GESTÃO? UMA OVA…

Assisti os últimos oito jogos do NBB, fiz estatísticas, selecionei comentários, ouvi gritos lancinantes e histéricos de narradores ensandecidos, pesquisei blogs e sites sobre o grande jogo, para finalmente, ao receber um email do crítico amigo cobrando artigos atualizados, assim como comentários sobre a seleção feminina no pré olímpico, preferi, antes de atender o dileto amigo, conferir a opinião da mídia especializada sobre as razões que emitiram sobre o futuro do basquetebol tupiniquim, frente a dolorosa possibilidade de não o termos em Tóquio, numa regressão impiedosa para com o grande jogo…

Rasguei as notas colhidas, pois nada mais do que descreviam a mesmice endêmica de sempre, aqui incansavelmente criticada e combatida, assim como a campanha feminina no pré, representando e repetindo o mesmo mote, o qual a turma masculina corre o sério risco de seguir no mesmo caminho, se não mudar drástica e radicalmente sua forma de jogar, o que não acredito, honestamente, que o faça.,,

Conferi então o discurso midiático dos porquês de tanto retrocesso, até o ponto de sintetizá-los em duas palavras modais, gestão e processo…

Sendo curto e objetivo, defende-se abertamente que o grande problema do basquete brasileiro se reduz a falta de gestão administrativa para alavancá-lo da vala em que se encontra, numa dualidade que por um lado admite enormes progressos sócio administrativos da LNB, com seu produto maior, o NBB/NBA, assim como o LDB, seguidos pelo início da recuperação econômico administrativa da CBB, e por outro, os inexplicáveis fracassos de público nas competições internas, e a pouca expressividade nas grandes competições internacionais, apesar das gestões “profissionais e competentes” que foram implementadas, numa contundente prova de que a gestão enfocada pouco representa por sobre a verdadeira negligenciada, a gestão técnico/tática e seu fundamental e ausente lastro, a formação de base…

A outra palavra subsequente, processo, definida pelo atual técnico da seleção feminina como o arcabouço chave para a recuperação da modalidade, e que nada mais representa do que mais uma tentativa de cristalizar uma forma de trabalho continuista sobre conceitos (?) de preparação física, onde o cientificismo atlético se sobrepõe aos fundamentos, e a encordoada tutela de fora para dentro da quadra de um sistema único de jogo, muito acima da premente e revisionista necessidade do ensino e aprimoramento dos fundamentos básicos do jogo, sem os quais sistemas de quaisquer espécie serão exitosos, seja em seleções ou na base. Processos assim implantados soam falsos, pois destituídos de criatividade, inventividade e capacitação no improviso e leitura expontânea de jogo por parte dos (as) jogadores (as), agrilhoados (as) que são pelo centrismo personalista emanado de fora para dentro, por parte de técnicos que jamais admitirão ser parte de uma equipe, e sim a estrela da mesma, sobraçando sua midiática prancheta…

Publiquei em 2015 o artigo que replico a seguir, que muito bem retrata essa dolorosa realidade, que após 6 anos em nada foi modificada:

A DURA (E MAIS QUE PREVISÍVEL) REALIDADE…

terça-feira, 1 de setembro de 2015 por Paulo Murilo–                    2 Comentários

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Uma seleção brasileira que debuta numa séria Copa América, comete 21 erros de fundamentos, arremessa 2/21 bolas de três pontos, perde 10 lances livres (15/25), escala dois jogadores notoriamente péssimos defensores, confrontando a proposta de defesa acima de tudo (Guilherme e Marcos não se coadunam com a mesma…), tem como opção desesperada de jogo o pedido de “jugar limpio y no uno contra uno”, ou seja, abrindo os quatro deixando o indigitado pivô duelar, não contra seu marcador, e sim com a defesa inteira uruguaia, com os demais assistindo e parecendo torcer para seu improvável sucesso, e por conta de tanta incompetência (o que esperar de assistentes que nem por osmose aprendem…) apelando para as “salvadoras bolinhas” e o jogo periférico indo de encontro às mesmas, e veem atônitos que o minúsculo país platino se lançou perímetro afora contestando todas a iniciativas artilheiras, assim como fechou seu garrafão, brilhantemente, às parcas penetrações de alguma qualidade tupiniquim…

Frente a tão desalentador quadro, o que esperar dessa seleção, que tem bons jogadores, mas que patinam equivocados dentro de um sistema híbrido de jogo, que abraça a dupla armação, promove hipotéticas movimentações de alas pivôs no âmbito do perímetro interno, porém sem abandonar os dogmas do sistema único, onde um dos armadores se transforma em ala, e um cincão joga solitariamente de costas para a cêsta, numa fórmula caduca e que se caracteriza como antítese do tão propalado coletivismo, ausente por força da indecisão de optar entre o padrão estabelecido, e a nova proposta patrocinada por um mais ainda indeciso técnico, que a vê ruir exatamente por saber ser impossível mudanças por parte de jogadores vacinados pelo sistema único, assim como seus super estimados assistentes doidos para pranchetarem em seu lugar…

Aliás, não consta que nenhum deles tenha se empenhado em sugerir uma efetiva desconstrução técnica baseada nos fundamentos individuais e coletivos dos jogadores, voltados à nova realidade pretendida, ou mesmo por parte do hermano, no que seria a única maneira de fazer frente ao novo, inusitado e corajoso ato de jogar o grande jogo, de uma forma como fazem nossos rivais, mais ou menos na trilha do que vêem realizando os americanos desde o início da era Coach K, a qual divulgo incansavelmente anos a fio por esse humilde blog, e por que não, dentro da quadra também…

Isso porque, não basta, mesmo, incutir uma nova forma de jogar, frontalmente diversa ao que os jogadores praticam desde sempre, sem mexer com suas bases de aprendizado e fixação de novos princípios e preceitos de jogo (sim, os adultos podem aprender também, por que não?), sem, e isso é definitivo, mexer com sua estrutura pessoal, técnica, tática e emocional. Mas para isso se torna necessário alguns imprescindíveis valores, a começar pela plena decisão de mudança, profunda e decisiva, onde adaptações híbridas não sejam toleradas, principalmente na fase desconstrutiva, e a busca responsável e absolutamente precisa de objetivos propostos e estudados com afinco e dedicação, por todos, técnicos e jogadores, e claro, o mais importante de todos, a competência e o profundo conhecimento para torná-los factíveis…

Honestamente, não acredito que a vinda dos luminares ligados à NBA tornarão esse quadro reversível, se adotarem, todos, o sistema que pensam dominar, o sistema único, ou mesmo o sistema híbrido que ora ensaiam, isso porque, em se tratando de 1 x 1, que é a tônica do SU, e para o qual foi criado e desenvolvido pela matriz, nossos adversários mais diretos são superiores pelo maior domínio dos fundamentos individuais, e tanto isso é verdade, que os maiores praticantes do grande jogo, o subverteram nos últimos mundiais e olimpíadas, restando para os demais competidores a brecha de algo diferenciado, claro, se quiserem vencê-lo, e que é exatamente a proposta por que luto, repito, aqui dessa humilde trincheira, e na quadra quando me deram oportunidade, pois vejo ser a única maneira de nos impormos novamente no cenário do basquetebol mundial. Foi exatamente o que fez o volei com a sua escola brasileira, misto da europeia e asiática, e que teve no saudoso Paulo Matta o seu precursor, hoje tão esquecido por quem usufruiu (e são muitos…) de sua pródiga ação visionária…

Logo mais vamos ver como nos saímos na preparação para 2016 contra os dominicanos, esperando que repitam um pouquinho do Pan, senão…

Amém.

 Fotos – Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las e acessar as legendas.

2 comentários

  • Walter Carvalho
  • 02.09.2015
  • A inclusão de jogadores novos afeta a performance de uma equipe de basquetebol. Especialmente se as características individuais destes jogadores não se encaixam com a filosofia de jogo do técnico/equipe. O avanço tático mostrado no PAN, apesar de ter sido uma competição de baixíssimo nível técnico, volta a estaca zero. Estamos cometendo os mesmos erros de outrora – ou seja: ataque estático e defesa que apresenta falta de intensidade e falhas em praticamente todos os setores: a começar pela falta de agressividade e coberturas dentro e fora do garrafão do homem com e sem a posse de bola. Sem marcação, fica difícil fazer com que o ataque se torne mais eficiente – com melhor fluência de bola e homem e melhor seleção de arremessos.
    Acredito também e concordo com a sua opinião de que a vinda dos jogadores da NBA em nada irá contribuir para que o Brasil se torne mais eficiente na defesa e no ataque. Continuaremos a observar a falta de: 1) Agressividade e intensidade na defesa 2) Fluência de bola e homem no ataque e 3) Melhor seleção de arremessos.
  • Basquete Brasil
  • 02.09.2015
  • É Walter, a coisa está ficando mais feia do que o estimado para a seleção, ainda mais pressionada pela participação dentro de casa, que na minha humilde opinião vai ser decepcionante, a não ser que mudem a forma de jogar radicalmente, torcendo para que os estelares aceitem as mudanças, se as mesmas vierem, o que duvido muito, pois jogando como a maioria dos concorrentes não terão chance nenhuma. O mais engraçado é que o maior dos participantes jogará diferenciado, dentro do padrão Coach K, fator sequer pretendido por nossos doutores…
    Um abraço, Paulo.

Podemos fechar esse raciocínio, e se o leitor ainda tiver um pouco mais de paciência, relendo um outro artigo publicado em 9/8/14, Falando de Fluidez, quando o apregoado conceito de processo, acredito fortemente, é devida e definitivamente contestado…

Amém.

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2 comentários

  1. Alex 13.02.2020

    O pior é ter que engolir nos comentários ‘especializados’ pós-
    desastre de Bourges que “estamos no caminho certo”.

  2. Basquete Brasil 15.02.2020

    É claro, prezado Alex, no caminho proposto e defendido por todos eles, que não estão nem aí para o grande jogo, e sim suas posições e empregos garantidos pela mesmice institucionalizada que aí está. Enquanto durar essa condição, assinarão o ponto diariamente, e quando ela cessar, quem sabe um dia, saltarão tranquilamente para outro muro, onde se encastelarão numa boa…
    infelizmente essa é a nossa dolorosa e trágica realidade.
    Paulo Murilo.

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