O ESPECIALISTA (From Dublin)…
Neste último dia de Europa, aqui do aeroporto de Dublin, aguardando o voo de volta para casa, me veio a ideia de tornar a discutir o que venha a ser um especialista nos longos arremessos de basquetebol, assunto este que suscita tantos debates, num momento em que estamos jogando fora do perímetro praticamente em mais da metade do tempo de jogo, numa temerária aventura que nos tem levado ladeira abaixo no concerto mundial, e que na continuidade, nos manterá fora de um futuro vencedor, como a turma adepta do “chega e chuta” nos ilude em alcançar…
No artigo passado, algumas colocações foram comentadas por pessoas ligadas profundamente ao basquetebol, mas uma em particular, um real especialista nos longos arremessos (em sua época ainda não existiam os arremessos de três pontos), o grande Sérgio Macarrão, medalhista olímpico, tio de outro especialista, o Marcelo, grande campeão do NBB, jogando pelo Flamengo…
Vale a pena ler seu comentário no artigo em questão, pois define com precisão a real importância dos arremessos de três pontos, sob a ótica precisa do bom senso, pela priorização que obrigatoriamente deve ser dada ao especialista, e somente a ele…
Bem, sou agora chamado ao embarque, e se possível continuarei durante o voo, até já…
Estando de volta, a 11km de altura, continuemos o raciocínio, definindo uns poucos conceitos, começando pela precisão nos lançamentos, ou como define o Sérgio, “só arremessa de três quem mete bola”, sugerindo de saída uma questão – “o que torna um jogador num metedor de bola?” Será o mesmo espontâneo ou treinado? Em meus mais de 50 anos de quadra, conheci poucos reais e autênticos “metedores de bolas”, e o Sérgio foi um deles, outros mais como o Dutrinha, o Pecente, Waldir Bocardo, Wlamir, Rosa Branca, Vitor, Chuí, Oscar, Marcel, e mais uns poucos que me falham na lembrança, fizeram com que me orientassem à pesquisa dos porquês eram tão eficientes, originando minha tese doutoral, da qual pincei detalhes publicados nesse humilde blog, na série Anatomia de um Arremesso de I a VI, facilmente encontrada digitando no espaço Buscar Conteúdo…
Claro que não testei nenhum dos acima mencionados, mas outros pertencentes às equipes nacionais de Portugal, quando desenvolvi a pesquisa na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, onde pude relacionar a precisão na direcionalidade dos arremessos com os diversos tipos de pegas sobre a bola, num trabalho que, com a mais absoluta fidedignidade, define quem realmente domina a arte dos longos arremessos, garantindo serem muito poucos, derrubando fragorosamente a tese modal de que qualquer jogador pode ser eficiente nas grandes distâncias, bastando se sentir livre e autorizado a fazê-lo…
Vale a pena ler os artigos, para entender de forma definitiva o quanto de desperdício e eficiência temos alcançado, nessa estúpida e selvagem hemorragia em que estamos transformando o grande jogo, onde técnica e tática se prostituem substituídas por arrivismos, aventuras e irresponsabilidade proposital, em nome de um pretenso e falacioso “conceito moderno de basquetebol”, que nada mais é e representa do que uma mesmice endêmica institucionalizada, aceita por técnicos, jogadores, dirigentes e muito da dita mídia especializada, alheios a verdadeira essência do grande jogo, onde em nome do espetáculo (e que rapidamente vem se transformando em autêntica palhaçada), tudo deve ser permitido, inclusive quanto às regras (que é uma realidade bem conhecida na NBA), e que vem sendo adotado por aqui também…
Longos arremessos à parte, outros fatores merecem atenção de todos aqueles que amam o basquetebol de verdade, como a falibilidade nos fundamentos básicos, a forma semelhante e pasteurizada de jogar das equipes da liga, espelhando negativamente na formação de base, em exemplos que nunca e em hipótese alguma deveriam ser continuados, assim como descontinuado deveria ser esse caudal autofágico em que vem sendo transformado o grande jogo, através a artilharia absurda e descerebrada dos três pontos, das narrações e comentários que não refletem a realidade da competição, sem que, em nenhum momento algo de inovador possa ser admitido por um corporativismo inamovível e terminal…
O Sérgio tem razão, pois só mete bola quem sabe fazê-lo, assim como só planeja, pesquisa, estuda, ensina, treina e compete, quem conhece o grande jogo no seu cerne, sem esgares e dancinhas, sem coerções e agressividade gratuita, despidos de marketing e poderosos Q.I.s, sem midiáticas pranchetas, e sem rezas para que as bolinhas caiam, nacionais ou estrangeiras…
Daqui a pouco chego ao Rio, com muitas saudades de casa, porém temeroso do que se avizinha do nosso tão amado e judiado basquetebol…
Amém.
Foto – Arquivo pessoal.
Treinador…sobre o assunto alguns grandes treinadores colocaram o seguinte: Gregg Popovich “Eu não suporto esse estilo de jogo, particularmente, e penso que faz mal ao basquete em si”…Phil Jackson ” jogar para tiros de 3 pontos é um erro, penetração é o primeiro princípio da ofensiva.” ..mesmo o Pat Riley que incentivou a chutação de 3 quando a regra surgiu nos anos 80 , classificou o estilo de “armadilha” …grande abraço Coach.
Mas quem sou eu, um simples professor e técnico, para contestar as sumidades pátrias, prezado João? Prefiro me ombrear, na dialética e na quadra, à turma apontada por você, pelo pouco que sabem do grande jogo. Os estrategistas deste enorme, injusto e desigual país é que ditam as normas, das quais aguardo ansioso pelos resultados…
Um abraço. Paulo Murilo.
Satisfação em poder me comunicar com o senhor novamente, Professor.
Mas, mesmo sem me comunicar, ainda sigo as discussões por aqui. Pois tenho este espaço como um EAD classe “A” de Basquetebol.
Professor, dentro desta discussão, acredito que a perspectiva seja a de aumentar a linha de três (em face da adaptabilidade humana e desenvolvimento físico visível) ou extinguir a linha de três (tal qual fazemos com categorias de base) para assim podermos nos deter no ponto basilar do Grande Jogo… O domínio de todos os fundamentos!
A primeira opção configura-se como errática, pois a bizarrice próxima seria chutar do meio da quadra para três pontos.
A segunda opção é viável e formativa, mas não sei se teria apelo junto ao show business.
Claro que este é um exercício de futurologia, mas não chega a ser esdrúxulo frente às demandas midiáticas do esporte.
Bom seria termos bom senso, temperança.
Mas está difícil…
Fortes abraços… Professor Alexandre Miranda.
Até.
Prezado Alexandre, faço de seu comentário o artigo de hoje. Espero que não se aborreça com a intromissão. Um abraço. Paulo Murilo.
Intromissão alguma, Professor…
Estou feliz por contribuir na busca por elucidação!
Abraços.