“O NBB QUE VOCÊ NUNCA VIU”…

Andei analisando e revendo muitos vídeos e fotos sobre os últimos NBB´s, tendo sido alguns daqueles registros parte de muitos artigos aqui publicados, todos fazendo parte de uma rotina imutável, como se houvesse sido baixada uma lei central de que somente um sistema de jogo pudesse ser executado, ano após ano, e já lá se vão dez, de uma mesmice endêmica, onde jogadores, técnicos, dirigentes, analistas , empresários e agentes gravitam em torno do mesmo, num tétrico carrossel em sua monocórdia trajetória, sem princípio, e muito menos fim…

Repetir, insistir, repetir, tornar a insistir, metódica e servilmente, agregando uma novidade/cópia aqui, mais uma imitação alí, uma canhestra apropriação tática acolá, num somatório previsível e na maioria das vezes infantilóide, típico de todos aqueles que se julgam conhecedores de tudo, e certamente de nada, nada mesmo, pois o tatibitati técnico tático faz as honras da mesa de um indigesto banquete, aquele que intoxica e muitas vezes mata…

“É outro o basquetebol agora jogado, e precisam se acostumar”, e tome “chega e chuta”, preparação fisioterápica arrasadora, quase que precisando de uma quadra de 50 metros e uma aro a 3,50m do solo, frente ao poderio atlético descomunal de jogadores que muito tarde descobrem a existência de uma bola no campo de jogo, e a obrigação técnica de controlá-la, dominá-la  direcioná-la com precisão, e não maltratá-la e percuti-la da forma mais primária e imprecisa, isso quando conseguem contatar alguma no meio de tanta insana correria…

Já se ouve comentaristas, uns raros que parecem entender um pouco melhor o grande jogo, dizerem que os jogos pecam demais na técnica, na tática, nos fundamentos, mas sobram em emoções, levando à histeria narradores ufanistas e boquirrotos, empolgando seu público mais para torcedores de futebol do que basquetebol, que raramente enchem os ginásios e arenas, aplaudindo ruindades dentro e fora das quadras, pencas de medíocres americanos para cá canalizados no projeto NBA/NBB, que agora mesmo patrocina escolinhas pagas em estados do país, porém, como num escorregão, prestigiando excelentes armadores argentinos que, honestamente, perdem muito de seu potencial ao se defrontar com um sistema formatado e padronizado, que anula muito de suas qualidades adquiridas no excelente processo de formação de base de seu país…

Mas para não afirmarmos que tudo está perdido, já jogamos, mesmo dentro do inefável SU, com dupla armação, alas pivôs mais atléticos e velozes, um pouco mais de jogo interior, sem, no entanto avançarmos na defesa exterior, e o principal, evoluirmos nos fundamentos básicos do jogo, trocando-os por um atleticismo desvairado, perigoso e descerebrado, principal e estrategicamente na formação de base, onde são poucos os professores e técnicos real e fortemente preparados para exercer tal prioridade para o futuro do grande jogo entre nós…

E como categórico exemplo do que tanto tenho alertado em função dos tortos caminhos em que nos enveredamos, ao término a poucas horas do jogo entre Paulistano e Pinheiros (91x 85 para o Pinheiros), ambas as equipes trucidaram o bom senso técnico tático com os seguintes números: 18/31 nos arremessos de 2 pontos para o Paulistano, contra 17/34 para o Pinheiros, 9/37 nos 3 pontos, contra 12/29 respectivamente, 22/25 nos lances livres, contra 11/32 também respectivamente, totalizando a convergência de 35/65 nos 2 pontos e 21/66 nos 3, numa absurda e perturbadora realidade do que estamos equivocadamente implantando no basquetebol tupiniquim, principalmente como modelo aos jovens iniciantes, ainda mais quando somamos a tal incúria 30 erros de fundamentos (15/15), fechando com chave de m…o que estamos presenciando e testemunhando do que pior possa existir como basquetebol elitizado (?)…

Em breve estaremos disputando as duas últimas partidas na classificatória ao Mundial, que deveremos ultrapassar, restando a incógnita questão do que ocorrerá no Mundial, onde um técnico croata se deparará com uma realidade antítese da sua, a começar com seus assistentes, em tudo e por tudo antagônicos técnica e taticamente a suas convicções e experiência técnica, até jogadores que se acreditam ungidos na seletiva especialidade nos longos arremessos, aí incluídos os pivôs, pouco ou quase nenhum comprometimento com a defesa exterior do perímetro, ausência atávica de movimentação sem a bola, sentido de cobertura longitudinal a linha da bola , e não lateralizada a mesma como deve ser, num caldo incolor, típico de uma elite produto de uma formação de base viciosa, falha e acima de tudo, descompromissada com o duro e permanente trabalho nos fundamentos, ferramenta básica de sua modalidade, sem a qual sistema nenhum de jogo se torna realidade, mesmo o SU a que se dedicam desde sempre, logo, o NBB que você nunca viu, é esse que você sempre viu, o que aí está, agregando a grande revolução da chutação de três. Se acostumar com isso é dose…

Mesmo assim torço para que o Petrovic consiga, de alguma forma mágica, contornar tantos obstáculos, solitário de preferência, pois se depender de sua assistência, certamente estará frito, patinando no escorregadio tapetebol* já estendido a sua frente…

Amém.

Foto – Reprodução da TV. Clique duplamente na mesma para ampliá-la.

 

*Tapetebol – A arte de se puxar o tapete dos pés de um adversário, ou pior, de um colega de profissão.

Mais sobre o tema Tapetebol

O PASSO ADIANTE…

2018 se foi, e como último suspiro um torneio premiando uma classificação para a Liga América, intitulado de Super 8, reunindo num mata mata os oito mais bem classificados ao final do turno inicial do NBB, feericamente anunciado, sendo transmitido ao vivo e a cabo, reunindo em suas transmissões praticamente a nata dos comentaristas e narradores do basquetebol nacional, sem contar os abalizados convidados, medalhados ou não, situados todos em torno da deificação do momento brilhante por que passamos (opinião de todos), auferindo as maiores esperanças de grandes vitórias nos torneios internacionais que se  avizinham, entre eles a classificatória ao Mundial do segundo semestre…

No entanto, em meio a tanto confete e serpentinas, algo sequer foi mencionado, muito menos analisado, os frios e determinantes números emergidos da competição, os mesmos que nos tem afligido e seriamente preocupado, pela dolorosa constatação de que a mesmice endêmica em que nos encontramos estratificados, se mantém incólume, intocada e triunfante, com os 254/482 (52,6%) arremessos de dois pontos, 124/381 (32,5%) nos de três pontos, 225/288 (78,1%) nos lances livres e uma média de 17,9 erros de fundamentos por jogo, quando o padrão aceitável para uma competição deste nível seria de 70% nos dois pontos, 60% nos três, 90% nos LL, e 10 erros por jogo, e um pouco mais em se tratando do repositório das  seleções nacionais…

Não entra nestas contas o sistema formatado e padronizado utilizado por todas as equipes, com seus previsíveis passes laterais, pivôs atuando fora do perímetro, ou solitários quando de posse da bola dentro do mesmo, jogadas totalmente empreendidas para o arremesso de três, desnudando a cumplicidade explícita entre jogadores e estrategistas, juntos neste atentado ao grande jogo, e plenamente cônscios de que o estão “revolucionando”, num erro estratégico e colossal, pela mais profunda ignorância do que venha a ser precisão técnico científica na direcionalidade dos longos arremessos com uma das mãos, contrapondo o alto aproveitamento estatístico dos médios e curtos arremessos, aqueles que realmente vencem jogos…

E como presente de ano novo, na retomada do NBB, Paulistano e Corinthians perpetraram um absurdo jogo, onde o campeão da temporada passada venceu por 82 x 78, arremessando 12/18 bolas de dois pontos e inacreditáveis 15/38 de três (seu adversário arremessou 12/32 de dois, e 12/29 de três), totalizando os dois bandos 24/50 de dois e 27/67 de três, ou seja, 40 ataques perdidos de três, num arrepiante desperdício de tempo e esforço físico, noves fora a ausência defensiva, que o estrategista do Paulistano tentou emular com sua caminhada de ida e volta pelos dez metros em frente ao seu banco, numa frequência aproximada de 5 passagens por minuto, ou  50 metros, que ao final de 40 minutos de jogo proporcionou uma boa metragem (calculem…), entremeadas pelas contumazes reclamações e pressões na arbitragem, e claro, pela torcida escancarada pelas bolinhas, assim como seu oponente do outro lado, e tudo isso emoldurando 33 erros de fundamentos (23/10), dando o direto recado de como será o basquetebol daqui para diante, sob os aplausos da mídia, e daqueles que odeiam o grande jogo, vide o solene vazio de público nas arenas tupiniquins, não adiantando de nada os comentários do técnico Petrovic sobre a farra dos três pontos, e tendo como assistentes diretos dois dos maiores adeptos e utentes das dita cujas em suas equipes no NBB, fato que por si só justificaria suas substituições na assistência do técnico nacional (atitude esta que ele mesmo deveria tomar, claro, se tivesse carta branca para tanto), que em hipótese alguma poderia privar de assistentes em flagrante contraponto com suas convicções técnico táticas, ainda mais numa seleção nacional…

Porém, algo maior preocupa muito mais, a cada vez maior incidência de cobertura jornalística (?) na grande rede sobre a NBA, com requintes técnicos, táticos, administrativos, econômicos, sociais, e até pessoais, sobre um universo que não nos diz respeito pela imensa distância de nossas realidades, mas que tenta influir e direcionar os anseios de nossos jovens, como o eden a ser alcançado, divulgando conceitos de vida opostos e equivocados, dentro da realidade que nos separam, inclusive emitindo opiniões técnicas, táticas, estratégicas, administrativas e comportamentais de técnicos profissionais de um outro país, em seu próprio campeonato, sem o mais ínfimo conhecimento local, pessoal, vivencial, no seu dia a dia laboral, extra e intramuros, soando falso, muito falso, palpiteiro, onde os achismos se fazem presentes, onde opiniões e pontos de vista caem num vazio prepotente e audacioso, que não resiste ao mais primário julgamento qualitativo, ante tanta pretensão de quem se acha conhecedor profundo do grande jogo, aqui, e muito mais, lá fora…

Proclamar aos ventos que o futuro do basquetebol, seu modernismo, sua pujança se reflete na capacidade pontuadora nos três pontos, na força física, na velocidade insana, é duvidar da capacidade centenária de se reinventar do grande, grandíssimo jogo, onde o poder do contraditório fez dele o master dos jogos coletivos, com sua rica bibliografia, filmografia, pródigas muito antes da era digital, da computação, sempre combatendo e defenestrando os bestialógicos postados na mídia através décadas de presença praticamente universal. É a modalidade desportiva onde a enganação não encontra subterfúgios, máscaras, personas, mas que propugna certezas, razões e vasto conhecimento àqueles que humildemente se dedicam honestamente a ela, por ela e para ela, para no final descobrir que muito pouco aprendeu do universo de conhecimentos que ainda tem de descobrir e estudar…

Agora mesmo, um diretor substituído por uma nova administração, revela que buscou o técnico campeão da temporada passada, por estar o mesmo “um passo à frente”, técnica e taticamente de seus colegas de profissão, dotando-o com uma estrutura altamente profissional e jogadores do mais alto nível, para, segundo o mesmo, vencer todas as competições possíveis, nacionais e internacionais, mas que fracassou na recente Liga Sul Americana jogando em casa, porém vencendo um morno Super 8 com vaga na Liga das Américas. Muito bem, pergunto em que passo à frente estava o referido técnico? O “chega e chuta” alucinado de seu sistema de jogo? A permanente dupla armação que integrou a equipe? Dupla armação essa sempre liderada por um armador argentino, cuja escola formativa é imensamente superior a nossa? Defesa maciça nos rebotes e no âmago do garrafão, propiciando os contra ataques? Bem, fora a epidemia da chutação de três, cuja desculpa maior é a da rápida elasticidade nos placares naqueles jogos mais difíceis (engraçado ser esta a desculpa de todas as equipes da liga…), os demais pontos foram pinçados de uma equipe humilde e vencedora de 11 anos atrás, no NBB2, que indo jogar contra a equipe da qual o grande técnico fazia parte, venceu o jogo, apanhando muito ante uma arbitragem “da casa”, fez 91 pontos de 2 em 2 e 1 em 1, com somente 9 tentativas de 3, convertendo 5, conquistando 20 rebotes a mais do que sua equipe (jogando em casa, diga-se), e contestando todos os arremessos longos, (que foram 33!!), e atuando com dois armadores de ofício e três alas pivôs ágeis, rápidos e atléticos, dando o verdadeiro passo adiante na mesmice endêmica existente, e que resiste até hoje, no NBB11. A grande “novidade e conquista” é a chutação insana, burra e irresponsável de três, cuja cobrança tem sido dolorosa nas grandes (as grandes mesmo…) competições internacionais, como os Mundiais e as Olimpíadas…

O primeiro, e até hoje grande passo para a evolução estratégica e tática do grande jogo entre nós foi varrida para baixo do tapete da história, onde até seu implementador foi defenestrado, e proibido de exercer sua profissão de técnico graduado, mantendo a de professor mais graduado e doutorado ainda em Ciências do Desporto, com tese em basquetebol, além de teimosamente manter esse humilde blog, trincheira maior contra a enganação institucionalizada nesse imenso, desigual e injusto país…

Que bom que algo tenha sido pinçado daquela magnífica equipe, pena que não tenham pinçado a totalidade do que ela representou e inovou, mas não os condeno, pois para tanto teriam de…Ora, quem se importa…

Como no exemplo acima, quando o Paulistano venceu fazendo 82 pontos, arremessando 18 bolas de 2 e 38 de 3, fica a lição maior da humilde equipe do NBB2 fazendo 91 pontos, arremessando somente 9 bolas de 3, duvidam? Clique AQUI. ( Outros jogos na seção Multimídia do Blog)

Amém.

Foto – A equipe que deu o primeiro passo, e que foi liquefeita por tanta ousadia, numa opção burra e equivocada, fruto do exacerbado corporativismo que esmaga e humilha o grande jogo no país.

Saldanha da Gama – NBB2.