Em recente artigo, Fabio Balassiano apontou avanços substanciais no gerenciamento do basquetebol brasileiro, tanto pela CBB, quanto pela LNB, tendo como foco principal a reforma dos estatutos da primeira, estratificado desde sua fundação, e que finalmente galgou um patamar bastante positivo, principalmente na composição de seu colégio eleitoral, agora acrescido de jogadores e técnicos, algo tido como impossível a bem pouco tempo atrás. No entanto, um nevrálgico ponto deixou de ser analisado, o fato da escolha dos técnicos ter sido feita pelo presidente da ATBB (Associação dos Técnicos do Basquetebol Brasileiro), uma entidade que sucedeu a APROBAS, que deixou de existir pela baixa adesão dos técnicos, assim como a anterior ABRASTEBA, quando do falecimento de seu presidente e mantenedor Moacyr Daiuto, aspecto que parece pode se repetir, face a baixa adesão dos técnicos à nova associação, que com as antecedentes, contava quase que exclusivamente com técnicos paulistas…
Pois bem , numa recente materia do Databasket pela internet, o presidente da ATBB comunica que pessoalmente indicou os dois técnicos para compor o colégio eleitoral da CBB, ao contrário da CBB que que se utilizou do voto universal para indicar os jogadores representativos, e era de se esperar que o mesmo acontecesse pela direção da ATBB, que inclusive se auto nomeou o representante no Conselho Administrativo da CBB, e mais, comunicou que propôs a administração da ENTB com a possibilidade de inclusão de cursos a distância, ou seja, uma entidade que de forma alguma alcançou representatividade nacional, pois conta com baixa adesão de técnicos, experiência que não chega a dois anos de atuação, e como suas duas predecessoras, sendo composta quase exclusivamente por técnicos paulistas, apontando claramente que, em hipótese alguma, permitirão que o controle técnico do basquetebol brasileiro saia de sua direta influência, que data da primeira administração do grego melhor que um presente, que garantiu sua eleição sobre o Renato Brito Cunha, com o decisivo apoio dos paulistas, em troca do domínio absoluto do setor técnico da entidade maior (é bom lembrar que até aquele momento a CBB, com sede no RJ, comandava o setor técnico, época em que o basquetebol brasileiro alcançou suas maiores conquistas internacionais, com três mundiais e cinco medalhas olímpicas), dando início a hecatombe que se instalou entre nós, e que aí está escancarada pela padronização e formatação do nosso indigitado basquetebol, inserido coercitivamente no tenebroso sistema único de jogo, da base até a elite, dando início ao corporativismo exacerbado que tanto nos oprime e humilha…
Mas não satisfeito, ensaia um convite para que durante o jogo das estrelas no Ibirapuera, os técnicos se reunam para num “brain storming” discutirem caminhos e sugestões para que a presidência os representem, mas onde, se já se decidiu fazê-lo sozinho e seus dois parceiros? Parece não, é realmente surreal ( e mais um lembrete, foi durante o Mundial Feminino neste mesmo Ibirapuera em 1971, durante um seminário técnico, que lancei a idéia de fundarmos uma associação de técnicos, que contou com a adesão imediata de mais de 180 técnicos nacionais e alguns internacionais, dando início ãquela que seria a segunda associação nas Américas, perdendo somente para a NABC, fundada em 1926. Foi um concenso absoluto, fruto de uma iniciativa democrática discutida por todos os presentes Abri mão da da unânime indicação a presidência (aos 32 anos me considerei jovem demais para o cargo, além de algumas rusgas com a CBB), em nome do técnico e professor Antenor Horta, tendo na vice presidência o professor Moacyr Daiuto, ficando como secretário da mesma. A ANATEBA foi dois anos mais tarde dissolvida pela negação da CBB em apoiá-la, quando do lançamento do Mini Basquete no país).
Honestamente, a CBB não pode repetir o brutal erro cometido quando do lançamento da ENTB, levando-a ao fracasso e praticamente sucumbir ao seu péssimo e incompetente projeto de ação. Uma Escola é algo de transcendente importância, e que deve reunir a nata de professores e técnicos, veteranos e alguns jovens promissores, inclusive aqueles que pertençem a associações estaduais de técnicos (aqui no RJ existe uma, e quem sabe em outros estados), para aí sim, reunidos em torno de uma imensa mesa, estabelecerem aquelas importantes discussões para a formação de base, e o estabelecimento de uma autêntica e séria ENTB, e não mais um capítulo de imprevidência e oportuno continuísmo, exclusivo de um grupo no perene comando técnico do grande jogo no nosso imenso e injusto país…
E um dos resultados nefastos dessa influência pode ser descrito por alguns e singelos números que ocorreram nas semifinais e final da LDB, categoria sub 20 de jogadores que já deveriam estar prontos para o NBB, onde alguns já competem e cujos erros nos fundamentos básicos são preocupantes, pois os tornam ineficientes no desenvolvimento de sistemas de jogo, ofensivos e defensivos, os quais somente se tornam produtivos com o pleno domínio dos mesmos, e por essa indiscutível razão, serão extremamente limitados nas ações que exigem criatividade e improviso consciente na consecução dos sistemas propostos, e consequente leitura de jogo. Aqui os resultados:
– Nos 24 jogos desta fase final, foram cometidos 871 erros de fundamentos, ou 36,2 por jogo na média.
– Por equipes :
– Pinheiros 112 (22.4 pj); Flamengo 108 (21.6 pj); Minas 108 (21.6 pj); Paulistano 98 (19.6 pj); Ceará 90 (18.0 pj); São José 81 (16.2 pj); Franca 76 (15.2 pj); Curitiba 70 (14.0 pj).
– Finalistas :
– Pinheiros/Franca – 25/17 – 42 erros
– Paulistano/Sãp José – 15/20 – 35 erros
– Jogo com mais erros – Paulistano/Minas (28/27) 55 erros.
– Para um razoável padrão na elite de 5-8 erros por equipe, alcançaram os novos jogadores : 1 jogo com mais de 50 erros; 6 entre 40 e 50; 4 entre 30 e 40; 5 entre 20 e 30, e absolutamente nenhum abaixo dos 20 erros. Seria interessante que fossem contabilizados os erros de toda a competição, com resultados assustadores, confiram, ou não se deem ao trabalho, para que, não? Noves fora a endêmica chutação de três…
Complementando o desanimador quadro, o jogo da primeira rodada da Liga Ouro entre Brusque e Cerrado apresentou os seguintes e absurdos números – 32 arremessos de 2 pontos e 74 de 3, sendo que ao fim do segundo quarto perpetraram 3 de 2 pontos e 26 de 3, simplesmente inacreditável!…
Agora a pouco o Paulistano arrasou o Botafogo arremessando 19/29 de 2 pontos e 21/43 de 3, sedimentando a “nova filosofia” de jogo tupiniquim (como ninguem defende, é uma excelente oportunidade de agregar vitórias e recordes aos currículos, e que se explodam os resultados nas seleções mais a frente), até o dia em que as equipes reaprendam a defender, a contestar, mas claro, se derem importância aos fundamentos básicos do jogo, desde a base, preferencialmente, ou mesmo praticá-los na elite, por que não, porque não?…
Mas algo de “positivo” que vem acontecendo nos jogos da seleção dirigida pelo Petrovic, a sua progressiva adesão aos chutes de três (vide o Magnano), inclusive nos contra ataques e por parte dos pivôs, num gritante contra ponto aos seus conceitos croatas de basquetebol, o que seria lastimável se olvidados, espero contrito que não…
No mais, fazendo coro ao meu permanente e atento interlocutor, que me considera um empedernido pessimista, alerto ao mesmo que, muito pelo contrário me considero um irremediável otimista, a ponto de vislumbrar uma tênue esperança em dias melhores para o grande jogo entre nós, na medida, mais tênue ainda, de que afastemos dele aqueles que no fundo o odeiam, pelo simples fato de não o entenderem naqueles pontos que tem de grandioso, sua inesgotável capacidade criativa, ousada e corajosa, mesmo aviltado e agredido sem maiores contemplações, pois o que tem importado de verdade é a bola sagrada de três, a enterrada monstro, o toco transcedental, o duplo e o triplo duplo, as pranchetas que falam, os palavrões e coerções a jogadores e árbitros, a patética mímica extra quadra, as violentas torcidas de icônicas camisas, os tatibitates craques que exportamos antes do tempo, a importação dos que não servem mais para a matriz, e a continuidade da mesmice endêmica em nossa autofágica forma de jogar, negando as diferenças, o bom senso, o criativo e o ousado, em nome do que aí está Um novo ciclo olímpico já foi iniciado, e nada parece que aprendemos técnica e taticamente, mas meus deuses, até quando, até quando…
Amém.