A CONQUISTA…

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Enfim, o santo ficou definitivamente nú.

Tudo aquilo que predisse de longa data daqui desse humilde blog está acontecendo, num caminho possivelmente sem volta.

Reconquistar a identidade perdida ao longo das últimas duas décadas, de um profundo mergulho ao encontro dos estreitos e sufocantes amplexos de uma cultura oposta em quase tudo à nossa, acredito se tornar impraticável daqui para diante.

No próximo sábado, para o orgasmo coletivo de uma elite (?) endinheirada, mas que no fundo despreza (e que sequer talvez não conheça) o grande jogo, a não ser para se postar nos 300 lugares ao lado da quadra sob a luz dos holofotes e câmeras internacionais, na companhia de stars e globais convidados (duvido que dispensem um único cent que seja para ali gloriosamente estarem…) para engrandecer a grande noite, tendo como companhia os otários que deverão abrir seus fartos bolsos em troca da passageira notoriedade de uma midiática “noite histórica”…

No entorno, alguns milhares de fãs pagando ingressos a preços padrão NBA, para assistirem a avánt première do basquete a ser consumido em larga escala pela patuléia daqui para diante, e não aquele que tenta imitar a matriz sem um mínimo admissível dos padrões técnicos e econômicos da mesma, que são os fatores que mantêm a realidade tática, hoje globalizada da grande liga, solidamente implantada.

Mas, eis que surge no estreito horizonte do nosso anseio de grandeza, uma tênue nesga de esperança num breve futuro, o agora explicito e escancarado vínculo NBA/ENTB, para padronizar e formatar definitivamente nosso amanhã técnico tático, nos moldes da liga de um país que necessita conquistar novos mercados, muito mais agora que estão à beira de uma moratória econômica que influenciará em muito a economia mundial, e que se materializará numa clinica com três dos mais graduados técnicos das duas franquias aqui presentes, com a duração, pasmem, de 60 minutos (18:30 às 19:30hs no ginásio do Flamengo), num feito que em muito ultrapassa os 4 dias que duram os cursos de habilitação da ENTB. Trata-se de algo único, uma clinica com três renomados técnicos com 60 min de duração, fantástico…

Mais do que nunca se solidificam e estreitam os laços que pretendem implantar definitivamente a cultura basquetebolistica da turma lá de cima aqui em baixo, mesmo após um Eurobasket que em muitos aspectos diferem da mesma, mas que também vão sendo sufocados pela força midiática de uma modalidade alvo para os grandes talentos mundiais, sequiosos em abiscoitar um naquinho que seja da cornucópia financeira de um outro jogo, que certamente não é o que foi idealizado pelo  James Naismith, vide o testemunho do técnico do Chicago, Tom Thibodeau ao adentrar no ginásio rubro negro: (…)“que o ginásio do Flamengo lembrava os mais antigos dos Estados Unidos, onde ainda se faz basquete na essência, com paixão” (…)– (trecho da matéria publicada no Bala da Cesta de hoje).

No entanto, o que mais cala fundo aqui para esse velho professor e técnico, é constatar a grande quantidade de patrocinadores dispostos a bancar essa escalada puramente comercial, e suas extensões para um futuro imediato, e bem às vésperas de uma competição olímpica em nossas fronteiras, numa clara demonstração de que LNB, NBB e que tais nada representam de importante para eles, que poderiam até mencionar o baixo nível técnico apresentado em nossas competições internas, com evidentes reflexos internacionais para não os apoiarem, mas nada que justifique a babação incontida, caipira e colonizada a um produto que em nada e por nada representa nossa identidade, mas que tudo fará para minimizá-la ao máximo, pois afinal de contas, mercado é para ser conquistado e mantido, custe o que custar.

E nesse louco carrossel de interesses, ficamos nós à mercê de uma realidade exógena, acolhida por nossa elite de técnicos, satisfeita com os padrões emanados da matriz (e agora repassados com sofreguidão pela ENTB), contritos em suas limitações e pouca ou nenhuma vontade, ou mesmo coragem em subverter tal panorama, acomodados e solícitos que estão com as migalhas que lhe são oferecidas, aceitando-as caninamente, quando poderiam, pelo menos ousar, estudar, pesquisar, inovar, tentando se libertar de grilhões (quem sabe até abrindo caminho para bons patrocínios), que não nos tem levado a lugar nenhum, a não ser à Arena no sábado, pagando uma baba de ingresso, talvez empunhando um daqueles ridículos cilindros de plástico para aplaudir, e lá do alto da torrinha gritar a plenos pulmões, e em inglês – Defense, defense, defense…

Choro de tristeza só em pensar nessa cena, aqui na minha amada terra carioca.

Mas lá no fundo dos meus mais caros anseios, aceito a dura realidade, a de que merecemos tudo isso, e talvez, muito mais…

Amém.

Fotos – Reproduções da mídia (O Globo, pagina 31 em 9/10/2013) e Databasket. Clique nas mesmas para ampliá-las.



10 comentários

  1. Henrique Lima 12.10.2013

    Professor Paulo, gosto muito de NBA !

    Acho que o nível técnico de certos atletas que lá estão, realmente é excelente e temos caras que eu gosto demais de assistir e hoje em dia, de todos os lugares do planeta.

    Porém, temos que saber e entender o que assistimos.

    Taticamente não acho que é um jogo muito rico e por vezes, a técnica também é esmagada (como nas famosas andadas de vários, entre outras coisas) em detrimento do show.

    Agora, por mais que eu goste (e goste muito) da NBA não tem como pagar estes preços absurdos para assistir um jogo que nada vale.

    E sobre a clínica é uma piada. Três caras, 60 minutos, dá 20 minutos de média pra cada. Não tem nem o que dizer. Só lamentar. Mas a ENTB tem certeza que faz um grande negócio.

    Um abraço !

  2. Basquete Brasil 13.10.2013

    Mas esta é a realidade com que nos deparamos,Henrique, com toda sua crueza e servilismo a uma cultura que não é a nossa. Mudanças? Não creio, pois tal cenário explica claramente o por que da não existência de uma associação nacional de técnicos, talvez o único caminho para o reencontro da ética, do mérito e da evolução técnico tática do grande jogo no país.
    Um abraço, Paulo.

  3. Rodolpho 14.10.2013

    Professor, permita-me, mais uma vez, o direito da (leve) discórdia.

    Embora em dose exagerada a NBA vê de melhor forma do que nós brasileiros como tratar o público.

    O basketball não pode continuar a ser praticamente uma confraria, restrito a “quem entende.” É o que acontece hoje em dia. Só consome o produto quem um dia já jogou, e olhe lá. É muito pouco, é quase nada.

    É perfeitamente possível equilibrar a parte técnica com o show. A começar com a exclusão dessas linhas de futsal e volleyball nas nossas quadras, que confundem demais os mais leigos e nos dá um ar de amadorismo extremo. Passando por ginásios sem ventilação nem limpeza, que só vendem água quente e pipoca, como o aqui de Vila Velha. Passei a temporada passada inteira tentando comprar a camiseta do ídolo local (Casé) sem sucesso, mas vi várias do Larry Bird, aposentado 20 anos atrás. E times assim fazem carnaval para exigir dos governos locais mais de 600 mil reais anuais para nos apresentar essa mediocridade amadora. É muito dinheiro público e pouco retorno para a população.

    Não existirá sucesso sem massificação, não só de praticantes mas também de consumidores. Que a NBA tenha nos dado um impulso para isso. Mas acho que não.

    E serviu também para vermos a burrice coletiva ao vaiar o Nenê. Tá certo que ele recusou a seleção várias vezes quando podia jogar. Mas dessa última vez ficou mais do que claro que ele não poderia ter jogado. Se ele estava lento e gordo no sábado, por conta da recuperação física das contusões, imagine 2 meses atrás!

    Um grande abraço!

  4. Henrique Lima 14.10.2013

    Rodolpho gostei e concordo com sua análise.

    Aliás, sobre a questão de CONHECER A MODALIDADE.

    Eu mesmo só comecei a gostar de basquetebol (afinal foi a primeira vez que eu vi na vida) nos jogos de BARCELONA-92 exatamente porque me criou uma curiosidade de ver quem eram os caras que todo mundo falavam que iriam pra lá jogar basquete.

    Acho que se não fosse aquele contato em 1992, sabe Deus quando eu teria conhecido basquetebol e gostado da modalidade.

    Dali em diante, vi que passava na televisão (Band), matriculei em escolinha e comecei a acompanhar tudo que podia de forma que não tenho explicação.

    Ou seja, eu acho natural e bom até que tenham estas ações.

    Afinal, espero que da mesma forma que eu conheci o jogo em 1992, outras crianças tenham conhecido na semana passada no Rio de Janeiro.

    Abraço !

  5. Henrique Lima 14.10.2013

    Um outro detalhe é o tratamento dado aos ídolos dos times da NBA/Euroliga, que por onde vão, sempre são considerados.

    Não existe nem comparação com o que é feito no Brasil em qualquer esporte.

    Eu queria ter visto Scottie Pippen de perto, se fosse possível pra mim,, afinal, é um cara que jogou no mais alto nível por vários e vários anos. Uma lenda do jogo !

    O cara é bem tratado e sempre presente no Chicago Bulls.
    (E não está trabalhando na franquia hoje, a não ser divulgando a liga e o time pelo qual fez carreira).

    Neste pontos, quantas vi uma ação do Corinthians com o Wlamir,que tem o currículo mais espetacular entre os nossos atletas do basquetebol e um dos mais importantes de todo esporte nacional na história do país ?!??!

    Se teve algo, contamos nos dedos quantas vezes.

    É um ponto que temos que lembrar.

    E por fim, como tratam de forma ímpar e no final das contas,
    o jogo não sobreviveria sem público para assistir e sem ídolos para nos inspirar, afinal, caras que jogaram de forma única devem ser lembrados para sempre e sem público e gente praticando, gostando, comentando, não teria graça ter basquetebol.

    Digo isso pelas amizades que fiz na vida pelo basquetebol, longas e duradouras.

    Abraços !

  6. Basquete Brasil 14.10.2013

    Prezado Rodolpho, sem dúvida tenho de concordar com muitas de suas colocações, mas algo me incomoda, e muito, como o fato de empresas de alto prestigio no país, como Antártica e Garoto retirarem ai em seu estado o patrocínio de suas equipes no NBB? Não seriam os por quês a essa questão mais importantes do que as linhas nas quadras e a camisa do excelente Casé?
    Um abraço, Paulo Murilo.

  7. Rodolpho 15.10.2013

    Profissionalismo e transparência. Pura e simplesmente isso, professor.

    Ninguém quer patrocinar uma equipe que fica em último, bate recordes negativos, mesmo com um orçamento decente e milhares de reais de dinheiro público.

    E o Casé é mais do que excelente. É ídolo aqui! Já pensou o Nenê com 10% da raça dele!?

    Um grande abraço!

  8. Basquete Brasil 15.10.2013

    Mas Rodolpho, os por quês não foram respondidos em sua essência, como por quê ficavam em último, por quê batiam recordes negativos, por quê verbas razoáveis não formavam equipes de verdade, que mesmo falta de profissionalismo e transparência poderiam explicar? Quando dirigi o Saldanha por um tempo mínimo, consegui provar que vitórias e constituição de uma boa equipe era possível, mesmo com os óbices e as limitações acima apontadas, e mesmo assim fui afastado para dar lugar à mesmice e resultados negativos que se repetiram até a saída das equipes do NBB. Acredito que outros e muito sérios por quês explicariam tanta insensibilidade, vaidade e centrismo, num estado que em tudo e por tudo reúne condições ímpares para formar grandes equipes do grande jogo.Os por quês são outros, Rodolpho.
    Um abraço, Paulo Murilo.

  9. Rodolpho 16.10.2013

    Acho que falamos da mesma coisa, professor, mas dando nomes diferentes.

    O senhor substituiu um técnico sem experiência, nem a nível brasileiro, muito menos da categoria adulta. Apesar de bom técnico (dentro do estado e na base), foi “jantado” pelo elenco, que vinha levando calote do dirigente do clube e fazendo campanha pífia, mesmo com uma bela verba do Guaraná e muito, muito dinheiro público.

    Pra piorar, se não me falha a memória, uns 2 atletas importantes na rotação cansaram do calote e pediram demissão logo na sua chegada, o que reduziu ainda mais o já fraquíssimo elenco, que vinha de ume péssima pre-temporada, já que não temos estadual e os times do NBB são montados na semana do torneio, a fim de redução de custos, tornando impossível o sucesso contra uma equipe que vem no embala de um disputadíssimo paulista ou equipes bem mais ricas.

    Um cidadão – seja ele quem for, tenha feito o que fez – como é o Dr. Alarico e seu ótimo trabalho de décadas no ES, ou mesmo tendo jogado aquela monstruosidade que o Luis Felipe jogou, não pode ser isentado de amadorismo, despreparo e gestão temerária como foram e ainda são com o – repito – dinheiro público e dos patrocinadores, além da apaixonada torcida capixaba.

    Só quem viu sabe que o senhor fez por aqui, que não ouso chamar de milagre, pois não foi milagre, foi trabalho sério. Eu mesmo confesso que fiquei meio perplexo com sua primeira entrevista a um jornal local, logo de cara, numa empolgação adolescente “vou jogar com 2 armadores e 3 pivôs”. Pensava eu que nem essa quantidade de jogadores o senhor tinha no elenco, muito menos que funcionaria. E até creio que não tenha sido esse o “segredo” e sim o seu trabalho duro, tirando o corpo mole dos atletas e fazendo aquela campanha histórica por aqui.

    Infelizmente a TV não mostrou o seu trabalho, pois times sem visibilidade, e fora de SP, não aparecem muito em transmissões ao vivo. Mas quem viu sabe e não se pode negar a lição que tiveram que engolir. Se não querem a sua transparência e profissionalismo, que amarguem sim, a falta de patrocínio e, quando salvos pelo governo socialista que temos que aturar, fiquem em último, posição merecida de quem se arrisca no nepotismo em detrimento de resultados.

    E feliz dia do professor. Mesmo tão humilhado pelos nossos governos.

  10. Basquete Brasil 16.10.2013

    Obrigado pelos votos, Rodolpho, e fico surpreso pelo seu real conhecimento de algumas fugidias verdades que pensei ser de pouco conhecimento público, principalmente sobre o breve espaço de tempo em que trabalhei ai em sua bela Vitória.
    Desse trabalho guardo um grande tristeza, a de não ter tido a oportunidade de realizá-lo em uma temporada completa, com principio, meio e fim, junto àqueles bons jogadores que orientei no trabalho duro e na implantação de um sistema, que como você descreveu, defendi com “empolgação adolescente”, apesar dos meus 70 anos na época.E sabe Rodolpho, em nome da promessa de continuidade garantida pelo Dr. Alarico, recusei uma proposta feita na presença dele de um dos mais poderosos clubes da Liga, quando da entrega dos prêmios aos vencedores daquele NBB2 em SP,mantendo meu comprometimento para com ele e os jogadores. Me dei mal, perdendo ambas as oportunidades, numa situação que dura até os dias de hoje.
    No entanto, sei da certeza que tenho do acerto daquele breve trabalho, e que teria desencadeado profundas mudanças técnicas e táticas em nosso basquetebol se continuado, e com uma equipe tida como frágil e desprestigiada, mas plena de comprometimento com a causa.
    Enfim, Rodolpho, foram tempos difíceis de esquecer, daí minha enorme tristeza pela descontinuidade daquele inesquecível trabalho conjunto.
    Hoje mesmo soube da retomada do CETAF para o NBB6, uma excelente notícia para o ES, mas temo que os erros de ontem voltem a ser repetidos, principalmente pela busca de “nomes”, americanos de quinta categoria, e alinhamento à mesmice técnico tática que nivela por baixo o grande jogo na LNB. Pena que não ousem, não tentem algo de novo, diferente, instigante, inspirado pelo exemplo propiciado pelo Saldanha no NBB2, quando foram derrotados no clássico regional por 30 pontos de diferença.
    Um abraço Rodolpho. Paulo Murilo.

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