O PAÍS DO FUTURO…
Você que é macaco velho, ou melhor, orangotango idoso, lúcido, experiente, observador, e para lá de precavido, ao olhar a foto acima, de saída conclui de que se trata de um grupo de jogadores com a insegurança estampada em suas feições, importando, e muito, um resultado que afastará a equipe de um Mundial ansiado e sonhado por todos eles, tão jovens, e tão desamparados do ferramental básico para a consecução do acalentado sonho, um preparo criterioso, justo, baseado num planejamento bem estruturado face a sua inexperiente juventude, que mesmo sendo muito talentosa, necessitaria de um preparo contundente nos fundamentos do jogo, muitos fundamentos, a fim de se posicionarem positivamente ante sistemas de jogo ofensivos e defensivos a que teriam acesso (o que certamente não ocorreu, ficando bitolados ao sistema único), e que sem o domínio pleno dos mesmos, poucas chances teriam para executá-los com sucesso, em oposição ao que, infelizmente aconteceu, quando ao término do quarto jogo na competição, alcançaram 20.2 erros em média (22/18/18/23), enquanto seus oponentes cometeram 15.7 (17/20/15/11), numa diferença significativa nessa idade (sub 16), assim como as baixíssimas porcentagens nos arremessos, a saber, 43.6 nos de 2 pontos, 16.4 nos de 3, e 57.1 nos lances livres, números muito aquém do mínimo exigido numa competição internacional, mesmo nessa categoria de 16 anos, etapa ideal para ensiná-los e corrigi-los na busca das técnicas mais adequadas para realizá-los, principalmente numa seleção nacional…
No entanto, mesmo com números um pouco melhores, ficaram esses jovens a mercê de um inexistente e planificado plano de jogo, onde o individualismo exacerbado dos armadores, encontraram incentivo permanente da direção técnica da equipe, como que desviando o protagonismo de um jogador que nos torneios continentais de sub 14 e 15, obteve números superlativos a sua idade, contribuindo em mais de 50% na pontuação daquelas equipes, conquistando os MVP’s nas duas competições. Sem dúvida alguma Motta não se saiu bem nessa importante competição, que culminaria na classificação ao Mundial, por um simples e objetivo detalhe, não lhe foi permitido jogar como deveria fazê-lo, obrigado a ceder espaço tático, e até estratégico aos armadores pontuadores (ou que deveriam sê-los), retirando, e até anulando (diria, auto anulando) uma grande e importante arma da equipe, por motivos que não ouso sustentar, considerando sua seriedade e proposital (?) objetivo…
Foi um desastre previsto desde o primeiro jogo, culminando com a derrota para uma equipe representativa de um país, a República Dominicana, com uma população de 10.7 milhões, e tendo perdido antes para o Uruguai com seus 3.4 milhões, Canadá com 37 milhões, e vencendo Porto Rico com seus 3.1 milhões de habitantes, todos fortes adversários de uma nação continente de 200 milhões, ou mais, provando de forma inconteste sua fragilidade sócio cultural esportiva nas formações de base de seus futuros desportistas/cidadãos. Mais trágico do que isso, impossível, realçado por escolhas equivocadas de inexperientes, ou mesmo, pseudos líderes, para comandar e liderar esse processo educacional de uma juventude órfã de amparo e incentivo em sua candente busca por uma educação de qualidade, direito presente e garantido (?) pela Constituição deste imenso, desigual e injusto país…
Foi-se a classificação ao Mundial, que seria um passo importante no processo de soerguimento do grande jogo tupiniquim, alijado por uma tomada de decisão que, em nome de uma política qualquer, premia currículos formados por trabalhos não autorais, signatários de ações e iniciativas de outrem na formação de base, mesmo precária, mas ainda existente em algumas escolas e clubes espalhados por este imenso país, premiando os oportunismos regados com verbas oficiais de incentivo concentradas em dois ou três “centros de excelência”, deixando de lado profissionais calejados e experientes, porém nulos em políticas e votos de ocasião, professores e técnicos de raiz que são, insubstituíveis em qualquer nação educacionalmente séria, que nos tem vencido sistemática e continuamente, até um dia em que tomarmos vergonha na cara, pusilânimes que temos sido até agora na defesa e socorro de nossos sempre esquecidos jovens…
Oportunidades como a que jogamos pela janela da história, deveriam servir de exemplo para não serem repetidas, claro, na medida em que se faça presente o peso do mérito, do conhecimento, da experiência, e principalmente, o do saber adquirido em muitas décadas de trabalho, e não através o falso conhecimento adquirido de forma osmótica em cursinhos e estágios de ocasião, muito mais regados a turismo e selfies auto promocionais do que uma aprendizagem realmente atuante, repleta de experimentos e buscas por algo realmente inovador e autoral, e não cópia do que que “dá certo”, logo, aplicáveis sem maiores “complicações”…
Um ciclo importante para o nosso basquetebol foi interrompido, mas não encerrado, dependendo do que pretendemos realizar de proveitoso daqui para diante, e sugiro fortemente desde já, que a CBB reúna em torno de uma mesa as cabeças realmente pensantes do grande jogo do nosso país, para estabelecerem um processo didático pedagógico de ensino adequado a imensidão geográfica e demográfica que nos define como o eterno país do futuro, definição esta que devemos urgentemente mudar, para não afundarmos de vez, não só no basquetebol, nos desportos em geral, mas, no sentido mais amplo de nação, deseducada e culturalmente mal educada, princípio, meio e fim do bom combate, do valer a pena viver, trabalhar e produzir aqui…
Amém
Fotos – Reproduções da TV e Arquivo próprio. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.
Olá professor.
Li seus dois comentarios a respeito da seleção sub-16 e concordo com tudo que o senhor escreveu. Espero, assim como o professor, que a CBB possa tomar medidas que provoquem uma mudança profunda no esporte que tanto amamos.
Um grande abraço
Assim também espero, prezado Bruno, meio sem muita esperança, mas mesmo assim espero, para quem sabe navegarmos em tempos melhores. Paulo Murilo.