem aqueles não funcionarão, sequer no mais rasteiro nível primário, quanto mais nas megalomaníacas “estratégias de prancheta”, foco inatingível e fantasioso de técnicos que teimam aprender a dominar os caminhos do grande jogo por osmose.
Então, frente à realidade dos números estatísticos que têm sido apresentados nos recentes embates na LDB, e nos campeonatos internacionais sub’s 17, 18, 19, e não sei mais quantos outros, masculinos e femininos, poderemos concluir, e mesmo projetar uma realidade nada encorajadora para um futuro logo ali na esquina, 2016, onde deveriam ser alcançados os resultados de um bem planejado e desenvolvido projeto de soerguimento do basquetebol nacional, em vez da reafirmação de uma política de favorecimentos e corporativismo voltados ao interesse de uns poucos, rudemente dissociados dos muitos que poderiam estar inseridos no grande e ansiado projeto da formação de base, sem a qual iremos, inexoravelmente, de encontro ao fiasco e ao fracasso, com a mais absoluta certeza.
Complementando, dois exemplos práticos, começando com nossa, e ainda na luta classificatória, seleção feminina sub 19, que amanhã cedo joga suas esperanças contra a forte equipe francesa, num jogo que, mesmo de longe e sem qualquer registro visual, tem apresentado uma razoável proposta ofensiva, minimizando os arremessos de fora do perímetro, e priorizando o jogo interno, conseguindo bons resultados, mas que conta contra si uma media absurda de mais de 20 erros de fundamentos por jogo, prostrando ao solo seus esforços de tentar ir mais além, num equivocado carrossel de repetidos erros e óbices na preparação de nossos equipe de base, mas que poderá, no caso de uma difícil, mas não impossível correção de técnicas individuais ( muito difícil de acontecer por se tratar de hábitos pouco efetivados, e somente enraizados através um longo aprendizado), assim como uma drástica mudança na forma de jogar “dentro” da defesa francesa, sem dúvida alguma, o grande obstáculo.
O outro exemplo fica bem claro nos números apresentados na segunda fase da LDB, se comparados com os da primeira fase, aqui descritos:
– Arremessos de 2 pontos – 1519/3257 (46.6%)
– Arremessos de 3 pontos – 497/1685 (29.4%)
– Lances Livres – 1053/1631 (64.5%)
– Erros de Fundamentos – 1031 (23.9 por jogo)
Nota – Números de 88 jogos, pois dois deles não foram publicados pela liga (Goiânia x Limeira e Ginástico x Vitoria-ES)
Se somarmos e tabularmos com os jogos da primeira fase, teremos:
– Arremessos de 2 pontos – 3136/6986 (44.8%)
– Arremessos de 3 pontos – 968/3388 (28.5%)
– Lances Livres – 2220/3352(66.2%)
– Erros de Fundamentos – 2327 (26.4 por jogo)
Logo, o retrato não é nada animador, ainda mais se tratando de uma divisão sub 22, mas que aceita jovens desde a sub 17, e que inclusive tem como participante uma equipe, Limeira, que apresenta os seguintes números em 8 jogos, numa convergência espantosa:
-Arremessos de 2 pontos – 67/157 (42.6%)
– Arremessos de 3 pontos – 50/187 (26.7%)
– Erros de Fundamentos – 78 (15.6 pj)
E também uma equipe que não venceu um único jogo, Vitoria-ES, perdendo-os com placares muitas vezes acima dos 30 pontos. Por conta de tão eloquentes exemplos, fico pensando quão equivocada foi a determinação da LDB obrigando a permanência por duas temporadas dos jogadores nas equipes participantes, num critério punitivo para muitos deles, pela mais do que deficiente fraqueza de algumas franquias em seus projetos técnicos na preparação dos mesmos.
Enfim, todo o panorama acima descrito e enumerado, tem como denominador comum um único fator, a ausência quase geral de um domínio aceitável dos fundamentos do jogo, sem os quais estaremos sendo levados para cada vez mais fundo na mesmice endêmica que nos tem esmagado, neles e nos sistemas, aliás, pelo único sistema que professamos contrita e colonizadamente falando. Não à toa a NBA acaba de selecionar um bom numero de nossos mais talentosos prospectos para moldá-los à sua imagem e semelhança num formidável Camp em São Paulo, e já providencia a “musculação” de um ingênuo Bebê, para trilhar o caminho dos lesionados Nenê, Varejão, e outros mais que arriscam sua integridade em troca de alguns milhões de dólares, que devem valer o sacrifício para os mesmos, e principalmente para os que os empresariam, sem ter de levantar uma única grama de ferro, noves fora os eternos enamorados da liga americana, bailando e embalados em seus sonhos de fictícias e infantis quimeras projetadas na carreira dos mesmos, bem, muito bem ao largo do que aqui existe de real e factível, além da flagrante constatação de que para a grande maioria daqueles jogadores pertencentes à liga matriz, a seleção nacional jamais será uma prioridade, talvez uma midiática concessão…
Temo que cada vez mais nos afastemos do que deveria estar sendo desenvolvido junto aos nossos jovens, a verdadeira e transcendental estratégia visando o soerguimento do grande jogo em nosso país, mas quem sabe para, 2020…
Até lá, que os bondosos e ainda pacientes deuses nos ajudem.
Amém.
Foto – Divulgação FIBA. Clique na mesma para ampliá-la.