O INDEVASSÁVEL LIMBO…
Nos últimos 60 anos assisti e participei de inúmeros jogos entre Vasco e Flamengo, em todas as divisões, da base a elite, em ginásios acanhados e grandes arenas, sempre bem disputados, quentes, aguerridos, mas jogados dentro das regras do jogo, dentro e fora das quadras, com torcidas participantes, mas nunca agressivas, como as de hoje, produtos diretos do futebol, com sua delinquência marcante e perigosa, acoitadas e apoiadas por dirigentes interessados politicamente nas mesmas, coercitivas e voltadas aos interesses continuístas daqueles que as patrocinam desde sempre. Invadiram os ginásios, com sua insânia despropositada, porém voltadas aos resultados positivos a qualquer preço, incentivadas a pressões sobre as arbitragens e aos adversários por técnicos comprometidos com a vitória, e somente a vitória, ao preço que for…
Então, assistimos com transmissão televisiva aberta e fechada (um luxo…), numa arena para 16 mil pagantes, a duas das mais representativas equipes “de camisa” do país, se defrontarem no maior campeonato nacional para…ninguém, absolutamente ninguém em suas suntuosas bancadas, por obra de um grupo criminoso incluso profundamente nas “torcidas organizadas”, afastando jovens e famílias do convívio desportivo, numa apropriação miliciana de um direito democrático a que todo amante e apreciador do esporte sempre teve o direito de participar…
Solução? Sim, somente uma, a responsabilização e afastamento deste câncer das quadras, juntamente com os que os patrocinam, conhecidos que são, de longa data, punindo determinados técnicos e dirigentes que os insuflam durante os jogos, com a desculpa de que mobilizam o “sexto jogador” em quadra, recurso manjado e perigoso para aqueles que não enxergam nada além do que a vitória nem sempre justa e merecida…
Houve um tempo, de que participei, em que faltas técnicas eram endereçadas a torcidas beligerantes, e que quase sempre freavam seus ímpetos agressivos, que poderiam causar a perda do jogo para sua equipe, hoje restritas a objetos lançados a quadra, se reconhecida sua origem…
Recentemente, nas olimpíadas aqui no Rio, assisti a um jogo explosivo entre Brasil e Argentina, numa arena completamente tomada por ardentes torcedores de ambos os países, creio, inclusive, com mais argentinos que brasileiros, e que transcorreu dentro dos padrões da mais alta competição, não havendo sequer uma agressão entre os torcedores, num belo exemplo de civilidade e educação desportiva. Dias atrás, numa arena vizinha, ocorreu exatamente o inverso, já que vazia e triste, para um espetáculo mais vazio e triste ainda, protagonizado pelas equipes alcunhadas pela marca do “clássico das multidões”, irônico, não?…
Nosso infausto basquetebol pena para valer seu limbo indevassável, agregando cada vez mais seu monocórdio destino, atrelado firmemente a mesmice endêmica técnica e tática, onde a média de erros de fundamentos já ultrapassa os 27 por partida, e a avalanche incontrolável dos arremessos de três raia ao inconcebível, como no recente Paulistano x Mogi, com os seguintes números – 12/24 arremessos de 2, e 12/37 de 3 para o Paulistano, contra 16/24 e 11/35 respectivamente para o Mogi, vencedor da pelada por 78 a 77. Por que pelada? Exatamente pelos 30/52 arremessos de 2 e os inacreditáveis 23/72 de 3, numa prova cabal de absoluta falta de comando, estratégia e tática primária de jogo numa liga maior, onde o primado básico da defesa inexiste, assim como a capacitação técnica arremessadora mais ainda, lamentável…
Finalmente, e mais ainda comprometedor ocorrerá no próximo dia 2 de fevereiro na sede da FIBA na Suiça, onde dirigentes atuais e futuros da CBB serão arguidos sobre o amanhã do grande jogo em nosso enorme e injusto país, que infelizmente vê seu comando contestado pela federação maior, atestando toda sua incúria e capacidade diretiva eivada de equívocos e comprometedoras gestões, beirando a desonestidade, compadrio e corporativismo até certo ponto criminoso. Quem sabe, sob nova direção possamos alçar novos voos, se observarem uma regra primária de administração, o envolvimento e comprometimento com o realmente novo, dirigentes, ações, gerências, sistemas e estratégias, não dando guarida aos vícios, aos viciosos e oportunistas, todos aqueles que se escondiam e ainda se escondem sob o manto do anonimato político, do apoio interesseiro, falsas eminências pardas prontas para o bote ao butim, e sim prestigiando aqueles que sempre propugnaram pelo novo, pelo corajoso, pelo audacioso, embasados pelo estudo, pela pesquisa séria, pelo trabalho inovador, pelo conhecimento teórico e prático, pela honestidade, de cara lavada, sempre, e acima de tudo, pelo mais autêntico e inabalável amor e respeito pelo grande, grandíssimo jogo.
Amém.
Foto – Reprodução da TV. Clique na mesma duplamente para ampliá-la, na dimensão exata de sua contundente realidade e crueza.