ERAM OUTROS TEMPOS (?)…

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Tenho me divertido bastante lendo comentários, e até artigos, de leitores em alguns blogs especializados de basquetebol, que de uns tempos para cá deixaram de lado simples análises e opiniões técnico táticas empregues em nosso território, para enveredarem no espinhoso e tendencioso caminho das verdades a serem adotadas aqui, e pasmem, lá fora também, para o desenvolvimento do grande jogo, é claro, sob suas altamente especializadas experiências no campo prático, visando mudar sua estrutura e modo de ser praticado daqui para frente, numa audaciosa e pretensiosa interpretação do que avidamente absorvem de uma imprensa estrangeira, que se sabe muito bem formada, e mais ainda,  informada pelo que existe de melhor na grande rede, não poupando laudas nos osmóticos “esclarecimentos” que garimpam pura e simplesmente, sem sequer se aterem para o fator primário que incide em qualquer aspecto evolutivo, a experimentação, a ida ao campo da prática, fundamentando estudos e pesquisas sérias, e não o palpite puro e simples, como os incensados por todos eles, os desvarios de três, ou as enterradas de quem não sabe, nem domina a arte do arremesso, fundamento maior do grande jogo…

Vejam esse trecho de um artigo publicado:

(…) O segundo ponto é um fato: o chute médio está em declínio — provavelmente consequência dos outros dois fatores. Apesar de ainda haver uns poucos especialistas de média distância, como (…), a opinião dominante hoje é que esse arremesso é ineficiente. A lógica é simples: chutar de média distância é arriscado (marcadores chegam a tempo, exige habilidade, etc.) e a recompensa são só 2 pontos. Assim, é melhor uma jogada na cesta (bandeja/enterrada), que tem mais chance de sucesso.(…)

Os dois fatores mencionados pelo leitor comentarista são o espaçamento ofensivo e o arremesso de três, ambos produtos largamente beneficiados pelas regras defensivas que diferenciam as leis de jogo da NBA e da FIBA, tornando os americanos os únicos no mundo a praticarem um basquetebol diferente dos demais, e o que é pior, tentando torná-lo único, o que dificilmente conseguirão, pois sua existência somente se torna possível dentro da realidade socioeconômica em que vivem, além de outros fatores sociológicos e de gênero (modismo atual…) bem particulares na conflagrada sociedade inter racial que não se entende por lá, desde sempre…

Afirmar e induzir os novos praticantes de que o chute médio está em declínio por ser ineficiente, raia ao grotesco, a ignorância, não só pela afirmativa, como ao fato, este sim, real e indiscutível, de que seja o mesmo o único a sobreviver, quando da evolução defensiva eficiente nos dois perímetros, com a adoção das flutuações lateralizadas à cesta em defesas linha da bola (sugiro que estudem com afinco esse pormenor…) vier a acontecer muito em breve, pois sucedendo a uma evolução ofensiva, segue-se obrigatoriamente uma defensiva, tornando o jogo um carrossel em permanente e dinâmica evolução, e não a implantação da mesmice endêmica em que nos encontramos,exatamente por não evoluirmos em ambos os componentes desta equação, ataque e defesa, estratificando-os aos interesses corporativistas daqueles que nada sabem, e nada querem saber do grande jogo, fator genérico de quem somente se interessa em manter o feudo econômico em que se estabeleceram, todos, estrategistas, jogadores, dirigentes, mídia, e porque não, leitores entusiastas também…

Afirmar que- “A lógica é simples: chutar de média distância é arriscado (marcadores chegam a tempo, exige habilidade, etc.) e a recompensa são só 2 pontos. Assim, é melhor uma jogada na cesta (bandeja/enterrada), que tem mais chance de sucesso”, é propugnar que para o chute de três as contestações se tornam impossíveis, e que para esse tipo de arremesso não é exigida grande habilidade, etc. numa clara demonstração de total desconhecimento do que venham a ser habilidades, domínio e controle corporal e óculo manual necessários aos arremessos de média e longa distâncias, aumentando exponencialmente suas dificuldades a cada centímetro acrescidos para sua execução. Sugiro neste ponto, caso se interessem de verdade em aprender, o que duvido, que leiam os artigos agora sugeridos, a fim de uma vez por todas entenderem o que venha a ser arremessar uma bola de basquete, para aí sim, situar os arremessos dentro da complexa estrutura de um jogo de basquete, muito além dos palpites gratuitos que divulgam pela grande rede…

O arremesso de longa distância é uma arte para poucos, e se contentar com 40% de acerto somente é possível pelo fato de ambos os contendores aceitarem o repto, vencendo aquele que meter a última, apagar a luz e ir embora. Se o espaçamento defensivo ante o de seu adversário contestar tais arremessos, e se fragilizar para as penetrações para bandejas e enterradas, conseguidas de forma mais fácil (e mesmo assim muitos erram), fatalmente evoluirão para defesas mais articuladas nos perímetros, que é uma ação coletiva de alta complexidade, mas necessária, e que fará com que os arremessos de média e curta distâncias ressurjam com força, pois resultantes dos embates 2 x 2, e até 3 x 3, hoje rarefeitos e restritos ao 1 x 1, principalmente na liga maior, como resultante de regras que impedem determinadas coberturas aos que penetram em direção à cesta…

O jogo interior precisa ser redescoberto por nossas equipes e seus estrategistas pranchetados, e acredito que alguns poucos já começam a desconfiar que exista de verdade, e vou dar uma pequena e bem recente pista, acontecida ontem mesmo em Brasília, quando a equipe do CEUB venceu o Flamengo com os seguintes números – 34/47 de bolas de dois, 8/25 de três, 68 pontos dentro do perímetro interno, 24 de fora e 3 lances livres, e o Flamengo 26/46, 6/22 e 13/16 respectivamente, com 46 pontos internamente, cuja diferença  praticamente marcou o resultado do jogo, demonstrando que de 2 em 2 pode-se vencer jogos alcançando elevadas contagens, derrubando a premissa de que o custo benefício dos arremessos de três superam os de dois, o que até admito quando todo um estruturado NBB aceita a  mesmice endêmica que foi implantada e aceita por todas as equipes que o compõe (houve uma exceção…), seguindo a conceituação técnico tática estabelecida pela CBB em suas seleções de elite e de base, em mais de 25 anos, espelhando de cima para baixo o padrão que anulou todo um trabalho de longos e longos anos estabelecido pelos magníficos técnicos que nos lideraram naquela espetacular fase que trilhamos a nível mundial, sendo eleito o quarto país mais desenvolvido no grande jogo no século XX…

Sinto muito se me mantenho não muito simpático aos poucos leitores que me honram com sua audiência, mas em hipótese alguma posso me omitir a essa campanha que tenta nos levar para as hostes de um outro jogo, irreal e inalcançável para nossa realidade de país carente do básico, a educação de seus jovens, cada vez mais massacrados em seus direitos constitucionais, vítimas perenes de políticas equivocadas, criminosas e entreguistas, onde até o grande jogo vem se inserindo com ganância e a pusilanimidade de muitos…

Amém.

Foto –  Hank Luizetti, o jogador que em 1936 revolucionou o jogo com seu jump shot, eterna e decisiva influência no grande jogo.



2 comentários

  1. Leoni 30.01.2017

    Paulo, parabens pelo artigo. Onde estão aqueles “emoticons” de palmas?

    Essa lógica de que a bola de 3 pts é mais eficiente do que a bola de 2 por ser mais valiosa está, por assim, dizer destruindo o jogo (o que chamo de efeito Curry) e agora com jogos da NBA diariamente em nossas TVs imagine o efeito nos jovens praticantes, vamos chutar bola do meio da quadra como o Curry!!!

    Tivemos uma evolução muito grande dos atletas fisico-tecnicamente de uns 15/10 anos para cá, mas essa suposta evolução me faze apreciar um pouco menos o jogo que amo.

    Um grande abraço ao senhor.

    Claudio Leoni

  2. Basquete Brasil 31.01.2017

    Muito obrigado pelo apreço ao artigo, prezado Claudio, confirmando não ser unânime a sangria irresponsável dos três pontos quadras ã fora. Mas dia virá em que o bom senso será restabelecido, e os jogadores reaprendam as técnicas do arremesso, hoje esquecidas e trocadas pelas enterradas “monstro”, e pelas inseguras e imprecisas aventuras na longa distância, seara para muito poucos, mesmo, e que espelham negativamente na aprendizagem dos mais jovens, como você tão bem apontou.
    Um abraço. Paulo Murilo.

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