O MVP…
A Liga Ouro chegou ao seu final, e o Botafogo ascendeu a liga maior, dependendo de uma avaliação financeira para disputá-la a partir de outubro próximo, com boas chances de atender as exigências necessárias, pois possui um bom ginásio para a temporada regular, e uma equipe nada inflacionada, cuja verba mínima de 1,5 milhão de reais seria o bastante para viabilizar sua participação, a não ser que ceda as investidas de agentes e complacência administrativa e técnica, prontos para promover seus midiáticos craques numa agremiação de tanta tradição e camisa, como sempre o fazem, começando em dispensar jogadores de segunda, na “opinião abalizada” de todos eles, substituindo-os pelos de primeira e nominados jogadores, como sempre acontece nas equipes que sobem para a liga maior…
E é nesse ponto que me insurjo com veemência, pois a maior parte dos jogadores que lutam e se desgastam ao máximo para vencer uma liga classificatória a elite, pouco ou quase nada devem em técnica a turma de cima, a não ser por um fator omitido pela maioria dos técnicos e jornalistas especializados, o de que ao jogarem todos num mesmo sistema de jogo, padronizado e formatado até o estado de pasteurização em que se encontra, vence e sobressai a equipe que consegue congregar um maior número de bons jogadores, permitindo uma rotação mais constante, para que a mesma se mantenha equilibrada pelo máximo de tempo possível, ao contrário de outras com rotações mínimas e carentes de maior experiência, além do fato de todas pecarem defensivamente, acionando pela extrema facilidade, a orgia desenfreada das bolas de três, a que todas aderem com vontade, tendo o beneplácito de seus técnicos e para o regozijo da mídia e dos torcedores menos entendidos do grande jogo. Agora mesmo nessa final, foram arremessadas 15/55 bolas de três, ou seja, 40 ataques perdidos, que numa final se torna imperdoável, não só na liga ouro, como também na liga maior…
Me parece que é do conhecimento de todos o que irá suceder na equipe vencedora, como em todas as que até agora ascenderam ao patamar maior, a substituição de muitos que lutaram a exaustão até a vitória final, por jogadores considerados e nominados que já participam da liga maior, numa manobra que fatalmente elevará significativamente valores contratuais, que na ótica dos agentes justifica um ganho maior pela substituição pura e simples de jogadores, no que acertam em cheio, pois num cenário em que existe uma única forma de jogar institucionalizada, somente terão lugar no mercado aqueles que fazem parte do sistema, do escambo, do unificado conceito de mercado existente, quando na realidade de quem realmente conhece e avalia coerentemente jogadores, todos se equivalem no que aí está implantado, mas se mostrariam bastante diferenciados se sujeitos a outras formas de jogar o grande jogo, principalmente se atuassem num sistema proprietário, ousado e inovador, onde insuspeitadas qualidades aflorariam, e a criatividade e o improviso consciente encontrariam espaço para se impor…
Esta dura realidade, expõe bons e valiosos jogadores a injustas situações de subavaliações e equivocados julgamentos técnico táticos, cujas performances seriam bem mais evidentes se submetidos a sistemas diferenciados de jogo, onde insuspeitadas qualidades seriam evidenciadas, exatamente por fugirem da mesmice endêmica que tanto empobrece e limita o grande jogo aqui praticado, sintonizando todos a uma melancólica e monocórdia repetição de um sistema único de jogo, com suas jogadas de passo marcado, descerebradas e monitoradas de fora para dentro das quadras através ininteligíveis e absurdas pranchetas…
Sintetizo melhor essa realidade com a escolha do jogador mais valioso (MVP) nessa final, premiando o americano Jamal com seus malabarismos e força muscular, realmente elogiáveis, porém bastante longe da estratégica importância de um jogador frequentemente subavaliado, como mencionei acima existirem muitos em nosso país, o Roberto, que arrumou, bloqueou e comandou a defesa interna, ajudando com sua experiência no perímetro defensivo externo também, atacando e reboteando com rara eficiência no ataque, e não poucas vezes partindo para o contra ataque com a bola dominada, em ações de alta qualidade e exemplar sobriedade, mesmo nas pontuais enterradas e oportunos bloqueios, e que aprendi a admirar quando o treinei no Saldanha no NBB2, e que dentro do sistema lá desenvolvido de dupla armação e uma trinca de alas pivôs, protagonizou magníficas atuações, como logo em seu segundo jogo em São Paulo contra o Paulistano nessa nova forma de jogar, sendo escolhido o dono da bola pelo site da LNB naquela rodada. O Roberto é um jogador que, assim como muitos, é sempre minimizado pela incompatibilidade de suas habilidades frente ao sistema limitado e robotizado que é utilizado massiva e padronizadamente por todas as equipes, da base a elite no país, e que, infelizmente, ainda se fecha rigidamente a soluções que o contradigam, já que tem de manter o status vigente, base do corporativismo técnico que o sustenta, para a infelicidade do grande jogo entre nós. Logo, na opinião desse humilde blog, o jogador mais valioso da final foi, sem dúvida alguma, o Roberto.
Amém.
Fotos – Fotomontagem da LNB quando nomeou o Roberto como o Dono da Bola da terceira rodada do returno do NBB2 no jogo contra o Paulistano, atuando pelo Saldanha da Gama.
Flagrante do jogo final contra Joinville numa reprodução da TV, atuando pelo Botafogo.
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