“EQUIPO, JUEGUEN EN EQUIPO!”…

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Era mais do que previsível, mesmo com desconfianças veladas de que  escondíamos jogo nos amistosos, no que jamais acreditei, ainda mais quando se disputavam posições na equipe, afinal de contas alguns dos mais nominados e requestados pela mídia lá estavam, veteranos ou não, obesos e lentos, ou não, numa equipe que tinha até jogador em férias a uma semana do corte final, ou não?

 

Por conta desse monumental equivoco que foi a convocação dessa equipe, é que penará muito para se classificar ao Mundial, e correndo sérios riscos de não conseguir se não tiver condições de estabelecer uma repaginada daquelas, uma repaginada tática, já que técnica será impossível pela fragilidade de algumas habilidades ausentes em muitos dos jogadores, principalmente no aspecto defensivo, que tanto fora ou dentro do perímetro, beira ao ridículo nos momentos mais importantes do jogo, e outras no âmbito ofensivo, como e principalmente, na teimosia burra e analfabeta de que sempre poderemos vencer jogando lá de fora, no terreno onde o reinado das bolinhas se faz presente no dia a dia do nosso basquetebol, tendo inclusive cooptada a relutante aprovação do técnico argentino, que aos poucos vem se rendendo a uma dolorosa evidência em contraponto à sua luta pelo coletivismo que nivela os egos, colocando-os a serviço do grupo, fator esse que não conta com a simpatia de delfins e cardeais, e pelos serviçais também, todos na jurisprudência de agentes que necessitam de altas performances e percentagens para valorizarem seus produtos.

 

É doloroso assistir um jogo onde a coordenação segmentar inexiste, pois fator básico na existência de uma dupla armação, cuja finalidade é a de incrementar o jogo interior, de todos os ângulos e posicionamentos possíveis, interagindo permanentemente com o mesmo, no entra e sai de passes incisivos, e não de contorno, dentro de uma intensa movimentação com e sem a bola de todos os atacantes, todos procurando melhores posições para exercer ou receber os passes, agilizar as fintas, praticar com parcimônia os dribles, arremessar o mais perto possível para aumentar a precisão, deixando os longos arremessos para os especialistas de verdade, e mesmo assim como uma complementação equilibrada de ataque, e não uma prioridade do mesmo.

 

Ora, se tal coordenação peca pela imprecisão, por que então esse pastiche de uma verdadeira dupla armação?

 

Como compatibilizar armadores rápidos sendo brecados por alas pivôs lentos e até obesos no ataque, assim como na rotação defensiva, como? Impossível, seria a dedução lógica, perfeitamente contornada se outros fossem os homens altos convocados, pois a esmagadora maioria dos gigantes que nos tem enfrentado pertencem a classe dos ágeis, velozes e flexíveis, e um ou dois na categoria de jamantas, que podem ser muito bem marcados à frente, claro, se tivéssemos preparo, conhecimento e coragem para fazê-lo, taticamente a bem dizer.

 

Mesmo sem as estrelas midiáticas que lá não estão, outros bons e eficientes jogadores da classe dos ágeis e velozes aqui ficaram, deixando pendurados na broxa os armadores que não têm a quem fornecer munição, forçando-os a utilizá-la eles mesmos, pela lerdeza e dureza dos que lá se encontram, numa antítese do que foi planejado e treinado pelo hermano, que pecou não pela escolha melódica de sua sinfonia, e sim no andamento rítmico da mesma, pecado capital ao sucesso de uma autoral composição.

 

Ontem, ele se exasperou de verdade, jogou até prancheta no chão, mas acredito de verdade que tenha compreendido ser outra a realidade brasileira, oposta àquela argentina, que fruto de um excelente trabalho de base de muitos anos, deixou em suas mãos uma geração única de campeões que bem soube responder ao seu comando, executando uma outra sinfonia onde todos a refinavam em uníssono, na melodia e no ritmo, e não essa que evolui atravessando o samba e a bateria.

 

Mas o mais emblemático de tudo foi ver a dupla de jovens armadores, o Luz e o Raul, esse draftado pela NBA, sequer jogarem, reforçando o fato de que o Huertas, Benite, Alex e Larry exerceriam o papel de armadores dentro da lógica do técnico voltada à rodagem e experiência dos mesmos, o que reforça o desastre convocatório, já que mais duas vagas poderiam ter sido preenchidas por homens altos, como o Murilo, Cipolini, Gruber, Mineiro (cortado), Leo (cortado), e outros menos ou nada nominados, mas que são bons jogadores nessa nova classe que aos poucos vai se impondo aqui e lá fora também, onde a velocidade é lugar comum, o que por si só justificaria uma dupla armação de verdade, e não essa impostura que ai está.

 

Nossos futuros adversários nessa Copa já constataram e gravaram as falhas da seleção, e virão com tudo para o jogo interior, tentando vencer de 2 em 2, de 1 em 1, reduzindo em muito a artilharia de fora, ou ninguém reparou que o mítico poder de fogo portorriquenho se reduziu a 2/13 (15%) de três,  preferindo jogar mais de perto (22/45 – 48%), contra os nossos 4/17 (23%) de três e 19/47 (40%) de dois, graças à nossa indesculpável fragilidade no perímetro interior?  Todos repararam, é só aguardar os jogos vindouros…

 

Aliás, como escola de hoje e futura(?), no jogo de ontem entre Franca e Sport Recife pela LDB, 61 foram os arremessos de 3, e Franca cometeu um 18/31 de 2 e 12/40 de 3, assim como na mesma rodada a equipe do Universo Goiânia perpetrou 15/34 de 2 e 9/40 de 3, no jogo contra São José, fora outros exemplos terríveis em rodadas anteriores, garantindo a continuidade dessa sangria, já transformada em inestancável hemorragia com vistas a 2016, queira ou não o competente hermano…

 

Amém.

Fotos – Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.

 

 

 

 



5 comentários

  1. Henrique Lima 01.09.2013

    Professor Paulo,

    primeiro parabéns pelo Dia do Professor de Educação Física !

    Espero o texto contra o Canadá.

    Infelizmente, estamos muito atrás no basquetebol.

    Nossa Seleção NBB que foi para este torneio, não tem nível para atuar numa disputa desta.

    Assim como não tivemos ano passado no Sulamericano, lembra ?

    Um abraço e paciência, porque é o que resta assistindo estes jogos tão ruins.

  2. ALEXANDRE MIRANDA 01.09.2013

    Professor, quero externar para o senhor e para seus leitores algo que gostaria de chamar de “Dilema Magnano”, para o ínterim de convocações.

    Vejam, creio que cerca os pensamentos do técnico exatamente este problema. Ela tenta chamar os declamados “melhores”, se aceitam, bom. Mas quando pedem dispensa é que se entra no referido dilema.

    Convocam-se atletas promissores (aqueles que precisam demonstrar, na pressão, seu valor), convoca-se atletas que a priori não era planejado, logo, segundo escalão (aqueles que precisam demonstrar muito seu valor) e se por ventura conseguirem a vaga (como no Pré-olimpico), quem convocar? Os “melhores”, os “promissores” ou os “operários da vaga”? Imagine como deve estar a mente de quem esta jogando, seu emocional e a busca pela resposta da seguinte questão: “estou aqui pela seleção, conseguimos a vaga, mas… e minhas pretensões pessoais?”

    E aí que reside o perigo, talvez se desenhe na mente de alguns a possibilidade de não estar na “festa”, mesmo “comprando o presente”. Se não fosse o bastante gerenciar essas questões particulares e suas consequências na dinâmica do grupo (desmotivação), há ainda o problema de administrar o ego de um ou outro jogador com pouco brilho do holofote “seleção”. Jogadores que não se veem no Mundial poderão utilizar qualquer partida para quererem brilhar (para quem sabe conseguir um contrato melhor), atrapalhando consideravelmente a organização tática da equipe.

    Professor, como se vê, um dilema com muitas ramificações. Que caminho tomar? E digo que este dilema configura-se importante também na base, nos escalões de formação. Imagine um treinador/professor que trabalhe com grandes grupos de formação, e que precise selecionar um determinado número de alunos para alguma competição. Este treinador/professor selecionará o talento habilidoso que não treina direito e não se dedica, ou convoca o atleta mediano esforçado – que treina com afinco e zelo? Tenho receio de como o treinador/professor menos consciente apreenda esta mensagem que a seleção possa estar passando. Principalmente estes treinadores/professores que não possuam muitos conteúdos técnico/táticos/psicológicos sobre o Grande Jogo a não ser os jogos televisionados e comentários dos mesmos.

    Por favor, Professor, elucide este dilema!

    Fortes abraços.

  3. Henrique Lima 01.09.2013

    Alexandre,

    pegue o time que foi ao Sulamericano de 2012 na Argentina.

    Parte está aí em Caracas.

    Parte, eu acho que imaginamos que poderiam estar aí, mas não estão.

    Então, o problema não são só os nomes.

    É toda a gestão do basquetebol.

    Mas isso vem sendo falado pelo Professor Paulo desde 2004 aqui, por quem acompanha em outros locais de militância desde então também.

    NADA É FEITO.

    Quase ficamos fora deste torneio porque vencemos o Paraguai por 4 pontos, ano passado.

    Agora, estamos com a corda no pescoço novamente.

    É duro, mas a verdade é que faltam nomes.

    Mesmo com o time, dito, principal, já cansamos de passar vergonha por aí.

    Um abração !

  4. Basquete Brasil 02.09.2013

    Prezado Henrique, obrigado pelos votos, mas hoje foi o dia do profissional de educação física, o que não sou e me nego a ser, já que professor de educação física. Mas não importa, valeu a intenção…
    Estou publicando o texto neste momento (duas da madrugada), espero que goste, mesmo amargamente.
    Um abraço, Paulo Murilo.

  5. Basquete Brasil 02.09.2013

    Prezado Alexandre, o Dilema Magnano, como você define, nada mais representa do que o terrível habito que se instalou no país de impormos um sistema de jogo formatado e padronizado a todos os jogadores, no que deveria ser o oposto,ou seja, formular-se sistemas de acordo com a capacitação técnica, física e emocional dos jogadores que se tem em mãos.Mas como tais formulações geram muito estudo, pesquisa e trabalho, fica mais factível impor algo que já vem testado e largamente utilizado, independendo de adequações dos jogadores envolvidos no processo.
    Quando divulgo um sistema de dupla armação e três alas pivôs, o estou fazendo como uma base inicial, uma formulação que estimula a aquisição de valores e habilidades técnicas pelos jogadores, s fim de que os mesmos aprendam e apreendam os princípios básicos de leitura de jogo e os necessários fundamentos para desenvolvê-lo, praticá-lo e até modificá-lo se preciso for, numa atitude criativa e evolutiva. Outros sistemas também deveriam ser incentivados pelos mesmos propósitos. Agora, determinar uma só forma de jogar, como o sistema único,é condenar os jogadores à perda da criatividade espontânea e natural, limitando em muito o desenvolvimento harmônico das capacidades de cada um dos envolvidos no processo.
    Acredito que o dilema esteja mais próximo de uma síndrome, a Síndrome do Magnano…
    Um abraço, Paulo Murilo.

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