ASSUNTANDO…
O basquetebol está seriamente enfermo fora das quadras, e a caminho de ficar mais ainda dentro das mesmas, o que seria trágico, pois pela primeira vez em sua história corre perigo de se esfacelar em ambos. Sempre enfrentamos bons e maus administradores, mas mantinhamos a qualidade lá dentro, onde se formavam os jogadores, as equipes, os sistemas, as gerações vencedoras, guiados por bons professores e treinadores, mas que de duas décadas para cá vêm decrescendo tecnicamente, fruto de um modelo imposto, canhestramente copiado de fora e dissociado de nossa tradição de ótimos praticantes do grande jogo, fato reconhecido pela FIBA, quando nos classificou na quarta posição dentre as nações no século 20.
Hoje, uma situação de insolvência ameaça a CBB, como resultante de uma administração caótica e incompetente, conforme atestam os excelentes artigos publicados pelo jornalista Fabio Balassiano em seu blog Bala na Cesta, mas que ao contrario do que muitos pensam, não tem lutado sozinho contra uma realidade que conheço profundamente a mais de 50 anos, e contra a qual me insurgi desde sempre, mais diretamente através artigos aqui publicados nestes quase 10 anos de Basquete Brasil. Uma série deles em particular, contidos no artigo Cronologia do Esquecimento (ou, Recordando), demonstra tacitamente os caminhos que estavam para ser percorridos pela administração vigente, que foi eleita pelos mesmos presidentes de federações que avalizaram as últimas contas da CBB.
O trabalho investigativo do Fabio é brilhante, importante, e acima de tudo determinante, pois entreabre a porta de uma triste realidade, que deve ser combatida com presteza e vigor, para que cesse o dreno por onde se esvaem verbas e mais verbas oficiais nas mãos daqueles que transformaram o grande jogo num meio de vida junto a protegidos e aspones, numa cornucópia de interesses políticos e corporativos, alimentados pelo compadrio e a incompetência patronal.
Bem ou mal o basquetebol continua sua saga, que nos últimos dias apresentou o resultado da descida técnico tática íngreme a cada dia que passa, como a vitoria do Flamengo contra o Bauru, classificando-se para as semifinais, com a incrível convergência de 16/27 nos arremessos de dois pontos e 13/32 nos de três, fator imperdoável para a defesa paulista, que mesmo atuando, corretamente aliás, dentro do perímetro ofensivo, viu seus esforços fracassarem em arremessos despropositados de três pontos, inclusive dois de seu pivô Murilo, que originaram dois contra ataques efetivos dos rubro negros, que venceram o jogo por 3 pontos. A não contestação dos longos arremessos, e as frustradas tentativas nos três pontos (5/24), inclusive as duas acima citadas, e a não insistência do jogo interior, onde vinham dominando através seus dois bons pivôs, os fizeram perder uma partida que poderia ter sido ganha.
No jogo em Mogi, duas equipe taticamente iguais, parelhas nos números (17/37 nos dois pontos de Mogi, contra 13/37 de Limeira, e 6/15 contra 7/15 nos três respectivamente), mas com vantagem dos donos da casa nos lances livres, 20/27 contra 13/18, vencendo um jogo por 12 pontos, com ambas cometendo a incrível marca de 38 erros de fundamentos. Triste, no entanto, o festival de confrontos árbitros x técnicos, que está se ampliando aritmeticamente desde que microfones foram anexados a uma rotina de arbitragem que deveria ser expressa pela eficiente e reservada aplicação das regras do jogo, e não um espetáculo midiático rotulado de “arbitragem pedagógica”, numa apropriação indébita de exposição pública, que deveria ser unicamente proprietária dos verdadeiros protagonistas, os jogadores.
Em Franca, mais um festival de bolinhas, favorecendo mais os donos da casa, quando desta vez elas “caíram”, ao contrario do jogo anterior, num jogo com mais uma exibição da refrega da moda entre técnicos e árbitros, num espetáculo deplorável e constrangedor, ah, emoldurando tudo com 25 erros de fundamentos.
Como vemos, o “projeto” técnico de nosso basquetebol involui a cada ano que passa, agora alimentado por uma equivocada ENTB, divulgadora e mantenedora de um modelo de formação de técnicos anacrônico e irreal.
Uma questão final sobre a ausência ou não de patriotismo de nossos jogadores atuantes na NBA quando convocados para defender o país, considerado por muitos como alienante e até chocante. Lembro que a base de trabalho que o Manager Jerry Colangelo desenvolve junto a seleção americana composta pelos milionários jogadores da NBA, se fundamenta exatamente pelo… Isso mesmo, patriotismo, divulgado e veiculado aos jovens do país através videos, onde os jogadores assistem palestras motivacionais de militares combatentes e feridos nas batalhas. Logo, enfocar patriotismo numa competição internacional, jamais deveria chocar e ser considerado tosco, chucro e alienante, ainda mais quando a matriz age e pensa exatamente ao contrário, ou não?
Amém.
Fotos – Reproduções legendadas da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.