O TRISTE GRANDE JOGO…

 

Uma excelente matéria que deve ser bem lida do Fábio Balassiano no seu blog Bala na Cesta, com um só senão, a sua insistência de se considerar o único batalhador na eterna luta contra os desmandos da gestão Carlos Nascimento na CBB, com sua herança catastrófica que tanto prejudica a atual administração, que enfim, processa-o judicialmente. Digo isso por ter sido, bem antes da existência de seu blog, através do meu Basquete Brasil, e bem antes do mesmo, um crítico feroz de tudo de errado que ocorria política e economicamente na entidade que dirigia o basquetebol neste imenso, desigual e injusto país, sendo aquele posicionamento um dos motivos, dentre outros mais, do meu coercitivo e radical afastamento da direção técnica de equipes da base formativa e da elite do grande jogo, seleções inclusive…

Mesmo assim parabenizo-o pelo jornalismo duro e incisivo que pratica com grande competência e coragem, porém não solitariamente…

Outrossim, voltando ao presente basquetebol, fruto resultante, ou não, de décadas de ineptos gerenciamentos e lideranças, encaramos uma dura e inamovível realidade que, frente ao corporativismo existente entre os técnicos, dirigentes, agentes (vejam só, tão jovem e inexperiente, até o Yago os tem…), grande parte dos jogadores, e boa parte de uma mídia ufanista e afastada conscientemente da pobreza técnico tática e formativa de novos valores, conotando o grande jogo de uma áurea fantasiosa que absolutamente não ostenta, vide negativos, injustificáveis e indefensáveis números que revelam um basquetebol de terceira categoria frente aos mesmos, amargo resultado, não só dos erros administrativos antecedentes, como pela permanência danosa de uma mesmice técnica, que ao se manter endêmica, trava e obstrui toda e qualquer tentativa de criações inovativas que o retire, ou mesmo amenize da dolorosa e retrógada realidade em que se debate…

Um exemplo quase corriqueiro neste NBB 11, foi o jogo de ontem entre Franca 83 e Bauru 77, onde ambas as equipes arremessaram 34/61 bolas de 2 pontos e 23/65 de 3 (19/32 e 15/29 para Franca, e 10/29 e 13/36 para Bauru), convergindo para mais nas bolinhas, originando 42 falhas, que se relembrassem as continhas que tanto venho sugerindo, bastaria uma delas trocar a metade de suas tentativas perdidas de três, por outras de dois, para se manter bem a frente do placar, o que que fez modestamente a equipe francana, vencendo a partida…

Frente a tal realidade, onde as equipes investem em razoáveis e até bons pivôs, alguns deles alas de formação, como se explica a quase total ausência de sistemas de jogo que os promovam no perímetro interno, já que a maioria das equipes atuam em dupla, e às vezes em tripla armação, gastando e destilando a bola em passes de contorno, dribles e dribles vistosos e inócuos, penetrações partindo de “espaçamentos” ofensivos com a participação ostensiva, inclusive, dos pivôs, num esboço canhestro do que é comumente feito na NBA, face às facilidades de flutuações não permitidas por suas regras especiais e contrárias às da FIBA? Creio que a resposta é para lá de óbvia, as equipes não têm sistemas fortes e confiáveis para atuar dentro do perímetro, a não ser a triste jogada em que um solitário pivô luta de costas para a cesta, no meio de vários defensores, enquanto seus demais companheiros, “espaçados” pelo perímetro externo, o assistem inermes e desprovidos de qualquer ação de apoio ou socorro do mesmo, vendo-o solitariamente torear a defesa agradecida ante tanta incompetência ofensiva. Perdoem-me, têm uma outra engatilhada, a penetração partindo de fora, em ação de muito gosto por parte dos americanos que aqui atuam, ou os inevitáveis chutes de três ante o esgotamento dos 24 seg de praxe…

Nossas equipes não sabem atacar em grupo, onde todos os jogadores se deslocam, e não como alguns que ocupam sesmarias laterais (chamo-os de corner players) gesticulando ávidos pelos passes para matar as bolinhas consagradoras (moleza grotesca ante defesas absolutamente medíocres e descerebradas), ou assistindo indolentes dois companheiros tentar picks intrigantes e comumente mal feitos. Os princípios coletivistas morrem exatamente aí, não só pela ausência e desconhecimento do que venha a ser mobilidade coletiva e solidária de uma equipe, mas antes de tudo, um preparo bem planejado de treinamento nos fundamentos básicos, e na formulação de exercícios especiais (drills) que decompondo carentes ações e atitudes individuais e coletivas, dotem a todos de instrumental técnico tático que os façam ler o jogo de uma forma objetiva, criativa e prática, numa ótica coletiva, onde a qualidade individual de cada um se some e associe aos demais, constituindo o alicerce básico de uma equipe de alta competição…

Claro, que para tão grandioso objetivo, é exigido um comando seguro, criterioso e absolutamente competente, fatores estes que vejo em muito, muito poucos nos atuais técnicos nacionais, dissociados em sua maioria do enorme e importante histórico do grande jogo que um dia praticamos, com raríssimos estrangeiros, grandes e pequenos clubes trabalhando a base em todo o país, excelentes professores e técnicos formadores, campeonatos assistidos por torcedores e admiradores que realmente o amavam e entendiam, e não essa busca insana por americanos salvadores, argentinos lideres táticos em quadra, pelo público afeito ao futebol, com suas mazelas e torcidas organizadas cujo lema prioritário é a liquidação de seus oponentes, vício de tal ordem danoso, que já temos aqui no Rio de Janeiro jogos com torcidas únicas, fator desvirtuante do que sempre ostentou de mais desportivo em sua trajetória, o jogo como fator educativo e cultural, e não essa mixórdia que aí está…

Virão as semi e as finais daqui a um pouco, trombeteadas por narrações apocalípticas, indecentes, malfeitoras, ridículas, pornográficas, segundo jargões midiáticos, onde até sacanagens são mencionadas, como se tais e mal educadas citações aumentassem a importância do grande jogo, a não ser um discutível aumento de audiência de seus executores, que ao lado de muitos comentaristas veem um outro jogo, ao contrário do que assistimos incrédulos perante tanta asneira que é mencionada em nome de técnicas e táticas inexistentes, até mesmo estratégias confundidas com rabiscos desconexos nas pranchetas de ocasião, realmente muito triste…

NBB é FIBA, NBA é NBA, dois mundos díspares, que jamais verá a grande liga implantada por aqui, pois o fator limitador e imutável atende pelo nome de poder econômico, associado a seus costumes e tradições regionais e nacionais de um país hegemônico, antítese do nosso, carente, mal e propositadamente deseducado, colonizado com o que de pior herdamos do hemisfério norte, ainda e por um longo tempo destituído de lideranças confiáveis, porém ansioso para tê-las, atuantes e progressistas, principalmente na educação básica de seu povo, em seu  desenvolvimento cultural, artístico e desportivo, fundamentos para se transformar na grande nação que tanto desejamos. O basquetebol teve e deveria ter continuado a ter uma grande parcela nesse desenvolvimento, mas tem sido bloqueado pela mesmice endêmica em que o afundaram tecnicamente, e pelo abjeto corporativismo em que se envolveu, retirando qualquer possibilidade evolutiva, onde o novo e o criativo foi, e tem sido varrido para baixo do tapete de sua triste história…

Sairemos ou sucumbiremos ao bestialógico em que o cercaram e cercearam? Hum, vai ser muito difícil, impossível, não! O que falta então? Eis uma boa pergunta…

Amém.

Fotos – Reproduções da TV e Divulgação CBB, Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.



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