IMPROVAVEL OU IMPOSSIVEL? (From Dublin)…

“ Que grande jogo teremos aqui na Arena 1, completamente lotada, demonstrando a força do NBB”…

Assim começou a transmissão do jogo Flamengo e Corinthians pelo Super 8 pelas vibrantes palavras da jovem repórter televisiva, numa discutível afirmativa frente a uma arena olímpica desfigurada e com um público ridículo frente à sua desnudada grandeza…

Foi este o assunto do blog Bala na Cesta nesta semana, pertinente aliás , perante o vendaval midiático por sobre um”NBB como nunca se viu” , porém esvaziado de um público bairrista, regionalista, outrora fiel, agora substituído por um outro, errático e inconstante das agremiações de camisa, quase que totalmente composto por torcedores de futebol, com conhecimento próximo de zero em se tratando do grande jogo, carregando para as arenas, olímpicas ou não, toda sua tradição de violência, irascibilidade a oponentes, e acima de tudo, insegurança para todos aqueles que compareciam as mesmas com suas famílias , no firme propósito de torcerem limpa e vibrantemente por equipes e jogadores que conheciam integralmente, próximos que eram, e não esse enxame de estrangeiros (agora podem somar quatro por cada franquia), que qual “peças ” automotivas, equipam num carnavalesco rodízio equipes tão ou mais desfiguradas a cada temporada, como as arenas em que atuam…

Nosso glorioso basquetebol sempre pertenceu aos clubes regionais, com seus acanhados ginásios , com um ou outro de dimensões generosas, porém integrados a seus admiradores, pais, mães , filhos, tios, avós, e simpatizantes, pertencentes àquelas comunidades regionais, bairristas, agremiações estas em declínio acentuado, muitas agonizantes, outras terminais. Eram nossas high schools na formação de base, sem a grandeza esmagadora do exemplo ao norte do hemisfério, na matriz, e que mesmo sem a continuidade formativa universitária daqueles, galgou os píncaros entre os grandes do basquetebol mundial, num passado não tão distante assim…

Eis que de repente (somente quatro décadas ), no caso carioca, numa criminosa e imposta fusão interestadual (nos roubaram inclusive o democrático e constitucional direito ao plebiscito popular), quando deixamos de ser o segundo estado mais rico, para ostentar hoje a condição de miserável, corrompido e favelado, causando o empobrecimento municipal e populacional, onde os clubes deixaram de ter a importância agregadora e familiar de seu gentio, que somado ao declínio proposital e politico de suas excelentes escolas, hospitais referências no pais, transportes simples porém eficientes, e níveis controláveis de violência, praticamente selaram o destino destrutivo do esporte básico e de elite, deixando o reinado absoluto com Sao Paulo e suas formidáveis cidades (as quais os bairros  cariocas se assemelhavam), com quem dividíamos a liderança do esporte nacional, o grande jogo inclusive…

Tijuca TC, Grajau TC, Grajau CC, Riachuelo TC, Sampaio SC, EC Mackenzie, AA Florenca, Botafogo FR, Fluminense FC, CR Vasco da Gama, AA Vila Isabel, EC Aliados, Jacarepagua TC, Olaria AC, America FC, Sao Cristovao FR, Clube Sirio e Libanes, Clube Municipal, AABB. Clube Professorado, todos no Estado da Guanabara, que somados ao Canto do Rio FC, Gragoata , Icarai, Petropolitano, Grumari, Liga Angrense, São Gonçalo , todos do Estado do Rio de Janeiro original, nos abasteciam de jogadores bem formados, competitivos pela diversidade clubistica e regional, pela qualidade de seus professores e técnicos, que juntos a pujança paulista e outros estados desenvolvedores esportivos, como Minas Gerais, Goiás , Rio Grande do Sul, Paraná , Pernambuco, Bahia, Ceara , Para , no caso do basquetebol, davam ao nosso pais uma pequena, porém qualificada imagem do que de melhor faziam as escolas e universidades americanas, alimentando a elite em suas seleções e as iniciantes ABA e NBA…

O Maracanãzinho, a verdadeira capital do basquetebol brasileiro, onde foram conquistados um vice e um campeonato mundial, congregava as finais daqueles saudosos e grandiosos tempos, comungando inclusive, com as seleções nacionais em torneios internacionais, com assistências de 25 mil pagantes, hoje transformadas numa arena elitista para 12 mil, onde grandes jogos aconteciam em paz e muita vibração, entre equipes realmente qualificadas, onde jogadores estrangeiros tinham vagas se realmente fossem muito, muito bons, e não essa leva de terceira categoria, sobras das mais de quinze ligas de alguma qualidade existentes no mundo, fazendo o que querem em quadra, sob a permissividade de muitos estrategistas descomprometidos com a essência do grande jogo, restrito e enclausurado em pranchetas absurdas rabiscadas hieroglificamente…

Hoje, postam nas redes midiáticas e televisivas que a grandeza será retomada através o marketing profissionalizado, com patrocínios de grandes empresas, CEOs e administradores grifados, publicidade focada nas franquias com seus trabalhos comunitários, suas merchandaizes, modelo NBA, espetáculos pífios nos intervalos, beijos televisivos, brioches lançados a plebe, digo, povo, cadeiras de quadra para famosos, geralmente vazias, inclusive de famosos, e cada vez mais, intensos, horripilantes, ridículos , risíveis urros após enterradas, tocos e bolinhas de três , entonados por narradores sem  amígdalas , comentaristas compromissados com o belo, perfeito, inenarrável e mágico trabalho de jogadores formidáveis e da mais alta qualidade, impar e absoluta, mas que mantêm a média das equipes de 24,25 erros de fundamentos por partida, 48,6% nos arremessos de 2 pontos, 32,6% nos de 3, e razoáveis 75,3% nos lances livres, somente nos ate agora agora quatro jogos disputados pelo Super 8 do NBB…

Olha minha gente que ama o grande jogo de verdade, muito antes de grandes arenas, estrangeiros ostentando qualidades para lá de duvidosas, onde as poucas exceções não devem ser esquecidas, como todos os armadores da região platina que aqui estão, e dois ou três bons americanos, deveriam com a máxima e inadiável urgência, CBB, LNB e LFB, centrarem seus esforços e parcos recursos, numa forte e bem planejada retomada da formação de base, sugerindo e orientando aqueles ainda existentes e resistentes clubes regionais e municipais, para cederem em convênio suas instalações a escolas públicas onde inexistem quadras, num esforço conjunto de dotar um lugar seguro e educativo para os jovens praticarem o desporto, com as grandes empresas ajudando na manutenção dos professores e técnicos nesses locais, organizando competições bem formuladas e voltadas a qualidade, movimentando e integrando as famílias de volta as quadras de seus pequenos e históricos ginásios , onde nascem, se criam e se desenvolvem futuros campeões , e melhores cidadãos, como outrora, otimizando os grandes pátios de estacionamento de grandes mercados nos horários vagos, alguns cobertos, para quinzenal ou mensalmente promover torneios de mini basquetebol (a Europa abusa dessa ideia , e por isso vence…), verdadeira escola para o grande basquetebol, e não um 3×3, refúgio daqueles que não tiveram oportunidades nas equipes de quadra inteira, numa modalidade plenamente voltada ao confronto individual…

Na verdade, nossas arenas continuarão semi desertas, enquanto o espírito desportivo e agregador dos antigos admiradores do grande jogo se mantiverem ausentes, principalmente na qualidade do jogo em si, bem e tecnicamente praticado, coletivo, envolvente e solidário , através a arte de bons e solidamente bem formados jogadores em seus fundamentos básicos, somente adquiridos numa responsável e qualificada formação, orientada por bons e muito bem formados professores e técnicos , não a imagem das escolas e ricas universidades americanas, antítese de nossa pobre e precária realidade, que teima em transladar para cá uma inalcançável realidade, a deles, com seus dólares duelando em desigualdade brutal com nossos minguados reais…

Enquanto isso, vendo aqui de longe os jogos do Super 8. constatamos sem surpresa absolutamente nenhuma, que tudo está no mesmo patamar de ontem, anteontem, a perder de vista, técnica e taticamente, porém sabedores todos nós de quantas cidades os narradores e comentaristas conhecem nesse imenso, injusto e desigual país , que estremece pelos seus urros e ufanismos de  viajados jornalistas midiáticos, turísticos e televisivos, numa prova inconteste de que o grande, grandíssimo jogo, se torna liliputiano para a maioria deles, exceto uns poucos que se encolhem ante tantos likes, compartilhamentos e verborragia insana, que nada ajuda no soerguimento do basquetebol tupiniquim, entupindo-o de informações chulas e vazias …

Peço aos deuses todos os dias, a cada artigo aqui publicado neste humilde blog, que concedam uma réstia , minúscula que seja, de bom senso a todos que um dia prometeram cuidar do grande jogo, mas que resolveram atrela-lo a interesses que não nos dizem respeito, esquecendo os bons exemplos de formação e técnicas diferenciadas e inovadoras, que renegavam ações medíocres e mesmices institucionalizadas, num recente passado, que não era perfeito, mas sim conduzido por quem entedia com precisão e sabedoria o que vinha a ser basquetebol de verdade, mesmo sob administrações equivocadas e algumas vezes reprováveis, acertando, errando, porém estudando, trabalhando e formando jogadores, muitos e bons jogadores, quase sempre em solitárias lideranças, onde ter assistente responsável para carregar e entregar servilmente uma prancheta seria algo absolutamente improvável , melhor ainda, impossível …

Amém .

Em tempo – Acabo de assistir o quinto jogo do Super 8, definindo o primeiro finalista, entre Franca e Minas, numa partida com 26 erros de fundamentos (16/10), na qual a vencedora Franca (83 x 79) arremessou 20/37 bolas de 2 pontos e 10/25 de 3, convertendo 13/17 lances livres, enquanto Minas arremessou 15/31 e 11/35 respectivamente, convertendo 16/20 lances livres, deixando no ar uma questão – Como uma equipe pretende chegar a uma final convergindo de forma tão irresponsável, chutando mais de 3 pontos do que de 2, tendo bons alas pivôs, e armadores competentes, como? Quem sabe os americanos não estavam numa boa noite no chega e chuta de praxe…



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