ALICERCES…
O Basquete Brasil já se encontra no seu milésimo trigésimo sétimo artigo nos doze anos de sua sacrificada existência, e assunto é que não falta, apesar de me sentir um tanto cansado de trombar com a mesmice endêmica que se instalou na modalidade de forma devastadora…
E pensar que logo em seu início já vislumbrava o que haveria de acontecer, fundamentado em argumentos publicados no artigo que hoje repriso, os mesmos que explicam um hoje absolutamente inaceitável, frente ao que sempre representou o grande jogo no cenário desportivo e educativo de uma pátria que cada vez mais se apequena à sombra de uma farsa educadora, pátria educadora, mentirosa e corrompida…
Segue o artigo.
O QUE NOS FALTA REALMENTE?
sábado, 13 de novembro de 2004 por Paulo Murilo– Sem comentários
Este é vigésimo primeiro artigo que publico,e depois de abordar diversos assuntos técnicos e situações politico administrativas creio que apresentei alguns,porém sólidos argumentos para, de uma forma objetiva apresentar conclusões e sugestões visando a melhoria técnica e administrativa de nosso combalido basquetebol.
Falta-nos,prioritariamente união. Quando técnicos aceitam influência,orientação,método, sistemas e técnicas de uma única matriz,tomando-a como verdade absoluta, e impondo-a, inclusive, na formação das divisões de base, estereotipando as ações dos futuros jogadores em modelos voltados à especialização (jogador 1,2,3…etc), limitando-os a papeis manipuláveis de fora da quadra, escravizando-os em coreografias que se tornaram padronizadas pelas equipes brasileiras,repito,quando os técnicos agem dessa forma, prevejo poucas chances de fugirmos a médio prazo da mediocridade em que nos encontramos. Torna-se urgente o desligamento da matriz NBA, do sonho subserviente de lá vencer como jogador, ou de lá se especializar como técnico ou dirigente,e mesmo se espelhar como torcedor de um esporte que somente eles praticam, e que inteligentemente importam estrangeiros para torná-los propagadores de suas ideias absolutistas em seus países de origem. Agora mesmo os brasileiros que lá jogam estão relegados à reserva de suas equipes, de onde dificilmente sairão. No entanto são festejados como aqueles craques que levarão a seleção brasileira ao patamar olímpico. Da equipe argentina, campeã olímpica, somente um dos jogadores atuava na NBA,e como estrela absoluta, e os outros o faziam na Europa, principalmente na Itália, onde, pela força da dupla cidadania de seus jogadores aperfeiçoavam um método de jogar antagônico ao da NBA, e totalmente condizente à realidade das regras internacionais negadas pelos norte americanos. Foram campeões por sua extraordinária inteligência ao perceberem que venceriam se explorassem a fragilidade dos americanos perante a crueza das regras internacionais. Para nos restou a pseudo e estúpida aceitação do que chamam”basquete internacional”,numa prova cabal de quase total ausência de amor e respeito por nossas raízes culturais e passado brilhante na forma de jogar, forma esta que nos fez imbatíveis em nosso continente. Hoje nem em divisões de base vencemos os irmãos argentinos, que fugiram do exclusivismo perante o modelo NBA. Resta-nos a união pela discussão, pelo embate das ideias, pela fundação de associações estaduais de técnicos, que discutam a modalidade em função de suas regionalidades para, ai sim,em torno de uma associação nacional reencontrar o caminho perdido nos últimos 20 anos. Caberia a CBB encorajar esse caminho,e não se situar como principio, meio e fim na busca das soluções para os graves e terminais problemas que nos afligem.Houve uma época em que fundávamos uma ANATEBA, uma BRASTEBA, que nos reuníamos em pequenos, porém encontros técnicos para técnicos, onde discutíamos e discordávamos, mas sempre concluíamos algo de interesse do basquetebol. Divergíamos porque não utilizávamos em nosso trabalho uma única fonte inspiradora. Tinhamos até”escolas”como a paulista,a carioca,a mineira, como outras,que ao se enfrentarem nos campeonatos nacionais definiam os caminhos de evolução técnica a serem percorridos. Hoje o que apresentamos é uma única forma de atuar, calcada no modelo NBA, que nos chega de enxurrada pela TV,pelos jornais e revistas, em matérias regiamente pagas, em contraponto à nossa pobreza. Só sairemos dessa penúria no momento que nos reunirmos em encontros como os que aconteciam aos sábados na USP, onde mais de 100 técnicos assistiam palestras de colegas, e depois as discutiam, ou aqueles que aconteciam no Rio, no RGS e em Minas, dos que tenho conhecimento, e que eram levados a sério pela CBB, que hoje simplesmente omite qualquer manifestação que não compactue com suas orientações exclusivamente de cunho político continuístas, onde inexiste discussão aberta sobre as técnicas da modalidade que representam. Um exemplo? Em 1971,quando exerci a função de coordenador do Laboratório de Tecnologia do Ensino da EEFD/UFRJ propus a realização de um filme de média metragem semi profissional em 16mm sobre o Campeonato Mundial Feminino realizado aqui no Brasil. Juntos,EEFD e CBB levantamos uma pequena verba para a compra e a revelação dos negativos, e realizei, filmando, roteirizando, editando e gravando o único filme técnico sobre basquetebol feito em nosso país. Cópias foram distribuídas até no exterior, como Austrália e Portugal,e outras que até recentemente faziam parte do acervo de duas escolas de Ed.Fisica quando se deterioraram pelo passar do tempo.Quatro anos atrás descobri os negativos de imagem e de som do mesmo e corri para um laboratório especializado de cinema para tentar salvá-lo.O orçamento foi de seis mil reais aproximadamente. Como não dispunha dessa quantia fui a CBB tentar que me ajudassem a salvar aquele único documento da extinção. Resultado? Até hoje o material mofa em um refrigerador da LABOFILMES,e nem sei se ainda existem.O único filme de basquetebol feito no Brasil e documento de um Mundial aqui realizado, patrocinado pela CBB não teve dela a menor ajuda em sua restauração.Uma entidade esportiva que não preserva sua história não está cumprindo sua função de guardiã das técnicas do passado, quiça as do futuro. O que resta? A reação daqueles que são os verdadeiros artífices do jogo, aqueles que em suas funções de professor e técnico mantêm viva a modalidade.Enfim, aqueles que compõem o cerne e a alma do basquetebol, os Técnicos. Unamo-nos e levaremos o basquetebol de volta ao cenário mundial.
Em tempo – Consegui salvar o filme, relatado no artigo Enfim Salvo aqui publicado.
Amém.