UM POUCO(OU MUITO) MAIS DO BASQUETE BRASILEIRO…

Nas muitas décadas que adotei o basquetebol como um dos motores propulsores da minha vida profissional (sem dúvida o mais amado), em paralelo com a carreira acadêmica, onde as disciplinas que lecionava tinham tudo a ver com o desporto, naquele seu ponto mais fulcral, que era o ensinar a ensinar, onde as conceituações pedagógicas se inserem nas didáticas específicas, nas práticas de ensino, e mais adiante nas tecnologias educacionais, conquistas advindas desde a introdução da computação na realidade do mundo moderno, quando adotei um princípio que me foi passado pelo inesquecível professor Armando Peregrino na UFRJ – “Paulo, tudo que você aprender e adquirir de conhecimento teórico e prático, transmita a seus alunos, absolutamente tudo, pois estará dando o passo decisivo em sua evolução, abrindo caminho para novos conceitos, novos e instigantes rumos, pois só os medíocres guardam e se blindam em torno do pouco que sabem”, ou pensam saber…

Foi o que fiz e pratiquei por toda uma vida dedicada a ensinar a ensinar, num investimento sem garantia de volta, nem reconhecimento, aquele imediatismo tão valorizado nestes tempos corridos e pouco pensados, mas sabedor que, bem lá na frente, possivelmente frutos brotariam, mesmo não sendo testemunha presente e agraciada…

Por que tal preâmbulo Paulo, o que afinal você está querendo dizer? Simples, bem simples, estou lembrando que, apesar do passar do tempo, jamais esqueço de quem e como aprendi o pouco dos saberes que enriqueceram minha vida, aqueles mesmos saberes que passei aos meus alunos, jogadores, colegas,amigos e filhos, aqueles saberes que hoje ainda teimo em adquirir, transmitir, e tornar a adquirir…

O Basquete Brasil é a prova mais recente desse posicionamento professoral, no qual jovens e veteranos professores e técnicos encontram pontos a serem permanentemente discutidos, estudados, e por que não, pesquisados também, pois dizem respeito a fatos teóricos e praticamente aplicados, no ontem, no hoje, e certamente no amanhã, pois evoluir com a experiência vivida do passado, sua confirmação prática no presente, e sua projeção estudada, aplicada, adaptada ou modificada no futuro, certifica sua fundamental qualidade…

Desde sempre propugnei pela “intensidade defensiva”, como um dos fundamentos básicos do grande jogo, onde as técnicas individuais de defesa se equiparam às de ataque,  em sua complexidade e especificidade, quando ações físicas e mentais se combinam na execução de movimentos de fina sintonia, somente adquiridos através um longo, penoso, sacrificado e muito bem orientado treinamento, onde o “fazer falta tática” se torna sinônimo de incompetência de quem a pratica, e maior ainda de quem a ordena acontecer, abrindo mão do ato de ensinar técnicas específicas para que não ocorra, pois infelizmente, o que mais vem acontecendo  nos jogos seniores, e na formação de base, é a orientação “estratégica” da “falta tática”, como ação corriqueira e natural do jogo, num erro monumental e de sérias consequências, pois destrói de saída toda a condição de formalizar uma defesa unida, coletiva e realmente combativa, alicerçada na técnica de cada um de seus componentes, e não violentada pela somatória das faltas que devem ser utilizadas para parar a ofensiva oponente, recurso que evolui a cada temporada da liga maior, incapaz de desenvolver defesas individuais realmente eficientes, como essa que publiquei anos atrás, e que pretensamente beneficia elencos mais robustos de valores, inflacionando-os, aumentando o estoque de faltas a disposição da desvirtuada função defensiva, ora em voga no  arsenal tático dos estrategistas de ocasião…

Assim como nos sistemas defensivos, tais falhas de formação e informação estão presentes também nas ofensivas, quando são reivindicadas as ações sequenciadas, as que geram “fluidez dos sistemas” e suas jogadas, onde todos os jogadores se encontram em permanente movimentação, bem ao contrário do que vemos comumente acontecer, onde um ou dois jogadores interagem, frente aos demais estáticos, situados em posições fora do perímetro, aguardando um passe para efetuar os tenebrosos arremessos de três, erro colossal, por não se tratarem a maioria deles, especialistas naquele tipo de arremesso, aliviando a carga defensiva de se movimentar continuamente, fator que abriria espaços internos importantes, gerando a anulação de qualquer tentativa de fluidez ofensiva da equipe como um todo, emulando compartimentos estanques, e não comunicantes, como deveria ser feito…

Em decorrência, falar ou tentar estabelecer o que venha a ser “ataque controlado”, se perde no óbvio, pela ausência consciente de movimentações que levam a fluidez, pois quase sempre esse arremedo tático nasce e morre nas mãos de armadores pouco competentes na arte do drible ambidestro, das técnicas do DPJ, e do arremesso longo confiável sob contestação, além de se encontrarem amarrados à pobreza franciscana do sistema único, levando-os a individualização exacerbada e descerebrada, que nem a “rotatividade incessante de jogadores” oferece um paliativo minimamente aceitável, frente a enxurrada progressiva de erros nos fundamentos mais básicos do jogo, como demonstram as estatísticas deste playoff, com a média de 27,7 erros por jogo, sendo que em um deles, Franca e Paulistano, vencido pelo segundo por 69 x 66, perpetraram o absurdo número de 40 erros (19/21), constrangedores e inconcebíveis em uma divisão de elite (?)…

Mas não faltam fartas e fortes emoções para o público torcedor presente ou ligado na mídia televisiva e na web, mote agarrado com unhas e dentes por esguelhados e ufanistas narradores, complementados por comentaristas que em sua maioria se omitem de sua verdadeira função, a de relatar e explicar o que realmente acontece, técnica e taticamente, e não o que fantasiam no intuito de “valorizar” um pífio espetáculo de erros e brutais equívocos, em nome de uma inexistente “técnica superior” no campo de jogo, e bem pior fora dele, onde encenações, coerções, palavrões e jogo midiático, abundam triste e impunemente, e que encontram neles a simplória explicação de que se tratam de situações “normais” de jogo, logo desculpáveis e aceitas…

É um quadro desestimulante Paulo?  Sim, infelizmente esse é o padrão vigente, fruto de décadas de subserviência a sistemas de jogo que não nos dizem respeito, mas adotados pela extrema facilidade da cópia deslavada de um outro jogo praticado e sustentado por uma realidade técnico econômica diametralmente oposta a nossa, em todos os aspectos que se possa analisar, e que, infelizmente, se tornou comportamento corriqueiro pela maior parte daqueles que deveriam ensinar o grande jogo, de acordo com as nossas particularidades econômicas, materiais e sociais, estudando e aplicando técnicas didático pedagógicas específicas a nossa realidade de país carente nesses campos, tornando necessário o estudo sério e objetivo para enfrentar tais e importantes limitações, sem, no entanto, perder a busca pelo preparo de qualidade mais correto possível, cujos objetivos serão difíceis, porém não impossíveis de serem alcançados. Para tanto, urge o estudo e o preparo de estratégias factíveis a nossa realidade, a fim de prepararmos melhores professores e técnicos, dando um basta a “geração espontânea” de estrategistas sobraçando pranchetas tão  midiáticas, como suas estéreis e vazias mensagens do nada, do absolutamente nada…

Amém.

Vídeo – Reprodução da Tv de um pequeno exemplo de impropriedade diretiva.



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