O IMPRECISO E TEMEROSO AMANHÃ…
Num determinado momento do terceiro quarto da decisão do NBB, entre Flamengo e São Paulo, com a partida ainda indefinida, num ataque rubro-negro, a bola é lançada de dentro para fora do garrafão para as mãos do ala pivô Mineiro na linha dos três pontos, absolutamente livre de marcação, com livre arbítrio para mais uma das dezenas de bolinhas em que sua equipe vem se notabilizando, inclusive com pleno aval e flagrante incentivo de seu estrategista, preferiu partir para a cesta e concretizar uma “bola de segurança” (termo utilizado pelo comentarista) de dois pontos, numa bandeja um tanto decepcionante para o enfastiado narrador, que se preparava para mais um rugido narrativo de mais uma bola magica de grande distância, ou mesmo uma“ enterrada monstro”, aquela jogada que afirmam fascinar os torcedores, definidora do sentido sensacionalista do jogo em sua concepção midiática. Preferiu o jogador a opção mais segura, a simplória bandeja, garantidora de mais dois pontos para sua equipe, aspecto intrínseco aos arremessos de curta distância, no que fez e agiu muito bem, com simplicidade e alta eficiência…
Relembro aquele momento como algo realmente marcante daquela decisão, quando em três jogos a equipe carioca liquidou seu oponente estrelado, porém ineficiente defensivamente, nos quais, se a ação do Mineiro tivesse sido mais emulada e explorada pela totalidade de sua equipe, teria vencido com folgas, não passando pelos sérios apertos nas duas partidas iniciais, por conta dos 81 arremessos errados de três pontos…
Escrevo agora, depois de algum tempo, pressionado pelo amigo insistente e cobrador, que sem tréguas me exige textos e mais textos, e para quem não importa se me sinto à vontade para escrever ou não, cansado, e por que não, enfastiado com a mesmice endêmica que assaltou de vez o grande jogo em nosso país, e com uma absurda agravante, a implantação escancarada da convergência entre os arremessos de dois e três pontos, com a flagrante supremacia das infames bolinhas…
Números? Pois não, aí estâo (boa rima) nos três jogos:
Flamengo – 2 pontos – 52/92 (56,5%)
3 pontos – 45/126 (35,7%)
Lances livres – 32/39 (82%)
Erros – 20 (6,6 pj)
São Paulo- 2 pontos – 59/120 (49,1%)
3 pontos -28/80 (35%)
Lances livres- 43/51 (84,3%)
Erros – 20 (6,6 pj)
Numa simples aritmética, o Flamengo errou 40 bolas de dois pontos e o dobro de três pontos, num desperdício brutal de energia e ineficiência pontuadora, onde os índices razoaveis para equipes da elite se situam nos 70% para os arremessos de 2 pontos, 50% para os de 3, e 90% para os lances livres, testemunhamos quão abaixo nos encontramos no concerto internacional, pois bastaria que optasse para os dois pontos em pelo menos metade das tentativas frustradas de três, elevando substancialmente os índices de arremessos, para vencer no mínimo por vinte pontos cada uma das três partidas, ou não? Façam as continhas…
Inadmissível caro redator, sem o espetáculo das bolinhas do meio da quadra, as tais que elevam o espetáculo em conjunto com as enterradas e tocos estratosféricos, que atrativos ofereceriam os embates no NBB, pois afinal de contas são elas que ensandecem os narradores, que encantam os analistas, que estremecem as arquibancadas, mas que no frigir dos ovos nos destinam a sonhar com as olimpíadas vindouras, pois a dura realidade dos oponentes internacionais que defendem de verdade, que destinam seus longos arremessos aos verdadeiros especialistas dessa difícil e seletiva arte, e pensam o jogo, lendo-o com vastos conhecimentos de causa, nos relegam ao rol de perdedores contumazes e teimosamente aferrados ao lugar comum da sistematização única, onde jogadores, técnicos, dirigentes, agentes, empresários e mídia quase em geral, se misturam coloidalmente ao interesse comum, o de manterem seus empregos, posições e desconfiável prestígio, sombreados pela liga maior, milionária e inalcançável em seus desígnios mercantis, através um modelo que somente se torna factível embasado em milhões de dólares, talvez bilhões, deixando-nos as migalhas e sonhos etéreos e fugazes…
Agora mesmo dois dos “futurosos” craques nacionais pedem desligamento da seleção que tentará uma vaga para as Olimpíadas de Tóquio, com dedo flagrante de agentes que visam somente lucros, por menores que sejam, em seus “investimentos” nos mesmos, sabedores que são da fragilidade técnica de seus agenciados para o nível daquela liga maior, mas que poderiam ajudar uma seleção mais fragilizada ainda, por serem representantes de uma escola mambembe onde o “chega e chuta” se tornou a moda a ser seguida e implantada, e está sendo, estando aí para quem quiser ver. Vencerão? Um desconfiado talvez é o meu prognóstico, que poderia ser mudado e confrontado se algo de absolutamente novo fosse apresentado por essa seleção, o que duvido, pois o aludido chega e chuta parece que veio para ficar, e não será um lúcido Mineiro, com sua simplória (porém convincente) opção pela mais simplória ainda bandeja, que modificará o vício avassalador da chutação midiática de fora, com ou sem marcação, sendo armador, ala ou pivô, afinal a “representatividade midiática” é para ser degustada, conquistada e, como todas as falseadas glórias, esquecidas, se não fruto de uma concepção genuína de equipe, que no momento que atravessamos não está vindo ao caso, trágica e infelizmente…
Assisto pela TV peladas inomináveis na NBA, onde cestinhas e recordistas não ganham jogos, mas auferem triples e blocks galáticos, assim como uma LBA, a liga africana patrocinada pela matriz, apresentando uma decisão de campeonato de fazer corar e chorar mesmo aqueles que desgostam do grande jogo, influencia que já se espraiou pelo Oriente e Ásia, mas tropeça na resistência europeia, que se mantida por mais algum tempo, abalará o monopólio americano, equilibrando as conquistas técnico táticas, porém jamais a supremacia econômica, riqueza esta que tem arrastado seus melhores jogadores para suas franquias, sem no entanto, conseguir desqualificá-los ou modificá-los como jogadores da mais alta técnica naquele pormenor básico, decisivo e inegável, os fundamentos do grande jogo…
A pandemia se estende, negacionada por um governo simplesmente criminoso, quando somente agora consegui a segunda dose de uma vacina ainda distante de meus três filhos, obrigando-os ao forçado enclausuramento, e home offices desgastantes e sacrificados, numa rotina onde a disciplina os tem moldado decisivamente para um amanhã pavimentado por dúvidas, advindas de uma liderança nacional absurda e imoral. Torço ardentemente por eles, por todos os jovens desse imenso, desigual e injusto país, que merecem todas as oportunidades possíveis se lhes forem destinadas as ferramentas necessárias, educação, saúde e segurança para usufruírem dias melhores, merecedores que são.
Amém.
Bom dia, Prof. Paulo Murilo
Escrevo-lhe para elogiar o seu trabalho pedagógico em prol do basquete brasileiro. Acho lamentável que as escolas, mesmo antes da pandemia, tenham abandonado a prática do esporte coletivo, pois agora crianças e jovens têm aulas teóricas sob quatro paredes! Impera o individualismo narcisista da malhação. Devido às sua insistência, comecei a observar as estatísticas da NBA e me dei conta que lá não ocorre a tal convergência, como acabo de ver nos dados sobre os jogos de ontem, por exemplo. Além disso, times que não defendem muito bem, que não anulam as forças ofensivas adversárias, não prosperam.
Saúde e paz!
Obrigado prezado André, fico feliz ao constatar que aos poucos, pacientemente, consigo sensibilizar os basqueteiros desse imenso país. para os grandes óbices que atingem o grande jogo, em sua formulação e preparo de base, no sentido de situá-lo de volta ao seu lugar de direito no concerto internacional. Quem sabe um dia, consigamos atingí-lo, quem sabe. Um grande abraço. Paulo Murilo.